RESUMO

O artigo em questão busca apresentar a influência que uma célula de estudos, utilizando a metodologia da Aprendizagem Cooperativa, possui, agindo como uma oportunidade de ingresso para os estudantes de escolas públicas no ensino superior. Foi feita uma pesquisa de campo com ex-integrantes de células estudantis, que se deu por meio de entrevista aberta, dando a eles liberdade de expressarem as mais diversas opiniões sobre o tema e as vivências dentro da célula de estudo. Dessa forma conseguimos analisar os seguintes pontos: a interação face a face, a interdependência positiva, as habilidades sociais, a responsabilidade individual e o processamento de grupo, pontos esses promovidos pela célula cooperativa. Uma breve revisão de literatura também foi realizada, por meio de trabalhos já publicados na área da educação, com o enfoque no estudo em grupo, embasando assim o tema abordado e a pesquisa realizada. Por meio da literatura existente e da pesquisa realizada constatou-se que realmente a célula de estudo foi um fator determinante na vida das pessoas entrevistadas, onde a mesma possibilitou o ingresso na Universidade e além disso, outras experiências que as engradeceram.

1 INTRODUÇÃO

A aprendizagem cooperativa é utilizada como uma ferramenta diferente de aprendizado. A mesma é trabalhada por meio de células de estudos, onde estudantes se reúnem para compartilharem conhecimento e vivências, fazendo com que a célula traga resultados. Durante o percurso do ensino médio, alunos costumam utilizar deste método de aprendizagem para obter aprovação na prova de ingresso do ensino superior, logo procura-se responder neste artigo se as células de estudos são realmente instrumentos eficazes na obtenção da aprovação no vestibular.

            Nesse sentido, o trabalho em questão tem por objetivo principal analisar e apresentar a influência que uma célula de estudos, utilizando a metodologia da Aprendizagem Cooperativa, possui, agindo como uma oportunidade de ingresso para os estudantes de escolas públicas. Ademais, tem como objetivos secundários, investigar o diferencial dos estudantes que participam de uma célula de estudos utilizando os pilares da Aprendizagem Cooperativa. A formação de vínculos, por meio das interações sociais. A interdependência social positiva como fator de motivação para o trabalho em grupo. A responsabilidade individual como fator motivador para o rendimento estudantil otimizado. O desenvolvimento de habilidades sociais como fator que ajuda na resolução de problemas e, por fim, investigar a dinâmica do processamento de grupo como forma de melhoria contínua da célula. Esses pontos serão analisados por meio de entrevistas com ex-integrantes de células que utilizavam o modelo da Aprendizagem Cooperativa.

            Apesar de não ser muito utilizada, a Aprendizagem Cooperativa não é uma metodologia nova. Ela deu-se origem com o início dos processos de aprendizagem na história humana, e atualmente, se firma como uma possibilidade de diminuir as dificuldades de aprendizagem que os alunos nutrem, ao passo de que além de compartilhar saberes, humaniza o aluno que a utiliza e harmoniza o ambiente em que se integra. Por meio dela, estudantes trabalham juntos em grupos heterogêneos com o intuito de resolver um problema, concluir um projeto ou atingir algum outro objetivo pedagógico como o ingresso no ensino superior.

            As definições sobre a Aprendizagem Cooperativa sugerem a ideia de cooperação mútua. Para Johnson & Johnson (1993, apud LOPES & SILVA, 2009), ela deve ser entendida como um método de ensino que consiste na utilização de pequenos grupos, de tal modo que os alunos trabalhem em conjunto para maximizar a aprendizagem. Para Falthman e Klesser (1993, p.128, apud LOPES & SILVA, 2009), Aprendizagem Cooperativa é o trabalho em grupo que se estrutura de forma cuidadosa, em que todos os alunos possam interagir, trocar informações e, ainda, serem avaliados de forma individual pelo seu trabalho (BITU, 2014).

            A Aprendizagem Cooperativa é definida por Balckom (1992, apud LOPES & SILVA, 2009) como sendo uma estratégia de ensino em que pequenos grupos de alunos com níveis diferentes de aprendizado que utilizam atividades variadas com o propósito de melhorar a compreensão do assunto em pauta (BITU, 2014).

            Assim, os membros do grupo formam uma célula de estudo onde na mesma os integrantes passam a ajudar os colegas a terem domínio do conteúdo abordado e não apenas aprender o que é ensinado na célula. Sendo assim, juntos eles superam suas deficiências de aprendizagem apoiando-se conjuntamente e preparando-se assim para ingressar no ensino superior.

            Contudo essa metodologia ainda não é muito empregada nas escolas de ensino público, por conta de ainda ser priorizado o método arcaico de compartilhamento de conteúdo. Focando nisso, resolvemos conversar com alguns estudantes que utilizaram da Aprendizagem Cooperativa a fim de comprovar se a mesma traz resultados benéficos ao público que a utiliza e confrontar com o fato de que poucos estudantes conseguem ingressar na Universidade seguindo o padrão de ensino da escola pública.

