CIDADE/FÁBRICA RIO TINTO CENÁRIO DE INFLUÊNCIAS NO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO PARAIBANO


Graduandos ? Antônio Carlos Souza da Silva ? Leandro da Silva Ramos ? Mércia Mendes da Silva ? Geografia-UEPB/GUARABIRA


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RESUMO

O presente trabalho visa discutir o processo histórico de produção do espaço riotintense e como o mesmo influencia na formação do espaço paraibano. Para isso, partimos do Descobrimento do Brasil e sua divisão em Capitanias Hereditárias, na qual destacamos a de Itamaracá, onde a Paraíba está inserida. O Estado teve sua economia dividida em ciclos entre eles os que influenciaram a produção do espaço do Litoral Norte, a cana de açúcar e o algodão. O segundo no auge de sua produção foi responsável pelo sucesso da Fabrica de Tecidos Rio Tinto, uma das maiores indústrias têxtil da América Latina, propriedade da família sueca Lundgren. A cidade também foi palco de lutas sindicais.



Palavras-chave: Espaço ? Produção - Lutas


INTRODUÇÃO


Este trabalho cumpre os requisitos avaliativos da disciplina de Geografia da Paraíba do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e é produto de uma pesquisa que tem como objetivo discutir o processo histórico de produção do espaço riotintense localizada na Mesorregião da Zona da Mata e na Microrregião do Litoral Norte e como o mesmo influenciou na produção espacial do Estado da Paraíba, buscando entender como a influência política contribuiu para a configuração desse processo.
Para fazer uma discussão deste processo histórico é necessário voltar aos primórdios e levar em consideração as dinâmicas municipais, estaduais, regionais, nacionais e até mesmo internacionais.
Na busca de uma nova rota comercial para Calicute na Índia, os portugueses chegam ao Brasil, mas não encontram nenhuma riqueza que despertasse tanto interesse quanto o ouro encontrado nas colônias espanholas na África. Com isso, a colônia brasileira fica abandonada, a mercê de invasões de outras nações, especialmente franceses, que passaram a extrair o pau-brasil.
Portugal ao perceber que poderia perder o território "conquistado" para outras nações, procura um meio de colonizá-lo. Surgindo assim em 1534 o Sistema de Capitanias Hereditárias, ou seja, lotes de terra que eram doadas a donatários que deveriam povoá-las e cultiva-las. Nesse sentido, destacaram-se o plantio da cana-de-açúcar, do algodão, do café, entre outros gêneros.
Dentre as quinze (15) capitanias criadas, destacamos a de Itamaracá doada a Pero Lopes de Sousa, na qual o atual Estado da Paraíba está inserido. Sua ocupação foi marcada por conflitos entre portugueses e índios motivados por franceses. O rei de Portugal D. João III, preocupado com os sucessivos ataques, funda a Capitania Real da Paraíba em 1574, que se tornou estado com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889.
Com o surgimento do Estado configura também a criação dos municípios, entre eles Mamanguape (1635), o segundo criado no estado, que devido às boas condições naturais destacou-se o cultivo da cana-de-açúcar, criação de vários engenhos, entre eles o Engenho Preguiça, que compreende o atual território de Rio Tinto.
O município de Rio Tinto destacou-se na produção têxtil, com a Fábrica de Tecidos Rio Tinto, que durante décadas foi a maior produtora de tecidos da América Latina. E recebeu o Presidente da República Getúlio Vargas. Entretanto, destaca-se também as lutas dos operários, que seguiram as mobilizações de todo o Brasil na década de 60.

