Trabalho Científico:

CHAVES FACIAIS NO DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO ORTODÔNTICO
Autora: Priscila Lourenço Queiroz

 

 

INTRODUÇÃO

 Mesmo reconhecendo que as seis chaves para a oclusão perfeita, preconizadas por Andrews, possam ser uma meta segura e factível, admite-se que, para se ter uma oclusão e estética perfeitas, é necessário também, fazer um exame avaliando duas visões do paciente, Frontal e do Perfil, para identificar os problemas em três planos do espaço.

Como já sabemos, as seis chaves de oclusão propostas por Andrews são:

                               I. Relação Molar

                               II. Angulação Mesio-distal dos dentes

                               III. Inclinação Vestibulo-Lingual dos dentes

                               IV. Áreas de contato interproximal rígidas

                               V. Ausência de rotações dentárias

                               VI. Curva de Spee

                Agora, estudaremos 19 traços para o Exame Facial da Visão Frontal e do Perfil, com a finalidade de adotar um protocolo de avaliação para todo planejamento.


DESENVOLVIMENTO

I. Visão Frontal
1. Forma do Contorno e Simetria

                2. Nível Facial

                3. Alinhamentos da Linha Média

                4. Terços Faciais

                5. Avaliação do Terço Inferior

5.1. Comprimento do Lábio Superior e Inferior

5.2. Dente Superior em Relação ao Lábio

5.3. Espaço Interlabial

5.4. Posição Labial Fechada

5.5. Nível da Posição Labial ao Sorrir .

II. Visão do Perfil

                1. Ângulo do Perfil

                2. Ângulo Nasolabial

                3. Contorno do Sulco Maxilar

                4. Contorno do Sulco Mandibular

                5. Borda Orbital

                6. Contorno do Osso da Face

                7. Contorno Nasal Base-lábio

                8. Projeção Nasal

                9. Comprimento de Garganta

                10. Linha Subnasal-pogônio.

 

I. Visão Frontal

1. Forma do Contorno e Simetria

                Avaliar a forma geral do contorno e assimetrias. Descrevendo a face artisticamente, podemos medir sua altura e largura. As faces podem ser largas ou estreitas, curtas ou longas, redondas ou ovais, quadradas ou retangulares.

 

  • •A altura facial é medida tomando como base a linha do cabelo (H) ao tecido mole do mento (Me’)
  • •A largura facial toma como base a largura bi-zigomática e a largura bi-goníaca, sendo esta geralmente, 30% menor que a bi-zigomática.

 

Uma questão importante quando se avalia estas dimensões é o cuidado ortodôntico e/ou cirúrgico:

- Um exemplo de correção ortodôntica do desequilíbrio altura-largura é utilizar mecânicas de abertura da mordida para alongar a face durante a correção da mordida num paciente de face curta.

- E um exemplo de correção cirúrgica é a impactação maxilar para encurtar a face longa.

As áreas mais comuns que ocorrem assimetrias são o queixo e os ângulos mandibulares.

Essas assimetrias podem ocorrer devidos a qualquer anormalidade de crescimento, mas estão fortemente associadas com hiperplasia condilar unilateral.

A desproporção na altura e largura pode ser corrigida cirurgicamente:

1. Cirurgia maxilar ou mandibular para, por exemplo, corrigir simultaneamente a mordida e alongar ou encurtar a altura facial ou,

2. Cirurgia para aumento ou redução da altura ou largura facial.

2. Nível Facial

Para se avaliar os níveis faciais, é necessário uma linha horizontal de marcação confiável.

 

Com o paciente na posição natural da cabeça, as pupilas são avaliadas no nível do horizonte. Se niveladas, são utilizadas como a linha de referência horizontal e as estruturas adjacentes são medidas em relação a esta linha.

 

As estruturas comparadas com a linha da pupila são: o nível do canino superior, o nível do canino inferior, e o nível do tecido mole do mento .

Se as pupilas, na posição natural da cabeça, não estiverem ao nível da linha do horizonte, utiliza-se uma linha de referência horizontal construída que passa pela área das pupilas e é paralela ao chão. Daí avalia-se as outras estruturas em relação a esta linha.

