Andressa Santana¹
Gloria Mª M. Pimentel²
Hudson Porto³
Vilton Portela4



RESUMO

A pesquisa surgiu do interesse em entender: "Como se dá a interação lúdica entre crianças portadoras de deficiência auditiva com seus irmãos ouvintes" Esse é o objetivo geral da pesquisa. Realizamos entrevista com duas famílias, em que, cada uma tinham dois filhos em idade escolar e um deles era surdo.
Observamos que a interação de crianças com deficiência auditiva e seus irmãos é de grande importância para que aja uma relação saudável, proporcionando um melhor desenvolvimento a ambos.
Portanto, trazemos para debate o incentivo da aquisição de outras formas de comunicação para que a criança surda possa interagir com outra criança ouvinte de maneira satisfatória.

Palavras-chave:
Criança surda; Desenvolvimento; Irmão ouvinte; Interação.


1Graduando em Psicologia
No Centro Universitário Jorge Amado
E-mail: [email protected]

2 Graduando em Psicologia
No Centro Universitário Jorge Amado
E-mail: [email protected]

3 Graduando em Psicologia
No Centro Universitário Jorge Amado
E-mail: [email protected]

4 Graduando em Psicologia
No Centro Universitário Jorge Amado
E-mail: [email protected]




1. INTRODUÇÃO

1.1 A pesquisa

A interação de crianças com deficiência auditiva e seus irmãos é de grande importância para que aja uma relação saudável, proporcionando um melhor desenvolvimento a ambos.
A criança seja ela deficiente ou não, tem a necessidade de interagir com seu semelhante, porém a criança surda tem uma dificuldade de interação, pelo fato se existir uma limitação na comunicação verbal ela pode ter problemas de se adaptar ao meio em que convive.
Portanto entender como se dá a interação de crianças com deficiência auditiva com seus irmãos ouvintes, é de grande importância para que possamos analisar, e aprofundar nosso conhecimento referente à socialização do mesmo, mas estendendo essa sociabilidade para toda rede social que ele venha a fazer parte ressaltando que esta interação é essencial para saúde psicológica.
O nosso problema de pesquisa surgiu do interesse em entender: "Como se dá a interação lúdica entre crianças portadoras de deficiência auditiva com seus irmãos ouvintes?" E o objetivo geral da pesquisa é fundamentalmente chegar a essa compreensão.
Com esse objetivo acreditamos que poderemos agregar conhecimentos alcançando alguns objetivos específicos:
- Entender como se dá o desenvolvimento da linguagem dessas crianças com deficiência auditiva, em suas atividades lúdicas;
- Analisar as dificuldades que as crianças portadoras de deficiência auditiva encontram do desenvolvimento da linguagem para interagir com o seu semelhante.
- Compreender a relação que os irmãos da criança com deficiência auditiva apresentam com o mesmo;
O levantamento teórico feito para realização da pesquisa foi em função de investigar sobre as pesquisas já realizadas sobre o tema principalmente focando o desenvolvimento da criança surda, a interação desta com irmãos ouvintes o quanto essa interação pode ser benéfica para ambos e o envolvimento da família nesse processo.
A escolha de metodologia foi direcionada pelo tipo de pesquisa que de acordo com o tema. E acreditamos ser mais relevante e enriquecedor, considerando conhecimento pessoal e profissional no campo psicológico, fazer uma pesquisa qualitativa. Os procedimentos de coleta e organização dos dados foram norteados de maneira a possibilitar a investigação tanto do objetivo geral quanto dos objetivos específicos com ética e profissionalismo.
1.2 A surdez e aquisição de linguagem

