Para poder entender melhor a definição voltaremos na etimologia da palavra educar, do latim educare, “ educar, instruir ”, exducere – “ex” (fora) e “ducere” ( conduzir, guiar, liderar), instruir alguém mostrando um mundo além do visível, “levar uma pessoa para fora de si mesma, mostrar o que mais existe além dela.” 1

 

A seguir por esta definição sobre a educação, teríamos aqui um conceito simples, acabado, não como um processo contínuo e divergente.

 

Supondo ser esta a definição final para educação, ou seja, conduzir, guiar, liderar alguém, abriria uma série de vertentes que nos levaria ao mundo da subjetividade, pois dependendo da cultura de uma sociedade, a sua instrução será totalmente divergente de uma outra, sendo assim, a aplicação e até mesmo o entendimento de uma “melhor” educação fica a mercê de ideologias, crenças religiosas e modo de vida social.

 

Portanto, ao conceituar educação, nos deparamos com uma série de teorias que nem sempre oferecem um resultado final e padronizado do que seja realmente o papel da educação, isso reflete de forma violenta em sua aplicação.

Diferentes culturas, formas de pensar e filosofias diferentes, criam a ideia de educar que diferem muito uma das outras. Nesse processo ( que é contínuo e não acabado) somam se a dogmas religiosos, temos uma miscelânea de conceitos sobre o que é e como aplicar uma educação capaz de instruir alguém para além de seu mundo, inclusive podendo ser discutido essa ideia de elevar alguém a outro mundo. Pois uma cultura de ideias conservadoras, ultrarradicais, podem educar sua sociedade apenas para servir aos demais, no caso de mulheres, em muitos países onde não são educadas para se verem além delas, mas, para o pequeno mundo que os demais impõem a elas desde o nascimento e são monitoradas a não mudarem durante a vida toda, sem poder ter o livre pensamento, base de uma emancipação política, neste caso, política enquanto vida social e intelectual.

Saindo um pouco do debate entre os pensadores da educação como Vygotsky, Pierre Bourdieu, Paulo Freire, Piaget, entre outros, sem desmerecer a contribuição que cada um teve com a educação, a educação vista apenas sob este prisma é papel dos pseudos-pedagogos, o objetivo aqui é tratar da educação principalmente à sua prática, a preocupação deste artigo não tem como objetivo definir o que é educação apenas por elucidar seu significado, isso vários teóricos já o fizeram. A questão é como definir uma educação “padrão” a todos na prática, dentro das escolas, na família, na sociedade ?

 

Para responder a essa pergunta, teóricos defenderiam suas ideias, uma mãe tentaria opinar seguindo os preceitos que ela aprendeu e que provavelmente está passando a seus filhos, um militar teria uma resposta bem pragmática, algo como disciplina, ordem e regras, alguns religiosos defenderiam ideias tais como o princípio da educação seria a submissão da mulher ao homem, como princípio de sabedoria, seus filhos receberiam esse legado, ou obediência aos pais, e assim por diante, só aqui já teríamos algumas discrepâncias sobre como educar.

O outro agravante disso tudo é que temos as diferentes gerações, geração Baby boom, geração X, Geração Y, geração Z e agora a geração alpha, cada geração tem sido instruída de uma forma ou moldada pelas mudanças de seu tempo, lembrando bem aquele ditado em que “ as coisas mudaram, não sãos mais as mesmas” ou algo como” está difícil educar nestes tempos”, reflexo de uma sociedade em “evolução”.

A palavra evolução colocada em aspas, não fora por acaso, sem entrar muito no mérito dessa questão, vejo que evolução para o senso comum é de caráter mais voltado para a vida profissional e que esta vida pode lhe proporcionar em termos de poder de compra e poder social. Não está inserido o caráter espiritual e humano, nestes termos temos o que o sociólogo Zygmunt Bauman defende, que é a chamada “modernidade líquida”, fenômeno da era pós-moderna que diz que assim como o líquido é fluído e se transforma conforme o frasco ou recipiente nos quais estão contidos, a modernidade de hoje é líquida, flui e se transforma conforme as novas ideias e conjunturas num piscar de olhos. Vivemos a efemeridade, tudo é “velho”, logo que uma pequena ideia diferente é apresentada, o que antes era novidade em pouquíssimo tempo vira “modelo retrô”. Numa velocidade assustadora, as pessoas buscam o “novo” com apetite insaciável que as deixam refém não de seus desejos, mas de apenas um desejo: aproveitar ao máximo o “buffet” de coisas que esta modernidade apresenta. Ainda citando Bauman :

 

  • O mundo está cheio de possibilidade, é como uma mesa de bufê com tantos pratos deliciosos que nem o mais dedicado comensal poderia provar de todos. Os comensais são os consumidores, a mais custosa e irritante das tarefas que se pode pôr diante de um consumidor é a necessidade de estabelecer prioridades: a necessidade de dispensar algumas opções inexploradas e abandoná-las. A infelicidade dos consumidores deriva do excesso e não da falta de escolha. “Será que utilizei os meios à minha disposição da melhor maneira possível”? Será que utilizei os meios à minha disposição da melhor maneira possível? É a pergunta mais assombrosa e causa insônia ao consumidor.

Zygmunt Bauman ( Modernidade Líquida.)

 

Isso tudo influencia diretamente o modo de vida da sociedade e, ao mesmo tempo em que educadores buscam formas de se adaptar a essa nova ordem mundial de comportamento que não há precedentes na história da humanidade, acabam entrando neste círculo vicioso, trazendo essa “modernidade” em prol de uma educação melhor, não percebendo que a população está aprisionada com tantos aparatos tecnológicos e que os valores familiares, valores morais, vão se pulverizando à medida que dão lugar ao isolacionismo e individualismo criado nestes dias em que se privilegia o virtual ao invés do real. A prova disso são as doenças cibernéticas que surgem através do uso compulsivo da Internet e dos dispositivos digitais móveis, um vício que domina o usuário deixando-o cada dia mais refém do “buffet” de atrativos virtuais que lhe dão prazer por um tempo, mas que se transforma em pesadelo com o passar dos tempos, com sintomas de ansiedade, angústia e problemas de convivência com familiares, por exemplo. É um tema ainda novo, seria necessário fazer um artigo apenas sobre isso para esclarecer melhor tudo que envolve essa nova doença.

   Em suma,  a educação nos dias de hoje está longe de ser alcançada utilizando apenas os velhos conceitos fornecidos pelos estudiosos, pela sua complexidade cada dia mais visível onde diferentes gerações buscam seu lugar no espaço, a educação deverá ser repensada e sua análise deve envolver atores complexos, assim como a própria educação se apresenta em sua complexidade.

                                                                      Jeverson Luiz Cattani *

1http://exducere.webnode.es/

* Escritor , professor de Geografia, pós-graduação em História do Brasil, trabalhou na gestão educacional como diretor de escola.