CARACTERIZAÇÃO CONCEITUAL DA IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL NO PROCESSO TERAPEUTICO[1] 

Ana Elisa Feracini PERUZZO

Cibelle C. Marchi de Angelo DOURADO

Suellen dos Santos SILVA2

Claudemir GOMES3 

Faculdade da Fundação Educacional Araçatuba

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo conceituar e a evolução histórica dos estudos sobre comunicação não-verbal caracterizando a sua importância para a psicologia. Descreve as técnicas existentes nesta área indicando a sua utilidade compreensiva à comunicação não-verbal em favor do processo terapêutico. Buscou ainda apontar como o psicólogo pode identificar e relacionar essas expressões da comunicação não-verbal da pessoa assistida com os seus sentimentos.  Foram conceituados e apontados os estudos no âmbito da comunicação não-verbal ao longo da história, a definição de comunicação não-verbal e caracterização de sua função e importância para a psicologia, bem como a descrição das técnicas utilizadas na tradução da comunicação não-verbal no processo terapêutico. É importante esclarecer a dificuldade encontrada na busca por materiais da área da psicologia para realização desta pesquisa, tendo em vista a predominância de trabalhos dirigidos para profissionais da área médica e da enfermagem. Porém, mesmo com os obstáculos existentes no processo da coleta de dados bibliográficos, considera-se que estes tenham sido suficientes para o cumprimento das propostas. 

PALAVRAS-CHAVE: Psicologia; Comunicação não-verbal; Comportamento. 

1  INTRODUÇÃO 

O presente artigo tem por objetivo conceituar e a evolução histórica dos estudos sobre comunicação não-verbal caracterizando a sua importância para a psicologia, bem como descrever as técnicas existentes nesta área indicando a sua utilidade compreensiva à comunicação não-verbal em favor do processo terapêutico. Buscou ainda apontar como o

psicólogo pode identificar e relacionar essas expressões da comunicação não-verbal da pessoa assistida com os seus sentimentos.  

A importância deste artigo para os profissionais da área de psicologia, se dá mediante a compreensão da escassez de trabalhos desenvolvidos sobre esse assunto, considerando que o processo de comunicação não-verbal fornece aos psicólogos subsídios para a identificação de processos amplos que não se restringem apenas ao que é dito, e que, pelo contrário, proporciona a descoberta do que está contido, encoberto, implícito, concordando com a idéia de que a relevância das palavras em uma interação entre pessoas é apenas indireta, pois grande parte da comunicação se processa num nível abaixo da consciência (MESQUITA, 1997) e, do mesmo modo, salienta-se a importância da comunicação não-verbal do psicólogo para com o pessoa assistida que poderá implicar no fracasso ou sucesso do processo terapêutico.

 

O reconhecimento da existência e da importância de um modo não-verbal expresso através do corpo e do movimento do ser humano, ao lado do verbal, é de capital importância para profissionais para interagem com pessoas no seu dia a dia, principalmente para aqueles cuja ação está mais diretamente relacionada ao corpo e ao movimento como os psicólogos, médicos e os profissionais de Educação Física. Na área de Psicologia, autores e pesquisadores como Briganti (l987), Gaiarsa (l986) e M. Chace  (citado por Silva Neto, 1977) discutem a necessidade dos profissionais de Psicologia de  compreenderem a comunicação do corpo em movimento, a fim de serem mais eficientes no desenvolvimento de suas atividades (MESQUITA, 1997).

        

 

 

Este artigo, em sua investigação teórica, procurou problematizar o tema buscando saber a perspectiva histórica, o modo da definição dos conceitos, sua utilidade ao processo terapêutico, bem como assinalar as técnicas utilizadas na sua tradução.

A metodologia consistiu em rever e analisar as literaturas existentes sobre este assunto, utilizando como fonte os artigos científicos encontrados na Internet, nos sites de pesquisa do Scielo e no Google Acadêmico como também livros que contemplam o assunto problematizado.

 

 

2 DESENVOLVIMENTO

 

Sabe-se que estudiosos gregos e romanos antigos deixaram um importante legado de conhecimento acerca do que se chama atualmente de comportamento não-verbal, porém os primeiros estudos científicos expressivos sobre a comunicação não-verbal tiveram origem nos anos subseqüentes a Segunda Guerra Mundial caracterizado por estudos da voz, da aparência física e da vestimenta e da face. Alguns terapeutas, inclusive Sigmund Freud, mostraram interesse por sinais não-verbais anteriormente aos anos 50, período de maior produção científica sobre o assunto (KNAPP, 1999).

