Como Criamos um Mundo a partir da Teoria da Cognição de Santiago?


How we Create a World from the Theory of the Cognition of Santiago?


Fábio Santos de Andrade
Bacharelado e Licenciado em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Email: [email protected]

Resumo


Este trabalho tem como objetivo discutir o conceito de cognição à luz da Teoria de Santiago através de contribuições advindas de estudos de pesquisadores como Maturana e Varela, nos basearemos especificamente no capítulo 11: Criando um Mundo do livro de Fritjof Capra chamado: A teia da vida. A partir daí iremos analisar o conceito de cognição, como sendo um processo não unicamente humano, mas sendo um processo de todos os seres vivos.


Palavras chave: Criando, Cognição, Vida, Seres Vivos.


Abstract
This work has as objective to argue the concept of cognition to the light of the Theory of Santiago through happened contributions of studies of researchers as Maturana and Varela, will specifically base on them on chapter 11: Creating a World of the book of Fritjof Capra called: The web of the life. From then on we will go to analyze the cognition concept, as being a process not solely human, but being a process of all the beings livings creature.


Keywords: Creating, Cognition, Life, Living Beings.

PARTE 1

Introdução


A caracterização da mente, do pensar, e até mesmo do raciocinar, nesta nova concepção de cognição esta relacionada simplesmente pelo ato de viver plenamente e em todos os sentidos. Mas para compreendermos como esse processo de cognição se dá é necessário elucidarmos as raízes que deram origem a esse conceito, segundo Gregory Bateson (1979), a teoria da cognição de Santiago tem sua origem na chamada ciência cibernética que foi elaborada no bojo de um movimento intelectual que visava o estudo científico da mente numa perspectiva sistêmica, situado além dos preceitos da psicologia tradicional e do ato simples e puro de conhecer (epistemologia). Como resultado destes estudos científicos, chegou se a um modelo de cognição que se assemelhava basicamente com a inteligência do computador, ou seja, a inteligência humana assemelhasse a pseudointeligência do computador, portanto nestas circunstâncias a cognição pode ser definida como um processamento de dados ou de informações, advindas de certos conjuntos de regras e símbolos que são estabelecidos pela sociedade em que vivemos. O que é interessante falar neste momento é que os estudos na área da ciência cognitiva se ativeram durante muitos anos a visão computacional. Capra (1996, p. 210), nos fala que: “A partir da década de 70 esse modelo foi finalmente submetido a um sério questionamento, porque neste momento começa a aflorar a chamada concepção de auto-organização”, ou seja, a visão computacional era muito limitada, porque existiam pelo menos duas deficiências que se contrapunha a nova concepção de auto-organização. A primeira delas é que a questão de processamento de informações se dá de maneira sequencial, ou seja, uma de cada vez, a segunda é que ela é localizada, portanto qualquer dano em alguma parte do sistema significaria uma anormalidade de funcionalidade do todo. Deste modo essas duas características estavam em franca contradição com relação às observações biológicas.
A partir da década de 80, algumas mudanças foram sendo incorporadas através de modelos chamados de “conexionistas” de redes neurais, ou seja, com o avanço da ciência matemática e a popularidade desses novos modelos que visavam à auto-organização, foram criando novos caminhos para as pesquisas na área da ciência cognitiva. Capra (1996, p. 210), nos fala que: “Esses modelos são altamente interconexos planejados para executar simultaneamente milhões de operações que geram interessantes propriedades globais, ou emergentes”, ou seja, ocorre o que chamamos de símbolos para conexidade desses processamentos de informações para as propriedades emergentes das redes neurais, agora aqui em nível biológico, deixando de lado a visão computacional.
Para concluirmos essa pequena introdução vale o que Francisco Varela (1980), explica: “O cérebro é... Um sistema altamente cooperativo: as densas interações entre seus complementos requerem que, no final, tudo o que esteja ocorrendo seja uma função daquilo que todos os componentes estão fazendo... Em consequência disso, todo o sistema adquire uma coerência interna em padrões intricados, mesmo que não possamos dizer exatamente como isso acontece.”


