Da mesma forma que o homem teve necessidades de criar mitos bons, mas que punem, também teve a necessidade de criar seres malignos, capazes de combater de todas as formas aqueles seres criados com o objetivo de ajudar o próprio homem.
Os primeiros escritos sobre as presenças de seres malignos, se encontram entre os persas.
O homem se condiciona a alguma condições, exatamente para buscar seus avanços evolutivos, prometendo-se a si mesmo, as melhorias em determinados aspectos, como forma de agradar seus deuses. As compensações sempre foram de agradar a seus deuses como: é dando que se recebe. E é através das boas atitudes que nos colocamos mais pertos de Deus. Só que cabe aqui a discussão, de como exatamente devemos operar para estarmos mais perto dele?
Com certeza não é através de atitudes ou condutas determinadas pelas sociedades que estão no poder.

Não existe sociedade mais próxima ou mais distante de Deus, mas sim sociedades mais próximas daquilo que foram idealizadas pelos seus representantes.
Fortalecem-se também as modalidades da formação dos seres humanos, entre eles a dependência da proteção relacionada ao pai, a expressão de uma figura forte, mas que reprime. Isto gera uma relação de conflito. Para Droguett (2000, p. 68), o mecanismo de retorno do reprimido. Este retorno, entretanto, também é inconsciente, já que aparece de forma camuflada e como tentativa de solução para a situação conflitante; assim nasce o fenômeno religioso (...) esse “pai glorificado” converte-se em Deus – Deus onipotente e Todo-Poderoso.
Mas há outra vertente o mesmo autor: a agressividade. Como retorna esta agressividade na religião? Não resta ao ser humano outra solução que “desdobrar” Deus: Deus bom e Deus mau, no paganismo; Deus/demônio, no cristianismo. Nas religiões monoteístas a ambivalência amor-ódio é extremamente difícil de manejar e não resta outra solução que a de criar uma personificação das forças do mal. Criamos assim, uma réplica negativa de Deus, o demônio, ao qual podemos odiar com plena justificação racional.

A democracia, palavra tão bem idealizada, onde determina os poderes de uma maioria, também foi alterada através dos séculos. Sua origem remonta aos mundos gregos, de filósofos que encontravam através dela, formas de estabelecerem-se igualdades.
Da palavra “DEMO”, que significava “POVO”, obteve como alteração das mudanças lingüísticas e das culturas, também devido às religiões que se apoderaram dela, as mudanças ideológicas, onde passou a acrescentar-se o sufixo “NIO”. Daquilo que se entendiam dificuldades, falta de condições, desigualdades, diferenças sociais, classes que eram dominadas, de um povo sofrido e questionador, que pressionavam através de um coletivo, turbas de descontrolados e que tentavam através da união, mudar. Eram então chamados de demônios.

No momento de sua criação, significavam simplesmente o descontentamento dos contrários aos sistemas de governo. Com o passar dos tempos, as ideologias de dominação, passaram a utilizar-se desta expressão como forma de dominar os próprios demônios, impondo-lhes suas vontades e mostrando quanto os poderes dos demônios são ruins para a continuidade de Deus.
Que Deus em momento algum pode ser questionado, ser colocado como um instrumento de domínios, porque se isto acontecer, as instituições que foram criadas para a dominação, devem agir e eliminar estes demônios que divergem de suas ideias.

No passado mais recente da história, tivemos a própria inquisição, elaborada pela igreja católica, eliminavam todos aqueles que dela desconfiassem que pensassem que colocassem suas vontades acima daquilo que lhes era permitido. Portanto o homem foi socializado dentro de forças benignas ou malignas, mas sempre da vontade das estruturas ideológicas que se formaram a partir de grupos que exerceriam seu poder sobre os demais.

Guerras Santas são guerras necessárias sob o ponto de vista daqueles que tem o poder para se colocarem como deuses. Colocado o seu Deus, como o principal defensor de suas terras, de suas propriedades, de seus direitos e do seu poder. Deus, chamado para defender os interesses de fortes e não de fracos.

 “Fracos caem sobre os domínios dos fortes, independentemente da vontade ou não de Deus”.
Em momento algum, Deus foi a favor ou contra determinados povos. Os judeus, que se consideram privilegiados por estarem colocados no Êxodo como os detentores da Palestina, não têm exatamente o direito de se identificarem como proprietários divinos daquelas terras, assim como nenhum outro povo o têm.

Na formação do Planeta, não se definiu direito de propriedades para os homens, da mesma forma que não se definiu territórios para nenhum animal. A construção definida foi à lei do mais forte, a lei dos que pensam, a lei dos que tem armas mais potentes, a lei daqueles que tem as tecnologias a seu favor.

Nunca devemos esquecer que as forças são definidas por acumulações econômicas e determinam o poder de quem às tem. E as crenças se criam como forma de defesa. As remoções de montanhas através da fé, sabendo-se ser algo intransponível sem a ajuda dos meio tecnológicos, e somente o próprio homem é capaz de resolver tal situação.
Sem ter a mínima capacidade de avaliar que os excessos populacionais, o descuido com o meio, a destruição da natureza, a poluição das águas, do ar, acabará por destruir o próprio homem. Não havendo deuses e nem um deus capaz de aliviar estes problemas. Não adianta ficar orando, rezando, jejuando, definindo quantidade de preces que poderão salvar o homem, se este não atingir a libertação via educação. Talvez, a única forma capaz de salvar e reduzir as desigualdades.
Não basta argumentar sobre a fé, para aqueles que a utilizam como exercícios de poder. Doutrinas, bíblias e todas as formas de enfatizar a presença de Deus, são criadas. Criadas por homens que dizem estarem agindo sobre o seu poder.

Mas os homens acreditam e se criam nestas neuroses, loucuras descabidas, alicerçadas somente na fé, em fatos considerados para alguns como verdadeiros, hipóteses personalizadas na crença de sua superioridade mortal.

As discussões de determinados assuntos com quem alimentam expectativas religiosas, achando que a felicidade e a solução de seus problemas estão nas relações com Deus. Ainda querem que o Estado ou suas Igrejas resolva tudo, defendendo suas necessidades, esperando o assistencialismo político ou dos céus, ficam a mercê daquilo em que acreditam. São partes de uma sociedade que não querem acreditar que são possíveis transformações a partir de suas próprias atitudes, bastando para isto irem à busca do conhecimento e da independência. Transformam o abstrato em algo que é possível tocar. Dizem-se tocadas, materializam seus sonhos e suas utopias. Criam anjos, espíritos, demônios, almas, sentem que precisam expiar para poderem resolver seus problemas.