Os anos 50 apresentaram um aumento significativo de pesquisadores interessados em comunicação não-verbal, entre eles podem-se incluir: Ray L. Birdwhiistell, Albert E. Scheflen, Edward T. Hall, Erving Goffman e Paul Ekman (DAVIS, 1979).

Nos anos 60 é publicado um artigo de Ekman e Friesen sobre origens, uso e codificação do comportamento não-verbal. Na década de 70 houve produções de pesquisa de Ekman sobre o rosto humano, e a pesquisa de Meharabian sobre o significado dos sinais não verbais de proximidade, status e receptividade, a pesquisa cinésica de Scheflen, o estudo de pupilometria de Hess, o estudo de Argyle sobre o movimento do corpo e o comportamento ocular. Esses pesquisadores tiveram a intenção de reunir a literatura ou um programa de pesquisa em um único volume. “Durante os anos 80, alguns estudiosos continuaram a particularizar, enquanto outros se concentravam na identificação das maneiras pelas quais uma variedade de signos não-verbais atua em conjunto a fim de atingir objetivos em comuns [...]” (KNAPP, 1999).

A pesquisa em comunicação resulta de cinco diferentes áreas do conhecimento que são: a psicologia, a psiquiatria, a antropologia, a sociologia e a etologia. Trata-se, portanto de uma ciência jovem, que sofre de muitas controvérsias, com achados e táticas de pesquisa freqüentemente questionados. (DAVIS, 1979)

É através da comunicação que se é capaz de expressar idéias, vontades, afetos e tudo mais que se deseja. A comunicação pode ser feita de forma verbal e não-verbal. A comunicação verbal será realizada de modo falado ou escrito, e a não-verbal será transmitida através de vários canais de comunicação que podem ser compreendidas nas formas de comportamentos, expressões corporais e gestuais particulares a cada individuo. Já há algum tempo tem-se considerado a importância da comunicação não-verbal para a investigação de características de personalidade, e, portanto a importância desses estudos na área de Psicologia, já que a comunicação não-verbal é capaz de fornecer a esses profissionais uma fonte riquíssima de observação para a identificação de conteúdos contidos e reprimidos, concordando com a idéia de que a relevância das palavras em uma interação entre pessoas é apenas indireta, pois grande parte da comunicação se processa num nível abaixo da consciência e é manifestada através dos comportamentos e da comunicação não-verbal.

 

É fato que quem não é capaz de entender um gesto, tão pouco será capaz de entender uma longa explicação, isso se refere à comunicação não-verbal. A comunicação segundo Mesquita (1997) “[...] é a forma discursiva, falada ou escrita, na qual mensagens, idéias ou estados emocionais são expressos. A comunicação humana não-verbal é a forma não discursiva, efetuada através de vários canais de comunicação”.

 

Em sua última década de vida, Winnicott  ([1968] 1996) desenvolve o estudo do significado da comunicação, afirmando que a habilidade de comunicar-se não está fundada, inicialmente, na aquisição da linguagem, mas, sim, em uma interação não-verbal estabelecida por intermédio da experiência de mutualidade (JANUÁRIO e TAFURI, 2010).

 

Infinitas vezes ouvem-se no senso comum que um gesto vale mais do que mil palavras,  todavia, é necessário saber que é preciso mais de mil palavras para abordar um assunto que contemple um gesto e seus possíveis significados.

Segundo Davis, (1979) “Os psiquiatras já admitem há muito tempo que o modo de um indivíduo movimentar o corpo oferece pistas sobre caráter, emoções reações àqueles que o rodeiam”.  Portanto, esta área da comunicação não-verbal constitui um campo de estudos amplo e de fonte riquíssima para a psicologia melhor compreender o que se esconde nos mistérios da psique humana.