3. Alinhamentos de Linha Média

                O filtro é o menos assimétrico desses pontos e, portanto, geralmente utilizado como um ponto de partida para a avaliação da estrutura da linha média.

           

      As estruturas da linha média avaliadas são:  ponte nasal, ponta do nariz, filtro do lábio, linha média do incisivo superior, linha média do incisivo inferior e ponto da linha média do queixo, que devem ficar sobre uma linha que seja perpendicular à horizontal na posição frontal.

 

      Todos esses pontos da linha média podem não se alinhar, mas as linhas médias dentárias e o queixo devem ser posicionados em relação ao filtro para então podermos avaliar se há algum desvio.

      Os desvios de linha média são resultados de múltiplos fatores dentários que incluem: espaços, rotações dentárias, ausência de dentes, dentes posicionados bucal ou lingualmente, coroas ou enchimentos que mudam a massa dentária e diferença congênita na massa dentária. São tratados ortodôntica ou cirurgicamente.

      Quando apenas a linha média dentária esta desviada, extrações de pré-molares podem ser necessárias para alinhá-la.

Agora, quando as linhas médias dentárias e esqueléticas se desviam juntas, o fator etiológico geralmente é esquelético e a cirurgia é necessária para corrigi-las.

4. Terços Faciais

       A face se divide verticalmente em terços traçando-se linhas pela linha do cabelo, meio-supercílio, subnasal e tecido mole do mento.

           

                Os terços estão dentro de uma variação entre55 a65mm, verticalmente. A linha do cabelo é variável, e o terço superior freqüentemente está em índice baixo. No terço inferior geralmente se encontram mais alterações. Por exemplo, a altura facial reduzida do terço inferior está associada à deficiência maxilar vertical e mordidas profundas com retrusão mandibular.

 

A produção de proporções corretas vai influenciar a escolha do procedimento, se somente ortodôntico ou se também cirúrgico.

5. Avaliação do Terço Inferior

            Esta área de análise facial é extremamente importante para o diagnóstico cirúrgico-ortodôntico e plano de tratamento.

           

            A avaliação é feita com os lábios relaxados, o terço inferior é subdividido traçando-se linhas através do subnasal (Sn), inferior do lábio superior, superior do lábio inferior e tecido mole do mento (Me’).

 

5.1. Comprimento do Lábio Superior e Inferior:

Os lábios são medidos independentemente, numa posição relaxada. O lábio superior é a metade do comprimento do inferior. O comprimento normal do subnasal ao inferior do lábio superior é de19 a22mm e comprimento normal do superior do lábio inferior ao tecido mole do mento é de38 a44mm.

Se o lábio superior é anatomicamente curto (18 ou menos), observa-se um espaço interlabial aumentado e uma exposição do incisivo, sem alteração da  altura da face inferior.

5.2. Dente Superior em Relação ao Lábio:

Faz-se a medida da distância do inferior do lábio superior à borda incisal do dente superior, com os lábios relaxados.

A variação normal é de1 a5mm        

                     

5.3. Espaço Interlabial

É medido com os lábios relaxados. Fica presente um espaço de1 a5mm entre o inferior do lábio superior e superior do lábio inferior.

Aumento no espaço interlabial é observado com o lábio superior anatomicamente curto, excesso maxilar vertical e protrusão mandibular com mordida aberta.

Diminuição no espaço interlabial é observada em deficiência maxilar vertical, lábio superior anatomicamente longo (mudança natural com a idade, especialmente homens), e retrusão mandibular com mordida profunda.

Um lábio superior anatomicamente curto deve ser reconhecido como um problema de tecido mole e não deve ser tratado com encurtamento excessivo da maxila, uma vez que isto pode levar a um contorno facial redondo, curto.

5.4. Posição Labial Fechada:

Revela desarmonia entre os comprimentos esqueléticos e do tecido mole.

Com os comprimentos esqueléticos e do tecido mole equilibrados, os lábios devem fechar de forma ideal a partir de uma posição relaxada, sem tensão labial, mentual ou na base alar.

Logo, a maxila não deve ser impactada para se idealizar o fechamento do lábio superior curto a menos que o contorno facial venha a tolerar tal mudança.

5.5. Nível da Posição Labial ao Sorrir :

Revela as diferentes elevações labiais ao sorrir.

