CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS DO FRACASSO ESCOLAR: NO ÍNICIO DA ESCOLARIDADE

 

MARIA MÁRCIA XAVIER DE QUADROS

ELIETE XAVIER QUADROS

EDINEIA ELAINE CARDOSO SANTANA

 

RESUMO

Partiu-se da ideia de que a educação é um valor básico e necessário para a justiça social e que infelizmente, no Brasil há uma grande defasagem educacional por falta de profissionais qualificados, que muitas vezes não tem a assessoria necessária para desenvolver um trabalho crítico, voltado para a necessidade do aluno, ou seja, um trabalho integrado, construtivo e principalmente motivador. Mostraremos, assim, a relevância dos contextos pessoais e familiares, muito desiguais do ponto de vista econômico, social e cultural que afetam a aprendizagem de uma maneira decisiva. Sabendo-se que é neste cenário que se situa o papel do psicopedagogo e que a psicopedagogia é uma área de conhecimento e atuação dirigida para o processo de aprendizagem e que o seu objeto de estudo é o ser cognoscente, a questão central deste trabalho são as ações de aprender e ensinar, pois que a criança ao nascer traz consigo o potencial de aprender que se desenvolverá de acordo com os estímulos oferecidos pelo ambiente. Partindo desse princípio surge a questão: Quais seriam as causas do fracasso escolar nas séries iniciais?        São, portanto, objetivos desta pesquisa: Realizar um estudo prático e teórico sobre os implicadores que levam ao fracasso nas séries iniciais. Observar os trabalhos nas séries iniciais, tentando traçar um paralelo entre a prática e os objetivos não atingidos; Pontuar possíveis consequências emocionais e psicológicas resultantes do fracasso escolar. O tema aqui sugerido é de fundamental relevância, pois para um psicopedagogo é importante perceber os problemas de aprendizagem, atentando para questões relativas ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor, pois com a investigação é possível não apenas sanar problemas já existentes, mas também preveni-los.

 INTRODUÇÃO

O trabalho aqui apresentado é fruto de pesquisas e leitura sobre as causas e conseqüências do fracasso escolar na vida do educando. O mesmo será dedicado às pessoas de diferentes sensibilidades: sociais, políticas e profissionais, que tem a vontade de fazer do Brasil um país mais livre, mais próspero, mais solidário, baseado no bem-estar das pessoas, na solidariedade entre os povos.

            Partiu-se da idéia de que a educação é um valor básico e necessário para a justiça social e que infelizmente, no Brasil há uma grande defasagem educacional por falta de profissionais qualificados, que muitas vezes não tem a assessoria necessária para desenvolver um trabalho crítico, voltado para a necessidade do aluno, ou seja, um trabalho integrado, construtivo e principalmente motivador. Mostraremos, assim, a relevância dos contextos pessoais e familiares, muito desiguais do ponto de vista econômico, social e cultural que afetam a aprendizagem de uma maneira decisiva.

Sabendo-se que é neste cenário que se situa o papel do psicopedagogo e que a psicopedagogia é uma área de conhecimento e atuação dirigida para o processo de aprendizagem e que o seu objeto de estudo é o ser cognoscente, a questão central deste trabalho são as ações de aprender e ensinar, pois que a criança ao nascer traz consigo o potencial de aprender que se desenvolverá de acordo com os estímulos oferecidos pelo ambiente. Partindo desse princípio surge a questão: Quais seriam as causas do fracasso escolar nas séries iniciais?

O tema aqui sugerido é de fundamental relevância, pois para um psicopedagogo é importante perceber os problemas de aprendizagem, atentando para questões relativas ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor, pois com a investigação é possível não apenas sanar problemas já existentes, mas também preveni-los.

            O primeiro capítulo será dedicado às origens do fracasso escolar às quais têm múltiplos fatores: os referentes aos alunos quanto ao desenvolvimento de sua personalidade; os relacionados às famílias de baixos recursos econômicos e os que se referem às escolas, como programas mal-adaptados as necessidades reais ou recursos insuficientes, e ainda, os fatores relativos às disfunções do sistema educacional, a má formação dos professores e a disposição dos alunos para a aprendizagem.

