CIÊNCIA E SOCIEDADE

Reflexões sobre ciência e evolução

Rafael Tadeu de Matos Ribeiro

Que a ciência é um fator cultural, produto da relação do homem com o meio que o cerca, não se questiona. Mas, partindo-se da idéia de que o homem já nasce inteligente e a inteligência consubstancia-se na capacidade de produzir e/ou absorver informações, é de se supor que também seja um fator natural, inerente ao homem.

A inteligência foi o principal salto evolutivo do homem em relação ao macaco. Através dela, o homem desenvolveu a linguagem - a ferramenta social mais incrível já criada – e adquiriu subsídios para fazer ciência. Ocorre que nem todos fazem ciência, no sentido de conceber projetos científicos (o que não significa que não se possa aprendê-lo), mas, no entanto, participam do usufruto de suas vantagens.

Assim, a ciência, quando considerada um bem social, é um tipo democrático de evolucionismo darwinista, onde os "selecionados" (os grandes cientistas e inventores) evoluem, mas, em maior ou menor tempo, toda a humanidade evolui junto.

Uma das coisas mais interessantes da ciência é que ela, nas condições atuais, tem avançado livre de qualquer pragmatismo, pressão ideológica ou discurso religioso. Dessa forma, aproxima-se de sua concepção filosófica original: ser obra da razão e da percepção.

No tocante dessas idéias, é inevitável falar da polêmica ciência x religião. É óbvio que a ciência, tal como a religião, não pode explicar tudo. Uma completa a outra. Elas se intercruzam no sistema de crenças humano, mas há espaços exclusivos de cada uma. No fim, é importante reconhecer a importância de ambas na construção do conhecimento, mas convir que ainda exista muita coisa para ser explicada.

Da mesma forma como grandes questões do passado são facilmente explicadas hoje, talvez nossas dúvidas e inquietações atuais serão mitigadas,daqui a algum tempo. Até lá, a imaginação do homem continuará a ser alimentada pela ficção científica, que, a propósito, contribui e muito para a ciência.

Preceitos antigos são substituídos por outros novos, mais precisos, mas não perdem seu valor histórico. O nível de certeza aumenta. Mas o que dizer quanto ao nível de incerteza? Será que diminui? Enquanto isso, as coisas fluem aliteradamente. Como disse certa vez o biólogo norte-americano Stephen Jay Gould (1941-2002): "A Teoria da Gravitação Universal de Einstein tomou o lugar da de Newton, mas as maçãs não permaneceram suspensas no ar, aguardando o resultado".

O boom tecnológico que revolucionou os transportes, a medicina, as comunicações e o conforto (e também trouxe novas preocupações) é filho direto do invencionismo, e, portanto, da ciência. E continua a crescer, pois criar e inovar são imperativos ilimitados, ao contrário do que achava John Horgan (escreveu, em 1996, um livro com o título sugestivo de "O Fim da Ciência" – dispensa explicações). Os maiores afetados? À medida que a informação se universaliza, todos nós, sob o rótulo de humanidade.