A CIDADE PERDIDA


Vocês vão pensar que estou falando de Macho Picchu ou de outra cidade perdida na qual existem tesouros que foram escondidos de Pizarro, vão pensar na Atlândida, mas não é nada disto.


Ao contrário trata-se de uma das quatro cidades mais desenvolvidas de um dos estados mais promissores do Brasil, mas é uma cidade perdida no tempo.


Outro dia liguei meu carro e coloquei na rota do GPS um trajeto até a cidade perdida e a reação daquela senhora que faz os monólogos foi imediata me dizendo "vai dar muita confusão, ali não tem placas sinalizadoras de trânsito eles mudam o sentido de direção das ruas todos os dias" e me exortou a ter muita paciência.


O pior de tudo é que ela estava cheia de razão, porquê se é fácil entrar na cidade perdida, transitar nela é difícil e mais difícil ainda é sair de lá.


Na verdade a cidade perdida tem um ordenamento nas suas vias urbanas inspirado num labirinto e pouco adiantará ir deixando um fio de linha para poder encontrar a saída com mais facilidade, pois você nao pode trafegar na contramão.


Neste dia em que estive lá, quando retornei, a senhora que faz o monólogo do GPS disse "entre na primeira à esquerda e depois entre na próxima à esquerda", mas quando cheguei na segunda à esquerda eis que ali existiam treis saídas e eu peguei aquela mais à esquerda, acabando por retornar ao mesmo local e recomeçou o monólogo do GPS "entre na primeira à esquerda e depois entre na próxima à esquerda",  e quando errei de novo, a senhora do GPS pediu um tempo para tomar um remédio alegando ter sentido uma crise de labirintite e quando se recompôs me disse para eu me virar sózinho, porque ela não dava mais conta de tarefa tão difícil e tive que me virar sózinho.


Na verdade a cidade perdida tem uma engenharia de trânsito voltada exclusivamente para uso doméstico e as poucas placas que lá existem, principalmente aquelas que dizem como sair de lá, são retiradas, talvez com o objetivo de deixar seus visitantes ainda mais confusos.


Existe uma rodovia que passa pela cidade perdida e quando a gente transita por lá é tanto apito informando dos pardais, pois tem um pardal para cada esquina, que a gente acaba saindo de lá com fortes dores de cabeca.


Existem outras particularidades interessantes que só ocorrem na cidade perdida e vou falar sobre algumas delas.


Por exemplo quando das eleições os eleitores da cidade perdida tem por hábito eleger sempre os piores candidatos e assim a cidade perdida tem sempre os piores administradores e seria muito interessante que fosse contratado o maior filósofo do país para fazer um estudo para diagnosticar esta anomalia, mas só de pensar nisto fico muito preocupado que  ele fique pirado da cabeça.


Os moradores da cidade perdida gostam de trabalhar nas cidades vizinhas e assim, todas as manhãs o trânsito nas vias urbanas ficam com congestionamentos homéricos, fato que se repete também no final de todas as tardes, no retôrno dos moradores aos seus lares.

E, no final da semana, apesar de ter belas praias na cidade perdida, seus moradores novamente congestionam o trânsito na rodovia, indo e voltando às cidades praianas vizinhas para um merecido fim de semana.


Mas antes que eu pudesse concluir esta crônica, recebi uma mensagem telepática do maior filósofo do país dizendo-se impedido de realizar esta árdua tarefa sob a alegação que nem Freud explica isto.
                                                                                                                        DOMINGOS SALVIO FIOROT