É carnaval, finalmente um descanso para os problemas, alegria forçada e muito circo para amenizar as ditas mazelas. Salve o bloco dos sem-comida, que vai pulando atrás de um trio elétrico carregado de sons que deturpam a realidade, e no cordão dos abastados os pagantes dançam, esnobando aqueles que saltam feito "pipoca" esmagados pela exclusão natural.
Na avenida misturam-se foliões e sobreviventes de um mundo que carnavaliza a situação, é nessa apoteose à alienação que políticos pulam sem sapatilhas sobre uma pátria que desfila suas necessidades. Cada vez mais seleto o carnaval exclui, eliminando penetras na festa que deveria ser do povo, mas como tudo tem que ter retorno (dinheiro), e nem sempre o popular traz esses recursos, o que se vê é uma festa vendida, para sustentar a ganância de quem deveria ofertar e não comercializar. No camarote, banhados por uísques, vinhos e cervejas, nossos anfitriões olham de cima, com a empáfia de sempre, os seus "convidados", que tomam "capetas" (bebida tradicional de Porto Seguro) e brincam como quem quer esquecer alguma coisa.
"Na festa mais ?POPULAR", os donos (povo) são intrusos, pois não são convidados para assistir ao espetáculo principal, na espreita só esperam uma esmola para que entrem despercebidos e ganhem um pouco dessa alegria fugaz. Vestidos de reis ou de faraós, todos querem demonstrar sua alegria, mas as fantasias vão maquiando uma realidade que não tem confetes e nem serpentinas, porém não custa nada sonhar, no carnaval "TODOS SÃO IGUAIS". Cantando para demonstrar na voz a alegria, o povo segue pulando o samba ou o axé, mas seus saltos dão sempre numa ilusão, onde umas doses a mais ou outra coisa qualquer, não consegue esconder. Não adianta brincar de rei, pois na quarta-feira de cinzas, aliás, aqui é o domingo de cinzas, uma ressaca moral e financeira ecoa nos ouvidos gritando: NÃO É MAIS CARNAVAL, TUDO VOLTOU AO NORMAL. Depois da festa, o folião põe a fantasia de cidadão e volta a pular no BLOCO DA VIDA.