O surdo é uma pessoa que detém uma perda, maior ou menor, ao perceber normalmente os sons. Essa perda auditiva varia de leve a profunda, isto é, a pessoa pode ouvir com muito esforço ou não ouvir absolutamente nada. (GOLDFELD, 2002)
A comunicação da criança com o mundo através de verbalizações depende da audição. A deficiência auditiva é entendida como um tipo de privação sensorial, cujo sintoma comum é uma reação anormal diante do estímulo sonoro. (GAGLIARDI & BARRELLA, 1986)
O deficiente auditivo também consegue organizar, mesmo que limitadamente, os acontecimentos e os pensamentos em sua mente, tendo como instrumento de compensação, o uso de outros sentidos, mas isso modifica consideravelmente sua percepção do meio e construção psicofisiológica do mundo.
A criança surda tem um déficit nas suas habilidades sociais em relação a iniciar e manter satisfatoriamente para si e para o outro uma interação, mas quando ela possui um nível de linguagem gestual ou oral partilhada com outros colegas o nível de interação pode ser próximo ao que ocorre entre crianças ouvintes. Contudo nem todas desenvolvem o mesmo padrão de interação social, e as suas diferenças individuais podem ser muito significativas a ponto de conseguirem estruturar relações mais abertas e com mais iniciativa própria.
A dificuldade principal que o surdo encontra é a aquisição da linguagem oral, por isso a adequação mútua nas conversações deve ser estabelecida desde cedo. Incorporação da linguagem das crianças surdas pelos pais possibilitará o estabelecimento de uma comunicação satisfatória entre ambos, mesmo assim, ela também deve ser estimulada ao máximo para desenvolver outras formas de comunicação verbal ou não verbal ampliando suas possibilidades de interação.
A presença da perda auditiva pode acarretar sérias conseqüências para o desenvolvimento da fala e aprendizagem. Impacta na qualidade de vida do indivíduo influenciada também pela idade da aquisição da perda, natureza, grau da perda, estilo de vida, ocupação profissional e percepção das conseqüentes desvantagens sociais e emocionais. (BUCUVIC; IÓRIO, 2004)
Quando a criança surda, demora para adquirir a linguagem, ela pode sofrer problemas emocionais, sociais e cognitivos. Por que a linguagem além de servir como instrumento para comunicação também possui a função de organizar o pensamento, importante para o desenvolvimento cognitivo da criança. (LEONTIEV, 1977)
O desenvolvimento mental da criança se inicia em um mundo humanizado e ela terá que se adaptar; desde o seu nascimento ela se encontra rodeada de um mundo objetivo, consolidado em objetos materiais, como alimentos, vestuários, instrumentos, e em fenômenos ideais, como a linguagem, os conceitos e as idéias refletidas na linguagem. (LEONTIEV, 1977)

1.3 A família e as novas formas de comunicação

Existem várias dificuldades na inserção de crianças portadoras de necessidades especiais auditivas na própria família.
Quando nasce uma criança, à estrutura familiar se altera para receber um novo integrante e ao identificar que se trata de uma criança com necessidades especiais existe uma apreensão por parte dos, pois com a possibilidade de não poder ou não saber cuidar adequadamente e também pode surgir um sentimento de culpabilidade pelo nascimento da criança com deficiência, sofrimento diante da impotência em lidar com a situação. (BRITO & DESSEM, 2005)
Somente com tempo a dinâmica familiar vai se adaptando a nova realidade e as necessidades que o novo membro vai precisar e se faz necessário a busca de conhecimento sobre as limitações que irão enfrentar.
Em relação surdez, a criança pode não desenvolver a linguagem oral tornando difícil a comunicação e existe dificuldade em expressar o próprio pensamento assim como, entender os pensamentos das crianças de um determinado grupo.
"A relação fraternal, que se inicia com o nascimento de um irmão, é uma das relações mais duradouras na vida. Tem suas fases, segue um ciclo de vida próprio, que muda e se desenvolve a medida que os irmãos crescem." (PETEAN & SUGUIHURA, 1998)

