A concentração normal de plaquetas no sangue humano está entre 150.000 e 400.000 a cada milímetro cúbico, portanto o PRP é definido como o plasma que apresenta uma concentração de plaquetas superior à taxa natural presente no líquido sanguíneo. Normalmente retiram-se do paciente 450 mililitros de sangue para fabricação do PRP, mas como a maior parte das cirurgias exigem quantidades menores de PRP, estudos já desenvolveram tecnologia suficiente para que com apenas 45 ou 60 mililitros de sangue consiga-se produzir entre 5 e 10 mililitros de PRP (GAMRADT; RODEO; WARREN, 2007, p. 28).

Os primeiros indícios de desenvolvimento e uso do PRP são encontrados no início da década de 1990 em cirurgias odontológicas no maxilar devido a sua eficiente qualidade como adesivo, por possuir grandes quantidades de fibrina, uma proteína presente na coagulação de vazamentos sanguíneos. Entre os primeiros benefícios observados no PRP estão o auxilio na formação óssea assim como seu efeito anti-inflamatório e antibacteriano. Esses efeitos foram atribuídos às plaquetas que além do seu papel na coagulação do sangue e na hemostasia, possuem também propriedades analgésicas e vários fatores de crescimento em seu interior. Existem vários processos de obtenção do Plasma Rico em Plaquetas, por isso a nomenclatura ainda causa polêmica sobre quais os tipos de processos que podem ser considerados PRP e quais não podem. Primeiramente o sangue é retirado do paciente através de punção venosa, logo após o sangue é colocado em um tubo e é enviado para ser centrifugado obtendo-se assim concentração de plaquetas desejada. O produto centrifugado fica dividido em três camadas, a vermelha, a mais profunda, é composta pelos eritrócitos, já a branca, ou camada do meio, contem os leucócitos enquanto a camada superior, ou amarela, contém o plasma, as plaquetas e os fatores de crescimento. A parte escolhida é então retirada e injetada dentro da lesão, no caso de lesões musculares, intra-articular, caso tenha o fim de reconstruir o

ligamento cruzado anterior ou também pode ser borrifado em volta do local, como ocorre nas lesões de ruptura do tendão de Aquiles (LOPEZ-VIDRIEIRO et al., 2010, p.270).

Após o seu surgimento na década de 1990 na odontologia, devido aos seus resultados na reconstrução maxilar, o PRP foi introduzido em pesquisas na área da ortopedia, melhorando o tratamento de diversas naturezas, como no reparo de fraturas ósseas e a aceleração da recuperação da área fraturada, principalmente em pacientes que apresentavam alto risco de não se recuperarem, também na recuperação de ligamentos, de feridas e no reparo de tecidos. Todas essas pesquisas buscaram a comprovação da eficiência do PRP, mas como foram realizadas em um público limitado e por não terem feito pesquisas paralelas em um grupo sem a utilização do PRP para que os resultados fossem comparados, elas não foram suficientes para comprovar sua eficácia, o que atualmente vem se modificando com várias pesquisas principalmente na área esportiva (Valentí Nin et al., 2009, p. 1207).

Na medicina esportiva os primeiros indícios de estudos sobre utilização do PRP no reparo de lesões estão presentes em uma pesquisa realizada por Wright-Carpenter et al. e publicada em 2004, expondo os resultados de quando eles trataram de 18 pacientes com lesões musculares com o PRP e compararam com outros 11 que passaram por procedimentos padrões de recuperação, sendo esse até hoje um dos poucos estudos feitos em seres humanos sobre a recuperação de lesões musculares. Os pacientes que receberam o tratamento junto à aplicação da substância rica em fatores de crescimento tiveram a recuperação concluída em um tempo reduzido se comparado com aqueles que passaram pelos procedimentos padrões (ALMEIDA, 2011, p. 40).

O processo de centrifugação inicia-se em uma velocidade baixa para que as células vermelhas sejam removidas, logo após, a velocidade é aumentada para que as plaquetas sejam agregadas, resultando em um aumento entre 2 a 8 vezes superior ao nível de plaquetas encontrado normalmente no sangue. Mesmo aparentando semelhança, cada processo de obtenção de PRP tem suas peculiaridades, o que diferencia cada um deles. Estas diferenças ocorrem devido a escolha do anticoagulante usado, a concentração de plaquetas formada no final, o modo de ativação das plaquetas, o método de aplicação e também a quantidade de fatores de crescimento presentes no produto final. A ativação das plaquetas é feita com a exposição do PRP à trombina bovina, que é uma enzima que auxilia na coagulação do sangue e ao cloreto de cálcio (GAMRADT; RODEO; WARREN, 2007, p. 29).