            No capítulo seguinte serão relatadas as causas do fracasso escolar em que a seqüência dos estudos nas salas de repetentes é enfatizada pelo trabalho diferenciado e individualizado e ao final, um breve relato sobre a estima pessoal do aluno que fracassa e as conseqüências desse fracasso em sua vida pessoal e profissional.

            No capítulo três apresentaremos a importância de uma postura reflexiva diante da prática docente abordando o papel da psicopedagogia não só como solução para problemas já existentes, mas com a vertente da intervenção preventiva do fracasso escolar, analisando a avaliação da aprendizagem dos alunos de forma contínua e progressiva.

Contudo, o objetivo deste trabalho não é dar receita, nem desvendar segredos, até porque não existe nenhum dos dois, mas mostrar um conjunto de cuidados que devem ser tomados em relação ao problema proposto na presente pesquisa, buscando aumentar a eficiência do trinômio escola-professor-aluno. Dessa forma, contribuiremos para uma redução da frustração do professor e aluno e tornaremos mais agradáveis e eficientes as tarefas de ensinar e aprender.

2 FRACASSO ESCOLAR: CONCEITOS INICIAIS

 

O fracasso escolar é um dos problemas mais estudados e discutidos hoje, em nosso sistema educacional. Porém, o que ocorre muitas vezes é a busca pelos culpados de tal fracasso e, a partir daí, percebe-se um jogo onde hora se culpa a criança, hora a família, hora uma determinada classe social, hora todo um sistema econômico, político e social. Mas será que existe mesmo um culpado para não aprendizagem? Alicia Fernández nos lembra que se a “aprendizagem acontece em um vínculo, se ela é um processo que ocorre entre subjetividade, nunca uma única pessoa pode ser culpada. A culpa, o considerar-se culpado, em geral, está no nosso imaginário” (2001, p.321) e coloca que o contrário da culpa é a responsabilidade. Sendo assim, para sermos responsáveis pelos nossos atos é necessário sairmos do lugar da culpa.

Quando se fala em fracasso, supõe-se algo que deveria ser atingido. Ele é definido por um mau êxito. Porém mau êxito em quê? De acordo com que parâmetro? O que a nossa sociedade atual define como sucesso? Daí a necessidade de analisar o fracasso escolar de forma mais ampla, considerando-o como peça relutante de muitas variáveis.

A sociedade busca cada vez mais o êxito profissional, a competência a qualquer custo e a escola também segue essa concepção. Aqueles que não conseguem responder as exigências da instituição podem sofrer com um problema de aprendizagem. A busca incansável e imediata pela perfeição leva a rotulação daqueles que não se encaixam nos parâmetros impostos.

Precisamos refletir o termo “fracasso escolar”. Em primeiro lugar porque transmite a idéia de que o aluno “fracassado” não progrediu praticamente nada durante seus anos escolares, nem no âmbito de seus conhecimentos, nem no seu desenvolvimento pessoal e social o que não corresponde em absoluto à realidade. Em segundo lugar, porque oferece uma imagem negativa do aluno, o que afeta sua auto-estima e sua confiança para melhorar no futuro. O mesmo acontece se a etiqueta do fracasso for aplicada à escola por não alcançar os níveis que se esperava dela.

O conhecimento público desta avaliação pode incrementar suas dificuldades e distanciar dela alunos e famílias que poderiam contribuir para sua melhora. Em terceiro lugar porque centra no aluno o problema do fracasso e parece esquecer a responsabilidade de outros agentes e instituições como as condições sociais, a família, o sistema educacional ou a própria escola.

