MÍDIA  EXTERIOR VERSUS CIDADE LIMPA
                      por Marcelo C. P. Diniz

São Paulo oficializou o projeto  Cidade Limpa e a cidade ficou melhor, indubitavelmente. Até então, morando em  uma cidade confusa pelo próprio desenvolvimento, o paulistano ainda convivia  com uma profusão inesgotável de mensagens publicitárias, ocupando  desordenadamente o espaço urbano. Poluição visual sim, até porque a estética  dos equipamentos e das mensagens era questionável.
 
Deu certo em  São Paulo, provavelmente será bom para a nossa cidade também, raciocinam  prefeitos e legisladores em vários municípios do país. Errado. Nova York tem  os “spetaculars” na Broadway como um dos seus ícones de reconhecimento para  todo o mundo. Os cartazes dos ônibus que circulam pela cidade prestam serviços  aos cidadãos e aos turistas ao anunciar as novas atrações culturais de  Manhattan.
 
O mesmo se dá em Paris, considerada por muitos a  cidade mais linda do mundo. Lá também os ônibus são veículos de promoção das  artes e dos esportes, assim como de produtos e serviços que a população usa.  Os pontos de ônibus e outros equipamentos urbanos são bem construídos e bem  dispostos pela cidade com as suas mensagens. E o que seria do Metrô de Paris,  com todos aqueles corredores labirínticos, não fosse a arte publicitária que  lhes empresta colorido e movimento, além da informação? Um laboratório  farmacêutico promove, nesta primavera, uma campanha de prevenção da hepatite B  em grandes cartazes nas estações do Metrô de Paris. É ruim? Ou será que alguém  poderia encarar uma campanha assim como poluição  visual?
 
Conceitualmente falando, cabem três observações  importantes sobre a atividade publicitária que, embora possam encerrar  discussões, têm prevalecido nas teses de intelectuais e dos profissionais de  comunicação:
a)- no regime capitalista em que vivemos, a cidadania não é  alcançável sem o consumo. Este deve ser consciente e sustentável, mas não pode  deixar de existir;
b)- desde que responsável, não é constitucional nem  desejável limitar a liberdade de expressão;
c)- a publicidade tem um  compromisso com a estética.
 
Pelo que raciocinamos até agora, a  publicidade é desejável quando informa com responsabilidade, quando promove as  artes e os esportes, quando promove campanhas de utilidade pública, quando  embeleza o ambiente.
 
Então, o que é melhor? Visualizar um prédio  sujo, com o reboco descascando, no centro da cidade, ou ver aquela mesma  parede com a reprodução de uma obra de arte patrocinada, ou com uma simples  mensagem publicitária de bom gosto? Paris tem mensagens publicitárias em  muitos pontos da cidade, mas de forma ordenada, sem interferir na visualização  do que deve ser preservado. A organização é a tônica. Diferentemente do Rio,  por exemplo, não tem bancas de jornais se encontrando com as mesinhas dos  cafés, subvertendo os direitos dos pedestres. Também não tem bares destinados  a exibir jogos de futebol com os monitores de TV voltados para a rua, criando  torcidas exaltadas debaixo das janelas dos apartamentos de moradia. E se a  nossa desordem está por toda parte, pode surgir nas mensagens publicitárias a  toda hora.
 
Organizar é mais difícil, muito mais difícil do que  proibir, principalmente quando se sabe que parte dos exibidores de mídia  exterior está inadimplente quando ao pagamento dos impostos e taxas à  prefeitura do Rio, por exemplo. Mas é bom lembrar que, com a proibição  generalizada, até São Paulo perdeu. Agora procuram-se patrocinadores para a  manutenção de jardins, em troca de plaquinhas com os nomes das empresas  colaboradoras. Perderam-se espaços muito mais valiosos, que poderiam conviver  harmonicamente com as características da cidade, gerando receitas e prestando  serviços à população. A publicidade é uma prestação de serviços. 
 
Finalizando, uma idéia simples, que pode ser proveitosa para  todos: a exploração do espaço urbano não é uma concessão pública, assim como  uma emissora de TV? Então, que a concessão reserve para o poder público x dias  por ano para veicular mensagens de interesse público. Campanhas de  esclarecimento sobre a Gripe A, por  exemplo.

PS: O AUTOR LANÇOU NOVO MOVIMENTO NA POLÍTICA:

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