PARTE 2

Teoria de Santiago


A cognição é caracteristicamente definida como sendo um ato de conhecer é um processo que deve ser descrito pelas interações do organismo. A teoria da cognição de Santiago tem esse nome porque foi desenvolvida e pensada em Santiago do Chile, através das principais contribuições de Maturana e Varela. Esta teoria se originou a partir do estudo das redes neurais, e desde sempre esteve ligada a uma concepção que segundo Maturana (1972, 1980), “envolve à autogeração e a autoperpetuação das chamadas redes autopoiéticas”, em outras palavras, a cognição é o próprio processo da vida é autopoiético porque é sutil e sublime, pois envolve contínuas incorporações do padrão de organização do sistema dentro de uma estrutura física. A partir do que foi dito, já podemos supor que o sistema autopoiético passa por contínuas mudanças estruturais semelhante a um padrão de organização de uma teia, se o processo de cognição é definido como sendo o processo do conhecer, e que devemos descrevê-las pelas interações de um organismo vivo, consequentemente a uma forte influência do meio ambiente. Segundo Capra (1996), “dê fato, é isso o que a teoria de Santiago propõe o fenômeno específico subjacente ao processo de cognição é o acoplamento estrutural”, ou seja, esse sistema autopoiético se acopla ao seu meio ambiente, desencadeando mudanças estruturais, por intermédio de interações que ocorrem recorrentemente, a nível biológico. O novo ambiente não especifica, nem dirige essas mudanças estruturais, o meio ambiente só as desencadeia, portanto para que fique claro só quem tem essa capacidade de especificar e dirigir essas mudanças é simplesmente o organismo vivo, ele não só especifica essas mudanças, como também especifica quais perturbações, vindas do meio ambiente, os desencadeiam. Aí esta o segredo da teoria de cognição de Santiago. Ao especificar quais perturbações vindas do meio ambiente desencadeiam suas mudanças, o sistema “gera um mundo”, como bem se expressa Capra (1996). Então não se trata aqui de um mundo que existe de maneira independente, mas ao contrário, é a contínua e incansável atividade de criar um mundo através do processo de viver. Nas palavras de Maturana e de Varela (1987): “Viver é conhecer”. A cognição que antes era interpretada como sendo o simples ato de processamento de dados e de informações agora ganha uma nova visão, a cognição envolve todo o processo da vida, agora também percepção, comportamento e emoção, são levados em consideração e passam a desempenhar papéis fundamentais na teoria de Santiago. No resumo deste trabalho, eu coloco com muita clareza e objetividade que o processo de cognição não é um fenômeno unicamente humano, eu falo isso porque o processo de conhecer não requer necessariamente um cérebro e um sistema nervoso. Para esclarecer melhor essa nova idéia vale o que diz Capra (1996). “Até mesmo as bactérias percebem certas características do seu meio ambiente, elas sentem diferenças químicas em suas vizinhanças e, consequentemente, nadam em direção ao açúcar e evitam o calor, se afastam da luz ou se aproximam dela. Desse modo, até mesmo uma bactéria cria um mundo – um mundo de calor e de frio, de campos magnéticos, etc.” Compreendem porque o processo de cognição não se trata unicamente de nós, seres humanos, mas se trata de todos os seres vivos do planeta.
