Cinco Razões que opõem Falantes e Linguistas na Decisão do Elomwe como Língua ou Variante da Língua Emakhuwa em Moçambique. 

As razões dos linguistas que levam a decidir que um sistema de comunicação de uma certa comunidade linguistica seja considerado língua ou variante de uma língua nem sempre coincidem com a percepção dos falantes deste mesmo sistema linguístico. Embora os linguistas tenham um suporte que lhes permite atrair sobre si alguma decisão, não faltam equívocos quando a questão tende a reduzir o prestígio desse sistema para os falantes. Este, é o caso com que se confrontam os linguistas moçambicanos em decidir duma vez para sempre se o Elomwe falado na região central de Moçambique, concretamente na província da Zambézia, do grupo P30 na classificação de Guthrie (1967-71), é ou não língua embora no ultimo seminário de padronização das línguas moçambicanas, por sinal o terceiro realizado na história das línguas bantu moçambicanas na Universidade Eduardo Mondlane, de 22 a 24 de Setembro de 2007 em Maputo tenha discutido e tomado a decisão de considerar o Elomwe como língua e não mais variante como antes vinha tendo esta consideração.

O que faz com que não haja consensos entre os linguistas e os falantes do Elomwe para o reconhecimento do elomwe como língua?

Talvez razões que têm a ver com aspectos de proximidade de traços fonéticos, fonológicos, morfológicos, semânticos, etc., podem ser principais argumentos que fazem com que não se aposte o elomwe como língua mas sim variante do emakhuwa, uma vez que os traços do elomwe são idênticos aos traços do emakhuwa.     

O Objectivo do estudo é apresentar as diferentes percepções de ponto de vista linguístico como de ponto de vista conceptual dos falantes no que diz respeito a promoção deste sistema comunicativo apegados pelas cinco razões que determinam para a classificação de uma língua.

 Formalmente o Elomwe pertence a zona P30., Grupo Makhuwa-Lomwe, sendo P32: Elomwe. Localiza-se na região central do país de Moçambique, e constitui uma língua transfronteiriça falada em Moçambique e Malawi. É curioso que esta língua se encontra integrada nesta Zona conjuntamente com as línguas Emakhuwa, Echuwabo suas aparentadas. O elomwe é a segunda maior em número de falantes dentro do grupo linguístico com 1.425.619. (Lopes, 2004)

Mas quais são as razões que opõe os Falantes e Linguistas?

A primeira razão é linguística: os peritos na área da linguística, sabem dizer que uma língua é língua quando apresenta traços linguísticos diferentes da outra ou das outras línguas (s) mesmo que apresente alguns aspectos semelhantes; como definem Mateus & Villalva (2006:21) língua é “(…) sistema linguístico que conjuga todos os dialectos falados num país”. Os linguistas moçambicanos entendem que o emakhuwa e o elomwe apresentam traços linguísticos muito próximos e desse ponto de vista concordam que o elomwe absorve maior número de traços do emakhuwa o que faz crer que é variante. Por variante define-se como “manifestação que uma língua falada em países diversos assume em cada um deles”.(Mateus & Villalva 2006:21). Também pode ser em cada região em que esta é falada. O aspecto conceptual dos falantes do elomwe é que os traços linguísticos não são tão aproximados como se espera e através de demonstrações sustentam as suas posições. i.e. dizer omatta é diferente de omaca “na machamba” para as duas línguas. Afirmam os vários falantes que pequenas diferenças como essas no texto oral como escrito contribuirão para a perturbação dos falantes de ambas as partes na compreensão das mensagens e não vão transmitir fielmente a outros a mensagem captada.

A Segunda razão é histórica: Historicamente as duas línguas pertencem ao mesmo grupo linguístico e o seu agrupamento é mediante a semelhança de características entre os traços linguísticos. O Elomwe é mais próximo do Emakhuwa que do Echuwabo também seu aparentado, justamente porque de acordo com Ngunga (2004:32) “um segundo grupo de povos falantes das línguas bantu deslocou-se dos Camarões rumo ao sul para a região do baixo Congo”, o que faz acreditar que os grupos que hoje formam grupos linguísticos têm sua constituição a partir dos momentos da expansão. Olhando a localização geográfica desta expansão facilmente pode perceber-se que a língua elomwe está mais para o sul em relação a língua makhuwa. Mas este pode não ser o argumento forte deste trabalho dado que há línguas que são a continuidade desde os países vizinhos, alias, o próprio elomwe é uma língua transfronteiriça.