Assim torna-se comum o surgimento em todas as instituições educativas de “crianças problemas”, ”crianças fracassadas” disléxicas, hiper- ativas, agressivas, etc. Esses problemas tornam-se parte da identidade da criança. Desta forma ao passar pelo portão da escola, a criança assume o papel que lhe foi atribuído e tende a correspondê-lo. Porém ao conceder este rótulo à criança, não se observa em quais circunstâncias ela apresenta tais dificuldades, (ela está assim e não é assim). “Não sou eu que classifico os alunos, eles são diferentes, chegam às escolas diferentes”. (ARROYO, 2004, p.352).

Classificar, hierarquizar faz parte de nossa cultura e prática social e inclusive de nossa prática docente. Não classificar os alunos por seu rendimento na aprendizagem mexe em práticas mais corriqueiras de nossa docência, mexem em nossos trabalhos e conseqüentemente põem em xeque nossas crenças, valores e culturas, porque a prática de classificação dos alunos está arraigada em nós. 

Enfatizando esse contexto podemos destacar as lições de Arroyo que nos ensina que:                                                                                                                                                                                                

Não podemos deixar de reconhecer e estar atentos à diversidade de contextos de aprendizagem, estar atentos às trajetórias humanas, sociais de cada educando e de cada coletivo racial, social, porém não interpretaremos essa diversidade como alunos-problema, como lentos, burrinhos, ignorantes, menos-capazes de aprendizagem e de formação. Planejaremos com profissionalismo políticas e estratégias afirmativas que dêem conta dessas diversidades de contextos de aprendizagem, de socialização de trajetórias humanas. Que dêem conta do trato perverso dado por séculos a determinados coletivos sociais. ( 2004 p.364)

A diversidade de contextos a que nossos alunos são submetidos passa a ser um desafio para a nossa competência profissional. Uma obrigação a mais para garantir a todos os educandos seu direito a aprender, a superar o contexto que os condicionam.  

A definição que se escolheu neste capitulo para abordar o tema causas e conseqüências do fracasso escolar no início da escolaridade se refere àqueles alunos que ao finalizar sua permanência na escola não alcançaram os conhecimentos e as habilidades necessárias para desempenhar-se de uma forma satisfatória na vida social, profissional ou prosseguir seus estudos. No entanto, isso me faz querer avançar no objetivo principal deste trabalho: ir além da descrição do fracasso escolar e tentar compreendê-lo analisar suas possíveis causas e formular as estratégias adequadas que contribuam para sua redução.

Apesar dessas conclusões, o certo é que mais da metade das variações nos resultados dos alunos deve ser atribuída às diferenças individuais dos mesmos que por sua vez estão determinados pela interação de múltiplos fatores.

O modelo que se propõe neste capitulo é formado por seis níveis estritamente relacionados que tem por objetivo facilitar a compreensão dos fatores que condicionam o fracasso escolar: Sociedade, família, sistema educacional, o papel do professor, a disposição dos alunos para aprendizagem e o ensino em sala de aula. Cada um dependente do outro e que tem uma margem de influência direta no progresso do aluno.

2.1          Os determinantes do fracasso escolar

 

Buscar soluções para o fracasso escolar não consiste em patologizar o aprendeste, mas ampliar este foco, abrindo espaço para outras variáveis, que também influenciam no processo da aprendizagem como a leitura. O que é feito para solucionar  esse problema? Nada decisivo, nada que ataque o problema pela raiz e transforme essa situação. Muitas vezes a própria instituição impede que se tentem tudo.

A cada fim de ano letivo seria necessário que fossem tomadas medidas específicas, intensivas e originais para parte dos alunos No entanto o que é feito? Os mais fracos repetem o ano como se isso fosse à solução. Os outros são aprovados para a fase seguinte como se isso fosse à garantia de sólidos aprendizados.

Devemos desenvolver competências  e isso não significa  contentar-se em ter seguido um programa e sim não parar com sua construção. Pouco importa o programa, o que se deve fazer é enfrentar o problema. Deve-se, então, teimar, sem cair na persistência pedagógica, sem fazer mais a mesma coisa, procurando novas estratégias.

