Neste dia internacional da mulher, fomos brindadas com uma das grandes pérolas do machismo e da intolerância.

Todos sabem do caso do estupro e aborto da menina de nove anos, grávida de quatro meses, de gêmeos, e essa era uma gravidez de risco. Todos os médicos que a examinaram, atestaram isso.

Pois bem. O aborto foi feito, afinal, que condição tinha uma menina de nove anos, de criar duas crianças? Mas, a mãe da menina e os médicos que fizeram o aborto foram excomungados, pela intolerante igreja católica. O caso repercutiu. Muito mal. Aqui e mundo afora.

Quando o bispo foi interrogado sobre a excomunhão, ele disse que o aborto era pior que o estupro.

Eu fiquei em estado de estupor. Embasbacada. Abestalhada. Aborto pior que o estupro???

O estrago de um crime desses sobre a mulher é inominável, permanente.

A mulher tem sofrido séculos de dominação e humilhação. Ela não pode sequer ter direitos sobre o seu próprio corpo, regulamentar o seu próprio prazer. Ela depende, em muitas coisas ainda, da aprovação de outros, do pai, do marido, da religião, do Estado. Mas vivemos num país ocidental. Nos países orientais, a realidade é infinitamente pior. Ultrajante. O existir da mulher está em função do pai. Ou do marido. Ou do irmão. Da religião e do Estado, aliás, a religião e o Estado vivem em simbiose nestes países.

Desde que a mulher conquistou o direito de votar, é que ela tem lutado por tantos outros direitos, que até então eram de direito (desculpe o trocadilho) do próprio homem. Lembremos que na antiga Roma, cidadãos eram apenas os homens, não as crianças, estrangeiros, escravos, crianças e mulheres.

As mulheres são cidadãs e lutam em todas as frontes pelos seus direitos. Mulheres negras, lésbicas, com menos instrução, com mais instrução, donas de casa, empresárias, chefes de casa, prostitutas, emancipadas, casadas, solteiras, solteiríssimas, viúvas, divorciadas, jovens, maduras, idosas. Lembremos também que até a década de 70 as mulheres desquitadas eram absolutamente mal vistas pela sociedade.

As mulheres têm que ser firmes, a sociedade espera que nós representemos o papel de dócil, frágil, que tem que ter filhos e ser boa mãe, que tem que casar e ser boa esposa, que tem que se conformar com o papel que lhe é acintosamente imposto.

A mulher precisa acreditar em si, na sua força, na sua inteligência, na sua beleza, na sua capacidade de fazer o melhor, de aprimorar a sua educação e caráter. A mulher deve batalhar pela sua própria independência, liberdade, ter seu espaço, sua casa, direito sobre seu corpo, seu prazer. A mulher deve se interessar pela ciência, pela filosofia, pela política, pela economia, pois a sociedade espera que nos interessemos apenas pela novela, pelo corpo perfeito, segundo a mídia, pelos filhos e homens. Esperam que sejamos superficiais. Basta. O dia internacional da mulher é um dia que deve ser pensado, filosofado, para que daí possamos partir para a ação. E deixo registrado aqui o meu repúdio pela posição acintosa e infame desta Igreja opressora e de todas as religiões que oprimem a mulher.