Quando minha esposa resolveu ligar para fazer o pedido, ouviu uma voz de recriminação do outro lado da linha. Entendeu que não receberia seu pedido em casa, como de costume. Insistiu. A voz feminina que bradava do outro lado não cedeu. Era tudo verdade. Não se tratava de um primeiro de abril atrasado ou antecipado já que estávamos ao findar do mês de dezembro ansiando pelo próximo ano.

            Disse Priscila – minha esposa -, que ligaria para o concorrente, mas que concorrência em uma cidade com 13 mil habitantes? A voz feminina, com quem tentava estabelecer um diálogo sorriu a ela, ironizando a ausência de quem pudesse, naquele momento, estabelecer um confronto sadio com ela e sua empresa (?).

            Minha esposa pedia apenas duas marmitas com o cardápio do dia, apenas isso. Nada mais do que dois pratos feitos, elaborados pelos cozinheiros pagos por aquela voz feminina. Minha esposa não se alterou com a negação, manteve-se disciplinada e educada como de costume. Em momento algum se utilizou da ignorância para tentar forçar o rompimento da negação por parte da dona da empresa alimentícia. Ao contrário da voz que zunia do outro lado. Foram ruins e inesquecíveis minutos que passaram grudadas ao telefone. Sócrates e seus diálogos com sua esposa Xenofonte não foram tão acalorados como este. Cheios de sim e não.

            Ao final a voz feminina do outro lado da linha disse que não entregaria que minha esposa não insistisse mais. Priscila avisou-a que procuraria o PROCOM. Mas onde achá-lo? O gerente vinha de uma cidade mais populosa a 300 quilômetros dali. Provavelmente retornaria no final de janeiro do próximo ano. Priscila sem mais a fazer lamentou, a voz feminina disse-lhe que procurasse fazer comida já que havia ganhado um belo fogão de presente. Coisas de cidade do interior.