Nascido em Genebra, Suíça, em 26 de Novembro de 1857, tendo falecido em Morges, 22 de Fevereiro de 1913, Ferdinand de Saussure foi um linguista e filósofo cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência e desencadearam o surgimento do estruturalismo. Além disso, o pensamento de Saussure estimulou muitos questionamentos conjugados à linguística do século XX.
A linguística saussuriana estava dividida em dicotomias (duas partes contrárias que, dialogando entre si, estabeleciam sentido e corroboravam na explicação do fenômeno linguístico estudado): Signo (significante x significado); Linguagem (língua x fala); Língua (sincronia x diacronia); e Sincronia (relações sintagmáticas x relações paradigmáticas).
Saussure utilizou-se de uma forma de estudo fundamentada no pensamento estruturalista, analisando funções e relações dos elementos em um sistema (um todo orgânico), assim como fez Wilhelm Wund ao trabalhar a sua psicologia no sentido de determinar a estrutura da mente. Neste sentido, o estruturalismo percebe a língua como sistema articulado, em que há uma interligação entre todos os seus elementos. Seu objeto é a forma como a língua se estrutura. É uma modalidade de pensar, um método de análise praticado nas ciências do século XX, especialmente nas áreas das humanidades.
Saussure analisou a dimensão social ou coletiva da língua, questionou qual a lógica oculta que sustenta a fala das pessoas, interessou-se pela "infra-estrutura" da língua, comum a todos os falantes no nível do inconsciente, não fazendo referência alguma à evolução histórica dos idiomas (caracterizando uma análise sincrônica ? sistema fechado) e foi fiel ao ideário positivista de maneira que os resultados e o aprendizado fossem extraídos da observação direta.
Os estudos deste pensador sobre a linguagem dividiram-se em duas partes: o da língua e o da fala, sendo a primeira, essencial, social e independente do indivíduo; a segunda era tida por ele como secundária, parte individual da linguagem e da fonação, de base psicofísica. Afirmou ainda que a língua é um sistema em completa solidariedade sincrônica.
Um exemplo que torna clara a posição de Saussure com relação aos estudos linguísticos é um jogo de xadrez: cada peça obedece a regras particulares e tem função específica, mas todas sofrem influência quando mexidas individualmente. Em outras palavras, num sistema de estudo estruturalista, por mais que cada item tenha a sua individualidade, sua singularidade, é impossível não haver intervenções destes sobre os outros e, pelo contrário, é vital que as respostas venham a partir de pontos de congruência onde todos os itens estejam entrelaçados e estabeleçam relações de sentido.
Para o estruturalismo, a língua é objeto de estudo da ciência linguística, por ser o mais importante dos sistemas dos signos; é constituída de um sistema de valores em oposição, possuindo muitas estruturas inteligíveis ocultas que explicam sua função social; também é um fato abstrato e de competência mental. Já a fala é tida como o ato de cada indivíduo expressar-se de forma particular; muda constantemente; é concreta, diferentemente da língua.
Dentro desta concepção saussuriana, com o corte língua/fala e os conceitos de sistema e sincronia, foram eliminados da linguística científica: a fonologia, o enunciado, o referente, o sujeito, a cultura e a história. Como disse Lepargneur (1973, p.5), o trabalho do estruturalista consiste em "descobrir por trás das aparências, além da organização aparente do objeto, estruturas inteligíveis que expliquem certo funcionamento, e isso num campo que se relaciona com a atividade humana".
Analisando o signo linguístico sob a ótica de Ferdinand de Saussure, o dividimos em Significante e Significado: o primeiro é a imagem acústica, representação sonora daquilo que é dito ou escrito; o segundo, por sua vez, é a representação mental de um objeto ou realidade social em que nos situamos, é o que podemos imaginar de concreto ao ouvir/ler determinada palavra ou expressão. Se alguém fala a palavra CAVALO, o significante é o som emitido por esta pessoa no momento em que profere o nome do animal, enquanto o significado é a imagem que formamos em nossa mente de um ser vivo de quatro patas, com cascos, crina, rabo, etc. Em resumo, o significante é perceptível, representante, presente, aparece na forma de som ou matéria incorporante, já o significado é inteligível, representado, ausente, aparece na forma de pensamento ou ideia incorporada.