ESPAÇO

Podemos considerar o espaço como um produto social que passa por diversas transformações e é utilizado de muitas maneiras para os diferentes fins. O homem é o principal responsável pela produção e reprodução desse espaço, tornando-o num conjunto de relações onde se apresenta como testemunho de uma história de passado e de presente, ou seja, o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente. Relações essas que acontecem de forma contínua diante dos nossos olhos. Ele é o verdadeiro campo de força cuja aceleração é desigual. Nesse sentido, Santos afirma " que o espaço é um testemunho na medida em que ele presencia e capita um momento de um modo de produção, através da memória do espaço construído, das coisas fixas na paisagem criada" (SANTOS, 1980. p.138)

FORMAÇÃO DO ESPAÇO BRASILEIRO

O Brasil apresenta uma distribuição desigual do recurso terra, fato evidenciado em pesquisas realizadas sobre o tema. Tal questão não é recente, e resulta do processo de colonização e ocupação do território. Na expansão do comércio marítimo de Portugal houve o descobrimento do Brasil, que passou a ser uma importante colônia, contribuindo para a manutenção de Portugal em posição destacada no cenário mercantilista europeu.
A fase inicial da colonização brasileira é marcada pela implantação do sistema mercantil, com a existência de relações escravistas, em um País habitado por indígenas em estado primitivo de organização social e produtiva.
No período de 1500 a 1530 estabeleceu-se no Brasil a fase de escambo, predominando as atividades extrativistas, principalmente do pau-brasil. As áreas com o pau-brasil eram arrendadas a particulares, com a reserva do monopólio real; este sistema foi substituído pela liberdade comercial e o pagamento de um quinto dos produtos exportados. Com os índios, realizava-se a troca do pau-brasil e madeiras finas para marcenaria, que eles forneciam, por objetos como machados, foices, facões, anzóis, pentes e espelhos, de pequeno valor monetário.
A partir de março de 1534, o Brasil foi dividido em Capitanias Hereditárias, indivisíveis e inalienáveis. Eram faixas lineares de terra que, ignorando os acidentes geográficos, prolongavam-se do litoral até a linha do Tratado de Tordesilhas. Seus donatários teriam direitos e deveres. Nesse contexto Rodrigues (1997) afirma:

"Pedro Álvares Cabral chegando ao Brasil, no dia 22 de abril de 1922, encontrou o Continente Americano dividido por uma linha imaginária que se passava 370 léguas a oeste de Cabo Verde, resultante do Tratado de Tordesilhas. Segundo esse tratado, as terras a oeste pertenciam à Espanha e a leste, a Portugal [...] Em 1534, o Brasil foi dividido em 15 lotes de terras doados a pessoas do corte que passaram a se chamar donatários. Os lotes por herança, iam de pai para filho, daí a denominação de capitanias hereditárias" (RODRIGUES, 1997. p. 17)

Estando falida a coroa portuguesa, a principal condição para receber um lote era possuir recursos financeiros para colonizá-lo às próprias expensas. Como não se tinha notícia de riquezas nestas terras, outras que o pau-brasil reservado à coroa, não houve interesse dos nobres importantes em receber as imensas e selvagens extensões. Os quinze lotes que formavam doze capitanias acabaram nas mãos dos membros da pequena nobreza.
As grandes dimensões das capitanias soaram como um estímulo para os donatários, mas foi também uma das principais causas de seu fracasso, pois a tarefa se revelaria demasiadamente pesada.
O fracasso do projeto como um todo, não impediu que o legado das Capitanias Hereditárias fosse duradouro. A estrutura fundiária, a expansão da lavoura canavieira, a estrutura social excludente, o tráfico de escravos em larga escala, o massacre dos indígenas: tudo isso se incorporou à História do Brasil após o desembarque dos donatários. Outro ponto importante: o rei de Portugal, buscando impulsionar a colonização, criou o Governo-Geral, que funcionaria como um órgão de coordenação das capitanias hereditárias; porém não se verificou mudanças significativas no sistema de distribuição das terras.
Às capitanias hereditárias, seguiu-se o sistema das sesmarias - grandes porções de terras que eram entregues a quem se dispusesse a explorá-las e pudesse comprovar a posse de recursos, como mão-de-obra, para a ocupação do território, dando em troca, à Coroa, uma sexta parte do que fosse produzido ou extraído. Esse sistema só foi extinto com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1888. Quando foram implantados os Estados no Brasil.

