Desde os tempos bíblicos, sempre se tem tocado nesta tecla da caridade. Isto demonstra que sempre houve ricos e pobres através da história da humanidade, e assim, o será através dos tempos. Todas as religiões sem exceção tem-se apercebido desta necessidade moral estimulando sua prática.

            Mas de lá para cá parece que as coisas não mudaram muito, talvez até piorassem,  quando vemos cenas de pessoas morrendo de fome, diante de uma terra tão generosa, mas que a ganância de uns não permite  aqueles chegar ao prato de comida. No modelo econômico que vivemos, este abismo permite aumentar ainda mais pela falácia do espírito da competitividade de mercado.

            A fome que hoje assola o mundo pelo desequilíbrio entre a produção e o consumo de alimentos é muito mais de ordem político/econômica do que um desequilíbrio real, onde atravessadores usam e manipulam como forma de se enriquecerem sem medida e sem ética. Para complicar ainda mais a situação vemos o absurdo de que milhões de toneladas de produtos agrícolas para alimentação humana destacam-se milho e soja, serem desviados à produção de combustíveis para veículos, pelo argumento de que o petróleo está se extinguindo.  Embora não acreditamos que a extinção esteja tão próxima, diante de novas tecnologias de prospecção e extração, o petróleo está longe de sua exaustão. A pesquisa está demonstrando que existem outras fontes energéticas de infinitas possibilidades. Se for verdade a extinção do petróleo, então que se mude para outro modo de civilização, para outro tipo energético. É apenas uma questão de decisão.

            Dentro de um quadro sinistro de fome, levantam-se vozes com a intenção de minorar, pelo gesto da caridade, onde se destaca através da liderança de Bill Gates a iniciativa de doações generosas, para amenizar o problema dos países pobres particularmente da África. Estas doações devem ser o mínimo possível na forma financeira, mas sim com medicina preventiva, através de remédios, vacinas, hospitais, técnicas agrícolas, sementes selecionadas (quem está com fome não consegue guardar sementes até o próximo plantio/safra). Sendo um meio de autosuficiência econômica não será um mero gesto de humanidade, mas até um investimento para as futuras gerações. Pela ótica do economista se cria condições de se desenvolverem mercados, novas produções e pleno emprego. Pela ótica sociológica, uma melhor distribuição da renda.

            O belo gesto de Gates foi sua manifestação pública “ajudar pobres é um bom investimento” em que se sentia moralmente responsável em ajudar estas populações, pela montanha financeira que angariou com a Microsoft. Tendo-se considerar que a população mais carente será sempre a mais prejudicada com os cortes em assistência social dos governos por causa do ajuste econômico. É sempre o mesmo refrão da história, na hora do aperto sempre pagam as camadas mais pobres, como hoje está acontecendo na Europa e nos EUA. Segundo divulgado pela mídia, Gates já destinou mais de 25 Bilhões de dólares em 15 anos de doações pelo mundo inteiro em programas filantrópicos através de sua fundação familiar. 

            Esperamos que tenham a prudência e o cuidado, de fazer esta generosidade quase pessoal, pelo risco que há, sobre uma frágil confiança nas autoridades locais, onde bandos armados fazem desvio inescrupulosos, para explorarem ou usar em guerras étnicas e tribais intermináveis. Também se faz um alerta, sobre doações que se afiguram como bem intencionadas, mas usam estes recursos para outros fins, como por exemplo, planejamento familiar equivocado, com indicações para o aborto.

         Bill, este artigo foi escrito graças à tecnologia Microsoft.

Sergio Sebold – Economista Independente e Professor