Crônica

CARAJÁS: O FANTASMA DESOLADO                                                Edevaldo Leal

                                    Lúcio Flávio Pinto, o mais importante jornalista da Amazônia por seu jornalismo independente e investigativo, surpreende os leitores do seu Jornal Pessoal. Em seu jornal, edição de novembro de 2012, 2ª quinzena, nº 525, vibrante e único pela sempre lúcida, culta e corajosa defesa da Amazônia contra os predadores visíveis, esse jornalista paraense inova ao fazer do verso o enfrentamento e da poesia arma de luta. Ou não é inovar colocar no jornal a poesia solitária mas veemente do poeta itabirano, o qual, embora sem sucesso, açoitou com versos o colonizador que sugou a riqueza de sua Itabira natal, do mesmo jeito como estão fazendo em Carajás? Como em Itabira, ficará apenas o registro empoeirado da riqueza sugada, moída e exportada, na exata expressão do poema de Carlos Drumond de Andrade.

                                 Quem sabe Lúcio Flávio Pinto, tantas vezes premiado no Brasil e outras no exterior, com esse gesto, desperte uma consciência coletiva de luta e levante outras vozes – e outros poetas – em defesa dessa Amazônia várias vezes violentada com o aplauso de nossas lideranças? Quem sabe não consegue, com a poesia drumoniana, que sai da ficção para abraçar a realidade, o que não conseguiu com suas dezenas de bem elaborados artigos sobre o ataque à riqueza mineral de Carajás: converter parte da riqueza exportada em efetivo e duradouro progresso para o entorno da região explorada? Será que ele conseguirá o que não conseguiu com seus artigos que, de tão bem construídos e escritos, serviram de estudos em universidades aqui e lá fora e geraram prêmios para seu autor?

                                 Seja lá no que der, ‘’o Pico do Itabirito moído e exportado’’, que deixou ‘’....’’ no infinito seu fantasma desolado’’ é o primeiro poema da antologia mineral de Drumond que o Jornal Pessoal (quinzenário vendido nas bancas de revista de Belém – www.jornalpessoal.com.br) publica.

                                Depois de lamentar ‘’os caminhos viciados que as lideranças do Pará seguiram’’, Lúcio anuncia que publicará  ‘’.... algumas poesias através das quais Carlos Drumond de Andrade reflete sobre a sua terra, Itabira, em Minas Gerais, vítima de processo semelhante (mas muito mais agravado) ao que acontece agora em Carajás e outras zonas de mineração do Pará’’. E arremata: ‘’quem sabe não podia servir de inspiração para os nossos intelectuais?. A acuidade de Drumond é tal que suas observações feitas no rumo de sua terra natal, se aplicam universalmente às áreas de mineração, em particular àquelas que aceitam o modo colonial de exploração’’.

                                 E não é que o Lúcio tem razão? É só trocar Pico do Itabirito por Carajás, que o poema, escrito há mais de cinquenta anos (16 de julho de 1965), parece ter sido escrito em dezembro de 2012:                                      

........................................................

‘’Tudo exportar bem depressa,/suando as rotas camisas/Ficamburacos? Ora essa, /o que vale são divisas /que tapam outros ’ buracos’ /do Tesouro Nacional, /deixando em redor os cacos, /de um país colonial                                                                                                                                ........................................................

E o Pico do Itabiritoserá moído, exportado./Só quedará no infinito/seu fantasma desolado’’.

                               Ó, drumoniana semente, espero que germines e floresças e te transformes num coral de vozes capaz de evitar o nascimento de outro fantasma desolado.