 

Fica então evidente que, conhecimentos teóricos sobre a comunicação não-verbal, bem como a habilidade de emitir ou receber sinais não-verbais, podem estar intimamente relacionados à atuação profissional do indivíduo na sociedade. Estas habilidades associadas ao conhecimento de assuntos da área de comunicação não-verbal são importantes para o desenvolvimento da competência social dos indivíduos, quer na sua atuação profissional, quer na sua vida diária (MESQUITA, 1997)

 

Pode-se perceber a importância dos sinais não-verbais diariamente expressos das artes, na dança, no teatro, em filmes e em simples fotografias, sem contar que a compreensão dos sinais não-verbais fornece subsídios grandiosos para que a comunicação seja  melhor com outras culturas, faixas etárias e diferentes grupos étnicos. Situações presentes no cotidiano estão carregadas de comportamento não-verbal, uma entrevista de emprego, a impressão que temos de uma pessoa à que se dirige pela primeira vez, ou um terapeuta que consegue compreender o comportamento não-verbal “perturbado” da pessoa assistida, ajudando em seu diagnóstico ou tratamento, enfim, esta lista de situações que remetem a importância da comunicação não-verbal seria interminável, haja vista sua importância nas relações sociais da humanidade, considerando inclusive que nos primórdios a comunicação não-verbal foi o único meio de que dispunha o homem para comunicar-se. (KNAPP, 1999).

Para Davis (1979) as palavras são apenas o inicio da comunicação, pois além delas existe algo maior onde se constroem as relações humanas: a comunicação não-verbal. Segundo esta autora “a palavra é aquilo que um homem usa quando todo o resto falha.”

Portanto, é evidente que a comunicação não-verbal tem uma importante função no processo terapêutico, por esse motivo, as habilidades profissionais devem ser ampliadas para compreender o que está contido no silêncio, observando que o corpo fala por si, deixando transparecer os aspectos internos e inconscientes do individuo, e do mesmo modo, o terapeuta pode e deve fazer uso do seu conhecimento a cerca da comunicação não-verbal para estar atento as mensagens que transmite ao cliente com seu próprio corpo podendo frear ou possibilitar a expressão de determinados sentimentos na pessoa assistida. (MESQUITA, 1997)

O comportamento não-verbal do cliente ao chegar ao consultório já pode servir como material de analise. Esta comunicação estabelecida na forma não-verbal pode ser percebida de diversas formas, tais como: horário em que chega à sessão, o modo como se veste, a postura física e a expressão facial, a maneira como se dirige ao terapeuta e como o cumprimenta, o modo como inicia a sessão, se induz o terapeuta a realizar algum tipo de papel, entre outras pistas. “Durante a sessão, o paciente pode aguçar a percepção do terapeuta e sua escuta de gestos e atitudes por meio de sinais de mímica facial, gestos sugestivos de impaciência, inquietação, contrariedade, sofrimento ou alívio, choro ou riso” (SANTOS e OLIVEIRA, 2008).

 

Disso se conclui que o analista deve estar preparado para a escuta das diferentes formas de comunicação utilizadas pelo analisando. A modalidade de comunicação aparece didaticamente separada em: verbal e não-verbal. Ambas, a priori, têm a função de comunicar algo, contudo, nem sempre essa função é efetiva, às vezes o discurso pode estar mais a serviço da incomunicação como forma de ataque aos vínculos perceptivos (SANTOS E OLIVEIRA, 2008).

 

O reconhecimento da existência e da importância de um modo não-verbal expresso através do corpo e do movimento do ser humano, ao lado do verbal, é de capital importância para profissionais que interagem com pessoas no seu dia a dia, principalmente para aqueles cuja ação está mais diretamente relacionada ao corpo e ao movimento como os psicólogos, médicos e os profissionais de Educação Física. (MESQUITA, 1997).

De acordo com a teoria cognitiva comportamental o psicólogo clínico necessita das técnicas de observação para registrar e alterar o comportamento que pretende modificar. A descrição do comportamento deve constituir um ponto de partida para esse profissional. (BRITO, 2003). Deste modo acrescenta-se que a intervenção terapêutica está na habilidade de se manipular sinais que possam ser decodificados pelo paciente. Sendo que a comunicação deteriorada conduz o indivíduo para o uso de formas de expressão primitivas, aconselha-se ao terapeuta o uso da comunicação não-verbal.

Brito, (2003) em seus estudos de análise na clínica comportamental dos eventos que ocorrem em contextos terapêuticos, ao nível dos relatos verbais e respostas não-verbais, na relação terapeuta cliente, tendo em vista que consideram de fundamental importância os processos envolvidos no contexto clínico relativo às relações cliente e terapeuta, diz que:

 

Ao observar um cliente fixar os olhos no terapeuta, balançar a cabeça afirmativamente enquanto o terapeuta fala, sorrir ou mesmo comparecer às sessões, torna-se possível analisar as relações entre cada um desses comportamentos com os possíveis fatores que afetam a adesão. Vázquez, Rodríguez & Álvarez (1998) afirmam que encontrar indicadores válidos de adesão terapêutica é problemático. Todavia, a alternativa para melhorar as técnicas de avaliação à adesão passa por utilizar os princípios e técnicas comportamentais para observar e registrar as condições de tratamento. (BRITO, 2003).

