CD-ROM: Uma análise pontual sobre seu papel na educação

Prof. Fernando Cardona – [email protected]
fevereiro 2010

Diante do crescimento da Internet e da utilização deste canal como ferramenta para o processo de ensino-aprendizagem, surge a necessidade de reanalisarmos veículos consagrados para verificar se estes foram esgotados e ultrapassados ou, se ainda possuem campo para utilização em estratégias de ensino. Diante disto abordaremos a analise do CD-ROM; um recurso multimídia, amplamente utilizado, há anos, como apoio não só no processo de ensino, principalmente, no paradigma de aprendizado à distância.

Criado há 30 anos [BBC, 2007], o disco compacto ou Compact Disc – CD – como é também conhecido, criou um marco na história da humanidade. Antes presa a cartuchos de fitas magnéticas em diversos tamanhos e, conseqüentemente, limitado em espaço e mobilidade na transferência de informações, a criação do CD permitiu que toda a indústria ligada ao entretenimento e da computação iniciasse um professo de re-análise de onde teriam conseguido alcançar com as mídias antigas e de onde poderiam atingir em função de todas as possibilidades apresentadas a partir desta nova tecnologia. Inicialmente criado para trabalhar com arquivos de áudio e pensado exclusivamente para substituir o antigo gramofone, o CD sofreu uma rápida evolução. Devido ao grande sucesso desta tecnologia, já em 1988, o CD foi ampliado. A tecnologia permitia não somente o arquivamento de dados de áudio, mas permitia a preservação de dados em outros formatos. [ECMA, 1988]. Foi o início do uso desta tecnologia associada a um micro-computador.

Diante de novas e infinitas possibilidades, o CD, agora associado ao micro-computador, passa a ser designado como CD-ROM – Compact Disc Read Only Memory. Não que o antigo CD tivesse encontrado seu fim, ao contrário, com o surgimento desta nova utilização, o CD criará uma nova frente de inovação associado ao seu uso. Com a possibilidade de transmitir grandes volumes de dados e informações por longos espaços físicos, armazenados em mídias de CD-ROM, surgem diversas ações comerciais. Empresas começam a disponibilizar softwares de computador, vídeos, jogos e outras informações em CD-ROMs que podem ser adquiridos e enviados por correio aos seus compradores em qualquer lugar que estes estejam.

Novos cenários comerciais são criados e, não estranhamente, o setor de educação à distância, até então utilizando como ferramenta o envio de informações impressas por correio, vê no uso desta nova tecnologia uma grande oportunidade para o envio de dados de maior qualidade a seus alunos, bem como o potencial aumento de mercado, principalmente se comparado com as mídias antigas como disquetes, em função do ganho de escalabilidade e custos de reprodução que a nova tecnologia oferecera [IIMS, 1992]. O potencial do uso desta tecnologia seria imenso. Permitir que o educando agora possuísse acesso a um ambiente interativo de estudo certamente caracterizava uma revolução no paradigma do ensino à distância. A riqueza do material oferecido, a possibilidade de incluir vídeos, áudios, softwares de experimentação, textos em formatos digitais pesquisáveis constituíam oferecer ao aluno a capacidade de obter controle sobre a sua experiência de aprendizado.

Instituições de ensino, de todos os níveis, aproveitaram esta nova frente de trabalho e iniciaram a disponibilização de arquivos, softwares e outras informações que, em função de suas propriedades específicas, permitiam que seus alunos dispusessem de várias informações acadêmicas em qualquer lugar para estudo, revisão e aprofundamento.

Para Jonassen [JONASSEN, 1996] o sucesso desta ação estará diretamente ligado à correta escolha dos programas que serão distribuídos via CD-ROM. Estes precisam atuar como "ferramentas mentais" capazes de agir como instrumentos cognitivos motivando seus usuários-alunos a pensar. Sua afirmação pautava-se no fato de que não era o computador a mola-motriz do aprendizado, mas o processo de reflexão gerado em função do contato/interação do usuário-aluno com a informação/prática.

Segundo Vogel e Klassan [VOGEL & KLASSAN, 2001] ambientes de aprendizado interativo, assim como os CD-ROMS, transformam os alunos de receptores passivos em aprendizes ativos. Ao invés de ficarem sentados em salas de aulas como meros espectadores de seus professores, ao utilizar um CD-ROM, o aluno passa a ser parte integrante do processo de exposição/consolidação do conteúdo e atua diretamente sobre a formação do seu conhecimento interagindo com a aplicação disponibilizada.

Riley [Riley, 1999] apud Henke & Latendresse [HENKE & LATENDRESSE,2005], porém, adverte que métodos tradicionais de ensino-aprendizagem não devem ser abandonados ou sobrepostos por métodos em ambientes virtuais. Para Riley a utilização de métodos multimídia – interativos em CD-ROMs ou em ambientes digitais só devem ser utilizados, para aumentar a experiência do aluno em sala ou para substituir a convivência na sala de aula, quando os custos e o ganhos pedagógico forem explícitos e concretos.

