1. Apresentação

Objetiva-se com esse artigo contextualizar o tema comércio justo com a realidade do Vale do Jequitinhonha.

Na primeira parte é feita uma caracterização do Vale do Jequitinhonha, levando em consideração aspectos sócio econômicos.

Posteriormente são apresentados alguns conceitos ligados ao comercio justo. Na terceira parte o tema é contextualizado com a realidade da região e por fim as considerações finais do autor.

  1. Caracterização do Vale do Jequitinhonha

O vale do Jequitinhonha é largamente difundido nos diversos meios de comunicação como uma região de poucas oportunidades com graves problemas sociais. Abordagem essa, que também não é diferente em outras regiões de Minas Gerais. Mas, por outro lado, também existe uma rica cultura, que se manifesta de várias formas entre os seus moradores (NASCIMENTO 2009), além de apresentar um grande potencial agrícola, que mesmo pouco expressivo ainda responde por 30% do PIB regional (BASTOS e GOMES 2011), que pouco é abordado.

O Vale do Jequitinhonha fica localizado nordeste de Minas, sendo banhado pelo Rio Jequitinhonha, o Vale do Jequitinhonha ocupa uma área de 79mil km2, com uma população de aproximadamente 980mil habitantes onde mais de dois terços dela vive na zona rural. É composto, por 75 municípios, dos quais 52 estão organizados nas microrregiões Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha, e 23 estão integrados à antiga área mineira da SUDENE e mais de dois terços dela vive na zona rural (PONTELLHO, 2008).

De acordo com Nascimento (2009) as origens da formação econômico-social do Vale do Jequitinhonha foram similares às do Estado de Minas Gerais como um todo. O seu povoamento iniciou-se juntamente com o ciclo do ouro, no século XVII, consolidando-se no século XVIII, durante o ciclo do diamante. Posteriormente, com o declínio do ciclo do ouro, “processou-se amplo movimento inverso de migração”, e outras atividades tiveram que se desenvolver mais intensamente, sobretudo as atividades agropecuárias (CODEVALE, 1986). Mas de modo geral, prevaleceu a agricultura de subsistência, em função do estado de abandono em que se encontravam as atividades agro-pastoris, os métodos rudimentares utilizados os e a diminuição da renda (PEREIRA, 1996).

  1. Comercio justo, conceitos seu contexto no Brasil e no mundo

O comércio justo trata-se de uma iniciativa desenvolvida mundialmente, que possui sua origem em experiências iniciadas há pelo menos cinco décadas. Sua organização e articulação vêm se desenvolvendo ao longo desse período e têm como destaque as denominadas National Initiatives (NI) (SCHNEIDER, 2012). Sendo, que essas iniciativas, são reconhecidas em diversos países, em especial alguns do continente europeu, como Alemanha, Reino Unido, Holanda, França e Itália, além de Estados Unidos, Canadá, e Japão, entre outros (MENDONÇA, 2011).

O comércio justo tem como princípio a geração de oportunidades para produtores economicamente em desvantagem, é uma estratégia para a diminuição da pobreza e o desenvolvimento sustentável. Seu propósito é de gerar oportunidades para produtores que foram explorados economicamente ou marginalizados pelo sistema convencional de comércio (SCHNEIDER, 2012).

No Brasil, diferentemente da maioria dos países que estruturaram o comércio justo sob orientação da relação histórica de exportação de produtos do Sul para o Norte ou o chamado modelo internacional, o comércio justo, aqui, surgiu e se desenvolveu num contexto de singularidades, cuja principal diferença está baseada na aprovação, em 2010, do Decreto Presidencial no 7.358, que instituiu, no âmbito do governo federal, o SCJS, projetando assim a iniciativa a um patamar de política pública e ampliando a visão do comércio justo para além de um único tipo específico de comércio.

  1. Comércio justo e desenvolvimento no Vale do Jequitinhonha

O mercado global de consumo de produtos certificados com selos de comércio justo está em constante expansão, demonstrando assim uma oportunidade de inserção para os agricultores familiares, isso contribui para o reconhecimento das especificidades étnicas e sociais como agregadores de valor em seus produtos (PINTO et al 2011).

 O movimento do Comércio Justo surge também para estabelecer critérios de transparência e equidade na produção e comercialização de produtos de países subdesenvolvidos diretamente nos países desenvolvidos (PINTO et al 2011).

