O presente texto tem como objetivo abordar as origens da politica como ciência e filosofia, assim como também apresentar os conceitos de Ciência Política e Filosofia Política, com o intuito de mostrar as diferenças existentes entre esses dois campos.

De início é importante pontuar que ciência e politica não são a mesma coisa. Fato que se comprova quando falamos em política. Filósofos e cientistas andam em caminhos diferentes, uma vez que os filósofos pensam nas coisas como deveriam “ser”, enquanto os cientistas estudam o mundo como ele realmente “é”.

Mas enfim, quando surgiu a filosofia politica? A filosofia política teve início com Sócrates e seguiu com Platão e Aristóteles e continuou séculos após séculos através de outros grandes e importantes pensadores como: Marcos Aurélio, Santo Agostinho, Montesquieu, Kant. A filosofia trabalha no plano da idealização das verdades sobre os homens e suas formas de coexistirem em sociedade. 

Já o estudo da política teve inicio com Aristóteles que se dedicou a compreender e a definir as diferentes formas de governo.  Desde então, a política entrou em pauta e recebeu grande atenção de governantes e suas respectivas sociedades, uma vez que a política está presente em toda relação humana. Embora a atenção tenha sido reforçada sobre a política, a Ciência Política propriamente dita só se constituiu muito mais tarde no século XIX, onde surgiria algo diferente da Filosofia Política praticada pelos gregos antigos. 

A ciência interpreta o mundo a partir da realidade. Já a ciência politica ainda que baseada nessas interpretações práticas não possa ser pressentida de teoria filosófica consolidada através do tempo. Isso se dá justamente porque a ciência e a política aliadas constroem as soluções necessárias aos conflitos sociais e políticos. Por isso é importante não confundir ciência com filosofia.

A filosofia é o idealismo, é o ideal de um pensador e a ciência é a realidade. A filosofia política estipula como as coisas devem “ser” e a ciência como elas “são”. E a atividade politica é um mecanismo que decide se elas devem permanecer ou se devem mudar. Os filósofos políticos ao longo do tempo idealizaram os modelos de democracia, de aristocracia, entre outros. Palavras conhecidas e de origem grega. Podemos dizer que herdamos algumas palavras e conceitos criados pelos filósofos da Antiga Grécia e Roma. Onde podemos citar Aristocracia, democracia, Teocracia, República. Palavras que utilizamos até hoje, aja visto que esses conceitos não mudaram, são os mesmos.

Como mencionado anteriormente, Sócrates é o primeiro Mestre e por mérito é considerado o fundador da ciência política. É o responsável por uma ideia conhecida e comentada até hoje “conhece-te, a ti mesmo”. É importante salientar que temos uma tríade onde há três grandes patronos da filosofia politica: Sócrates, Platão e Aristóteles. Platão por seguidor de Sócrates foi quem transmitiu tudo o que se sabe sobre o filósofo até hoje. Uma vez que Sócrates não possuía o hábito da escrita.

O filósofo para se chegar à ideia do “deve ser”, se basearam em algo e fizeram claro suas avaliações. E os cientistas se baseiam no “ideal”. Os filósofos formula o ideal, quando falamos em democracia vamos nos deparar com muitas formas de democracia diferentes. Mas os filósofos nos legaram a formula do ideal.  Platão mesmo as escreveu em uma das obras mais lidas do mundo - A República[1] onde descreve o que seria o ideal que nunca se materializou.

 A democracia que conhecemos é diferente da democracia de Platão. Hoje podemos dizer que o nosso conceito de democracia é muito variável em função da própria ciência política. Quando falamos em democracia politica falamos em eleição e consequentemente em voto. No entanto, o voto é um instrumento para se chegar à democracia. O voto, na verdade, é apenas um procedimento, por isso essa democracia apenas na eleição é uma democracia “procedimental”.

Se observarmos a realidade que Platão, Sócrates e Aristóteles viveram era diferente. Existia uma democracia direta, ou seja, um tipo de sistema onde os cidadãos discutiam e votavam diretamente as principais questões de seu interesse. Se analisados dados, veremos que a cidade de Atenas no período de Platão possuía apenas 300 mil habitantes. Número de habitantes atualmente das cidades brasileiras, o que torna impossível praticar a democracia direta. Observe que democracia direta se tornou apenas uma idealização. Porém, ao longo do tempo foi se aperfeiçoando e se aprimorando a partir conhecimento que já se tinha da democracia que era praticada. E, com ela, foi possível chegar à democracia desejada.

A origem da filosofia da ciência política vem de Sócrates, com a contribuição de um grande número de outros pensadores gregos, sobretudo os pós-socráticos. Os romanos, por sua vez, se destacaram quanto a noção de Estado. Estado não é uma palavra grega é uma palavra Latina. E assim, como os gregos nos legaram a filosofia, os romanos nos legaram o direito. Nota-se que são duas contribuições que se completam e sem as quais o mundo contemporâneo não poderia sobreviver, sem a Política e sem o Direito.

A política gera o direito quando o estado determina qual a constituição que vai adotar e o Direito limita o poder do Estado. Dois âmbitos interdependentes e essenciais, vitais e fundamentais para que se tenha um regime, um tratamento que conhecemos e regime que aspiramos. A ciência politica sempre existiu porque sempre houve governo, houve nações e um sistema organizado. No caso do Brasil, quando nos tornamos independentes tínhamos um Estado unitário. Com a proclamação da República surgiu o Estado Federado composto por vários outros Estados. Isso mostra que o modelo de Estado vário no tempo e no espaço.