            Desse modo, a pesquisa mostrará a importância de uma célula de estudos para obtenção e compartilhamento de conhecimento e vivências.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O modelo educacional atual

            A linha tradicional de ensino, oriunda do Iluminismo, tinha como principal objetivo a universalização do acesso do indivíduo ao conhecimento. Essa linha é tida como um modelo firme que acaba não deixando espaço para que o aluno participe, fazendo com que o mesmo torne-se um agente passivo do processo de conhecimento, deixando-o resistente em aceitar inovações.

            Normalmente, as aulas são expositivas, com excesso de teoria e baseadas em técnicas que ajudam o ato de memorizar, tendo apenas o professor como um interlocutor do conhecimento, onde o mesmo o repassa para os alunos. Além disso, o professor passa, nesse processo, a exercer um grande poder sobre os alunos, que como já citado, atuam como elementos passivos.

            A relação professor-aluno nesse modelo tradicional acaba tendo como consequência a submissão, onde o professor é tido como figura superior e o aluno tem medo de se expor perante o público. Sendo assim, o aluno acaba sendo considerado como o receptor que nada sabe e que precisa do professor para poder absorver conhecimento.

            Além de, a escola tradicional, ser centrada no professor e na transmissão de conhecimento, valoriza o desenvolvimento do conhecimento determinado pelo currículo escolar, onde no final do ano letivo o professor precisa prestar contas com a instituição de ensino a qual faz parte mostrando, com documentos, se conseguiu cumprir o estabelecido. Isso acaba por limitar a criatividade existente no meio acadêmico, tanto do educando como do educador. 

            Pelo fato de a maioria das escolas de ensino médio seguir esse modelo, que faz com que não hajam oportunidades de o aluno atuar de forma proativa na construção do seu conhecimento, o estudante fica sem outras opções dentro do espaço escolar – que serve de preparação para o ingresso no ensino superior – de obtenção do conhecimento.

            Logo, nesse contexto, surge a metodologia usada na Aprendizagem Cooperativa como um ponto de fuga para o aluno que não consegue assimilar o conteúdo da forma como deveria ao utilizar dos métodos empregados na escola tradicional. 

2.2 A Aprendizagem Cooperativa

            A Aprendizagem Cooperativa é uma abordagem metodológica que propõe que em grupos de estudo os estudantes conseguem resolver problemas com mais facilidade e, geralmente, alcançar resultados melhores do que se trabalhassem individualmente. Nesses grupos, os alunos desempenham funções diferentes e alternadas, para que um entenda a importância do que o outro faz para o todo.

            Nesse contexto são introduzidos os cinco pilares da Aprendizagem Cooperativa, são eles: Interação Social (face a face); Responsabilização Individual; Desenvolvimento de Habilidades Sociais; Processamento de Grupo; Interdependência Social Positiva, que garantem o pleno funcionamento do grupo, bem como a harmonia nas relações entre seus membros.

            A Interação Social (face a face) é o próprio fato de o grupo estar junto fisicamente, promovendo apoio mútuo. Responsabilização Individual se refere ao envolvimento de cada membro com a tarefa coletiva; se ele está desempenhando seu papel com protagonismo, cumprindo prazos e horários e, servindo como exemplo e incentivo aos outros participantes.

            As Habilidades Sociais são desenvolvidas com o tempo, pois é necessário que se crie empatia com o próximo, para tentar ao máximo entender o comportamento de um membro que não é muito participativo, ou de outro membro que se sobressai demais dos outros, etc. Essas habilidades podem ser encontradas facilmente com a realização de momentos de história de vida, onde os alunos contam um pouco sobre o que julgam importante sobre sua vida para os demais. Há certa relutância no meio acadêmico quanto a isso, pois os alunos alegam que já são amigos dos outros membros e os conhecem, porém é interessante que essa atividade seja realizada, para que a experiência da metodologia seja completa.

            O Processamento de Grupo é uma ferramenta fundamental para a manutenção e continuidade do estudo em grupo. Ele oferece oportunidade de qualquer membro opinar sobre como se sente em relação ao grupo, a propor algo novo, a criticar ideias e não pessoas, sempre com o intuito de aprimorar o que está sendo feito. Por fim, a Interdependência Positiva busca ressaltar o quanto cada parte é importante para o todo. Os estudantes dependem uns dos outros, na medida em que desempenham papéis diferentes dentro do grupo e que não o fazendo, todo o resto é prejudicado. Logo, esse pilar vem justamente reforçar a ideia de unidade e de pertencia que deve haver entre os membros do grupo.

            Dessa forma, utilizando esses pilares em conjunto, os alunos conseguem fazer com que os obstáculos que surgirem no decorrer da jornada de estudo sejam vencidos se trabalhados conjuntamente, com o objetivo inicialmente proposto sempre em destaque.

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