FORMAÇÃO DO ESPAÇO PARAIBANO

Para estudar o processo de formação e ocupação do espaço paraibano é necessário voltar aos primórdios e recordar que antes do descobrimento do Brasil o território onde hoje se encontra o estado da Paraíba era habitado por índios e permaneceu assim por quase um século após a chegada dos portugueses. Nesse período aqui habitavam índios pertencentes a nações indígenas diferentes: os tupis, divididos em tabajaras (sul do rio Paraíba) e potiguara (norte do mesmo rio), os cariris divididos em Chocós, Paratiós,Bodopitás, , Icós e Coremas distribuídos ao longo dos rios do Peixe, Paraíba e Piancó e Por últimos os indígenas da nação Trarairiús formado por dez tribos localizados no sertão, Curimataú e Agreste em áreas próximas dos rios. Essas nações indígenas viviam basicamente dos recursos naturais. Nesse contexto no Atlas da Paraíba Rodrigues (2002) ressalta que:

"A Capitania de Itamaracá foi entregue a Pero Lopes de Souza e estendia-se desde a foz do rio Santa Cruz (hoje Igarassu) em Pernambuco, até a Baía da Traição, na Paraíba, com trinta léguas de frente [...]. Nas terras da Capitania de Itamaracá viviam índios de dois grupos: no litoral os Tupis, formados pelas tribos Tabajaras e Potiguara, no interior os Tapuias, formados por tribos de índios Cariris e Trarairius" (RODRIGUES, 2002. P. 17)

Após o Descobrimento e o surgimento do sistema de Capitanias Hereditárias, o colonizador teve no espaço paraibano (que fazia parte da Capitania de Itamaracá) uma grande resistência dos nativos, enquanto não se sentiram ameaçados mantiveram uma relação amistosa com os colonizadores. Quando se sentiram ameaçados reagiram e sofreram grande violência e genocídio. Esse massacre se deu de leste a oeste, do litoral para o sertão e obrigou a fuga de grupos indígenas (cariris) para o Rio Grande do Norte, essa luta ficou conhecida como Guerra dos Bárbaros.
Esse processo se deu para implantar um sistema de exploração colonial para atender os interesses da metrópole (ocupar e povoar) baseada na produção de cana-de-açúcar, essa atividade em seu apogeu também determinou o povoamento do Sertão e do Agreste, pois foi preciso dividir a agricultura e a pecuária. A Zona da Mata encarregou-se do cultivo de cana-de-açúcar e o Agreste e Sertão se encarregou da agricultura e da pecuária. Esse processo possibilitou o surgimento de muitas cidades.

CANA-DE-AÇÚCAR

A cana-de-açúcar foi determinante na ocupação do litoral paraibano.Inicialmente a produção açucareira era destinada ao mercado externo, baseado nos engenhos, criados para atender as necessidades de acúmulo de capital mercantil. Inicialmente a força de trabalho era composta por índios, entretanto os mesmo não se adaptaram ao trabalho e foram substituídos por escravos africanos. Além dos escravos a mão-de-obra nos engenhos exigia grande quantidade de pessoas para a administração e para as atividades técnicas. Ao redor dos engenhos se desenvolveram outras atividades e ofícios. Sobre o trabalho escravo Palmeira (1977) expõe que:

"O sistema de escravidão constituiu um elemento fundamental nas relações de produção na colônia, na medida em que é sobre a base do trabalho escravo que se funda o próprio processo de exploração colonial. No sistema de escravidão, a mercadoria é a própria pessoa do escravo, cujo preço eqüivale ao preço da compra do escravo". (PALMEIRA, 1977. p. 52)

