A SP-Arte de 2011 (Feira Internacional de Arte de São Paulo), que já está na sua sétima edição, irá expor entre os dias 12 até 15 de maio mais de 2.500 obras de arte moderna e contemporânea.
Realizada no prédio da Bienal, localizado nas imediações do parque do Ibirapuera, a feira tem como objetivo a comercialização de obras de artes de artistas nacionais e internacionais, além de promover mesas redondas e lançamentos de livros e publicações relacionadas à arte.
Divulgada amplamente pela imprensa paulistana, a feira é considerada um "grande evento cultural", merecendo até incentivos governamentais, via Lei Rouanet (segundo os jornais o orçamento para a criação da feira gira em torno de R$ 2 milhões de reais).
Diante desse fato lembrei-me dos ensinamentos que o nosso grande crítico de arte, Mário Pedrosa. Nos anos 60, ele já nos alertava sobre a perigosa influência da sociedade de consumo sobre as obras de arte, caracterizando-as de "arte pós-moderna".
Para o nosso crítico, a "arte pós-moderna" é conformista em suas idéias, além de sua inspiração vir diretamente "da função da publicidade, que estimula acima de tudo o positivo das motivações para o consumo", ou seja, é uma arte puramente comercial. Não podemos deixar de lembrar que os grandes "avatares" este estilo de arte, conhecida como "Pop-Art", tinham algum de seus artistas envolvimento na área da publicidade: Andy Warhol foi um desenhista de sapatos da moda; Lichtenstein trabalhou como desenhista e técnico na arrumação de vitrines; Oldenburg era ilustrador de revistas.
Hoje a obra de arte é cada vez mais um produto da indústria, sua estética agora é lucro, a SP-Arte 2011 é uma prova disso. "Mas não tenho interesse em transforma a feira em feirão", disse a diretora e criadora do evento, Fernanda Feitosa, querendo retirar o rótulo mercantil do evento.
Ao longo da entrevista a nossa diretora (parecendo mais uma especuladora das bolsas de valores) exalta o sucesso "comercial" da edição anterior do evento, afirmando que foram cerca de R$ 32 milhões de comércio direto de obras artísticas. "E pode ser que tenha acréscimo este ano", afirma ela num tom otimista. Percebe-se que o valor estético das obras de arte é medido pelo seu valor comercial ou o seu potencial de venda.
O pior de tudo é como o Ministério da Cultura financie, por meio de isenções fiscais, a SP-Arte 2011. O evento além de não oferece nenhuma contrapartida em termos sociais e educativos, no campo da estética não há novidades. E que paga por tudo isso é o contribuinte, ou melhor, essa "gente diferenciada".
Decadência foi essa a palavra mais usada por Mário Pedrosa depois que ele voltou do exílio em 1977. Em uma entrevista no ano de 1980, nosso crítico já enxergava essa decadência: "O que se pode dizer é que estamos em uma época de decadência, embora em épocas de decadências às vezes surjam grandes obras de arte. Hoje a arte não tem a mesma importância que tinha há cinqüenta anos atrás. [...] Estamos numa época de crise ainda mais aguda no Terceiro Mundo [...] Diante de conflitos tão radicais, terríveis, insolúveis, é natural que a arte passe para um nível secundário".
A Feira SP-Arte 2011 é um exemplo típico dessa decadência já constatada há 31 anos por Mário Pedrosa. Uma arte destinada ao deleite da elite e definida pelos ditames das especulações financeiras.