Como a psicologia pode ser usada para evitar crimes: O papel do psicólogo em programas de reabilitação.

Escrito por Elisangela Cristina Aparecida Pereira

Resumo

Compreender os aspectos da criminalidade e do comportamento criminoso pode levar à criação de estratégias mais eficientes para reabilitar criminosos e prevenir crimes. Apesar de a psicologia forense ser uma área relativamente nova, esta já começou a ter o seu lugar e respeito na área criminológica, onde é incontestável a contribuição de psicólogos para trabalhar com aspectos psicológicos e de comportamento, envolvidos na reabilitação e programas de prevenção para infratores.

Palavras-chave: prevenção de crimes, psicologia forense, comportamento criminoso, reabilitação.

 Introdução

Hollin (1992) argumenta que, para ocorrer o crime é necessário haver uma oportunidade e uma escolha individual. Portanto, para se falar sobre prevenção de crimes é necessário aprofundar e discutir sobre o comportamento criminal, escolhas individuais, ambiente e a eficiência dos métodos que têm sido usados ​​para lidar com crimes.

Muitos argumentam que a única maneira de prevenir os crimes é tratar os criminosos com mais rigor, punindo-os de forma adequada, tirando-lhes a liberdade. No entanto, apenas privá-los da liberdade e mantê-los afastados da sociedade não pode ser a melhor solução para evitar crimes, tendo em vista o fato de que se não houver um programa eficiente para a reabilitação, provavelmente, os infratores não estarão preparados para voltar à sociedade, tornando-se mais agressivos e perigosos para outras pessoas, pois não é por acaso que prisões são popularmente chamadas de “escolas do crime”.

Portanto, alguns autores afirmam que para prevenir crimes é necessário trocar o foco dos crimes para os indivíduos, trabalhando com as suas razões para cometerem crimes. De acordo com Sereny (1974), os criminosos não nascem com uma natureza criminosa, eles se tornam moralmente "monstros" por causa de interferências no seu desenvolvimento. Por conseguinte, como as pessoas são interdependentes e responsáveis ​​uns pelos outros, recebendo influências do meio ambiente, família e sociedade, a escolha de um indivíduo em ser criminoso ou não, vai depender do ambiente em torno dele.

Entretanto, autores como Cooke, Baldwin e Howison (1990) afirmam que todos os infratores são diferentes e eles cometem crimes por razões diferentes. Para eles, não há uma explicação simples sobre o comportamento criminal, parte porque o que se sabe sobre o crime baseia-se em criminosos que estão pagando por seus crimes, mas há muitos que cometem infrações e nunca foram presos. Assim, para entender o comportamento criminoso e seu desenvolvimento, é necessário sim, levar em consideração aspectos como primeiras influências, ambiente familiar, as circunstâncias atuais, status social e crises na vida do criminoso, porém, com certa cautela, pois pessoas diferentes são afetadas de formas diferentes pelos mesmos fatores.

Abordagens Psicológicas na Prevenção de Crimes

Andrews (1995), fala sobre a psicologia da conduta criminosa (PCC) que usa métodos tais como a psicologia da personalidade e social geral, como uma forma de tentar entender, prever e prevenir o comportamento criminoso. Este autor acredita que a abordagem psicológica é aberta e flexível, levando em consideração que as causas dos crimes são circunstanciais, situacionais, culturais, estruturais e político-econômico.  Portanto, tomando a psicologia da conduta criminosa como base para a construção de programas de reabilitação, é possível trabalhar em diferentes aspectos com os criminosos, o que pode reduzir a reincidência.

Deste modo, assim como afirma Hollin (1996), quando o programa de reabilitação é baseado em princípios com alto efeito na redução do comportamento criminoso, estudos mostraram uma diminuição na reincidência de20 a40 por cento. Assim sendo, este autor acredita que a psicologia pode contribuir muito para os programas de reabilitação, usando sua metodologia e aplicação de sua teoria a alguns aspectos do crime, como por exemplo, o uso de trabalho clínico em casos de ofensas violentas ou sexuais.