Um surdo é uma criança absolutamente normal, principalmente se ela for educada de forma a estimular o seu desenvolvimento cognitivo. Por isso, ela precisa ser estimulada a brincar, aprender brincadeiras novas e interagir com seus irmãos como uma criança normal.
Devido à limitação na comunicação, pode existir dificuldade da criança surda em se relacionar com seus irmãos ouvintes. E essa falta de relacionamento e comunhão com seus irmãos pode prejudicá-la pelo resto da vida. Um sentimento de inferioridade pode ser sentido pelo surdo em relação ao irmão ouvinte e, isso é trazido para todo o seu desenvolvimento, podendo ter sérias conseqüências na formação da personalidade.
Quando há pouca interação entre os irmãos ouvintes, a criança surda se sente num lugar que não é o seu, como se estivesse no lugar errado. Por isso, é preciso que haja, desde o diagnóstico, um planejamento para acolher o deficiente auditivo.
Aprender o que é a deficiência auditiva, quais são as suas limitações, como tratar o filho com necessidades especiais que estar por chegar, procurar conhecer a Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS), ensinar ao filho ouvinte a linguagem, para facilitar a comunicação e a interação entre os irmãos posteriormente.
Um outro recurso de extrema importância para a inserção e melhor desenvolvimento do deficiente auditivo é o AASI (Aparelho de Amplificação Sonora Individual). Tem como função captar os sons, amplificá-los e conduzi-los à orelha do portador de deficiência auditiva. Seu uso representa uma grande chance de modificar os rumos da relação da criança deficiente auditiva com o meio em que vive. (BOECHAT; MILLER-HANSEN; WIDEN; SIMON, 2003)
Essas são algumas formas de minimizar os possíveis danos no desenvolvimento da criança surda que venham a ser ocasionados pela sua limitação auditiva.
É necessário que antes que a criança seja inserida na escola, ela esteja inserida em sua própria família. A instituição familiar é o princípio de todo desenvolvimento, bem como, o desenvolvimento de sentimentos de auto-estima, autonomia e autoconfiança.
Os conhecimentos já disponíveis sobre o tema revelam que, ao descobrir que a criança irá nascer ou adquiri uma deficiência os pais passam por um processo que pode ser descrito em três fases: luto simbólico, informação e reparação.
- O luto simbólico é caracterizado por viver no real a perda de um filho que foi idealizado durante toda a gravidez, para satisfazer suas próprias necessidades narcísicas dos pais: por exemplo, ser simpático, inteligente e fisicamente perfeito. Por não se concretizar essas idealizações, os pais elaboram um processo de perda desse filho "perfeito".
- A segunda fase é a busca de informações para entender melhor a deficiência e como prosseguir diante da necessidade.
- A última fase é estimular o máximo possível para atingir um desenvolvimento satisfatório do filho. Inclui também relações amorosas, respeitando a sua maneira especial de viver.
É importante que os pais não diferenciem o tratamento do filho com necessidades especiais do normal, por se sentirem culpados, não é necessário que o filho surdo obtenha toda a atenção dos pais, evitando assim que gere uma crise de ciúme nos seus irmãos dificultando a interação lúdica entre eles. O sentimento de culpa pelo filho nascer surdo pode influenciar de forma negativa o desenvolvimento da criança normal, é necessário sim que o irmão normal saiba das limitações que o deficiente auditivo detém e estimular a interação lúdica entre eles, pois desenvolve o aprendizado e a cognição de ambos.
"[...] É uma relação que pode ser marcada" por conflitos e rivalidades, mas pode também ser afetiva e íntima. Com os irmãos se aprende a compartilhar e expressar sentimentos, a vivenciar experiências de companheirismo, lealdade e rivalidade" (VOLLING, 2003, grifo nosso).

