Resumo: O tema central do presente artigo é a "Caracterização de território e desenvolvimento territorial do município de Botuverá ? SC", tendo como questão norteadora: Cabe ao município de Botuverá desenvolver-se territorialmente? A hipótese central é: O turismo pode ser potencialmente um indutor de desenvolvimento do município de Botuverá? A metodologia configura-se em uma pesquisa descritiva que faz uso de entrevistas abertas com a iniciativa privada, comunidade local (sociedade civil) e o poder público, além de visitas in loco e observações de campo.

Palavras-Chave: Turismo, Desenvolvimento Territorial, Botuverá.

1. INTRODUÇÃO

O Setor turístico se encontra em franca ascensão no Brasil e no mundo. A OMT (2003) entende o turismo como um setor capaz de trazer benefícios para a sociedade através da proteção e preservação da natureza e da cultural local. Do contrário, para as comunidades locais, nem sempre existe uma consideração eqüitativa de acordo com as necessidades de todos participantes no setor turístico. Sob a ótica do mercado o setor turístico geralmente é considerado como uma indústria, transformando as comunidades em produtos turísticos a fim de suprir as necessidades econômicas.
A palavra "turismo" surgiu no século XIX, porém, a atividade estende suas raízes pela história. Certas formas de turismo existem desde as mais antigas civilizações, mas foi a partir do século XX, e mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial, que ele evoluiu, como conseqüência dos aspectos relacionados à produtividade empresarial, ao poder de compra das pessoas e ao bem-estar resultante da restauração da paz no mundo (RUSCHMANN, 1997, p.13).

Na visão de Beltrão (2001) o desenvolvimento turístico no Brasil possui uma tendência emergencial de suprir as desigualdades sociais e dar um rumo à economia, e o turismo pode impulsionar o desenvolvimento de uma região, seja econômico, territorial ou regional. Esse segmento oferece alternativas de fomentar a economia, como edificação de hotéis, trilhas ecológicas, parques aquáticos, entre outros.
No conceito de desenvolvimento territorial visa-se promover o planejamento, a autogestão dos territórios (rurais ou urbanos) e a dinamização da sua economia. Pois o território resgata a ideia de um local, ou seja, um espaço socialmente ocupado por grupos sociais distintos. Davidovich (1989) comenta que o território "traz a ideia de determinado uso do espaço, consubstanciado em processos de apropriação e de controle, que demarcam áreas geográficas específicas".
Botuverá possui características espaciais e territoriais positivas para o desenvolvimento da atividade turística e apresenta um atrativo peculiar muito requisitado para visitação: Cavernas, geologicamente naturais formada a milhões de anos localizadas no Parque Municipal Grutas de Botuverá. Além das Cavernas, em Botuverá encontram-se quedas d?água, trilhas e cachoeiras.
O Parque Municipal Grutas de Botuverá caracteriza-se como a maior e mais ornamentado do sul do país, por sua beleza cênica e se revestindo de um incomensurável valor paisagístico e turístico.

2. METODOLOGIA

Este artigo é fundamentado em uma pesquisa exploratório-descritiva, onde se utilizaram de técnicas de pesquisas bibliográficas, para desenvolvimento da abordagem teórica e de entrevistas com a iniciativa privada, comunidade local (sociedade civil) e o poder público do município de Botuverá para descrever a situação local.
Um estudo científico requer um processo de revisão através da pesquisa bibliográfica, que permita aferir a base teórica para interpretação da realidade local.


3. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE BOTUVERÁ

O município de Botuverá está situado no médio Vale do Itajaí, no Estado de Santa Catarina e apresenta aproximadamente de 2,5 km² de área urbana e 300,52 km² de área rural, tendo sua área territorial de 303,02 km2, e grande parte do seu território é montanhoso. A floresta local foi representada e explorada por muitos anos uma fonte de riqueza natural: a extração da lenha e madeira de lei.
A extração de madeira nativa pelas madeireiras em Botuverá e Região na década de 80 trouxe como conseqüência um desmatamento significativo no município. Atualmente nestes locais mais acidentados cresceu uma nova vegetação, denominada capoeira, que está sendo substituída gradativamente pelo reflorestamento com eucaliptos e pinus.
Botuverá (SC) possui características espaciais e territoriais positivas para o desenvolvimento da atividade turística e comporta um atrativo peculiar e muito requisitado para visitação: as Cavernas, geologicamente naturais formada a milhões de anos localizada no Parque Municipal Grutas de Botuverá. Ressaltando ainda que em Botuverá encontram-se quedas d?água, trilhas e cachoeiras.

4. TERRITÓRIO E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

O território pode ser uma unidade que dimensiona os laços entre pessoas, grupos sociais e instituições que podem mobilizar iniciativas voltadas para o desenvolvimento. Nesta esteira, a atividade turística é grande fomentadora da geração de emprego e renda, considerando que os segmentos de ecoturismo e turismo ecológico são os mais pertinentes a serem explorados no município de Botuverá (SC).
A capacidade de uma auto organização local e riqueza do capital social, além da participação cidadã, formam um sentimento de apropriação pela comunidade com elementos vitais de sua consolidação, enaltecendo uma dinâmica cultural e política que transforma a vida social.
O contexto do território é importante neste processo, porque no desenvolvimento a escala territorial se ajusta a mobilização social e integração de investimentos potencializadores (política administrativa e instância governamental). O território não é apenas uma delimitação de um espaço físico, ele vai além, podendo ser visto como um espaço de articulação entre mediação e negociação para onde convergem as ações abarcando aspectos objetivos e por possuir características culturais, socioeconômicas e ambientais.
O termo território é empregado em várias áreas como: política, biologia, psicologia, turismo, geografia entre outras.

