A polêmica sobre as células-tronco*

Tem-se discutido muito no mundo e no Brasil em particular a viabilidade e a moralidade acerca do uso de células-tronco para a cura de doenças, entretanto a discussão ao massificar-se pela mídia é permeada de grande desinformação. A Igreja é vista como uma instituição que quer impedir o avanço da ciência, a Igreja é vista como obscurantista. Será? No presente espaço, pretendemos trazer algum esclarecimento sobre o assunto tendo em vista a questão moral.
Vejamos primeiramente o que são células-tronco: Todo ser vivo composto biologicamente de muitas células é definido como pluricelular e com o ser humano não é diferente, ou seja, o homem é um ser pluricelular. Dentre as muitas células existentes no organismo humano há um tipo muito peculiar, são as células-tronco. Tais células são de certa forma, muito valiosas, pois têm a capacidade de se converterem em células de outros tipos, por isso elas são consideradas pluripotentes (têm potência múltipla para se transformarem em células de tipos diferentes e assim formarem diferentes órgãos). Obviamente que para isso se efetivar é preciso que haja o estímulo apropriado, desse modo um conjunto de células-tronco poderia engendrar os tecidos orgânicos mais variados de modo a substituírem múltiplos órgãos.
Segundo a origem, as células podem ser classificadas como embrionárias ou adultas. As células embrionárias são extraídas de um embrião. Vale considerar que o embrião humano nasce de duas células humanas (gametas): Uma feminina (óvulo), outra masculina (espermatozóide). Cada gameta tem 23 cromossomos. Quando ocorre a fecundação, ou seja, quando óvulo é penetrado pelo espermatozóide e acontece à união, a comunhão das duas células, surge uma nova célula com uma riqueza genética singular, composta de 46 cromossomos denominada de ovo ou zigoto. Então, de acordo com a ciência ? e não com a teologia ou com a religião - a vida humana tem início na fecundação, portanto, a nova célula com seus 46 cromossomos não é meramente o resultado da superposição dos gametas masculino e feminino! É, sobretudo um ser, uma pessoa inteiramente nova, com um patrimônio genético único denominado cientificamente de GENÔMA (o código genético dessa nova pessoa). Pois bem, diante do que até aqui foi exposto cabe a pergunta: As células-troco retiradas de embriões não significam decretar a morte de pessoas humanas em fase inicial da vida, visto que tal procedimento requer o aniquilamento do embrião? Seria moral? Ao mesmo tempo, as pesquisas com células-tronco embrionárias não têm produzido resultados animadores, muito pelo contrário as conseqüências são tumores e a rejeição dessas células pelo organismo.
As células-tronco adultas são retiradas do sangue do cordão umbilical e da medula óssea, logo não destroem a vida humana. Essas células são as que já efetivamente apresentam os melhores resultados e prometem ser algo revolucionário no âmbito do tratamento médico e na cura doenças.
Quando, em programas de TV e em revistas de grande circulação nacional, são apresentadas reportagens que mostram curas realizadas com o uso de células-tronco, não é informado ao grande público que os resultados positivos têm origem nas células adultas e não nas embrionárias. Quais os motivos das distorções das noticias e das informações? Por qual razão tanto medo da verdade? Não sabemos responder. Sabemos, entretanto, que quando a Igreja Católica Romana manifesta-se favorável às pesquisas com células-tronco adultas e contra as pesquisas com células-tronco embrionárias, não é por princípio somente e estritamente teológico, mas pauta-se em fundamentos científicos. Lembremos que é a ciência que diz que a vida humana começa na fecundação e os cientistas que querem fazer uso das células-tronco embrionárias estão negando esta verdade cientifica isso não estão agindo cientificamente!
A Igreja não deseja impedir o avanço das pesquisas cientificas, mas entende que a ciência não é absoluta. A Igreja que, como dizia o Papa Paulo VI, é perita em humanidade sabe que a ciência esta para a pessoa humana e não a pessoa humana esta para a ciência. A medida da ciência é a promoção da pessoa humana em todas as fases da vida. Caso contrário, a ciência perde sua razão de ser.
*Professor Ricardino Lassadier (Especialista em Filosofia (Epistemologia das Ciências Humanas), e Teologia (Teologia com ênfase em Bioética).