1.4 A interação lúdica e o desenvolvimento

Surpresas podem nos acontecer quando as crianças surdas e ouvintes brincam e ensinam umas as outras, brincadeiras que podemos achar difícil de uma criança surda aprender, pode ser aprendida de uma forma que até um adulto tivesse dificuldade para ensinar.
Segundo a psicóloga Celeste Azulay a inserção dos pais nas brincadeiras entre irmãos estimula o respeito um do outro nas suas limitações de desenvolvimento. A amizade desenvolvida ao longo das relações lúdicas vai se consolidando, gerando entre os irmãos um clima de solidariedade, colaborando para realizar e pequenas tarefas até as mais complexas do dia a dia.
É responsabilidade da família, criar um ambiente interativo para o bem-estar e a auto-estima das crianças especiais. Não é uma condição e sim uma necessidade essencial para posteriormente ser incluída numa escola, universidade e posteriormente no trabalho.
Segundo Vigotski (2000) apud Silva (2006), o principal fator psicológico do desenvolvimento da imaginação baseia-se na necessidade que o homem experimenta de adaptar-se ao ambiente que o rodeia. A inadaptação ao ambiente é a condição principal para a emergência da imaginação. É exatamente a atividade criadora que permite a projeção do futuro, a constituição de um ser que modifica suas condições presentes.
A produção de imagens e todo o processo psicológico que envolve a imaginação e a criação não estão dissociados das condições de vida do homem, das suas necessidades e desejos. Por isso, toda atividade criadora parte da forma como o sujeito percebe o mundo.
Para a criança pequena, por exemplo, os primeiros pontos de apoio para a futura criação estão naquilo que ela ouve e vê, acumulando materiais que usará para compor seu cenário de fantasia, a partir da dissociação e associação de impressões percebidas. Porém, a criança não repete o que ouve e vê. Tudo que ela imagina, mesmo quando se reporta à realidade, apresenta algo de criativo, muitas vezes, inaugural.
Dentre as atividades guiadas pela imaginação, as ações lúdicas revelam-se importantes para o desenvolvimento. Pois, ao brincar as crianças envolvem-se em processos criativos, na medida em que recriam aspectos do mundo adulto, das vivências que têm socialmente, agindo além de suas competências habituais, além de seu comportamento diário.
As criações desse universo ilusório e imaginativo emergem da própria condição social da criança que a motiva em querer participar e entender o mundo da cultura, fazendo-a reproduzir trazendo aspectos desse real nas brincadeiras.
A necessidade de se apropriar das regras, dos valores sociais e de suas complexas relações impulsiona o surgimento de cenários lúdicos e da configuração de papéis/personagens; a criança faz-de-conta que é enfermeira, professora, mãe, filha, médico, motorista etc. Ao mesmo tempo em que se apóia no real, por meio de regras e de generalizações de "papéis sociais", a criança efetua transformações, no nível simbólico, recompondo os significados, ultrapassando as condições concretas impostas pelo real. Ela vê o objeto, mas, ao superar a determinação perceptual, sua ação passa a ser guiada pelo campo do significado. (VIGOTSKI, 1988, apud SILVA, 2006)


2. MÉTODO

Participante:

Para a realização do nosso trabalho efetuamos entrevistas com duas famílias. Cada família era composta de um casal de filhos. Nesse casal, apenas um apresenta deficiência auditiva, onde nas duas famílias quem detinha a deficiência era a menina.

Instrumentos:

Para realização deste artigo a equipe utilizou uma entrevista semi-estruturada, com roteiro previamente elaborado e gravador, para que os dados coletados fossem registrados, e transcritos na integra.

Procedimentos:
Para coleta de dados marcamos entrevistas com as mães das crianças surdas, onde, juntamente a entrevista, nós pudéssemos observar e analisar a interação no lúdico das mesmas com seus irmãos ouvintes com a finalidade de obter informação. Para isso, nos direcionamos a residência das famílias que ficam no bairro Sussuarana e Cabula em Salvador.
As visitas foram realizadas no dia 29/05/08 pelo turno da tarde pelo fato das crianças estarem na escola pela manhã. Em nossas visitas conversamos e entrevistamos as mães e crianças para sabermos como se dar a interação lúdica entre as crianças não ouvinte, com seus irmãos ouvintes, e como se apresenta o trabalho desenvolvido pela escola; e os meios de comunicação que as mães e crianças utilizam para interagir ou comunicar-se com o seu semelhante. Apos coletar os dados necessários, analisamos e discutimos sobre o que poderíamos concluir.
Foi possível ver a comunicação das crianças no lúdico, não apenas com seus irmãos, mas com suas mães e nós que estávamos presente no ambiente. Assim, fizemos as respectivas relações às teorias estudadas referente ao assunto propriamente dito, com os dados obtidos pela nossa estratégia de coleta de informação.