Toda a atividade agrícola dos engenhos estava relacionada a plantação e a colheita de cana-de-açúcar e produtos de subsistência, além da produção de açúcar feita por escravos.
A distribuição das terras em sesmarias foi responsável pela propriedade da terra e pelo sistema açucareiro. As terras de sesmaria eram distribuídas a pessoas com que tivessem recursos para a valorização das terras. Constituindo uma aristocracia rural.
Na segunda metade do século XVII o açúcar foi atingido por uma crise que se agravou com a cultura algodoeira, que provocou desorganização do mercado internacional de açúcar, foi responsável por profundas modificações na sua organização.
Nesse contexto os senhores de engenho não tinham mais condições de manter o trabalho escravo, surgindo assim o sistema de moradores.
No final do século XIX houve a necessidade de tornar o açúcar mais competitivo no mercado internacional com isso inicialmente houve a tentativa frustrada de substituir os engenhos pelos engenhos centrais e depois a implantação das usinas, que surgiram para garantir a sobrevivência do sistema açucareiro. As usinas são estabelecimentos modernos voltados para a produção do açúcar, que surgiram apoiados numa política de incentivos fiscais e creditícios oferecida pelo poder público. Trata-se de um sistema em que a empresa fabril exerce também a atividade agrícola. Nesse sentido Moreira (1997) salienta:

"A usina é um estabelecimento voltado para a produção de açúcar. Trata-se de uma empresa fabril que exerce também a atividade agrícola. Ela surgiu apoiada pelo poder público, não constituindo, portanto, um resultado espontâneo do dinamismo do setor açucareiro, mas uma das várias formas por ele encontrada para garantir sua sobrevivência" (MOREIRA, 1997. P 58).

A implantação da usina foi responsável por muitas mudanças no sistema açucareiro: a concentração da propriedade da terra e a centralização da produção de açúcar, a substituição do açúcar mascavo pelo açúcar centrifugado; a retração de formas tradicionais de relações de trabalho como o trabalhador morador e o parceiro; a intensificação do trabalho assalariado; o surgimento da figura do "fornecedor de cana", a substituição do "Senhor de Engenho" pelo "Usineiro", a introdução do uso de fertilizantes químicos; o emprego em maior escala da moto mecanização, e o emprego de variedades selecionadas de cana.
A cana-de-açúcar desempenha um papel muito importante em toda a zona norte da Paraíba, apesar de atualmente está configurada como uma economia secundária. Essa atividade já teve seu período áureo, fase dos grandes investimentos nos engenhos para a produção do álcool, da cachaça e da rapadura, consequentemente muito da natureza foi sacrificada, especialmente a Mata Atlântica que se encontra muito degradada.

ALGODÃO

No Estado da Paraíba o algodão foi inicialmente cultivado na Mesorregião do Agreste e posteriormente no Sertão. Entretanto, também foi determinante no processo de formação e ocupação do espaço de Mamanguape e Rio Tinto localizadas no litoral.
Na segunda metade do século XVIII o Agreste passou por uma forte interferência externa, a implantação do cultivo do algodão que foi impulsionada por condições externas propícias passou a concorrer com a cana. Sua expansão provocou imensas mudanças no agreste: a consolidação do sistema de morador, a monetarização da economia, as modificações no crescimento urbano regional e a concentração da população. Além do algodão, a pecuária, o sisal, o café e a cana foram importantes para firmar o agreste como policultor.
Com o declínio do sistema algodoeiro surgiu novos ciclos que sempre foram associados às culturas alimentares.
Já o Sertão ofereceu condições propícias para o cultivo do algodão e no seu auge disputou terras e mão-de-obra com a cana. Onde se explorou a variedade arbórea. Sua expansão nessa mesorregião além da demanda, deu-se em favor uma nova fonte de renda, por poder ser cultivado com as culturas de subsistência e por ser complemento da alimentação bovina. Nesse contexto Moreira (1997) afirma:

"A cotonicultura se constitui numa atividade complementar da pecuária e contribui para a formação da renda familiar das camadas mais pobres da população, notadamente dos pequenos produtores rurais, tendo sido também responsáveis pela viabilização das relações de produção do tipo arrendamento e parceria nas microrregiões sertanejas" (MOREIRA, 1997. p.156)

Em 1932 a região de Mamanguape contava com 3000 hectares de algodão, além de várias máquinas de beneficiamento distribuídas em muitos pontos. E sua distribuição era feita através da prefeitura através de convênio com o Ministério da Agricultra.
Com o fim da Guerra de Sucessão Americana o Brasil perde sua posição e acaba a febre do algodão, mas não a sua extinção. Sua produção foi consolidada no sertão e agreste junto com a pecuária e uma nova variedade foi plantada: o algodão mocó.



