Coisas da vida

Desde sempre ele foi assim e não entendia o porquê. Ou não queria. Sabe-se lá...                  A dificuldade que sentia em dizer não o atormentava a tanto tempo, causando-lhe mal estar. Pensar um pouco antes do sim passava ao longe. Brigava consigo mesmo, dizendo que da próxima vez não seria assim. Abrir mão do que pensava ser o certo? Nunca mais. Diria um não bem grande, em alto som. E ponto. E daí que o clima ficasse pesado, desagradável. Provavelmente duraria menos do que o sentimento que o acompanhava, fazendo com que se remoesse internamente, ao perceber que mais uma vez contrariou-se, anulou-se, deixando de lado suas vontades e ideais. Desmerecer suas necessidades, pensando que as do outro estavam em primeiro lugar? Não mais.

Não se atinha em quantas vezes quem o conhecia se aproveitava da situação, dando a ele mais trabalho do que tinha condições de fazer. Afinal, o sim estava sempre presente em sua boca, pronto para ser dito.

A dificuldade maior era com os mais próximos. Carência afetiva? Medo da rejeição? Necessidade de aprovação, de sentir-se amado, ou de querer a paz a qualquer preço? Não sabia.

Não valorizava e não valorizavam o dinheiro que ganhava à custa de seu trabalho.

Nada durava em sua casa. Tinha sempre que trocar pelo novo. Enquanto alimentava o ego de quem pedia, a exigir, certo de que estava agindo da melhor maneira possível, sentia-se corroer por dentro e a ansiedade se manifestava, fazendo com que roesse as unhas até o “toco”.

Mas acontece que de repente sentiu que precisava mudar. Deixaria que o homem velho se fosse, e em seu lugar surgisse o homem novo. Dar-se-ia uma nova chance. A chance de um novo recomeço, de renovar valores. Em seu benefício e no do outro.                                                       Estava cansado de ser o bonzinho, o aceita tudo de quem quer que seja. Passaria a impor limites em suas relações, a preservar sua individualidade, valorizar suas necessidades e prioridades. Daria a si mesmo um tempo para analisar e responder aos pedidos que lhe fossem feitos, mesmo à custa de prejudicar a imagem positiva que tinham a seu respeito. Mostraria, se necessário fosse, a divergência entre seu pensar e o do outro, mas sem dizer qual era o certo e o errado. Aprenderia que apesar de todas as explicações, suas negativas poderiam ser mal interpretadas. Afinal, quem pede espera sempre ouvir um sim. Ou não?

Praticaria a assertividade. Diria sim ou não, quando certo do uso das palavras e seu real significado.

Deixaria de tirar o problema das costas do outro para colocar nas suas costas. Mas seria justo o suficiente para ajudar quem quer que o respeitasse e se fizesse respeitar.

Melhor assim.

Ou não?