Para compreendermos melhor essa situação, não estamos falando do mundo lá fora que é independente, estamos falando da possibilidade inevitavelmente de criarmos o mundo dentro de nós mesmos, partindo do pressuposto que viver é conhecer, portanto é cognoscível e cognosciente. Quando essas perturbações advindas do meio ambiente, mudam a estrutura do sistema, costumamos dizer também que houve mudanças na conexidade através de toda a rede, em outras palavras isso é um fenômeno distributivo. Toda a rede responde com vista a rearranjar essas perturbações que são especificadas aos seus padrões de conexidade. Capra (1996, p. 212), nos diz: “Cada organismo muda de uma maneira diferente, e, ao longo do tempo, cada organismo forma seu caminho individual, único, de mudanças estruturais que representam atos de cognição; o desenvolvimento neste caso esta sempre associada com a aprendizagem, de fato, desenvolvimento e aprendizagem são dois lados da mesma moeda. Ambos são expressões de acoplamento estrutural”. O que é interessante perceber é que nem todos os atos de cognição, significaram mudanças físicas num organismo vivo. Quando uma pessoa tem um braço ou uma perna amputada, ou quando um animal é machucado, essas mudanças estruturais não são de imediato especificado e condicionado pelo organismo; elas não são mudanças de escolha, e consequentemente não são atos de cognição. Em outras palavras, quando temos um membro amputado, temos a sensação de que esta parte do corpo perdida ainda esta ali; não são mudanças de escolha, não são atos de cognição como é o desenvolvimento do organismo vivo, portanto, essas mudanças físicas que foram impostas vêm sempre acompanhadas por outras mudanças estruturais que são especificadas como a percepção e resposta do sistema imunológico, que neste caso são atos de cognição. Quanto maior o desenvolvimento de um organismo vivo, maior é seu domínio cognitivo. Certas partes do nosso corpo representam uma parte significativa do domínio de um organismo, ou seja, quanto maior o número de interações de um organismo vivo com seu meio ambiente, maior é seu domínio cognitivo. Cada ser vivo tem a possibilidade inerente de criar um mundo não apenas exterior, mas um mundo interior, e as emoções são parte integrante na construção desse mundo. Capra (1996, p. 212), nos diz: “Por exemplo, quando respondemos a um insulto ficando zangado, todo esse padrão de processos fisiológicos – um rosto avermelhado, a respiração acelerada, tremores, e assim por diante – é parte integrante do processo de cognição”. No caso dos animais essas emoções estão condicionadas ao “instinto”. Os organismos vivos de maneira geral, não conseguem perceber tudo que se passa em sua volta, portanto a maioria dos fenômenos são imperceptíveis tanto para os olhos, quanto para os ouvidos, e também sabemos que aquilo que percebemos é também o que nos interessa, em grande parte condicionados pela sociedade em que vivemos, através do contexto cultural e também pelo contexto conceitual. Para nós seres humanos a possibilidade de criarmos um mundo interior esta intimamente ligada com o pensamento, a linguagem e com a consciência.

