QUESTÕES DE NOMENCLATURA.

 

A Parapsicologia sendo uma ciência que se dedica ao estudo de eventos não determinados pelas leis físicas , traz conotações de caráter emocional no que concerne ao homem por trás do pesquisador. O fator emocional pode influir na orientação e concepção de um cientista que não se preocupa com o imparcial e descuida de algumas regras científicas.

Essas conotações emocionais fazem com que os pesquisadores partam de hipóteses de trabalho diferentes e, muitas vezes, conflitantes, gerando distorções comprometedoras. A nomenclatura é um reflexo desse contexto. Ao estudo dos fenômenos paranormais, muitos nomes foram dados no transcorrer da História. Mas, o que é importante perceber é que, apesar da variedade de nomes, o fenômeno é o mesmo… Ou seja, o que importa se falarmos “livro” ou “book”? O objeto é o mesmo… O que muda é o nome. Em Parapsicologia não podemos esquecer desse fato… Não adianta falar que os fenômenos são gerados por efeito da “mente” ou de “espíritos” se não conhecemos bem nem um nem outro… Agir assim seria reduzir o universo parapsicológico a questões meramente de crença… Mas, lembremos: Parapsicologia é Ciência!

Emile Boirac, professor de filosofia francês, em 1908, propôs o termo PSICOLOGIA DESCONHECIDA. O próprio termo proposto por Boirac reflete de certa forma as concepções desse professor em relação ao paranormal. Acreditava ele que os fenômenos desconhecidos fariam parte, no futuro, dos mecanismos conhecidos da Psicologia.

Charles Richet propôs o termo METAPSÍQUICA, em 1905. Para Richet, a fenomenologia paranormal  era fruto de uma atividade que transcendia o psiquismo, dando margem às interpretações de caráter, inclusive, espírita. Richet homenageou Aristóteles ao propor o termo Metapsíquica, já que o mestre grego, desejando escrever a respeito das grandes leis da natureza que iam além das coisas físicas, batizou essa parte da Filosofia de Metafísica. O termo Metapsíquica foi bastante difundido nos países latinos, e a pesquisa do paranormal ficou conhecida (especialmente na França) por esse nome. Aos poucos, o termo Parapsicologia já o está substituindo.

O termo PARAPSICOLOGIA foi proposto em 1889 por Max Dessoir para substituir a nomenclatura anglo-saxônica de Psychic Research (Pesquisa Psíquica). O termo Parapsicologia tem a vantagem de deixar claro que seu campo de estudos é essencialmente psíquico, sem se confundir, no entanto, com a área da Psicologia. A utilização do nome Parapsicologia (PARA = ao lado de; em extensão a;  PSYCHO = alma – no sentido de psíquico, não físico; e LOGOS = tratado, estudo) nos parece mais neutro e longe de concepções que possam envolver posicionamentos filosóficos ou religiosos.

Ainda no que tange à nomenclatura, um capítulo especial é atribuído aos pesquisadores da antiga União Soviética. Para evitar quaisquer comprometimentos com posicionamentos que aceitassem vestígios espirituais no homem, os cientistas soviéticos davam ao estudo do paranormal o nome de PSICOBIOFÍSICA, deixando claro no termo a premissa da qual partiam: que os fenômenos paranormais advinham de propriedades bio-físicas, embora ainda desconhecidas. Outros nomes semelhantes foram atribuídos pelos pesquisadores soviéticos, nomes esses que persistem até hoje, inclusive amplamente adotados por estudiosos da Europa, dos EUA e até entre nós, brasileiros.

 

  CLASSIFICAÇÃO FENOMENOLÓGICA.

Os fenômenos paranormais constituem uma ampla variação de manifestações. Para que o leitor possa aproximar-se mais destas manifestações, apresentaremos algumas das mais importantes classificações fenomenológicas desenvolvidas por pesquisadores. A classificação dos fenômenos objetiva facilitar o reconhecimento e o estudo de cada um.

 

I. PRIMEIRA CLASSIFICAÇÃO DE BOIRAC – 1893.

1o) PSICOPATIA: grupo em que Boirac incluía todos os fenômenos paranormais que tinham por base os estados hipnóticos ou sugestivos;

2o) CRIPTOPSIQUISMO (Criptos = oculto): grupo que incluía todos os fenômenos espíritas, inclusive a escrita automática.

3o) PSICODINAMISMO: fenômenos próprios da escola do Magnetismo, movimento iniciado por Mesmer que acreditava poder curar por uma energia desconhecida.

4o) TELEPSIQUISMO: fenômenos de telepatia e clarividência.

5o) HILOSCOPIA: fenômenos que sugeriam a comunicação da matéria com o homem. Por exemplo, a rabdomancia.

 

 

II. SEGUNDA CLASSIFICAÇÃO DE BOIRAC – 1908.

1o) FENÔMENOS HIPNÓIDES:  aqueles que ocorrem por influência de forças conhecidas.

2o) FENÔMENOS MAGNETÓIDES: aqueles que ocorrem por influência de forças desconhecidas.

3o) FENÕMENOS ESPIRITÓIDES: aqueles que ocorrem por influência de um plano extra-terrestre ( sentido de espiritual, extra-físico – sem relação com seres de outros planetas).

 

 

III. CLASSIFICAÇÃO DE LEBIEDZINSKI –1924.

1o) MUDANÇA DO ESTADO FÍSICO E PSÍQUICO DO HOMEM: grupo em que estão incluídos todos os fenômenos que envolvem alterações no estado normal de consciência, como o transe hipnótico, o êxtase, etc.