Como diz Hill (apud ARROYO, 2004) “os estudantes aprenderão melhor quando os professores e as escolas também o fizerem”. A capacidade da escola e sua preparação para as mudanças vêm impulsionadas de dentro, pois os verdadeiros protagonistas são na verdade as pessoas que estão dentro das escolas, já que são as que melhor conhecem seu funcionamento.

As lições de Marchesi vêm complementar esse estudo. Vejamos o enfoque que dá ao tema:

“Ao longo dos anos buscaram-se diferentes causas para explicar o atraso escolar dos alunos”. Alguns estudos insistiram nos fatores estritamente vinculados aos alunos: suas capacidades, sua motivação ou sua herança genética. Outros, finalmente voltaram os olhos para as características das escolas e definiram que também a organização e o funcionamento das mesmas tem uma parte de responsabilidade no maior ou menor êxito escolar de seus alunos. (2004, p.19)

O clima escolar, isto é, a qualidade do meio interno que se vive numa organização, é consensual que influencia bastante o comportamento dos seus membros contribuindo para o seu sucesso e fracasso. O problema é que o clima escolar resulta de uma enorme variedade de fatores como as atitudes, esperanças, valores, preconceitos dos professores e alunos, o tipo de gestão, entre outras variáveis e, portanto, não tanto do ambiente físico.

Assim, devemos identificar quais são as causas determinantes para um clima escolar. Uma coisa é certa, os alunos que estudam num bom clima tendem a obter melhores resultados que os restantes.

2.1.1  O contexto econômico e social

Os estudos que analisam a influência social no acesso a educação demonstram que os alunos que vivem em piores condições sociais têm mais probabilidades de estar situados em grupos de alunos com avaliação baixa. Uma alta porcentagem de fracasso escolar tem sua origem direta nas carências econômicas, sociais e culturais.

 É cristalino que a proporção de crianças em condições de pobreza no Brasil é muito alta. Na mídia sempre vemos reportagens de crianças e adolescentes inseridos no mercado de trabalho e, somos sabedores que enquanto estiverem nessa condição, elas não estão brincando e nem estudando. Vivem em famílias sem condições de garantir a elas alimentação, saúde, lazer e educação: cuidados fundamentais para o desenvolvimento infantil.

Nesse caso vê-se claramente a impotência da escola para tornar iguais aqueles que a realidade social e econômica tornou distintos. Neste caso o apoio da família e a dedicação junto à ação escolar fazem a diferença e reduz as diferenças culturais que de fato existem. Pois nem sempre a menor riqueza significa menor desenvolvimento na escola.

Sabemos também sobre que parcela da população incide o analfabetismo e o fracasso escolar. Sabemos que grupos sociais não têm acesso à escolarização. Os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) são exemplares. O fracasso nas séries iniciais é maior entre as crianças que vivem em regiões que possuem piores indicadores sociais e econômicos, entre crianças que trabalham, entre as crianças negras. Quer dizer, o problema do fracasso escolar na escola é parte de um problema maior, de natureza política: do da desigualdade social, o da injustiça social, o da exclusão social. (BATISTA, p. 46).

Podemos, ainda, relacionar a outro problema: o modo pelo qual a escola lida com essas desigualdades. No entanto, a escola tende a reduzir drasticamente parte das desigualdades sociais que estão na origem das desigualdades de rendimento.

De acordo com o Instituto Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf), à medida que controlamos a escolaridade, ou seja, comparamos grupos com níveis de escolaridade semelhante, diferenças entre subgrupos sociais se atenuam ou desaparecem.  Esse efeito parece se mostrar mais limitado quando exerce sobre famílias menos escolarizadas, sobre grupos com menor poder aquisitivo e sobre os negros. Acentua, que mesmo que, por exemplo, uma maior escolaridade aumente os níveis de alfabetismo da população negra, isso não é o suficiente para apagar as distâncias que a separam da população branca, o que evidencia a existência de formas de discriminação no interior da escola. (BATSTA, p. 46).