Nicolau Maquiavel foi um grande pensador, até hoje está presente quando se fala em estratégia politica e de governo. Uma de suas obras mais comentadas é “O príncipe”, com seus conceitos e seus parâmetros.  Maquiavel é muito citado para definir tanto conceitos negativos quanto positivos em relação à política. Vale lembrar que quando ele escreveu O Príncipe, durante o Renascimento, traduziu a realidade politica do seu tempo. Ao viver um período muito conturbado na cidade de Florença, assistiu às grandes espetáculos, agradáveis e desagradáveis da politica.

É possível observar na Obra O Príncipe que ele dá conselhos ao príncipe quanto a maneira de conduzir e se manter em seu principado. Ele diz, por exemplo: O homem precisa de fortuna e Virtude[2], e que o homem deve ser, quando tiver que seguir destino, ao mesmo tempo lobo e leão, porque, o leão tem a força, mas não sabe quando poderá ser atacado, e o lobo tem esse instinto. Por essas e outras ideias, seu livro foi excomungado pela Igreja Católica na época.

A Ciência politica se ocupa em descrever as instituições politicas, como: o Estado o Governo, os grupos de pressão, os grupos de interesse.  Ocupa-se também dos recursos que a politica se utiliza: o poder, a autoridade. Ao mesmo tempo, se preocupa com os recursos da política: formulações e o processo de tomadas de decisões na política. E, os fins da política que é administrar e conciliar. Ou seja, a política objetiva administrar os conflitos de forma não destrutivas. A politica, sobretudo é o campo da atividade humana.

Vale lembrar que o estado não é apenas um produto de leis. O estado é um produto das leis e da constituição que define como será o Estado. Então ele é um produto do direito constitucional e produtor de leis que rege a sociedade. O Estado é resultado do Direito e, ao mesmo tempo é quem produz o direito. O poder político é limitado pela lei, e o que limita o Estado é a constituição.

O direito e a politica tem que viver em harmonia, porque o Estado que produz as leis e o Estado é quem produz armamentos jurídicos de cada país. As leis devem ser cumpridas. Platão quando escreve Apologia de Sócrates, ele vai relata que Sócrates foi condenado por perverter a juventude. Ao tentarem convencer Sócrates a deixar a cidade para se livrar da condenação, Sócrates responde que sempre viveu naquela cidade e sempre obedeceu as suas leis, por que ela deve ser obedecida por todos. Então, poderia ter deixado esta cidade no momento em que quisesse porque era livre e agora não poderia se recusar à lei que a ele foi posta. Então padeceu mesmo ainda que a lei injusta. 

 A ciência politica é uma ciência muito nova. É preciso lembrar que o século XX padeceu de duas grandes guerras mundiais. Todo o ocorrido nessas guerras inquietou a sociedade que padeceram a essas guerras. No fim da 2ª guerra mundial a UNESCO convocou um colóquio em Paris para definir o que seria a ciência politica e o que deveria estudar. A partir da década de 50 e 60 surgiram livros definidores tratando sobre os partidos políticos e entre outros.  Foi nesse período que se criou um mecanismo internacional, a ONU. Instrumento para tentar evitar revoluções e guerras, com o intuito de tornar o mundo mais civilizado e com melhores formas de convivência.

Hoje podemos vê que tivemos cientistas políticos inseridos nos governos de inúmeras maneiras. Exemplo disso é o presidente FHC que é Sociólogo e doutorado em Ciências Politicas nos EUA. Pode-se citar também Fernando Haddad, diplomado em direito, fez mestrado em economia e doutorando em filosofia e é professor de Ciência Politica na Universidade de São Paulo. É filiado ao partido (PT) e atualmente é prefeito do município de São Paulo.

Atualmente a ciência politica não busca apenas ao campo universitário, mas também da analise da politica e de riscos, onde a teoria politica formula novas propostas visando que tipo de governo, que tipo de politica, que tipo de atividade politica é mais propicia para a busca constante pela democracia. É um mundo que ainda esta por descobrir, ou seja, a ciência politica é uma ciência em construção.  

Por fim, vimos por tanto que não há contradições, o que há na realidade entre a filosofia política e a ciência política é uma integração cada vez maior do fenômeno que é o mais importante da humanidade, o fenômeno da politica diz respeito a todos nós. Politica existe desde que o homem se civilizou. A política existe para equilibrar o que querem os filósofos ou e o que pede a realidade. Para manter aquilo que deu resultado e para transformar aquilo que não deu resultado.

REFERÊNCIAS

PRÉLOT, Marcel. A ciência Politica. São Paulo, 1964. 

CRITON/PLATÃO. Apologia de Sócrates. Brasília: Ed, UNB, 1977.  

w.w.w. mundodosfilosofos.com. br.

PLATÃO, A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 2004.

HOBBES, Thomas. Compêndio Leviatã. São Paulo: Hunterbooks, 2014.

ROUSSEAU, Jean- Jacques. Contrato Social. São Paulo: Hunterbooks, 2014.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Hunterbooks. 2011. 

SILVA, K. V., SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 3ª. Ed., 2ª reimpressão. – São Paulo: Contexto: 2013.



[1] A República está dividida em dez livros ou diálogos em que Platão discorre sobre seu pensamento sobre o Estado ideal, que também expressa sua doutrina sobre o homem ideal.

[2]MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Hunterbooks. 2011.