2o) PERCEPÇÃO PARANORMAL: grupo em que estão os fenômenos de telepatia e clarividência.

3o) AÇÃO SUPRANORMAL DO PSIQUISMO SOBRE O PRÓPRIO ORGANISMO: fenômenos como o aparecimento de estigmas, irradiação de energia pelas mãos, etc.

4o) AÇÃO SUPRANORMAL DO PSIQUISMO SOBRE A MATÉRIA E A ENERGIA FORA DO ORGANISMO: fenômenos como poltergeist, desmaterializações, etc.

 

 

IV. CLASSIFICAÇÃO DE MACKENZIE – 1923.

1o) ESPONTÂNEOS: fenômenos que ocorrem sem que o agente o deseje; sem nenhum aviso ou preparação prévia.

2o) PROVOCADOS: fenômenos que o agente deseja manifestar; fenômenos provocados em laboratório.

 

Estes fenômenos podem ser, ainda:

SUBJETIVOS:  fenômenos que ocorrem apenas a nível mental do transmissor e/ou receptor. Ex.: telepatia ou clarividência.

OBJETIVOS: fenômenos que ocorrem a nível externo do transmissor e/ou receptor. Ex.:  movimento de objetos. Estes ainda podem ser dos tipos: MOLAR OU MECÂNICO, MOLECULAR OU ATÔMICO, conforme o nível de influência na matéria.

Segundo Mackenzie esses fenômenos ocorrem em níveis: SUPERMEDIÚNICOS, MEDIÚNICOS E SUB-MEDIÚNICOS. Entendia o pesquisador por mediúnico, o fenômeno que sugeria uma comunicação entre este mundo e um outro, supostamente, o pós-morte.

 

 

V.CLASSIFICAÇÃO DE CHARLES RICHET – 1905.

1o) OBJETIVOS: Fenômenos que ocorrem fora do homem. Ex.: Telecinesia ( capacidade da mente em influenciar a matéria), Ectoplasmia ( fenômeno mais comum no início do século XX, onde – em sessões espíritas – surgia um material gasoso, saído do corpo do médium – batizado de ectoplasma – que tomava diferentes formas, tais como: faces, figuras, etc.) e Assombrações ( aparições de pessoas mortas ou fantasmas de diferentes formas).

2o) SUBJETIVOS: Fenômenos que ocorrem no psiquismo. Ex.: Criptestesia (neste grupo Richet relacionou uma série de fenômenos de caráter subjetivo).

 

VI. CLASSIFICAÇÃO DE RENÉ SUDRE – 1923.

1o) METAPSICOLOGIA: Fenômenos mentais de caráter parapsicológico. Neste grupo, Sudre classifica três fenômenos:

          Telepatia: é o fenômeno parapsicológico onde o agente recebe informações diretamente do psiquismo do emissor.

          Clarividência: é o fenômeno onde o agente recebe informações de ocorrências externas, sem a participação dos sentidos habituais (audição, visão, tato, etc.).

          Prosopopese: termo criado por Sudre para definir a mudança brusca de personalidade. Divide-se em: possessões, que podem ser demoníacas ou angelicais; e personalidades alternantes, onde uma pessoa pode manifestar duas, três ou mais personalidades que se alternam.

2o) METAFÍSICA: grupo que abriga os fenômenos que ocorrem externamente, de modo que seus efeitos podem ser sentidos não apenas no psiquismo, mas também no mundo físico. Ocorrem dois tipos distintos de fenômenos:

          Telergia: trabalho desenvolvido por uma energia desconhecida. Ex.: móveis e objetos que se deslocam sem causas conhecidas; sons inexplicáveis, etc.

          Teleplastia: fenômenos que envolvem materialização, como o aparecimento misterioso de objetos. Abrange também os fenômenos de ectoplasmia.

 

 

VII. CLASSIFICAÇÃO DE JOSEPH BANKS RHINE – 1930.

1o) PES - PERCEPÇÃO EXTRA-SENSORIAL: neste grupo estão os fenômenos que envolvem um mecanismo perceptório ou transmissivo de informações independente dos sentidos habituais. São eles: telepatia, clarividência e precognição (conhecimento antecipado do futuro).

2o) PC – PSICOCINESIA: fenômeno parapsicológico que sugere influência da mente sobre a matéria.

 

 

VIII. CLASSIFICAÇÃO DE WIESNER E THOULESS – Adotada pelo CONGRESSO DE UTRECHT-1957.

Justamente com o objetivo de não inserir idéias ou conotações pré-concebidas na terminologia, Wiesner e Thouless sugeriram a utilização de termos neutros para representarem os fenômenos parapsicológicos. Esta representação se faria por intermédio de letras gregas:

                                               yg(PSI-GAMMA)

        Campo y(PSI)   

                                               yk(PSI-KAPPA)

 

O Campo Psi concentra toda a atividade parapsicológica. No grupo Psi-Gamma estão os fenômenos que ocorrem na mente, ou seja, telepatia, clarividência e precognição; no grupo Psi-Kappa  estão os fenômenos de influência da mente sobre a matéria.

 

REFERÊNCIAS:

AMADOU, Robert. Parapsicologia.São Paulo:Ed. Mestre Jou, 1966.

SUDRE, René. Tratado de Parapsicologia.2a. ed.Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.