Se partirmos para a compreensão da linguagem entendida por Saussure, veremos que a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada falante de uma comunidade; possui homogeneidade e por isto constitui objeto da linguística propriamente dita. Já a fala é um ato individual e está sujeita a fatores externos, muitos destes não linguísticos e, portanto, não passíveis de análise. Por exemplo, "a língua de um povo" é uma expressão utilizada para caracterizar determinado idioma praticado num país qualquer. Dentro daquele território, todos os nativos poderão compreender uns aos outros através da sua língua (padrão), pois ela é um fato social, está relacionada à competência nata de cada um, é supra-individual, duradoura, abstrata e homogênea. Uma subdivisão deste território nacional acarretará na descoberta de variações no processo da expressão vocabular; certamente, encontraremos grupos de pessoas com dialetos diferentes, trejeitos bem característicos no falar. Essas diferenciações são pertinentes à fala do indivíduo que é um ato individual (ou de pequenos grupos), ligada ao desempenho de cada um (que pode ser diferente), momentânea, concreta e heterogênea.
No tocante à língua, Saussure dá muito mais valor à sincronia, ou seja, as línguas eram analisadas sobre a forma que se encontravam em determinado momento histórico, num ponto do tempo. Os fatos linguísticos eram observados quanto ao seu funcionamento, em determinada fase. Ao contrário da diacronia, que analisa os fatos linguísticos quanto às suas transformações, pelas relações que estabelecem com os fatos que os precedem ou sucedem. Numa síntese, a língua, quando estudada de forma sincrônica, é estática, descritiva, interessa-se pelo sistema, abstrai o tempo, prioriza o funcionamento e valoriza uma parte específica, enquanto a forma diacrônica entende a língua como evolutiva, prospectiva e retrospectiva, interessa-se pelas evoluções e suas causas e motivações, leva em conta o tempo, prioriza a evolução e valoriza o todo.
O que Saussure falou sobre relações sintagmáticas foi que a combinação dos elementos linguísticos de forma linear obedece a um padrão definido pela língua. Como exemplo, percebemos a formação linear na frase "A lua é linda", organizada de forma gramaticalmente correta e apresentando os termos sequencialmente (ARTIGO + SUBSTANTIVO + VERBO + ADJETIVO). Mas nesta relação sintagmática, pode também existir um paradigma e este ocorre quando elementos linguísticos são suscetíveis de figuração no mesmo ponto do enunciado. É possível substituir o termo LUA por MENINA, CASA, ATRIZ e tantos outros SUBSTANTIVOS FEMININOS. Desta forma, o enunciado mantém suas características estruturais, ou seja, estão contidos no paradigma de "lua". Entretanto, o mesmo não ocorrerá quando a palavra a ser substituída for "sol".
Todas essas análises propostas por Ferdinand de Saussure levam-nos a uma conclusão: a sua visão da língua funciona sincronicamente com base em relações opositivas no sistema e contrativas no discurso, sintetizando o estruturalismo dentro de, basicamente, quatro dicotomias: pares de conceitos que devem ser definidos um em relação ao outro, de modo que um só faz sentido se comparado ao outro. Neste ínterim, os estudos sobre a linguística empreendidos por Saussure foram de grande valia para a compreensão maior sobre a estrutura da língua, pois serviram de base para estudos posteriores feitos pelos funcionalistas que ?sacudiram o mundo da língua? ao desenvolverem, por meio de Chomsky, a Gramática Gerativo-Transformadora.

Daniel David, Flávio Henrique, Max Augusto e Vinícius Sampaio são acadêmicos do curso de Letras-Inglês pela UNIT ? Universidade Tiradentes Aracaju/SE.