CIÊNCIA E RUBEM ALVES: CAMINHOS DO ENSINO DE CIÊNCIAS - A PERSPECTIVA DE RUBEM ALVES

 

José Maclécio de Sousa – Prof. Doutorando UFC

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Mara Paula Santos Silva – Graduanda UFC

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Ao longo da História da humanidade foram realizados diversos experimentos empíricos que aos poucos constituíram o conhecimento científico que perpassa as gerações auxiliando-as na compreensão das evoluções dentro do processo histórico. Assim, configurou-se a necessidade do conhecimento base, aquilo que não tem como fonte o “achismo” e sim hipóteses e certezas comprovadas.

Nesse contexto a partir dos debates realizados através do texto “Uma crônica para se pensar o ensino de Ciências”, foi possível compreender que a Ciência está em tudo e não somente em sala de aula ou em laboratórios. A forma de se ensinar Ciência deve está associada às vivências que o espaço em que o aluno está inserido possibilita, ou seja, a interação com o meio, não é algo neutro, é também construção de um conhecimento a partir da prática e teoria.

Após a construção dessa quebra de paradigmas foi possível conhecer o posicionamento do autor Rubem Alves no texto “Entre a ciência e a sapiência”, no capítulo III denominado “Aos que moram nos templos de ciência”, onde se coloca de uma forma crítica e relevante ao falar sobre a importância de se compreender o que é científico e o que é exemplificando com ações da vida cotidiana os pós e os contras da diversidade de perspectivas que o texto aponta.

Partindo da ideia principal apontada por Rubem Alves abriu-se a possibilidade de debater sobre os pontos de vista dos alunos, fomentando assim um júri popular e o surgimento de muitas discussões sobre as concordâncias e discordâncias em relação ao autor, podendo-se afirmar que nesse momento foi plantada uma semente capaz de abrir novos horizontes no âmbito dos conceitos relacionados à Ciência.

Os temas geradores de discussões na sala de aula a cerca do ensino de Ciências giravam em torno da sua capacidade interdisciplinar e quão importante é para o homem e sua compreensão de mundo. O contato com os conteúdos de Ciências deixaram perceptíveis às diferenças existentes entre os livros, embora fosse um mesmo conteúdo geral, sua organização hierárquica e apresentação, não seguiam a mesma organização. Enquanto alguns autores ordenaram os conteúdos partindo do meio para a criança, outros fizeram o caminho inverso respeitando, portanto, a saída da fase egocêntrica da nas séries iniciais do ensino fundamental I.

A partir da diversidade de conteúdos presente nos livros, foi construída coletivamente uma árvore que fosse capaz de representar o ensino de Ciências, não somente com base nos conteúdos, mas também no que os PCN direcionam e na realidade em que os alunos estão inseridos, tendo como resultado uma construção coletiva de uma diversidade de concepções. A árvore apresentava a seguinte construção: nas folhas, estavam os conteúdos; no solo, os eixos norteadores para os estudos e as fotos dos bairros onde residem os alunos.

Os PCN orientam e norteiam o ensino e como este deve ocorrer, mas embora ele direcione para a necessidade de se ensinar a Ciência sob os aspectos da tecnologia (necessidade atual), após analisar alguns livros de diversas faixas etárias, contou-se que nenhum deles trouxe a perspectiva tecnológica, mesmo os mais atuais não contemplavam essa área.

Fazendo uma análise entre os PCN e os conteúdos dos livros, é notável que existem alguns pilares essenciais para as discussões: no tópico ciência e cidadania, os PCN deixam claro a necessidade de se estudar pensando em uma coletividade não só na perspectiva futura, mas também na dimensão humana de, sobretudo na capacidade humana de transpor a Ciência, transformando-a em algo social.

Nessa perspectiva, devem-se levar em consideração os objetivos para o ensino de Ciência que os PCN trazem e analisar os conteúdos dos livros, verificando se estes atendem aos objetivos de forma clara e completa. Para isso deve-se analisar as informações abaixo que correspondem aos conteúdos de um determinado livro (Porta Aberta 2º ano para o PNLD de 2008 a 2012) e os objetivos que os PCN trazem:

 

CONTEÙDOS DO LIVRO PORTA ABERTA

 

 

OBJETIVOS DO PCN DE CIÊNCIA

Órgãos e dos sentidos: visão, audição, tato olfato e paladar.

compreender a natureza como um todo dinâmico e o ser humano, em sociedade, como agente de transformações do mundo em que vive, em relação essencial com os demais seres vivos e outros componentes do ambiente;

 

Prevenindo doenças: sintomas e prevenção (vacinas),

tipos de doenças: viroses, verminoses, bacterianas.

 

compreender a Ciência como um processo de produção de conhecimento e uma atividade humana, histórica, associada a aspectos de ordem social, econômica, política e cultural;

Seres vivos e não vivos e diferentes ambientes.

identificar relações entre conhecimento científico, produção de tecnologia e condições de vida, no mundo de hoje e em sua evolução histórica, e compreender a tecnologia como meio para suprir necessidades humanas, sabendo elaborar juízo sobre riscos e benefícios das práticas científico-tecnológicas;

 

Animais – nascimento, alimentação, locomoção: ovíparos, vivíparos e ovovivíparos. Animais em extinção.

 

compreender a saúde pessoal, social e ambiental como bens individuais e coletivos que devem ser promovidos pela ação de diferentes agentes

O mundo vegetal – reprodução, as partes, alimentação e ambientes.

formular questões, diagnosticar e propor soluções para problemas reais a partir de elementos das Ciências Naturais, colocando em prática conceitos, procedimentos e atitudes desenvolvidos no aprendizado escolar;

Água, ar e solo

saber utilizar conceitos científicos básicos, associados a energia, matéria, transformação, espaço, tempo, sistema, equilíbrio e vida;

 

Cuidando do ambiente, diferentes ambientes, desmatamento, reflorestamento, unidades de conservação, ambientes das cidades e preservação do ambiente.

 

saber combinar leituras, observações, experimentações e registros para coleta, comparação entre explicações,

organização, comunicação e discussão de fatos e informações;

Transformando materiais, produtos de origem vegetal.

 

valorizar o trabalho em grupo, sendo capaz de ação crítica e cooperativa para a construção coletiva do conhecimento.

Planeta terra e outros astros, o sistema solar, movimento de translação, estrela, sol, lua, dia e noite.

 

 

É importante ressaltar que a tabela acima busca fazer uma leitura de como deveriam ser estruturados os conteúdos dos livros esteticamente, assim ficaria explícito tanto para professores como para alunos o que cada conteúdos deveria alcançar, e muito mais do que plantar Ciências, certamente os alunos iriam saber para que plantá-la, compreendendo assim a epistemologia do processo de ensino nessa área específica.

A forma de ver a Ciência não só por uma ótica conteudista, ou uma mera disciplina a ser cumprida pelos professores, tornou-se possível a partir das discussões em sala de aula, possibilitando assim uma nova percepção capaz de mudar a forma de se ensinar Ciências, bem como atitudes futuras em todos os envolvidos no processo.

 

 

Bibliografia: ALVES, Rubem. O que é científico (VI). In: Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 4 ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999. Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Ciências Naturais, Secretaria de Educação Fundamental. . Brasília : MEC, SEF, 1998. 138 p.