Por conseguinte, Harrower (1998) afirma que os tratamentos com foco na teoria do comportamento cognitivo, parecem ser mais eficazes do que outros tratamentos, pois neste tipo de tratamento os infratores são treinados para desenvolver suas próprias habilidades interpessoais, para fazer escolhas e tomar diferentes direções para superar os crimes. Este autor acredita que a psicologia criminal pode contribuir para prevenções de crimes, programas de reabilitação e tratamento das vítimas, usando teorias do comportamento.

Segundo MacKenzie (1997), para ter sucesso, programas de tratamento precisam ser bem planejados, projetados e realizados. Este autor também defende a idéia de que programas que seguem um comportamento cognitivo e abordagem de aprendizagem social, são mais eficazes do que outras técnicas, tais como aconselhamento, por exemplo.

Porém, mais do escolher a abordagem mais eficiente, é essencial que o tratamento funcione para o tipo de delinqüente em questão, levando em consideração quais são uais s em consideraçgem corretam correta, mento crimminosos, reabilitaças características relacionadas ao comportamento criminoso que podem ser mudadas e levando em consideração fatores de risco que podem levar à atividade criminosa, como gênero, idade e história passada. Assim como afirma Harrower (1998), a maioria dos tratamentos funcionam melhor do que nenhum tratamento e é possível identificar as principais características presentes em programas de reabilitação eficientes, tais como: estrutura e foco de uma abordagem particular a um comportamento específico; programas concebidos a partir de características específicas dos infratores e generalização para além do ambiente institucional.

Além disso, Wortley & Summers (2005), acrescentam que os programas de prevenção e reabilitação envolvem também uma análise da situação, levando em consideração a relação entre comportamentos e ambiente prisional. Portanto, deve-se tomar providências para evitar superlotação, condições desumanas e até bullying na prisão, o que contribuirá para uma melhora do comportamento dos presos e melhor adesão aos programas de reabilitação. 

Conclusão

Há muitos pontos de vista diferentes sobre as causas que levam ao comportamento criminoso e a eficácia de programas para prevenir crimes. Porém, é muito difícil apontar quais são as abordagens mais eficientes na predição e prevenção de crimes.

Portanto, é necessário realizar mais pesquisas nesta área, levando em consideração não apenas os aspectos criminais, mas também as características sociais, pessoais e ambientais relacionadas ao comportamento criminoso. Destarte, Psicologia pode contribuir com uma visão diferente, com foco em aspectos individuais, criando programas de reabilitação e prevenção do crime, mais eficientes.

 Referências

  1. Andrews, D. A. (1995). “The Psychology of Criminal Conduct and Effective Treatment.” Pp 35-62 In J. McGuire (ed.) What Works: Reducing Reoffending—Guidelines from Research and Practice. New York: John Wiley. 
  2. Cooke, David J., Baldwin, Pamela J. and Howison, Jaqueline. (1990). Psychology in Prisons. London: Routledge.
  3. Harrower, Julie. (1998). Applying Psychology to Crime. London: Hodder & Stoughton.
  4. Hollin, Cliver R. (1992). Criminal Behaviour: A Psychological Approach to Explanation andPrevention. London: The Falmer Press.
  5. Hollin, Cliver R. (1996). Psychology and Crime: An introduction to criminological psychology. London: Routledge.
  6. MacKenzie, D.1997. “Criminal Justice and Crime Prevention,” In Sheman, L.W.,Gottfredson, D., Mackenzie, D, et al (ed).  Preventing Crime: What Works,What Doesn’t, What’s Promising: A Report to the United States Congress, Washington, D.C.: U.S. Department of Justice, National Institute of Justice.
  7. Sereny, G. (1974). Into that Darkness: From Mercy Killing to Mass Murder. London: Random House.
  8. Wortley, Richard & Summers, Lucia (2005). “Reducing prison disorder through situational prevention: the Glen Parva experience”. Pp.86-99.In Smith, Melissa J. & Tilley, Nick (ed). Crime Science. New approaches to preventing and detecting crime. Cullompton: Willian Publishing.