A exposição ideal de sorrir é de três quartos de altura da coroa para 2mm de gengiva, variação maior para as mulheres do que para os homens.

A exposição gengival está relacionada com o comprimento labial, comprimento maxilar vertical, comprimento da coroa maxilar anatômica e magnitude da elevação labial com o sorriso.

A exposição labial em excesso pode ser causada por: lábio superior curto, excesso maxilar vertical, coroa clínica curta e/ou grande elevação do lábio ao sorrir.

 

II. Visão do Perfil

1. Ângulo do Perfil

Glabela, subnasal e pogônio mole

Normalidade:165º/175° classe I

Ângulo diminuido: classe II

Ângulo aumentado: classe III

 

2. Ângulo Naso-Labial

Columela, subnasal e ponto mais anterior do lábio superior.

Normal 85° a 105°

Fatores a serem considerados:

- Ângulo atual;

- Efeito do tratamento sobre a posição labial atual;

- Tensão labial presente;

- Espessura labial;

- Magnitude da retrusão mandibular;

- Extração (padrão de extração) ou não extração.

         

3. Contorno do Sulco Maxilar

É determinado subjetivamente

Fornece informações sobre a tensão do lábio superior.

Pode ser:

-Acentuado

- Rebaixado

- Curvo

          

 

4. Contorno do Sulco Mandibular

Também é determinado subjetivamente

Pode ser:

- Classe II: lábio inferior profundamente curvo

- Classe III: ângulo rebaixado:

        

5. Borda Orbital

É medida da parte mais anterior do globo ocular até o ponto da borda orbital.

Normalmente o globo fica de2 a4 mmanteriormente ao ponto orbital.

           

6. Contorno do osso da face

É uma linha que se inicia anteriormente a orelha, estende-se para frente pelo ponto do osso da face (CP), passa pelo ponto da maxila (MxP) adjacente à base alar do nariz, devendo ser uma linha suave e contínua.

Normal:

                - Perfil: CP está20 a25mm inferior e5 a10mm anterior ao canto externo do olho.

- Frontal: CP está20 a25mm inferior e5 a10mm lateral ao canto externo do olho.

 

7. Contorno nasal da Base-Lábio

     Retrusão maxilar                                                                       Protrusão mandibular

                                           

8. Projeção Nasal

É a medida do subnasal à base do nariz

O normal é medir de16 a20mm.

            

9. Comprimento da Garganta

Ponto do pescoço-garganta e tecido mole do mento.

É uma distância subjetiva e pode ser classificada em longa, curta ou normal.

 

10. Linha Subnasal-Pogônio

Linha que une subnasal até o pogônio mole.

  • Lábio superior: 3,5 ±1,4 mmà frente desta linha
  • Lábio inferior: 2,2 ±1,6 mmà frente desta linha

A relacão labial com esta linha é afetada por:

  1. Relacão esquelética
  2. Inclinacão do incisivo
  3. Espessura labial

             

 

CONCLUSÃO

            Em qualquer tratamento ortodôntico a análise facial deve ser o principal refencial no diagnóstico e plano de tratamento, uma vez que, somente com a análise cefalométrica torna-se difícil distinguir a origem esquelética da má-oclusão.

Além disso, os problemas esqueléticos se refletem em um grande desequilíbrio dos tecidos moles e o paciente espera corrigí-lo, já que a simples correção de uma oclusão para uma classe I não garante um resultado estético satisfatório dos tecidos moles.

 

BIBLIOGRAFIA

- Facial Keys to Orthodontic Diagnosis and Treatment Planning  - G. Willian Arnet, Robert T. Bergman- American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics Vol. 103, Núm. 5, pp. 395-411, Maio de 1993.(178. Art) . Traduzido por Maria Alexandra P. C. Grosso: "Chaves Faciais para o Diagnóstico e Plano de Tratamento"

- FREITAS, R. Z. ; COSTA, C. P. ; PINHO, S. Estética facial. In: 25º CONGRESSO INTERNACIONAL DE ODONTOLOGIA DE SÃO PAULO, 2007.  São Paulo: CIOSP, 2007. p. 146-175.

- GALVÃO, C. A. A. N. Medidas do perfil facial. Ortodontia 1987; 35 (5): 409-414