Se as diferenças de rendimento escolar decorrentes das diferenças econômicas podem ser compreendidas, dentre outros fatores, pelos diferentes sistemas de ensino e pela oposição que se estabelece entre sistema público e sistema privado, o mesmo não ocorre em relação aos dois outros fatores que resistem ao poder equalizador da escola. Novamente os dados trazidos por Batista vêm ilustrar esse contexto, salientando que  segundo o SAEB, somente no 3º ano de ensino médio um aluno de escola pública atinge os mesmos níveis de rendimento de alunos da 8ª série do ensino fundamental privado. (2005, p. 47).

Os fatores que reduzem o efeito da duração da escolarização se dão pela influência desses fatores sobre a diferenciação da experiência escolar dos indivíduos e grupos sociais, tanto porque a escola trata diferentemente esses indivíduos e grupos quanto porque esses indivíduos e grupos constroem modo de relação diferenciada com a instituição escolar.

Contudo, o fracasso no início da escolaridade pode ser compreendido em grande parte, como relatado, no quadro das desigualdades sociais. O fato d’essas desigualdades se apresentarem também na escola pode ser explicado por um conjunto de mediações ligadas às precariedades da formação inicial de professores, às políticas para sua formação continuada e plano de carreira, às limitações salariais, ao pequeno investimento em escolas e em seus equipamentos. Todavia, essas medidas podem até explicar a presença das desigualdades na escola, porém, não justificam.

Há várias formas de lutar contra elas. Vejamos: na participação em movimentos docentes, no estreitamento das relações entre escola básica, no trabalho cotidiano em sala de aula e, porque não, na luta por aprender e continuar aprendendo ao longo da carreira docente, para fazer melhor e para poder sempre dizer, ao final do ano “estão todos lendo e escrevendo”.

O filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903) dizia: “Lembrai-vos que a finalidade da educação é formar seres aptos para governar a si mesmo e não para ser governados pelos outros” (apud CHALITA, 2001, p.64). 

2.1.2 – O contexto familiar

Qualquer projeto educacional sério depende da participação da família. É nela que se forma o caráter. Por melhor que seja uma escola, por mais bem preparados que sejam seu professores nunca vai suprir a carência deixada por uma família ausente. A preparação para a vida, a formação da pessoa, a construção do ser são responsabilidade da família. Segundo Gabriel Chalita “a família é a célula-mãe da sociedade”. (2001, p.21)

Pais autoritários, conflitos familiares, divórcios, fazem parte de um extenso rol de causas que podem levar o aluno a se sentir rejeitado e começar a se desinteressar pelo estudo.

A origem social dos alunos tem sido a causa mais usada para justificar os piores resultados na escola, sobretudo quando são obtidos por alunos originários de famílias de baixos recursos econômicos, onde, aliás, se encontra a maior porcentagem de insucessos escolares.

As reflexões anteriores sobre o efeito do contexto socioeconômico no progresso escolar dos alunos podem ser aplicadas igualmente ao contexto familiar, uma vez, que cada família tem seu nível econômico e social. No entanto, a influência da família é muito mais ampla e variada.

É importante falarmos sobre o fator cultural das famílias para analisarmos as relações entre o ambiente familiar e o ambiente escolar, ressaltando que o mais importante não é o grau de cultura que se possui, mas como ela é transmitida. Uma família que possui um capital cultural enriquecido pode ter escassa incidência no progresso educacional dos filhos. Por outro lado, os pais com escasso capital cultural escolar podem ter maior influência pelo tipo de relação que mantém com seus filhos, o que os ajuda a alcançar uma boa escolaridade.

As expectativas dos pais manifestam uma significativa influência nos resultados dos alunos.

2.1.3 – O sistema educacional

É bem mais simples e tranqüilizador pensar que existem crianças dotadas, que terão sucesso na escola, e outras menos dotadas, que devem resignar-se, se não ao fracasso, pelo menos a resultados medíocres que influenciarão em um destino sem glória.