FORMAÇÃO DO ESPAÇO RIOTINTENSE

A formação do espaço riotintense inicia-se antes do Descobrimento do Brasil, quando nas terras que hoje formam o Litoral Norte era habitada pelos índios Potiguara. Nesse sentido Andrade em 1964 afirma "que até então é de nosso conhecimento que a área onde hoje corresponde ao município de Rio Tinto era habitada pelos nativos índios potiguara, assim como o litoral paraibano". (ANDRADE, 1964 p. 61)
Devido as boas condições apresentadas pelo Vale do rio Mamanguape, alguns portugueses se instalaram na região e intensificaram o cultivo da cana-de-açúcar e também com a criação de engenhos entre eles o Engenho Preguiça voltado para a produção de açúcar e a partir desse fato as terras foram aos poucos sendo tomadas dos nativos.
Entretanto no início do século do século XVIII quando os irmãos Lundgren por intermédio do seu mensageiro, o senhor Arthur de Góis, efetiva a compra do Engenho Preguiça, pela quantia de vinte e três contos de réis e posteriormente outras propriedades é que Rio Tinto, ainda pertencendo ao município de Mamanguape, começa a se configurar como um espaço urbano. Pois no ano seguinte a compra (1917), os irmãos iniciam a construção da Fabrica de Tecidos Rio Tinto e também de toda a cidade.
Já de posse das terras em 1918 iniciaram-se os trabalhos de recuperação das terras pantanosas, uma vez que era uma maré de mangues, por isso houve a necessidade de executar aterramentos, essa etapa só foi concluída graças a distribuição da cachaça feita por Frederico Lundgren para combater a doença da febre transmitida pelos mosquitos existentes na região.
Concluída essa etapa, iniciou-se a construção da fábrica e das casas para os operários. Uma olaria foi criada para dar forma às primeiras edificações. Na região chegaram engenheiros, sanitaristas, pedreiros, carpinteiros, mecânicos, ferramentas e uma infinidade de máquinas.
Devido a grande quantidade de trabalhadores havia necessidades básicas a serem atendidas, foram então construídas farmácias igrejas grupos escolares, clubes recreativos, galpões de abastecimento, cinema, tudo em busca de atender as necessidades da indústria nascente. Havia também a prioridade de contratar famílias inteiras, acreditando assim que teria uma maior estabilidade. Nesse contexto de construção do espaço riotintense Macedo (1986) afirma:

"As casas feitas de tijolos e telhas no período de 1920/48. A farmácia, a igreja, o grupo escolar, feiras semanais, clubes recreativos e padarias foram construídos no ano de 1923. Em 1940, o barracão e o hospital. Em 1945 a cantina [...]. Ao agenciar sua força de trabalho no interior, particularmente em áreas rurais, oferecia residências às famílias que concordassem em vir trabalhar na fábrica. Havia uma particularidade nesse agenciamento: era realizado buscando famílias e não indivíduos. A família constituía a unidade estabilizadora da população. O recrutamento de famílias inteiras garantiria maior estabilidade no engajamento dos trabalhadores". (MACÊDO, 1986 p. 55-62)