E aliado a isso, os falantes do elomwe percebem que é o emakhuwa descendente do elomwe uma vez que o elomwe tem sua origem nos montes “Namuli” onde igualmente aquele povo acredita ter sua origem e com ela a sua língua. A posição destes, é sustentada na medida em que os falantes das duas línguas são separadas por esta formação montanhosa que é o Namuli, que na verdade miticamente os dois povos acreditam terem originado.

A terceira razão é política: Politicamente pode-se acreditar que maior número de falantes do emakhuwa detém o poder político e decisório. Tal facto concorre muitas vezes para a influência na determinação das línguas. Aliado a isso está o factor académico, ou seja, de gente makhuwa que estudou e que vê na agregação do elomwe como um ganho. Razão disto é que antes do terceiro Seminário da Padronização das Línguas Moçambicanas, esta língua era considerada variante do emakhuwa, e pouco se percebeu porque a decisão durante o seminário para a elevação do elomwe para língua, como também, pouco não se deu a clarificar porque por muito tempo esta língua continuava privada de seus direitos considerando-se como variante.

A quarta razão é de número de literaturas: A exemplo de outras línguas, as poucas obras literárias ate então existentes foram feitas por missionários da época, viajantes, aventureiros e poucas são as publicações de gramáticas elementares sobre a língua elomwe. Mas o fraco trabalho para a publicação deveu-se a falta de especialistas (linguistas especializados em matéria do funcionamento das línguas bantu) e sobretudo da paragem no tempo de pessoas falantes desta língua pensarem que uma vez variante, chega a literatura escrita e publicada sobre a língua emakhuwa para cobrir as necessidades do elomwe.

A quinta razão é a falta de simplicidade: Por outro lado podia-se pensar que a falta de domínio da língua emakhuwa podia comprometer e ate ser desacreditado qualquer que fosse a obra referente a língua elomwe uma vez este estar integrado no emakhuwa e que a estandardização era imperativa. Há que recordar que Draisma (2012:13) afirma que “num processo educacional, em qualquer sociedade, só terá sucesso se for conduzido através duma língua que o aprendente melhor conhece, respeitando-se deste modo, os pressupostos psico-pedagógicos e cognitivos, a preservação da cultura e identidade do aluno e os seus direitos humanos”. Por isso pouco produtivo será escrever em emakhuwa e dar ao falante lomwe para ler e pensar que vai compreender de forma cabal a mensagem sem antes recorrer a um dicionário makhuwa. É preciso que a mensagem seja mais simples possível para permitir que os falantes tenham rápida capacidade de raciocínio e reflexão sobre os que é veiculado.

 

Considerações finais

Neste trabalho fez-se referência a cinco razões que opõem falantes e linguistas moçambicanos na decisão do elomwe como língua. Concluiu-se que uma mensagem mais clarividente e simplificada tornará aos falantes do elomwe mais capazes e mais reflexivos na resolução dos seus problemas porque melhor terão sucessos. O propósito deste trabalho não era tirar conclusões mas apresentar as percepções dos diferentes intervenientes em relação a língua elomwe. 

Referências bibliográficas 

  1. Draisma, Jan. 2012. Ensinar Matemática nas Línguas Moçambicanas (Com atenção especial para Cicopi e Xichangana). IV edição; CIEDIMA, SARL, Republica de Moçambique. 
  1. Mateus, M. H. Mira & Villalva Aliana (Coord.). 2006. O Essencial sobre Linguística. Editora Ndjira. ILTEC. FLU. Lisboa. 
  1. Ngunga, Armindo. 2004. Introdução à Linguística Bantu. Imprensa Universitária. UEM – Maputo. 

Por: Arigo Saraiva
[email protected]
Docente na Universidade Pedagógica de Moçambique
Delegação de Quelimane Mestrando em Linguística pela Universidade E. Mondlane
2013