Em geral a escola quer atender um aluno ideal, que não existe, e, tem grandes dificuldades para lidar tanto com o que está abaixo como com o que está acima da média.

Os aborrecimentos começam quando pressentimos ou sabemos que o fracasso escolar não é uma fatalidade, que o fracasso escolar é o fracasso da escola, que as crianças não estão naturalmente destinadas a ser bons ou maus alunos, mas que assim os tornam devido a um funcionamento particular do sistema escolar. (Cresas, apud Perrenoud, 2001, p.18).

O que precisamos compreender é que o insucesso do estudante deve ser entendido como o fracasso da escola em lidar com as diversidades. Em uma sala de aula, existem 30 ou 40 singularidades, das quais o professor espera uma resposta única. Se há muitas maneiras de aprender, também deve haver muitas formas de ensinar.  

  Como diz Perrenoud ao tratar todas as crianças como “iguais em direitos e deveres” a escola transforma diversas diferenças e desigualdades em fracassos e sucessos escolares. (2001, p.18).

Cabe a escola a capacidade de saber lidar com as várias facetas e com os vários ritmos da aprendizagem.

2.1.4 – Os professores

O reconhecimento das carências do sistema educacional não pode nos levar a esquecer a responsabilidade que as escolas e os professores tem individualmente para combater o fracasso escolar. Os educadores devem refletir sobre a origem e as conseqüências do fracasso escolar e apontar soluções que dependam deles.

Barros se refere ao papel do professor como “tradicionalmente desempenhados: ensinar, transmitir e dominar e pelo aluno: aprender, receber positivamente e obedecer, devem ser mudados”. (1996, p.35)

Portanto, ao mudar seu comportamento, os professores conseguirão grandes resultados, pois fazendo um trabalho mútuo e construtivo tanto o professor quanto a escola poderá efetivamente atender a sua mais elevada finalidade, ou seja, permitir ao aluno chegar ao seu próprio conhecimento. No dizer de Pilleti “a relação entre professores e alunos deve ser uma relação dinâmica, como toda e qualquer relação entre seres humanos”. (1993, p.79)

Reconhecer que o aluno não é um sujeito passivo, que suas capacidades vão além de um mero reprodutor do conhecimento que lhe é imposto, o professor renunciará ao seu papel de dono do saber e passará a ser um orientador, alguém que acompanha e participa do processo de construção do conhecimento de seus alunos.

A contribuição de Pilleti vem complementar essa assertiva, pois segundo ele o aluno “é capaz de pensar, participar e decidir sobre o que quer e o que não quer”. (1993, p.79)

Como seres imaturos, os alunos estão numa fase de experimentação, sendo muito provável que cometam contínuos e inumeráveis erros em suas relações com o professor e com os companheiros. Para nós professores devem caber suficiente margem de erro para que os alunos sintam clima de liberdade em seu esforço de crescimento.

“Os professores mais eficientes são aqueles que compreendem os alunos e o processo da aprendizagem, mas tal compreensão não é adquirida nem rápida, nem facilmente”. (PILLETI, 1993, p.85). Deste modo o professor num processo lento vai conhecendo seus alunos e conhecendo também o grau de aprendizagem que cada um adquire e pode adquirir.    

    2.1.5 – Motivação do aluno

Finalmente, entre os fatores que explicam o fracasso escolar é necessário incluir o aluno. Como se pode observar nos determinantes anteriores, o conhecimento e a motivação do aluno estão em grande medida condicionados por seu meio social, familiar e sua experiência educacional. Mas não há dúvida de que a disposição para a aprendizagem constitui um conjunto de variáveis que devem ser ressaltados.

Dois fatores são especialmente importantes no aluno: seus conhecimentos prévios e sua motivação. Mas talvez o que mais preocupa os professores seja a escassa motivação dos alunos.