PARTE 3

Concepções que se complementam (Bateson e Maturana)


Quando falamos em computadores, pensamos imediatamente em milhões de informações que o computador pode processar, e isso significa que ele coordena vários tipos de símbolos com base em certas regras, muitas das vezes associamos a “inteligência do computador” com a inteligência humana algo que já foi superado com as pesquisas em ciência cognitiva, mas muita das vezes ainda ocorre algumas confusões que são causadas pelo fato de alguns especialistas na área da computação usarem termos tais como “inteligência”, “memória” e “linguagem” para descrever computadores e tudo que envolve a informática no geral, atribuindo assim expressões que se referem aos fenômenos humanos que conhecemos bem a partir da experiência adquirida com o passar do tempo.
O computador representa uma unidade física, fixa no tempo e no espaço, nos seres humanos devemos introduzir códigos e símbolos para o processamento das informações, não havendo mudanças na estrutura da máquina em nenhum sentido. O sistema nervoso de um organismo vivo funciona de maneira muito diferente. Como vimos ele reage a certos estímulos vindos do meio ambiente, mudando assim sua estrutura, a fim de se adequar as novas condições impostas pela natureza. O sistema nervoso não processa informações provenientes do meio exterior, mas, pelo contrário, cria um mundo dentro de si mesmo.
A cognição humana envolve certas características tais como: linguagem, pensamento abstrato, símbolos e representações mentais, mas essas características são apenas uma parcela muito diminuta da cognição humana, elas não são base para as nossas decisões e as nossas ações, inevitavelmente usamos mais o coração do que a razão para resolvermos algumas questões porque em grande parte essas decisões a serem tomadas estão sempre envoltas pelas emoções, ou como diz Capra (1996): “e o pensamento humano está sempre encaixado nas sensações e nos processos corporais que contribuem para o pleno espectro da cognição”.
Comparar a inteligência humana com a pseudointeligência do computador é em minhas palavras colocar a carroça na frente dos bois, a inteligência humana se baseia em grande parte pelas experiências adquiridas e vividas durante o processo de viver, e para a resolução de algum problema a inteligência humana se baseará no senso comum que são justamente essas experiências acumuladas durante toda a vida, no entanto como diz Capra (1996), “o senso comum não esta disponível aos computadores devido à cegueira destes a abstração e a limitações intrínsecas das operações formais, e, portanto é impossível programar computadores para serem inteligentes”. O mesmo vale para os termos linguagem e memória, não podemos embutir em computadores uma teia de convenções sociais e culturais, onde existe um contexto de significados que é estritamente humanos, não podemos programar essas máquinas com senso comum, porque o senso comum baseia se como já foi dito em experiências vividas.
O computador não compreende a linguagem humana, mas ele pode ser programado para reconhecer e até mesmo manipular certas estruturas linguisticas simples, algumas máquinas desempenham várias atividades em indústrias. Desse modo, as máquinas ganharam uma importância muito grande em vários campos de conhecimento, digamos que hoje, por exemplo, não podemos viver sem um aparelho celular, um computador, enfim é o progresso tecnocientifico que se torna necessário para crescermos mais e mais.
A ciência cibernética deu origem à chamada teoria da cognição de Santiago, faz se necessário esclarecer que existe uma diferença chave entre as concepções de Maturana e a de Gregory Bateson, ambos concordam que a concepção do processo de conhecimento é identificado com o processo da vida, mas a abordaram de maneira muito diferentes.
Bateson foi um dos estudiosos que durante a década de 40 desenvolveu a chamada ciência cibernética, devido ao seu envolvimento com essas idéias cibernéticas, Bateson jamais transcendeu o modelo computacional para a cognição. De fato Bateson desenvolveu ao longo dos anos “seus critérios de processo mental”, mas não os desenvolveu numa teoria dos sistemas vivos. Ao contrário Maturana com seus estudos colaborou com uma teoria da “organização da vida” que fornece ferramentas teóricas para se entender o processo da cognição como sendo o processo da vida. O pensamento de Maturana vai muito além da visão computacional de Bateson, deixando claro que a autopoiese do conhecimento, nada, mas é do que viver intensamente a vida, criando um mundo de possibilidades estreitamente ligado a linguagem, inteligência e as emoções.