Outro método de preparação feito em máquinas de centrifugação de grande capacidade inicia-se com uma centrifugação lenta, 5.400 a 5.600 rotações por minuto separando o Plasma Pobre em Plaquetas, ou PPP. Quando o PPP é obtido, a velocidade de centrifugação diminui para 2.400 rotações por minuto fazendo com que a crosta do coágulo separe-se e se transfira para a parte superior do plasma. Essa redução de velocidade permite a coleta de uma quantidade estimada de 70 mililitros de PRP de coloração alaranjada. Quando preparado em minicentrífugas, para ser utilizado em ambulatórios ou consultórios odontológicos, 10 a 20 mililitros de sangue são o bastante (LENHARO, 2001 apud SCARANTO, 2002, p. 17).

Há de se ressaltar que um sistema que promova maior taxa de plaquetas não pode ser considerado como superior a outros, tendo como base de que a quantidade de plaquetas necessárias para um efeito satisfatório em um processo de reconstrução óssea varia de 503.000 e 1.729.000 plaquetas por mililitros de sangue (LOPEZ-VIDRIEIRO et al., 2010, p.272).

O PRP em gel é um derivado da forma de obtenção do plasma rico em plaquetas que possui várias áreas para sua aplicação, principalmente em cirurgias cardíacas e neurais. O processo tradicional de obtenção do PRP em gel consiste no isolamento das plaquetas através de um separador celular e depois o gel é formado usando cloreto de cálcio e trombina bovina. Se comparado com o processo de preparação do PRP tradicional, este com a formação do gel apresentam muitas desvantagens, pois os equipamentos necessários para realiza-lo são muito caros e encontrados principalmente em salas de operação e em bancos de sangue, o que torna o seu uso em um consultório particular muito difícil (LANDESBERG; ROY; GLICKMAN, 2000, p. 297).

Para que o paciente faça uso do Plasma Rico em Plaquetas é aconselhável que antes ele faça alguns exames como um hemograma completo e principalmente a verificação da contagem de plaquetas. Depois de realizado os exames sanguíneos devidos o paciente estará apto a utilização de seu próprio sangue para a fabricação do PRP. O paciente então terá seu sangue retirado no hospital ou na sala pré-operatória e então a quantidade de 400 a 500 mililitros de sangue é retirada dele (MARX, 1999 apud SCARANTO, 2002, p.16).

Entre os principais benefícios da utilização do PRP encontrados através de pesquisas estão o fato de seu uso reduzir o risco de transmissão de doenças infecciosas e contagiosas em comparação a outros produtos, já que ele é retirado do próprio paciente e permanece em um ambiente seguro até a sua utilização. Isso também se deve aos exames realizados previamente e que impedem propagação de infecções acusadas nos exames sanguíneos. Apesar da segurança quanto a infecções, e promover resultados satisfatórios, devido ao uso da trombina bovina para ativação das plaquetas, o tratamento apresenta o risco de desenvolver anticorpos contra os fatores de coagulação presentes naturalmente no líquido sanguíneo (SCARANTO, 2002, p. 17).

ALMEIDA, Adriano Marques de. Efeito do plasma rico em plaquetas na regeneração do terço central do ligamento da patela: estudo prospectivo randomizado. 2011. 63f. Tese (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, USP, São Paulo, 2003.

GRAMRADT, Seth C.; RODEO, Scott A,; WARREN, Russel F. Platelet rich plasma in rotator cuff repair. Techniques in orthopaedics, 2007: 26-33.

LANDESBERG, Regina; ROY, Martin; GLICKMAN, Robert S. Quantification of growth factor levels using a simplified method of platelet-rich plasma gel preparation. American association of oral and maxillofacial surgeons, 2000: 297-300.

LOPEZ-VIDRIEIRO, Emilio et al.. The use of platelet-rich plasma in arthroscopy and sports medicine: optimizing the healing environment. Arthroscopy: the journal of arthroscopic and related surgery, vol. 26, nº 2, 2010: 269-278.

SCARANTO, Malise Kist. Plasma rico em plaquetas. 2002. 24p. Monografia (Especialização em Periodontia) – Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Florianópolis, 2002.

VALENTÍ NIN, Juan Ramón et al. Has platelet-rich plasma any role in anterior cruciate ligamente allograft healing? Arthroscopy: the journal of arthroscopic and related surgery, vol. 25, nº 11, 2009: 1206-1213.