3. RESULTADOS

As entrevistas que realizamos com as famílias foram de extrema importância no nosso artigo, pois nos possibilitou abrir um grande leque a respeito do tema estudado, bem como, o objetivo de entender como acontece à interação lúdica entre irmão surdo e irmão ouvinte.
Descobrir que seu filho tem uma necessidade especial não é uma tarefa fácil, principalmente quando não se conhece absolutamente nada da patologia referida. No principio, assim que é identificada a surdez, as mães ficam apavoradas, visto que, além de terem pouco conhecimento sobre a patologia, precisam se adaptar e ainda por cima, lidar com a falta de informação da sociedade preconceituosa que, alocam as crianças especiais numa redoma, onde são rotuladas como: impotentes, inferiores e eternos bebês.
Foi constatado que a descoberta da surdez antecipadamente ajuda bastante para preparar o ambiente familiar, juntamente com a busca de informações sobre a patologia, tendo objetivo de saber quais as limitações, as dificuldades e a melhor forma de si comunicar, tentando garantir o máximo de interação possível entre a mãe e os irmãos. A verdade é que uma criança surda em casa muda completamente a rotina familiar, principalmente o receio de dar mais atenção um filho melhor do que a outro causando inimizades, discórdias e disputas da atenção dos pais ou cuidadores.
Nós percebemos que numa interação entre os irmãos ouvinte e não ouvinte há um aprendizado mutuo, isto é, um aprende com o outro e a LIBRAS vem como um facilitador deste aprendizado. Com o passar do tempo as mães interferem cada vez menos na interação lúdica das crianças, pois com o passar do tempo um passa a entender o outro sem muito esforço, o irmão ouvinte começa a entender que sua irmã não ouve, então é necessário tocá-la para que ela possa olhar para ele. Essa é uma das coisas mais fascinantes desta interação, é o irmão entender a necessidade do outro e se adequar com um objetivo magnífico de passar uma informação custe o que custar.
Verificamos nas entrevistas que uma escola especial para surdos é um facilitador importantíssimo para o aprendizado e comunicação da criança surda. Também é imprescindível que a mãe saiba a linguagem de sinais para se comunicar com sua filha, para servir como intermediária para com os ouvintes e poder ajudar no aprendizado. Ingressar a criança surda numa escola especial o mais sedo possível facilita o aprendizado da língua, pois as mães confessam que, para elas aprenderem não foi nada fácil.
Infelizmente as escolas regulares não estão preparadas para receber crianças especiais, de acordo com um comentário de uma das mães as crianças inseridas numa escola regular serão meros copiadores, terão letras lindas, mas não saberão o que estão fazendo, pois o governo não tem intenção de colocar uma tradutora para traduzir a linguagem verbal para a linguagem de sinais para apenas uma ou no máximo duas crianças surdas. Isto, de acordo com a mãe é muito custo para pouco resultado. Por isso, as mães nem cogitam ingressar seus filhos em escolas regulares, o que é ato criminoso.
Constatamos que é possível haver uma interação lúdica do irmão surdo com seus irmãos. Inicialmente a interação é um pouco difícil, mas com o passar do tempo, com aprendizado da LIBRAS entre a família, com a aceitação que existe uma crianças especial, que necessita de cuidados diferenciados, mas não protegidos é possível sim, ter um bom desenvolvimento cognitivo, afetivo e interativo.


4. DISCURSÃO

Constatamos com os resultados da entrevistas que a principal dificuldade na socialização da criança surda é a dificuldade de informações, recursos e pouco conhecimento na língua dos surdos.
Ao contrario do que muita gente pensa, o desenvolvimento e a interação com as crianças surdas são iguais a de uma ouvinte, a não ser a dificuldade que eles têm em compreender e serem compreendidos. Mas se uma criança não ouvinte tem acesso a língua dos sinais o mais cedo possível e sua família junto com ela fazem parte desse aprendizado, ela terá um desenvolvimento normal como qualquer outra.
As principais dificuldades relatadas pelas mães seriam as dificuldades em aprender a língua dos sinais LIBRAS, acesso aos profissionais adequados, escolas que possibilitem uma educação voltada para os surdos. Mas com relação ao seu desenvolvimento cognitivo, elas não vêem nenhuma diferença em relação aos outros filhos, são crianças que interagem com facilidade, tem um relacionamento normal como qualquer outra criança, como brigas, ciúmes, brincadeiras, carinho; não diferentes de outras:
"...na mesma hora que tão brigando ele sede, ele chora, ela vai lá dá carinho, beija e passa o brinquedo, mas espaço de alguns minutos ela vai lá e toma de novo. Eles brincam juntos quando ela "ta" de boa "maré" pra dar as coisas a ele, mas quando ela não quer, eles não brincam juntos."