Nascimento (2009), aponta que o Vale do Jequitinhonha revela uma realidade paradoxal, em que a carência social e a riqueza cultural são dois extremos por onde perpassam diversas oposições aparentes. Passado e presente; imigração e emigração; fama e anonimato; simplicidade e glamour; pobreza e opulência; secas e enchentes; escassez e abundância; integram o desenvolvimento de um processo que resulta na configuração de uma realidade cujo traço distintivo é a diversidade sociocultural. Essa análise é facilmente transcrita para todos os setores que movimentam a economia do vale.

Mesmo sendo uma região reconhecidamente desfavorecida em vários aspectos, pouco dessa fama é aproveitado a seu favor. Algumas vezes, criando crenças limitantes do seu potencial produtivo.

  1. Considerações Finais

Mesmo uma característica do comércio justo ser a garantia de um preço justo a produtos oriundos de grupos desprivilegiados, as regiões que mais difundiram essa prática no país, boa parte delas, possuem indicadores econômicos e sociais superiores, se comparados ao Vale do Jequitinhonha

Por se tratar de um tema que apesar de antigo, possui destaque recente no país, é algo muito pouco explorado no vale.

O Vale do Jequitinhonha possui um selo social forte no país, mas ainda muito pouco explorado. A falta de representatividade e expressividade de entidade de classe é sem dúvidas um fator limitante para o comercio justo na região.

A falta de planejamento de muitas entidades, cria-se uma estagnação viciosa. Um exemplo disso, são as associações comunitárias presentes em todos os municípios do vale, em que muitas possuem um potencial produtivo, de geração renda para a comunidade, mas não o exploram.

Praticamente todas as atividades produtivas do setor agropecuário do vale, são possíveis de se atuar de alguma forma por meio de comércio justo. Mas, são necessárias ações estruturantes de capacitação, fortalecimento das instituições e de todos os autores envolvidos no processo, para que haja um envolvimento de todos.

REFERÊNCIAS

BASTOS, S. Q. A.; GOMES, J. E. Dinâmica da agricultura no estado de Minas Gerais análise estrutural-diferencial para o período 1994-2008. RURIS - Revista do Centro de Estudos Rurais – UNICAMP. Campinas-SP.
  1. 5, N. 2, set. 2011. Disponível em:

<http://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/ruris/article/viewFile/1463/980>

Acesso em 01 de novembro de 2016.

ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2003. Disponível em: http://www. pnud.org.br/atlas/ Acesso em: 21 de novembro de 2016.

CODEVALE. Vale do Jequitinhonha: informações básicas. Belo Horizonte: CODEVALE, 1986, 168 p. DIAS, Fernando Correia. A imagem de Minas: ensaios de sociologia regional. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1971, 179 p.

MENDONÇA, H.  Comércio justo e economia solidária no Brasil e o papel da política pública na sua Promoção. ECONOMIA SOLIDÁRIA E POLÍTICAS PÚBLICAS N. 49. nov. 2011. Ipea – Brasília. SBS - Quadra 1 - Bloco J - Ed. BNDES 70076-900 - Brasília - DF – Brasil. 2011. Disponível em:

<http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3934/1/bmt49_econ01_comerciojusto.pdf> Acesso em 01 de novembro de 2016.

NASCIMENTO E. C. Vale do Jequitinhonha: Entre a carência social e a riqueza cultural. Revista de Artes e Humanidade, n, 4 mai. A out. 2009. LEPCON, Laboratório de Estudos e Pesquisa da Contemporaneidade – UFABC. Santo André – SP.

PEREIRA, V. L. F. O artesão da memória do Vale do Jequitinhonha. Belo Horizonte: Ed. UFMG; Ed. PUC/MG, 1996, 206 p.

PONTELLO, M., UFMG. Programa Pólo Jequitinhonha. Belo Horizonte: Ed. UFMG 2016. Disponível em: <https://www2.ufmg.br/polojequitinhonha/O-Vale/Sobre-o-Vale> Acesso em: 16 de novembro de 2016.

PINTO, N. L.; ZANARDI, P. P.; ISABEL C.; SILVA, L. Comércio justo e agricultura familiar: a certificação Social como potencialidade de acesso aos mercados. 5° congresso brasileiro de extensão universitária. Porto Alegre-RS, nov. 2011.

SCHNEIDER, J. Relatório da Pesquisa Mundial de Comércio Justo Atualização 2010 - América Latina e Brasil. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –SEBRAE, Brasília-DF. 2012. Disponível em:

<http://base.socioeco.org/docs/nt0004733a.pdf.> Acesso em 21 de novembro de 2016.