Estávamos de volta , morando na Primeira Rua, mas em outra casa. Em três anos, era a 4ª casa em que havíamos mudado em Itaituba. Das quatro casas, essa era a única que aparentemente tinha um ar feliz e sem referências de vizinhos sobre o seu passado até porque a construção era muito nova. Não havia nenhum sinal de mistério, alma penada ou semelhante.
Nos primeiros contatos com os proprietários e vizinhos percebi que estava bem de moradia, pois todos foram muito amáveis comigo que cheguei a pensar em comprar a casa. Era pequena , cor de rosa, bem arejada e com área na frente e atrás. Havia vários bares famosos na vizinhança, tais como: O Bar Elias e o Bar Carapanã, além de vendinhas, quiosques, a Casa do Zulu e a casa do peixeiro.
Faltava pouco para completar um ano na casa. Uns quinze dias. Comecei a contar para os parentes de outras cidades e estados sobre o conforto da casa. Vieram primos de Pernambuco: os Russos de Cabrobó e os Sá de Salgueiro; vieram os Almeida da Paraíba e os Pereira do Rio Grande do Norte. Entretanto, eles não gostaram da casa. Disseram ouvir choro de criança embaixo do assoalho, ouviram barulhos de algo vivo ou mexendo na cozinha e gemidos de bichos espremidos embaixo da pia de lavar louças.
Chamei a proprietária da casa e solicitei que fizesse uma vistoria embaixo do piso. Na mesma semana as lajotas da cozinha começaram a descolar. No dia seguinte, as portas do armário de aço caíram e a geladeira não segurava fechada. E o piso começou a afundar.
Mais uma vez procurei a dona da casa e ela me insultou dizendo que eu e minha empregada tínhamos entupido a pia e os encanamentos da casa. Como só faltava agora uma semana para encerrar o contrato fui procurar outra casa para alugar. Mesmo sem alma penada, sem assombração e com a aparência bonita, aquela casa passou a ser um terror para mim. A cozinha cada dia estava afundando.
Não sei se por coincidência ou obra do acaso, na mesma semana a aconteceu em São Paulo o afundamento do metrô e isto aumentava o meu receio. Somente ali é que os vizinhos vieram me contar que já sabiam que aquilo iria acontecer. Segundo eles , a casa foi construída em cima de um igarapé e ali, no passado, os índios mundurukus tinham uma passagem de canoa para pegar água de uma mina. Agora a natureza estaria cobrando o seu espaço.
Fiquei desesperada. Enquanto via a notícia na TV de carros e pessoas que estavam afundando no buraco do metrô, ficava planejando um jeito de sair daquele sufoco de quase ser soterrada! Procurei outra casa, agora na Avenida Marechal Rondon , na estrada do BIS .
Na hora da mudança ouvi ruídos de mais uma parte do piso da cozinha que caía. Ali , naquela hora eu vi que, por pouco não cai também no poço da cozinha. Um jato de água jorrou de baixo da pia até a varanda : era a despedida da bonita casa rosa em que a cozinha afundou!