CHINA E BRASIL: PODER E DEPENDÊNCIA

Ivan Santiago Silva *

A República Popular da China é o grande colosso do século XXI em função da sua economia gigantesca, da população de mais de um bilhão de habitantes e da presença internacional forte, principalmente nos últimos anos. Trata-se de um grande centro econômico mundial, contudo apresenta algumas dependências.
Como potência econômica que cresce a mais de 10% ao ano a mais de 30 anos, a China é a segunda a maior economia do mundo pelo PIB/PPC (Produto Interno Bruto / Por Poder de Compra) e só perde a liderança mundial para os Estados Unidos da América. Sendo assim, várias projeções indicam a China como a maior economia planetária nos próximos anos.
Este país asiático, que mantém uma ditadura justa e suja na política, também apresenta distorções na economia, sendo o mais grave da atualidade a questão da do câmbio chinês. De certa forma, quando lhe convém, a ditadura chinesa dita às ordens na economia, que causa impactos no mundo todo em função do seu tamanho.
A questão cambial chinesa é simples : o Yuan ( moeda chinesa) está desvalorizado frente ao dólar americano e faz com que os produtos chineses cheguem mais baratos em outros países ( mercados) e desestabilize a concorrência nestes. Com esta questão do câmbio, um simples rádio ou microcomputador chega mais barato nos EUA do que os estadunidenses conseguem produzir.
Com esta medida "ditatorial" a China atingiu, segundo dados da Folha on line em 14/04/2011 os 3 trilhões de dólares em reservas cambiais. Para que os chineses conseguissem criar esta poupança (o Brasil fechou 2010 com aproximadamente 290 bilhões de dólares ou seja menos de 10% do valor chinês), a concorrência internacional chinesa foi desleal, como a ditadura o é com os dissidentes e com os direitos humanos.
Este mês a presidenta brasileira Dilma Rousseff esteve na China para tratar de questões econômicas, principalmente no que diz respeito à balança comercial. Os chineses "fecharam no vermelho" com o Brasil em 5 bilhões de dólares em 2010, em função do câmbio chinês estar desvalorizado, pois caso contrário este valor seria ainda maior em favor do país latino.
Outro assunto da pauta é que o Brasil é um grande exportador de matérias primas (apesar de exportar os aviões da Embraer) e um grande consumidor de produtos industrializados. Triste sina do gigante da América do Sul, a séculos nesta posição.
O que não foi claramente noticiado é que a China é um país dependente. Isto mesmo depende : de comida e de matérias primas. Um professor meu de geografia dizia nos tempos da minha graduação que nenhum país que possua dependência consegue realmente se firmar como grande potência. Este fato é relevante, pois Estados Unidos e União Soviética, por exemplo, eram industrializados e possuíam capacidade de produzir comida e matérias primas. As potências européias de outra hora, ampliaram seus territórios (colonialismo) para conseguirem se industrializar e com a descolonização afro-asiática o poder se foi.
O Japão é um Estado Nacional que sempre soube que estava fadado a conquistar ou sucumbir. Perdeu a 2º Guerra, onde buscava territórios para matérias primas e comida. Permaneceu industrializado, mas este ano perdeu a " 2ª maior economia do mundo" para os chineses.
Resta saber como a China conseguirá se abastecer de comida e matérias primas nas próximas décadas, pois por mais poderosa que seja, não poderá partir para questões militares, onde a supremacia americana é inabalável. A China não guerrearia sequer com a Rússia.
Observando mais claramente, vemos que na relação Brasil-China, apesar da dependência parecer brasileira, não é. A China, gigante, rica, com crescimento significativo é poderosa e apresenta-se como tal, mas terá que ceder sempre para continuar a existir, seja através da comida, das matérias primas e da energia. Para a China, o Brasil não é um parceiro importante e sim vital.

Ivan Santiago Silva é Geógrafo e autor do livro Brasil : Imperialismo e Integração na América Latina.