“Mas o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é a resposta a meu - a meu mistério.” Clarice Lispector

A falta é inerente a condição humana e é o que na maioria das vezes nos impele a buscar sempre mais. A insatisfação que nos leva a trabalhar, a estudar e até mesmo a amar, buscando nos relacionamentos a possibilidade da completude. É essa saudade de não sei do que, esse desejo de voltar não sei pra onde, essa eterna busca por algo que parece ter sido perdido, mas que não pode ser encontrado.

Essa insatisfação nem sempre encontra saídas tão saudáveis e as drogas encontram sustentação exatamente nesse vazio. Aparecem para preencher um vazio e acaba criando abismos ainda maiores. Precipícios emocionais, afetivos e sociais. Chega à vida do jovem prometendo aceitação, compreensão, alívio imediato, remédio para todo o mal. Um arrombo de sensação e prazer que promete a cura, mas acaba criando a doença. E tirando aquilo que temos de mais precioso: a liberdade de escolher, de dizer sim ou não.

Tal como miragem no deserto oferece a ilusão do alívio e do encontro, para depois criar desencontros tão insustentáveis que já não permite saber que em qualquer deserto sempre existe um oásis. Nesse momento os pais se perguntam: Onde foi que eu errei?

O fato é que a própria família acaba virando vítima dessa dependência. Depois de tudo desfeito busca uma forma de “salvar” seu filho que agora mais parece um desconhecido. E nesse momento uma mãe não pode duvidar da força de seu amor. E quando seu filho mais parece um estranho, machucado e marcado, é ela quem deve olhá-lo no fundo e reencontrá-lo.

Como já disse a droga vem para aplacar um vazio. E o sujeito só poderá deixá-la quando encontrar outra saída para essa falta. O trabalho, a religião, a arte e o esporte são outras saídas possíveis. Saídas essas que só podem acontecer em um ser social. Por isso o grande desafio é descobrir formas de tratamento que auxiliem o dependente químico dentro dos muros de sua comunidade. Há muito tempo nossa sociedade tem o hábito de expulsar para as margens, de marginalizar, todos aqueles que não se encaixam em seus pré concebidos padrões de normalidade. Tal como na antiga Nau dos Loucos, que carregava sua carga insana para além dos limites territoriais. Só venceremos a guerra contra as drogas quando pudermos encará-la de frente e ver nesse “estranho” a fraqueza e o vazio que existe também em nós. 

Flávia Lórem – Psicóloga – CRP: 04/30162