CIDADE DE MOÇAMBIQUE

É assim que a coisa vai começar na voz dum mal-conceituado poeta. Cidade de Moçambique, onde nos encontramos agora ? um retrato.

Metrópole da controvérsia do "chingondo " (diz-se de pessoas oriundas do norte de moçambique) e do "machangana " (diz-se de pessoas oriundas do sul de moçambique, da província de Gaza e Maputo, em particular), banzé de monhés caridosos de todas as sextas-feiras, cidade das acácias que amiúde refilam sobre os que apreciam instalar-se sob uma boa sombra.

Maputo-cidade da independência arguida, cidade da independência que se mantem eternamente refém nas tampas sanitárias quase sempre entre-abertas, decalcadas a "Lourenço Marques", fontes de águas negras que descem pelas ruas da baixa para apaziguar o conflito dos ambulantes, entre ambulantes e aqueles que sem piedade disparam balas que se perdem, sem ninguém para responder por elas a posterior.

Aqui é a "cidade prometida", onde todo "chingondo" e "machangana" quer estar. Aqui é difícel eu me sentir sozinho. Se o gatuno, nesse dia, tem, de mim piedade, para me estuprar a aflição, o cinzentinho da esquina quer me pausar. Noutra esquina, um polícia de trânsito acomoda a sua moto no relevo do passeio e despi a cabeça para passar despercebido. Então, quando a ocasião se faz, busca nela o ladrão e ao invés de evitar apronta-se para cobrar pela infracção.

Nos jardins já não se brinca pois o silêncio tem preço, e a música que canta é uma orquestra de latas que reivindicam quantias duma moeda chamada R.D.A (República Democrática Alemã) que definitivamente vence o valor no planalto da inflação.

A escrita está em protesto e por conta disso o massacre é evidente ? estamos a colocar "x" em tudo que escrevemos e como é demorado colocar um pingo no "i", o "y" é que está na moda.

Já se foram os tempos das bichas para receber arrufadas na escola, o tempo em que o saber nos era imposto, e a criança de Guebuza é a criança de direitos. Quando a professora pergunta se fez o T.P.C, ousa com destreza responder "não professora, pedi a mãe para ir brincar e ela deixou" ? são direitos da criança.

Tal como o Deus de Saramago, o nosso não de confiar, é maquinário e ambicioso e constrói templos mais pomposos que o Maputo Shopping Center ? quem desacredita pode subir até a 24 de Julho (amén!).

Me segredaram que o jovem desempregado não pode ter escolha senão ser "camarada", e um novo pré-requisito que surge anexo ao curriculum vitae é um cartãozinho vermelho, que talvez seja proposto para os novos bilhetes de identidade.

Moçambique é somente aqui, a cidade onde me encontro agora a soletrar o texto que gostaria que meu avô ouvisse agora lá em Mavago, mas não vai, porque nem um aparelho de rádio possui e muito menos sabe que existe um Moçambique iluminado como certos famosos cantam por aí.

Mas nem tudo vai mal e por isso dizem que não podemos apostar numa nova escolha, e a minha descontente escolha é a escolha daqueles que nada mais fazem senão ostentar uma cor e a promessa dum futuro melhor.