COMENTÁRIO DA ENTREVISTA DE ERIC HOBSBAWM – “O IMPÉRIO DECLINA” – Professor Me.  Ciro José Toaldo

 

 

 

 

            A entrevista que Eric Hobsbawm deu a Antonio  Polito,  que lança um livro com o título:  “O Novo Milênio – entrevista de Eric Hobsbawm a Antonio Polito”. segue o 2º  capítulo da obra:

 

            O futuro do Estado no próximo milênio, não será como foi desde o século 16, onde o Estado tornou-se capaz de definir cada vez mais o controle da população, controlando o conhecimento,  tendo todo o poder: político, jurídico, civil e social, ou seja,  nada permaneceu fora de seu controle.

            Thomas Hobbes escreve no século 17: a única coisa que nenhum Estado nem mesmo o Leviatã pode fazer é obrigar as pessoas a matarem ou estarem dispostas a ser mortas. Mas o que aconteceu  foi que os Estados modernos conseguiram fazer exatamente isto.

            Contudo, no nosso século atual, a partir da década de 60, o Estado passou a perder  o monopólio sobre os meios de coerção. Hoje os cidadãos estão menos dispostos do que antes a obedecer às leis do Estado.

            Um exemplo que pode ser dado foram as passeatas contra a Guerra do Vietnã, elas se assemelhavam mais a revoltas do que a manifestações pacíficas. Outro exemplo é o IRA  que por 30 anos, na Irlanda do Norte, coexistiram uma administração normal e elementos insubmissos ao seu controle.

            É inegável que, desde a década de 70, a ideologia dos governos neoliberais se dirigiu explicitamente contra o papel tradicional do Estado, a fim de enfraquecê-lo.

            Também no norte do Cáucaso, o fim do comunismo também significou o fim das estruturas estatais.

            Uma das grandes questões  que serão colocadas pelo século 21 é da interação entre o mundo onde o Estado existe e aquele onde ele deixou de existir.

            A grande maioria dos povos no mundo aceita a idéia de ser governada. Mas essa idéia deixou de existir  no final do século breve (século XX), as populações de muitos países do mundo não aceitaram mais o princípio de que não vale a pena lutar contra exércitos de ocupação.

            Os regimes comunistas eram deliberadamente elitistas, não tinham como meta que o povo se tornasse comunista, assim o comunismo não fez parte da vida do povo, que ficou despolitizado. Não foi internalizado pela população.

            A globalização é um processo que está em todos os setores, mas que  não pode ser facilmente transposto  para a política. A realidade é que não existem instituições políticas globais. O que se sabe é que na atualidade não existe a possibilidade de que uma única autoridade global desempenhe um papel político e militar efetivo.

            A Guerra Fria produziu de fato uma estabilização mundial, tornou administráveis certos tipos de conflitos. Hoje vemos a Rússia diante de uma grande tragédia, é tão grande que até sua existência futura está em questão.

            Houve três grandes fraturas na História do continente europeu durante o século XX: após a 1ª Guerra Mundial, durante e depois da 2ª Guerra, e após o colapso da União Soviética, e o colapso da URSS é que mais trará conseqüências para o mundo.

            Os EUA durante o século XX conseguiu se impor, tal é que este século foi chamado de “Século Americano”, onde após a 2ª Guerra Mundial  a economia americana era equivalente à metade do poderio econômico de todos os outros países somados. Mas é uma situação que tende acabar. Entretanto, o que explica o grande crescimento dos EUA neste século foi a questão da cultura popular: a língua inglesa falada em todo mundo com a difusão da informática. Mas mesmo com essa cultura o próximo século não será dos EUA e nem de ninguém: o mundo tornou-se grande e complexo demais para ser dominado por um único Estado e será perigoso um único país aspirar comandar a política do mundo todo.

            O individualismo libertário não é uma base apropriada para a política de poder, pois, no fundo, o individualismo é o oposto de uma política coletiva. Com base nesta doutrina não se pode pedir para ninguém que sacrifique a sua vida. Tal teoria domina os EUA, pela qual pode-se pedir tudo aos soldados menos que arrisquem suas vidas, isto é compatível com a convicção de que os direitos individuais estão acima de tudo. A verdade é que não se pode conduzir nenhuma guerra desta maneira.

            Os ingleses tinham consciência de sua limitações, mas os EUA pensavam que podiam fazer o que bem entendessem no Hemisfério Ocidental. Para o próximo século os EUA devem reconhecer os limites do possível. A mera exibição de força não basta para dominar o mundo.

            Os EUA continuarão por longo tempo sendo uma potência mundial. Outra potência, no aspecto militar que pode surgir é China. A Índia esta preocupada é com o Paquistão.

            Sobre o Papa João Paulo II é o último grande ideólogo a criticar o capitalismo, isto foge ao conformismo  ocidental e ao consenso político e intelectual predominante.

            No processo histórico houve alianças estranhas, caso  dos EUA e a URSS contra a Alemanha nazista.

            Pela entrevista de Eric Hobsbawm percebo que o papel do historiador é necessário e muito importante para o bom entendimento de nosso mundo. É o ser pensante. Faz lembrar que ser historiador é sempre estar resgatando a memória, lembrar aquilo que as pessoas esqueceram, fazendo sempre a ligação com o presente.  Nosso mundo não é feito só do presente, cabe ao historiador desempenhar este papel, fazer constantes reflexões sobre os fatos históricos. Para onde o mundo vai? Como serão as relações de poder? Quem dominará a economia? Enfim, percebo que o historiador é aquele ser pensante, que em sua mente esta muito vivo todo processo histórico.