Diz o ditado popular que o pior cego é aquele que não quer ver.

Tenho lá minhas dúvidas quanto a isso. Acho que o há duas classes distintas de cegos, apesar de serem tão ruins uns quanto os outros: há os cegos que não querem ver e os cegos que fingem não ver.

Ambos acabam por terminar no mesmo processo desagradável da inércia que corrompe as nossas vidas.

As mudanças estão aí para quem quiser enxergar, carregam com elas oportunidades e armadilhas e nós todos somos convidados a investigar, testar, experimentar e tomar posição. Assim, e só assim, conseguimos crescer.

Mas, como disse, há pessoas que não se comovem com tal convite.

Na vida pessoal e na empresa, muitas vezes percebem movimentos que passam esbarrando neles e tratam rapidamente de esconder-se sob véus que todos nós conhecemos.

Alguns alimentam o descrédito, dizendo que as mudanças "não vão dar em nada". Sabem que se eles mesmos não mudarem, realmente as coisas ficarão eternamente como estão. Normalmente não convencem ninguém do que dizem, mas se agrupam e formam coro tão forte que perpetuam situações que poderiam trazer benefícios gerais em troca de uma pseudo-tranquilidade em torno de si próprios. São normalmente motivados pela ignorância. E tamanha é esta última que chegam realmente a acreditar no que dizem.

Outros vangloriam o continuismo, buscando falhas nas propostas de mudança, demonstrando a segurança de se manter tudo como está. Sabem que as pessoas são por natureza medrosas e se aproveitam disso. Aproveitando-se do medo alheio encontram ressonância em seus argumentos e conseguem manter as coisas sem movimento, estagnadas, estragando como alimento que passa da validade.

Ainda há os que se escondem atrás do próprio medo. Não buscam falhas, como o grupo anterior, mas apenas reforçam a importância de manter tudo como está. Normalmente são prepotentes, narcisistas, não enxergam a um palmo a frente do próprio nariz e acreditam que o que fazem é o melhor. Entendem que qualquer crítica é uma ameaça, uma declaração de guerra. Sabem, entretanto, que sua capacidade de mudança é limitada e, com receio do que possa acontecer se tentarem surfar na onda que passa, evitam as quedas fincando bandeira e entaltecendo a si próprios e a sua forma de fazer as coisas.

Todos os grupos, independente de se por medo ou ignorância, são comensais da inércia. Beneficiam-se do descrédito instaurado no passado para manter a situação atual, com seus benefícios atuais. São mesquinhos a ponto de ignorar o bem geral e pensar somente em si próprios. São fracos e medrosos, incapazes de dar um passo, se escondendo e encolhendo-se na própria ignorância.

Mas são todos responsáveis, pois tomam tais atitudes de forma consciente ou, na pior das hipóteses, deixaram-se levar em algum momento pela correnteza e agora não tem mais força de vontade para nadar.

São tais grupos de pessoas que mantém o atual estado das coisas, que eliminam as perspectivas de mudança na sociedade e na empresa.

Na empresa identificam-se com locais mais isolados, salas mais afastadas, portas fechadas. Acreditam não ser bom circular pela empresa, evitando assim correr o risco de ser interpelado, principalmente se alguém surgir com alguma "sugestão".

Quando no comando, a coisa piora. Dependendo do nível podem inclusive levar a empresa a retroceder. e, como em um navio que leva seus passageiros junto quando afunda, retrocedem também os que na empresa trabalham.

Precisamos, como diz um grande amigo, de oxigênio. Precisamos oxigenar nossas idéias, nossas mentes, nossos métodos. A partir do momento que vestimos um escafandro e nos escondemos do mundo, ignoramos conscimentemente tudo que se passa a nossa volta, perdemos oportunidade de viver.

É certo que há, em toda oportunidade, um risco. Isso é inerente a nossa condição, a nossa vida pessoal e profissional. Não há como obter benefícios sem que, em algum momento, tenhamos que desviar de um ou outro obstáculo mas definitivamente não há como crescer sem caminhar.

Sempre é uma escolha, sempre há uma opção.

Se você conhece alguém assim, cuidado apenas para não ficar como esse "colega". Analise com calma as oportunidades e agarre-as sempre que possível. Você pode até se arrepender mas pode se arrepender mais de não fazê-lo.



Non nobis, Domine, non nobis, sed Nomini Tuo ad Gloriam