PARTE 4


Rede imunológica

A teoria de Santiago provavelmente estimulará estudos em várias áreas, principalmente na neurociência e na imunologia. A mente e o cérebro não é uma coisa, mas sim um processo, processo que é identificado com a vida, a mente e o cérebro são elementos altamente interconexos que desempenham funções estritamente específicas para a manutenção de uma rede autopoietica. Atualmente tem se dado uma importância muito grande ao que conhecemos como imunologia, ou seja, o sistema imunológico de dado organismo vivo, deixou de ser simplesmente o sistema de defesa do corpo para se tornar como diz Capra, (1996, p. 219): “uma rede imunológica”. Em outras palavras, a imunologia tradicional não leva em consideração quaisquer processos cognitivos efetivos, pois a mesma metaforicamente falando mantém termos tais como: exércitos de glóbulos brancos, generais, soldados, e assim por diante; para designar as células de defesa do organismo, mas como diz Francisco Varela e seus colaboradores (1980, 1987): “tem se desafiado seriamente essa concepção militarista”. De fato essa concepção não leva em consideração os processos cognitivos envolvidos.
A rede imunológica, assim interpretada age de maneira muito sutil, pois seus componentes se ligam uns aos outros; se entendermos que as defesas do nosso organismo (anticorpos) se ligam a tudo e a todos, de fato deveríamos esta nos destruindo. Mas não o estamos. De alguma maneira o sistema imunológico parece capaz de qualificar entre as células do próprio corpo e os agentes invasores, ou como diz Capra (1996, p.219): “entre o eu e não eu”. Segundo a visão clássica da imunologia qualquer agente estranho é reconhecido, ligado quimicamente e neutralizado pelos anticorpos, mas como o sistema imunológico pode reconhecer suas próprias células sem inutilizá-las? Temos que entender que o sistema imunológico não é algo isolado dentro do organismo vivo, o sistema imunológico precisa ser entendido como uma rede cognitiva, como explica Francisco Varela e o imunologista Antônio Coutinho (1980, 1987), “a dança mútua entre o sistema imunológico e o corpo... Permite que o corpo tenha uma identidade mutável e plástica ao longo de toda sua vida”. Como já foi dito a atividade cognitiva do sistema imunológico resulta de seu acoplamento estrutural com seu meio ambiente. Quando agentes estranhos invadem o organismo vivo, elas perturbam a rede imunológica, desencadeando mudanças estruturais. A resposta da rede imunológica de imediato não é destruir as moléculas invasoras, os anticorpos agem de maneira à regular esses agentes invasores a níveis dentro do contexto das outras atividades reguladoras do sistema.
Entendendo o sistema imunológico como uma rede cognitiva, auto-organizadora e autorreguladora, se desvenda o mistério da qualificação, distinção do eu/não eu. Esse mistério é facilmente resolvido entendendo que o sistema imunológico não distingue, e não precisa distinguir, entre células do corpo e agentes estranhos, pois ambos estão sujeitos aos mesmos processos reguladores, como bem coloca Capra (1996, p.220).
Em absoluto, ainda não são bem entendidas as propriedades auto-organizadoras das redes imunológicas, sabe se, no entanto que o campo da imunologia cognitiva ainda necessita de muitos estudos, mas alguns pesquisadores na área especulam a respeito de aplicações clínicas para o tratamento das doenças autoimunológicas, de fato esses avanços no trato de doenças autoimunológicas são estratégias terapêuticas que fortaleceram a rede imunológica em consonância com sua conexidade.