" Eu não vejo diferença quase nenhuma no relacionamento dela com os amigos ouvintes, é muito pouca a diferença na relação. Ela não é tímida, ela muito desenvolvida, faz amizades muito rápido, tem amiguinhas dela aqui do lado e da outra rua que brincam e nem parece."

Como podem constatar na fala das mães, é uma relação normal com irmão e amigos, como outra qualquer, sem déficit cognitivo.

A interação com os irmão é tranqüila. No caso dos entrevistados, as crianças surdas eram as mais velhas e como elas tiveram acesso a linguagem de sinais, junto com as mães, sua relação com a comunicação com o irmão ouvinte foi gradativa, apesar do ouvinte não saber totalmente as LIBRAS, eles conseguem se comunicar e até aprendem juntos. Tem partes da entrevista que a mãe relata que a criança surda ensina para a ouvinte, havendo uma reciprocidade na aprendizagem. Há um relato que a mãe muitas vezes se surpreende quando ocorre uma comunicação, mesmo a ouvinte, não tendo tanto conhecimento com as LIBRAS, eles se compreendem e só sendo poucas vezes que ela interfere na comunicação de ambos. No início, onde é natural, a mãe tinha uma presença maior no relacionamento de ambos, até porque a criança ouvinte por ser mais nova, não compreendia o "não-entendimento" da irmã e acabava se irritando e isso também vinha por parte da criança não ouvinte. Com o tempo o entendimento foi sendo gradativo e a relação entre ambas foi ficando mais estreita.
O relacionamento com o irmão ouvinte é de grande significação para esta criança que não consegue ser compreendida neste ambiente que a principio é estranho a ela. Quando há um afastamento entre irmão pela não comunicação de linguagem, esta criança se sentirá excluída e inferiorizada por isso, até mesmo os próprios pais se sentiram culpados por este conflito vivido por seu filho, por isso é de grande importância que uma criança surda tenha todo apoio da sociedade e principalmente em seu ambiente familiar, porque é lá que começa as primeiras relações afetivas. Não podemos tratar com diferença uma criança surda, porque desta forma já estamos excluindo-a e muitas vezes os pais, por proteção, acabam se voltando mais para ela e "ignorando" o outro filho, por vários motivos como sentimento de culpa, por achar que eles não são capazes de se relacionarem sozinhos; por achar que são indefesos e frágeis diante do que não têm (audição). Tratar o surdo como normal e o é, é um ponto importante e dará uma grande diferencial em seu convívio família, claro que tudo isso terá que ser assistido por estruturas voltadas para crianças surdas como escola que tenham uma estrutura que agregue esta criança, profissionais e principalmente que ela e também a família tenha o conhecimento na língua de sinais (LIBRAS), que será um facilitador no desenvolvimento da mesma.
"Quando ela entrou na APADA com dois anos e meio mais ou menos ela começou a mudar, no caso, ela usava sinais particulares, depois passou a aprender LIBRAS e eu não vejo dificuldade não. Ela não tem dificuldade nenhuma com a LIBRAS, sabe todos os sinais pra idade dela."

Em relação à oralização dessas crianças temos diferentes opiniões. Algumas preferem que seu filho seja oralizado, pois nem todo mundo compreende a língua do sinais e sendo oralizado ele será incluso em toda a sociedade, são estará só no mundo das pessoas que compreendem esta língua, outras vêem a oralização com segundo plano, pois a depender do grau de surdez, esta criança não será compreendida totalmente e a língua do sinais é mais significante do que a oralização.
"...não adianta minha filha ter uma perda profunda, eu forçar a ela fazer a oralização, ela forçar a falar uma palavra que ninguém vai compreender, só eu."