Em 27 de dezembro de 1924, foi a inaugurada a Fábrica de Tecidos Rio Tinto acompanhado de grande festa e presença de representantes do governo Estadual e Federal, tornado-se ao maior acontecimento daqueles últimos anos na região.
O sucesso do crescimento deu-se ao coronel Frederico João Lundgren,que apesar da repressão social, administrou a indústria e a vila operária sendo reconhecido como um grande empreendedor. Merecendo receber a visitado do então presidente nacional Getúlio Vargas no dia 9 de setembro de 1933 que encomendou tecidos para fazer os fardamentos da Marinha, Aeronáutica e Infantaria brasileira, sendo mescla cruzado azul (Marinha), gabardine (Aeronáutica) e o brim kaqui (Infantaria), com isso demonstrando a grande importância da fábrica no cenário brasileiro.
Com relação à produção a maior parte da matéria prima (algodão), era oriunda do estado da Paraíba. Com relação ao produto fabricado, produzia-se o tecido que era comercializado no mercado nacional.
A partir da década de 70, a fabrica inicia um processo de decadência, motivados pelas divergências dos proprietários, as reivindicações operarias através dos movimentos sindicais e a concorrência com o mercado nacional e internacional.
De acordo com o que foi discutido pôde-se perceber que a formação do espaço riotintense foi determinada pela instalação da filial da Fábrica de Tecidos Paulista-PE, que no município chamou-se fábrica de Tecidos Rio Tinto. Devido a grande importância que a indústria obteve no cenário nacional e estadual através da grande produção têxtil, além do desenvolvimento estrutural e empregativo, Rio Tinto elevou-se a categoria de município influenciada também pelo prestígio dos Lundgren.
Nesse período o município configurou-se como um dos mais importantes da Paraíba e com a decadência da fábrica a população não só local, mas também de toda a região é afetada imensamente, buscando então outros meios de sustentabilidade e sua população que era em sua maior parte urbana decresce, através de migrações para os grandes centros urbanos do Brasil. Uma parte da classe operária passou a desenvolver outras atividades, como a pesca do peixe na Baía da Traição e do caranguejo em Rio Tinto, além da agricultura, da compra e venda de coco e serviços prestados.
Entretanto hoje Rio Tinto ainda se configura no cenário Estadual como uma das principais cidades do Litoral Norte e com sua população predominantemente urbana.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto concluímos que Rio Tinto teve uma grande contribuição para a formação e ocupação do espaço paraibano.
O processo de industrialização que até hoje em dia assola o município de Rio Tinto, iniciou-se em 1924, com implantação da indústria têxtil, sobre o domínio da família "Lundgren" que deteve em seu poder e controle por muito tempo o espaço urbano e operário.
A partir de então o município tornou-se bastante expressivo em função a produção industrial dando a perceber que o espaço de Rio Tinto cresceu em função da indústria, onde a população operaria foi fator importante e indispensável para a produção deste espaço.
A cidade-fábrica de Rio Tinto presenciou a atuação de um dos mais emblemáticos movimentos operários registrados na Paraíba. Onde realizou em 1° de abril de 1964 uma greve geral em favor de João Goulart. Este empreendimento fabril se constituiu enquanto filial da fábrica de tecidos de Paulista, em Pernambuco. A tecelagem Rio Tinto funcionou até 1990, quando encerrou suas atividades. Atualmente a cidade conta com uma população que ultrapassa os 22 mil habitantes a maioria concentrado na área urbana e ex-trabalhadores da fábrica.
Atualmente nas instalações da Fábrica funcionam A Policlínica Rio Tinto, uma pequena fábrica de sacolas e o Campus IV da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A maior parte dos moradores ainda paga aluguéis das antigas casas dos operários.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. São Paulo: Brasiliense, 1964

Atlas Escolar da Paraíba/Coordenadora: Janete Lins Rodriguez ? João Pessoa. GRFSET. 2002. 3ª edição

FERNANDES, João Batista. O Pai do Vento. Santa Rita. Editora Copyright, 2000

GUIMARAES, Luiz Hugo. 1964: Recordações da Ilha Maldita. João Pessoa: 2º Ed.
Edições FUNESC, 2002.

MACÊDO, Maria Bernadete Ferreira de. Inovações Tecnológicas e Vivência Operária ?O caso de Rio Tinto 1950-1970. João Pessoa: Departamento de Economia da UFPB, 1986 (Dissertação),Vol.II.

MOREIRA, Emília. Capítulos de Geografia Agrária da Paraíba/Emília Moreira, Ivan Targino. ? João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 1997

PALMEIRA, Moacir. (1977), "Casa e trabalho: nota sobre as relações sociais na plantation tradicional". Contraponto, 2, Rio de Janeiro.

RODRIGUES, Adiel Alves. Panorama de Mamanguape: uma exposição histórica do município/Adiel Alves Rodrigues. ? Recife: COMUNIGRAF, 2008

SANTOS, Milton. A urbanização desigual. Petrópolis: Vozes, 1980.