É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator "territorializa" o espaço (RAFFESTIN, 1993, p.143).

Boisier (1996) defende seu ponto de vista comentando sobre:

A cultura e a identidade associadas ao território hoje se revitaliza, não somente como valores intrínsecos, mas como fatores de competitividade regional. Os territórios organizados são os novos atores da competência internacional por capital, por tecnologia e por nichos de mercado (BOISIER, 1996, p.64).

Observa-se que o território resgata a ideia de uma localidade como um espaço socialmente ocupado. Um território representa uma trama de relações com raízes históricas, configurações políticas e identidades que desempenham um papel ainda pouco conhecido no próprio desenvolvimento econômico (ABRAMOVAY, 2000, p.8).
Na linguagem de Haesbaert:

Etimologicamente, a palavra território, territorium em latim, é derivada diretamente do vocábulo latino terra, e era utilizada pelo sistema jurídico romano dentro do chamado jus terrendi (no Digeste, do século VI, segundo Di Méo, 1998:47), como o pedaço de terra apropriado, dentro dos limites de uma determinada jurisdição político-administrativa (HAESBAERT, 2006, p. 43).

Configura-se neste momento o território como sendo um pedaço de terra, mas ao longo do tempo ele toma dimensão e se desenvolve territorialmente por envolver os atores da região que são formados pela comunidade, poder público e mercado (HAESBAERT, 2006).

O Governo, nas esferas federal, estadual e municipal, contribuindo com os investimentos em infra-estrutura, saúde, educação entre outros;
O Mercado, considerando tanto os atores do lado da oferta como do lado da demanda, nos mercados de fatores e de bens de serviços, proporcionando a geração de emprego e renda;
A Sociedade Civil, incluindo os cidadãos, as organizações sociais e as suas entidades representativas (REIS, 2006, p.01).

A relação entre território e desenvolvimento territorial é estreita, visto que é necessária a negociação estratégica entre atores locais, associações empresariais, entidades financeiras, universidades, centros de pesquisas (ALBUQUERQUE, 1998).
O desenvolvimento territorial está focado no protagonismo humanitário e não no combate a pobreza, mas, sobretudo em comunidades locais que procurem evidenciar suas características demonstrando a capacidade que têm em desenvolver sua economia, conservando seus recursos naturais. O papel da comunidade é central, entendemos que promover o desenvolvimento territorial não significa voltar-se contra os processos mais densos, mas sim, utilizar as diversas dimensões territoriais segundo os interesses da comunidade. A articulação do território torna-se importante na promoção do desenvolvimento territorial.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O município de Botuverá, foco desta pesquisa apresenta, potencial para o desenvolvimento territorial. Muitas vezes a atividade turística está apresentada como uma atividade que consome paisagens e natureza sem destruir o ambiente, trata-se de uma atividade que produz território como qualquer outra atividade econômica. É fundamental destacar que vivemos em tempos de transformação (globalização) onde o poder público deve assumir o seu papel em conjunto com as empresas privadas e demais organizações. Nesse sentido, considerando a realidade local-regional de Botuverá (SC), evidencia-se a necessidade de potencializar alternativas de renda e envolvimento da comunidade interna e externa, associações de moradores e demais organizações ligadas diretamente e indiretamente ao turismo, incluindo-se as instituições governamentais, municipais e estaduais responsáveis pela implantação das políticas de desenvolvimento do turismo e melhoria da qualidade de vida da população local.

6. REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, R. O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural. In: Economia Aplicada, vol. 4, nº2, abril/junho 2000 ? no prelo.

ALBUQUERQUE, F. Desenvolvimento econômico local e distribuição do progresso técnico: uma resposta às exigências do ajuste estrutural. Fortaleza: BNB, 1998.

BELTRÃO, O. Turismo: a indústria do século 21. Osasco: Novo Século, 2001.

BOISIER, S. Modernidad y território. In: Postmodernismo territorial y globalizacion: regiones pivotales y regiones virtuales. Santiago ? Chile: Cuaderno Del Ilpes,1996.

DAVIDOVICH, F. Gestão do território, um tema em questão. In: Encontro Nacional da ANPUR, 1989, Águas de São Pedro, Anais... São Paulo: Anpur/FAU, 1989. V.2, p.69-79.
HAESBAERT, R.C da. O mito da desterritorialização: do "fim dos territórios" à multiterritorialidade. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2006.

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo, SP: Ática, 1993. Tradução do Livro: Pour uma géographie du pouvoir, Paris ? 1980.

REIS, E. Estado, sociedade civil e mercado na implementação de políticas públicas, 2006. Disponível em: http://iets.org.br/article.php3?ide article=39. Acesso em: 24/04/2006

RUSCHMANN, D. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio
ambiente. 4.ed. Campinas: Papirus, 1997.