É significativo apontar que é freqüente em reuniões de pais e mestres, quando esse tema é levado à pauta para discussão, que tanto os pais quanto os professores considerarem que a causa maior do fracasso escolar é a falta de interesse e, via de conseqüência, os pais acrescentam: falta de compromisso  e falta de responsabilidade por parte dos filhos, e que esses não sabem dar valor aos estudos. Em contrapartida, para os professores a segunda causa mais citada é a falta de dedicação dos pais.

2.1.6 – O fracasso no interior da escola

O fracasso escolar é na verdade um fenômeno que de maneira aberta ou velada afeta a maior parte dos sistemas escolares. A retenção ou a repetência é a “solução” interna que o sistema escolar encontrou para lidar com o problema da não aprendizagem ao da má qualidade da aprendizagem.

Sendo assim, analisar as fontes e a natureza do fracasso escolar é analisar a própria missão das escolas incluindo as séries de variáveis e processos que incidem sobre a aprendizagem no meio escolar, sua qualidade, seus contextos e seus resultados.

A organização escolar pode contribuir de diferentes formas para o insucesso dos alunos, alguns casos típicos é o estilo de liderança do diretor, expectativas baixas dos professores e dos alunos em relação à escola, clima de irresponsabilidade e de falta de trabalho, objetivos não compartilhados. Quando isso ocorre não tarda que alguns se sintam como corpos estranhos, contribuindo para a sua desagregação enquanto organização, provocando a desmotivação.

A capacidade interna é o poder de empreender e manter a aprendizagem contínua dos professores e da escola em si, cujo objetivo é aumentar a aprendizagem dos alunos. Uma escola com capacidade interna de aprendizagem pode enfrentar as mudanças, independentemente de onde procede, e pode prosperar num ambiente de transformação. (MARCHESI, 2004, p.196).

As escolas devem estar encarregadas de preparar os alunos para enfrentarem um mundo que está em mudança constante. O objetivo da escola deve ser assegurar o progresso dos alunos, suas realizações e seu desenvolvimento.

A escola seleciona e fabrica sucessos, com freqüência de maneira a esconder seu fracasso. Espera-se que os alunos saibam ler fluentemente. Mas uma grande parte dos alunos não alcança ou conserva esse nível de domínio da leitura.  Assim como foi enfatizado no início do capítulo, devemos desenvolver competências, não importando o programa, o que se deve fazer é enfrentar o problema, sem cair na persistência pedagógica, procurando novas estratégias.

Não existe um único “culpado” pelo fracasso escolar e, sim, que existe “N” culpados que levam ao fracasso, começando pelo contexto social, político e econômico.

Somos sabedores que parcelas dos grupos sociais não têm acesso à escolarização e, é por aí que começa o fracasso. Como também, o “insucesso” é atribuído à debilidade das capacidades intelectuais, à cultura desviante e a outras categorias. Muitas vezes a escola situa o problema do fracasso no indivíduo, considerando-o como portador de algum tipo de “desvio” ou “anormalidade”. Contudo, cabe às escolas fazer o seu papel, atuando de forma gradativa para o sucesso das crianças que fracassam, de maneira que as mesmas não percebam as diferenças.

Buscar soluções para o fracasso escolar não consiste em patologizar o aprendiz, mas buscar ampliar o foco, abrindo espaço para outras variáveis que também influenciam no processo da aprendizagem. Sendo assim, analisar as fontes e a natureza do fracasso é a própria missão das escolas.

Nesse sentido, há várias formas de lutar contra elas: na participação em movimentos docentes, no estreitamento das relações entre a escola, professor e aluno, no trabalho cotidiano em sala de aula.

Devemos, sobretudo, desenvolver competências e isso, não significa contentar-se em ter seguido um programa e, sim, não parar com sua construção e testagem. Pouco importa o programa, a preocupação deve estar direcionada em que o se deve fazer para enfrentar o problema. Deve-se, então, teimar sem cair na persistência pedagógica, sem fazer a mesma coisa, procurando novas estratégias.

Adotar uma postura positiva, incentivar o desenvolvimento das habilidades dos alunos são passos importantes para que eles comecem a se conhecer e a perceber do que são capazes.

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