PARTE 5

Rede psicossomática


Pesquisadores americanos identificaram um grupo de moléculas denominadas peptídios, como sendo moléculas que se caracterizam por facilitar o diálogo entre o sistema nervoso e o sistema imunológico. De fato esses pesquisadores descobriram que essas células ditas mensageiras interligam três sistemas distintos – o sistema nervoso, o sistema imunológico e o sistema endócrino – numa única rede.
Os peptídios correspondem a uma família de sessenta a setenta macromoléculas que antes da década de 80 recebiam nomes tais como – hormônios, neurotransmissores, endorfinas, etc. Esses mensageiros consistem numa curta cadeia de aminoácidos, que se prendem a receptores específicos, os quais existem em abundância na superfície de todas as células do corpo, interligando células imunológicas, glândulas e células do cérebro, formando uma rede psicossomática que se estende por todo o organismo.
Uma mudança de percepção começou no início da década de 80, porque pensava se que certos hormônios, que se supunha serem produzidos por glândulas, são peptídios e também são produzidos e armazenados no cérebro. Por outro lado descobriram que um tipo de neurotransmissor denominado endorfina que se pensava serem produzidos somente no cérebro, também é produzido em células imunológicas. Capra (1996) nos fala que: “à medida que um número cada vez maior de receptores de peptídios eram identificados, foi se verificando que praticamente qualquer peptídio conhecido é produzido no cérebro e em várias partes do corpo”. Por isso não posso, mas fazer distinção nítida entre o que seja o cérebro e o que seja o corpo. Os peptídios formam uma rede que constituem manifestações bioquímicas das emoções, desempenham também um papel importantíssimo nas atividades coordenadoras do sistema imunológico e interligam e integram atividades mentais, emocionais e biológicas. Os peptídios são produzidos em todas as partes do corpo, os que são produzidos no sistema nervoso desempenham um papel vital nas comunicações por todo o sistema nervoso, em sua maior parte, os sinais vindos do cérebro são transmitidos através dos peptídios emitidos por células nervosas. No sistema imunológico, as células brancas do sangue não só tem receptores para todos os peptídios como também fabricam peptídios. Os peptídios controlam os padrões de migração de células imunológicas e todas as suas funções vitais.
A descoberta de que os peptídios são a manifestação bioquímica das emoções é algo surpreendente uma vez que a maior parte dos peptídios pode constituir uma linguagem bioquímica universal das emoções, por isso que eu digo que é surpreendente, por exemplo, se ficarmos nervosos, ansiosos ou contentes, poderemos atribuir todas essas manifestações bioquímicas a um grupo específico de macromoléculas denominadas peptídios. Em todo o nosso corpo existem os chamados peptídios, mas em algumas partes específicas do nosso organismo como o sistema límbico e o intestino a uma grande concentração desses receptores; às vezes sentimos “sensações na barriga”, como sendo um “friozinho”, nada, mas é do que os peptídios que revestem o intestino que ali se encontram em grande quantidade, eles possibilitam essas sensações no nosso corpo.
Se é verdade que cada receptor de peptídio é mediador de um determinado estado emocional, isso significa que todas as percepções, pensamentos, estão envoltas em macromoléculas de peptídios. Em outras palavras, todas as nossas percepções e os pensamentos são coloridos pelas emoções, de fato essa rede química de peptídios integra todas as nossas atividades mentais, emocionais e bioquímicas.


PARTE 6

Conclusão


Este trabalho nos dá uma idéia ampla do que seja o conceito de cognição, aprender a aprender parece algo muito difícil, mas isso não é verdade, viver nos dá a possibilidade de estabelecer vínculos interpessoais tão relevantes que aprendemos mesmo achando que não estamos aprendendo nada. O fenômeno que é o aprender esta implícito nas relações humanas e é isso que a teoria de Santiago propõe viver e aprender são dois lados da mesma moeda. A cognição segundo Maturana é descrita como o próprio processo da vida porque sistemas vivos são sistemas altamente cognitivos. A cognição é um processo intimamente ligado as interações do organismo vivo, ou seja, o aprender é um fenômeno que se expande por todo o sistema vivo, operando por intermédio de uma intrincada rede química de células que integra nossas atividades mentais, emocionais e biológicas. Em todo esse processo de aprendizado o organismo vivo reage aos estímulos provenientes do meio ambiente a fim de se adaptar a essas mudanças o sistema vivo responde também com outras mudanças chamadas estruturais em sua composição possibilitando uma auto-organização em seus padrões de conexidade por isso que aprendemos mais e mais. Em última análise a cognição é um fenômeno de todos os seres vivos, aprender é viver, viver é conhecer.

Referências Bibliográficas
BATESON, Gregory. Mind and Nature: A Necessary Unity, Dutton, Nova York, 1979.
CAPRA, Fritjof. Criando um Mundo. In: ______ A Teia da Vida, São Paulo, Cultrix, 1996. p. 210-220.
MATURANA, Humberto & FRANCISCO Varela. "Autopoiesis: The Organization of the Living", originalmente publicado sob o título De Maquinas y Seres Vivos, Editorial Universitária, Santiago, Chile, 1972; reimpresso in Maturana e Varela (1980).
MATURANA, Humberto & FRANCISCO Varela. Autopoiesis and Cognition, D. Reidel, Dordrecht, Holanda, 1980.
MATURANA, Humberto & FRANCISCO Varela. The Tree of Knowledge, Shambhala, Boston, 1987.