Ser oralizado ou não isso é só mais um fator para uma adaptação e um desenvolvimento sadio desta criança. O principal ponto significativo é a interação desta criança com sua família e a compreensão e o conhecimento que esta família terá que ter ao descobrir que seu filho é um deficiente auditivo.
Chegamos à conclusão que o relacionamento entre os irmão é normal e comum a todas as crianças, sempre lembrando que o que diferencia é a linguagem verbal, mas nos outros critérios com relacionamento com os mesmos é perfeitamente comum a todas as crianças "normais". Eles brincam, brigam, riem, choram com outra qualquer. No inicio até pela falta de entendimento na linguagem, os relacionamentos entre ambos são mais difíceis e conflituosos e que com o tempo e com o aprendizado mutuo, facilita e ajuda esta criança a ser compreendida e não excluída do seu ambiente. Quando uma criança cresce com sentimento de inferioridade isso acarretará em sua vida adulta em todos os aspectos, tanto afetivos e profissionais. Crianças que não se sentem aconchegadas na sua infância, isso sendo ouvinte ou não, terá um grande significado no futuro.


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho aprendemos que a principal diferença entre pessoas ouvintes e não ouvintes é a falta de informação e conhecimento. Crianças surdas têm um desenvolvimento tão normal como outra e, que a única coisa que as afasta do outro é linguagem e que as estruturas governamentais tem um grande caminho a percorrer neste sentido, pois tudo que é relacionado a matérias de surdez é caro e inacessível a maiorias das pessoas que tem esta dificuldade. Ser incluso em um ambiente que não está preparado para tal é difícil e conturbado.
Quando ouvimos das mães que seus filhos são normais e a relação entre os irmãos são tão comuns como qualquer outra foi quebrar mais uma idéia errada deste assunto. Quando nos relatou o cotidiano entre eles podemos perceber a perfeita normalidade entre ambos.
Foi um trabalho enriquecedor que nos despiu de mais um preconceito que tínhamos quanto a pessoas não ouvinte. Chegamos à conclusão que o surdo seria como uma pessoa de outra nacionalidade que está em uma ambiente que não fala a sua língua e que se aprendermos esta língua será mais um ser humano em um ambiente qualquer. Ser surdo não é ter déficit cognitivo, mas só não ser compreendido em sua linguagem. Pensam, sentem e agem como os ouvintes e tratá-los como diferentes só ressaltam o preconceito e os descréditos que temos dos mesmos. Pensar o outro como diferente é colocá-lo em outro mundo que não é o nosso, quebrar essas barreiras ainda é um exercício continuo e desafiador. O conhecimento talvez seja a principal arma contra isso.


6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

? Brito, Ângela M.W. de; Dessen, Maria A. Crianças surdas e suas famílias: um panorama geral. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, vol.12, n.2, em 12 de Março de 1999.
? Goldfeld, M. A Criança Surda: Linguagem e Cognição numa Perspectiva Socio-Iinteracionista. São Paulo, Plexus Editora, 2002.
? Kelman, A. C. As Implicações Familiares da Inclusão, 2005, 4p (artigo).
? Petean, Eucia B.L.; Suguihura, Ana L.M. Ter um irmão especial: convivendo com a Síndrome de Down. Rev. Bras. Ed. Esp, Marília, v.11, n.3, p.445-460, Set-Dez 2005.
? Rondon, G.; Rodrigues L.; Baltazar, J.A. Limitações do Portador de Necessidades Especiais Auditivas Quando da sua Inserção na Sociedade e no Trabalho, bem como sua Interação com a Família. Disponível em<http:// www.psicologia.com.pt> 2005, 03p (artigo), Acesso em: 09/2007
? Silva, Daniele N.H. Surdez e Inclusão Social: O que as brincadeiras infantis têm a nos dizer sobre esse debate? Cad. Cedes, Campinas, vol. 26, n. 69, p. 121-139, maio/ago. 2006 121 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Acesso em: 09/2007