De acordo com Foucault, o poder não se encontra concentrado em órgãos e instituições sociais, mas difuso no conjunto da sociedade. Para o autor o poder está em toda parte e vem de toda parte também. No filme "O Carandiru", nota-se que entre os detentos há uma forma de organização e uma hierarquia, em que o corpo de detentos é controlado por um grupo seleto e que esse grupo exerce um poder e domínio sobre os outros internos. Tudo o que se faz dentro da prisão tem que ser comunicado para o líder, que no filme é representado pelo peixeiro, que autoriza a cobrança de uma dívida(Zico e Ezequiel), concilia um atrito entre eles(o cara que matou o pai de outro preso a mando da mulher da vítima), tem poder de juiz quando decide quem irá morrer(quando o Zico matou seu meio-irmão este foi sentenciado pelo micro-tribunal da cadeia).
Há um relação de poder entre os representantes do poder, no filme isso é bem visível nas figuras do diretor(representa a instituição prisional), o médico(representa a sociedade e possui autoridade pelo conhecimento que possui) e o peixeiro(que é o representante da comunidade carcerária, uma espécie de soberano entre eles), quando estes trocam informações sobre o que se passa lá dentro. A vigilância e o controle é feita pelos próprios detentos, que possuem regras próprias e penas muito severas quando há violação dessas regras. Por isso é imprescindível a figura do peixeiro para o estabelecimento da ordem entre os detentos, isso é bem explícito quando uma pena é executada entre os internos e a direção "fecha os olhos" numa atitude declarada de aprovação das regras e punições criadas pelos detentos.
Segundo Foucault, a prisão, além de ser um local de execução da pena, deveria ser ao mesmo tempo um local de observação dos indivíduos encarcerados, vigilância e conhecimento clínico de cada um dos detentos: seu comportamento, sua melhora progressiva, até mesmo para que se pudesse acompanhar o processo de regeneração e modular a pena de acordo com o progresso de cada preso. No Carandiru, retratado no filme, observa-se que era impossível a realização dessa vigilância(da instituição prisional) e a manutenção de qualquer tipo de arquivos de informações dos indivíduos, pois todos de se mesclavam nos corredores(assassinos, assaltantes, estupradores, traficantes, e etc), situação que contrasta fortemente com o que Foucault chama de "princípio da classificação", segundo o qual os apenados deveriam ser separados de acordo com a gravidade do crime que cometeram. Para o autor francês, um importante instrumento de reforma seria o isolamento, o que não ocorre com os detentos no filme que se amotinam de tal maneira que dificulta qualquer possibilidade de submissão ou mesmo de regeneração.
A corporação encarcerada, no filme, era quem se encarregava tanto da vigilância, da disciplina e do controle, impondo punições aos que não se enquadrassem em seu sistema de normas.
Observa-se da análise do filme, que a perda da liberdade e a restrição do espaço físico não conduzem à barbárie(como muitos acreditam), os homens encarcerados criam suas próprias regras de comportamento com o objetivo de organizar suas vidas e de preservar sua integridade.
E Foucault conclui que apesar das prisões como conhecemos hoje marcarem um período importante na história da justiça penal por tornar as punições mais humanas, elas não alcançaram o fim para o qual foram criadas, não diminuem a criminalidade, pelo contrário, pode-se perceber através do filme que essas instituições de seqüestro provocam a reincidência no crime. Porém, Foucault não mostra uma alternativa para pôr no lugar dessas instituições.