A partir da primeira publicação, a carta de Pero Vaz de Caminha que despertou grande interesse e conquistou enorme público leitor, conheceram várias edições, novas leituras e traduções em outras línguas. Desde a sua divulgação, tem sido saudado como um documento raro capaz de fornecer informações sobre a viagem de 1500, os episódios ocorridos durante o estado da expedição no Brasil, à fauna e a flora brasileira e os índios tupiniquim, como também de esclarecer várias dimensões da mentalidade e dos interesses dos navegadores da Europa.

        A carta de Pero Vaz de Caminha insere-se no esforço conjunto dos europeus, concretizados nos textos de viagens da época no sentido de construir autoridades; a medida, mesmo que os navegantes entravam em contato com diversas terras e povos, alguns, como os índios e o futuro do Brasil totalmente desconhecido deles com os quais seria preciso conviver dali em diante e para conseguir dominar sobre tudo conhecer. Na de Pero Vaz de Caminha estão também registrado as primeiras tentativas de manejar categorias para aprender esse outro ainda tão novo. Conforme apontam as notas ao texto as duas, mais importantes categorias europeias futuras, relativas aos índios tanto o do “bem selvagem” quanto à do “selvagem, inferior e bestial” (a qual se associou muitas vezes a características “demoníacas”), estão já sugeridas na carta.

      O texto do escrivão foi além. Reunindo o que viu às categorias que construiu, Caminha completou o ciclo: propôs ao rei, no final de seu texto, caminhos concretos para o aproveitamento do território e de seus habitantes, a saber: o desenvolvimento da agricultura e a cristianização dos índios. O escrivão viu o diferente, apreendeu-o segundo a sua própria mentalidade e, porque fez isso, foi capaz de dar o terceiro passo: sugerir ao monarca os caminhos do futuro, que eram os caminhos da desigualdade entre visitantes e habitantes, os caminhos da dominação portuguesa. Os acontecimentos descritos na carta - o tempo presente da chegada à terra - podiam incluir - como efetivamente incluíram - congraçamentos e danças coletivas entre navegadores portugueses e índios, além de atitudes legítimas de curiosidade, espanto e tolerância, profundamente humanas, por parte do escrivão ou de outros tripulantes, frente à terra bela e à sua gente agreste. Mas o futuro importava, e foi com o olho no futuro que Caminha escreveu sua carta.                                

 

Tais Luana Aparecida da Costa Pereira   1°17    n°29