Comemorar o quê?

Dificilmente alguém de nós nunca comemorou seu aniversário. Alguns o comemoram todos os anos. Outros só o fazem quando alguém se lembra dele. Alguns fazem festa, outros só expressam desejo de felicidades. Mas, de alguma forma, sabe-se que naquela data ocorreu um fato importante: o seu nascimento!

Com o exemplo do aniversário queremos entender o significado das chamadas “datas comemorativas”. Algumas delas são feriados e outras recebem apenas um destaque no calendário. Tomemos como exemplo os dias 21 e 22 de abril. No primeiro se comemora a luta pela independência simbolizada na morte de Tiradentes: é um feriado. A segunda data é quase esquecida e corresponde à chegada dos portugueses ao Brasil. Ambas são datas comemorativas mas só temos feriado no dia de Tiradentes.

E as demais datas? O que representam? Por que as comemoramos?

São inúmeras as datas comemorativas. Não caberiam nesta página. Mas todas elas representam um evento importante da história. Algumas datas representam um feito notável e louvável outras representam um fato vergonhoso da história. O dia 13 de maio é uma data louvável, embora questionável na forma como se fez: é a data da extinção da escravidão no país! Mas o Primeiro de Maio, embora represente os trabalhadores teve seu início num fato trágico: o assassinato de dezenas de trabalhadores que cobravam direitos trabalhistas.

Como em nosso país gostamos dos feriados, nem sempre nos damos conta do significado ou não atentamos para o que se esconde atrás das datas. Queremos o dia de folga representado pelo feriado e, assim, dizemos que não queremos nos preocupar com mais nada.

E isso que dizemos a respeito das datas comemorativas vale, também para os finais de semana: nos os queremos não porque podem nos proporcionar momentos de encontro com amigos, alternativa de estudo, possibilidade de fazermos algum trabalho diferente. Não! Queremos o final de semana desde que seja livre, para usufruirmos da ociosidade que ele representa. Ele nos serve se nos distanciar do trabalho e do ritmo alucinado da vida cotidiana.

Essa postura é que agora desafia nossa reflexão. Inicialmente não se trata de supervalorizar o feriado como negação ao trabalho, mas em afirmar que a data comemorativa não existe para enfeitar o calendário ou para termos mais um motivo para não trabalhar. As datas comemorativas e feriados existem para nos lembrarmos de algo memorável.

Sabemos que nem todos fazem o que gostam e, por isso, sonham com os feriados. Mas admitamos que todos pudéssemos fazer exatamente aquilo que gostamos e fossemos bem recompensados por isso. Nossa relação com o trabalho seria diferente: faríamos com gosto! E haveria menos motivações para sonharmos com os feriados. Comprove isso quando você estiver fazendo algo realmente prazeroso. Você notará que nem se lembra de feriado ou fim de semana, pois o que está fazendo é algo prazeroso.

O trabalho degradante é que pede feriado. O trabalho desvalorizado é o que pede fim de semana prolongado. Mas, quando o contrário acontece, o trabalhador nem se dá conta do tempo passando ou passando. Faz com tesão.

Cabe uma última observação: o fato de quase não nos lembrarmos do que estamos comemorando ou o que gerou o feriado. Ocorre que, além do trabalhador não ter seu trabalho valorizado o cidadão vê o país sendo depredado. Sendo assim, da mesma forma que o trabalhador não tem motivação para trabalhar, o cidadão também perde o interesse pelo país. Dessa forma as datas e feriados não passam de momentos para não se trabalhar. Não importando o significado cívico da data. Ou alguém ainda lembra o que significa 15 de novembro? E mais ainda: qual o significado da República, para um povo que vive à margem e sofre as consequências das decisões políticas?

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo historiador

Rolim de Moura - RO