Coisas da vida

Depois de um dia de trabalho, com um calor terrível, beirando os 37º, volta para casa, sem saber como entrou no metro e nem como saiu. Estava tal e qual sardinha na lata. Ao chegar à estação em que deveria descer, foi “descida”. Mas tudo bem, já estava acostumada. Não adiantava reclamar mesmo. Coisas da vida...                                  Caminhou por volta de 15 minutos, planejando o que faria ao chegar em casa.  Um banho e uma cochilada? Nem pensar. Faria sim, uma boa limpeza na cozinha. Não deixaria nem um cantinho a ser limpo. Nada. Como diria sua avó, seria hoje ou só quando o verão se fosse.                 Até  parece...                                                                                                 Colocou uma roupa confortável, não sem antes tomar um cafezinho. Delícia. Com calor ou frio, era sempre bem vindo.                                     Deu uma olhada geral, pegou tudo que seria necessário, e mãos à obra. Depois de um bom tempo e muito trabalho, tudo estava impecável. Sentou-se, imaginando de onde teria tirado tanta disposição... Tinha ocupado dezenove horas de seu dia, contando desde a hora que tinha saído da cama, até quando deixou tudo como havia se proposto.           Agora, um banho revigorante, um lanchinho e sofá, para assistir sua novela predileta.                                                                                             Mas eis que ele chega todo risonho, com uma sacola de verduras. Ela sentiu um arrepio a percorrer seu corpo já cansado. Não se preocupe, disse ele. Ajeite-se enquanto faço uma salada e um suco para nós. Deixa comigo!                                                                                               E fez. A salada estava chamativa. A mesa bem posta, um pãozinho para acompanhar, o suco de laranja com umas pedrinhas de gelo e... E o chão todo molhado, com marcas de pés que iam da pia à mesa, da mesa ao armário e por ai afora. Sentiu um calor subindo dos pés à cabeça. Teve que controlar-se  para não gritar e sair correndo. Mas olhou tudo mais vez, contou até dez e sorriu de volta para ele, que estava se sentindo um mestre cuca para lá de importante. Afinal, tinha preparado o jantar para agradá-la. E ela permitiu que ele a agradasse.   O chão? Ora o chão. Depois limparia tudo de novo. O  espaço a ser limpo não era tão grande assim. Coisa rápida. Não deixaria que isso atrapalhasse o jantar e um bate papo à mesa.                                           Afinal, o tempo segue e não volta para que revivamos os bons momentos. Tudo há que ser vivido no tempo certo.                                 Ou não?