Para Singh [SINGH, 2003], o uso de tecnologias multimídia, como o CD-ROM e outros que podem oferecer várias mídias diferentes para que o usuário utilize no processo de aprendizado, apresenta um incremento significativo no processo de retenção realizado pelo aluno. Segundo dados analisados por Singh alunos que utilizaram ambientes computadorizados tiveram uma economia de 39% em horas de estudo de um conteúdo se comparado com o método tradicional em sala de aula.

Aliado a grande expectativa do uso deste ferramenta/ambiente, o crescimento exponencial de micro-computadores que agora estão disponíveis em todos os locais como escolas, escritórios e residências e a crescente oferta de programas e programadores qualificados na produção de ambientes multimídia, criar um ambiente interativo para ser distribuído em CD-ROM já não apresenta grandes dificuldades. Em função disto, surgem inúmeras iniciativas que utilizam o CD-ROM para criar e distribuir ambientes de interação e aprendizado. São ambientes infantis especialmente desenhados para interagir com crianças; ambientes psicodélicos para criar a sensação de interatividade exigida por jovens para o estudo de temas especiais; ambientes particulares para temas acadêmicos, estudos profissionais, capacitação continuada, etc.

Se por um lado o CD-ROM está totalmente solidificado como uma ferramenta capaz de oferecer todos os recursos necessários para criação de ambientes de interação e aprendizado, por outro, o surgimento da Internet coloca em foco este paradigma e questiona a possibilidade de se migrar para este novo ambiente, a Internet, todas as experiências que marcam a interação do usuário quando da utilização de ambientes em CD-ROMs. Enquanto ambas as tecnologias continuam a coexistir com papeis talvez não tão bem definidos, gerando sobreposição de suas atuações em alguns momentos, surgem algumas ações que procuram integrar as duas tecnologias criando ambientes expandidos e colaborativamente integrados, mantendo por um lado a capacidade de distribuição de dados pesados, permitido por CD-ROMs, e a característica colaborativa da internet. [SLOCZINSKI, 2003]

Referências:

[BBC,2007]  How the CD was developed. Disponível na internet via www. URL: http://news.bbc.co.uk/2/hi/technology/6950933.stm - Acesso em 01/02/2010

[JONASSEN, 1996] JONASSEN, D. Using Mindtools to Develop Critical Thinking and Foster Collaboration in Schools  in  Computers in the Classroom: Mind tools for critical thinking,  Merrill/ Prentice Hall, Columbus.

[VOGEL KLASSAN, 2001] Vogel, D., & Klassen, J. Technology-supported learning: Status, issues, and trends in Journal of Computer Assisted Learning, 17, p104-114.

[HENKE & LATENDRESSE,2005] Henke, Mitchell E., Latendresse, Frank. 

Store and Forward: A Collaborative Approach for Developing Interactive Digital Media (IDM) for Classroom Instruction in The Technology Teacher, Vol. 64, 2005

[SINGH, 2003] Singh, Vivek Kumar  Does Multimedia really improve learning effectiveness? In  ASIA PACIFIC CONFERENCE ON EDUCATION.

Re-envisioning Education: Innovation and Diversity. 2003. Disponível na internet via ww. URL: http://edt.ite.edu.sg/ite_conf/int_conf/pdf/et02.pdf. Acessado em 7/02/2010

[ECMA, 1988] Standard ECMA-130 - Data Interchange on Read-only 120 mm Optical Data Disks (CD-ROM). Disponível na internet via www. URL: http://www.ecma-international.org/publications/files/ECMA-ST/Ecma-130%201st%20edition%20July%201988.pdf

[IIMS, 1992] Harris, J. A., Webster, L. L. and Murden, C. (1992). Multimedia CD-ROM: A new dimension in distance education. In Promaco Conventions (Ed.), Proceedings of the International Interactive Multimedia Symposium, 81-88. Perth, Western Australia, 27-31 Janeiro. Disponível na internet via www. URL: http://www.aset.org.au/confs/iims/1992/harris.html

Common Wealth of learning. The use os multi media in Distance learning. Disponível na internet via www. URL: http://www.col.org/resources/publications/trainingresources/knowledge/Pages/multiMedia.aspx

Iskander, Magdy; Jameson, Rex; Balcells, Albert. Interactive Multimedia CD-ROMs for Education. University of Utah. Disponível na internet via www. URL: http://fie-conference.org/fie96/papers/462.pdf

[SLOCZINSKI, 2003] Sloczinski, Helena, et al. Integração do cd-rom com a Internet - ambiente para aprendizagem colaborativa. Disponível na internet via www. URL: http://lsm.dei.uc.pt/ribie/docfiles/txt200372921858Integra%C3%A7%C3%A3o%20do%20cd-rom.pdf