 

 

Os estudos sobre a comunicação não-verbal  em geral podem ampliar e incrementar a atuação de psicoterapeutas no desenvolvimento de habilidades em seu trabalho de analise, tomando consciência dos sinais não-verbais envolvidos que estejam presentes na situação psicoterapêutica. Existem relatos na literatura, de pesquisa sobre comunicação não-verbal de pacientes, como as de Ekman (2011), sobre a veracidade de emoções relatadas por meio de análise de microexpressões, microgestos e paralinguagem que o terapeuta pode identificar.

 

 

Não foi minha idéia descobrir como as emoções podem ser uteis na avaliação da veracidade. A questão surgiu quase quarenta anos atrás, quando comecei a dar aulas de psiquiatria para estagiários em minha universidade. Embora eles estivessem entusiasmados em conhecer minha pesquisa (sugerindo que as expressões emocionais são universais e descritas no Capítulo 1), o que queriam, realmente, era orientação sobre uma decisão crítica: quando um paciente internado com depressão aguda solicitava autorização para voltar para casa por um dia, afirmando que se sentia muito melhor e já não pensava em suicídio, como saber se o paciente estava falando a verdade? (EKMAN, 2011)

Ekman (2011) descreve em seu livro “A linguagem das emoções” um caso clínico onde uma paciente denominada Mary, sendo este um pseudônimo, a qual tentou por vezes o suicídio e que durante o período intermediário de suas internações conseguiu convencer o médico de que estava bem. Ekman filmou suas sessões e após analise minuciosa dos vídeos, ele e Friesen perceberam a existência de algo o qual chamaram de microexpressões.

 

No quadro congelado, a emoção verdadeira de Mary era muito clara e, em seguida, era deliberadamente escondida. (...)  Friessen e eu denominamos microexpressões esses movimentos faciais muito rápidos, que duravam de 1/12 a 1/5 de segundo, e percebemos que ocasionavam escapamento não verbal dos verdadeiros sentimentos. Posteriormente, soube que os psicólogos Ernest Haggard e Kenneth Isaacs descobriram três anos antes, dizendo que não são visíveis em tempo real e são sinais de emoção reprimida, e não de emoções deliberadamente suprimidas. Nós verificamos que elas poderiam ser vistas normalmente se soubéssemos o que procurar. (EKMAN, 2011)

 

Ekman (2011) ainda diz que microexpressões podem ocorrer onde há ocultamento de emoções ou quando as emoções não são de conhecimento total do paciente. “ A microexpressão em si não diz o que é; isto deve ser determinado pelo contexto, e, muitas vezes, exige questionamento adicional (EKMAN, 2011).

O autor explica em seu livro que microexpressões não podem ser avaliadas fora de um contexto. Não se pode ignorar a natureza da interação conversacional, a historia do relacionamento, o turno do falante, e por fim a congruência. Também devem ser considerados sinais na voz, postura e outros indícios de base cognitiva. Ele utilizou em sua pesquisa um código que criou para poder analisar microexpressões primarias, consideradas universais, o FACS (Facial Action Coding System – Sistema de Codificação da Ação Facial), sendo este um instrumento técnico para a identificação de microexpressões.

 

 

Ao utilizar o Sistema de Codificação da Ação Facial, identificamos os sinais faciais que denunciam a mentira. O que denominei microexpressões- movimentos faciais muito rápidos que duram menos de um quinto de segundo – são fonte importante de escapamento, revelando uma emoção que a pessoa está tentando ocultar. Uma expressão falsa pode ser denunciada de diversas maneiras: em geral, é levemente assimétrica e carece de uniformidade da forma que flui de vez em quando na face. (EKMAN, 2011)

 

 

Sabe-se que uma pessoa é uma integração de pensamentos, experiências, atitudes, sentimentos, afetos e desejos, enfim, e a comunicação se faz presente para demonstrar o que se é, pensa, sente e deseja, e pode-se dizer que essa comunicação se faz de corpo inteiro, já que a comunicação não se restringe apenas à palavra verbalizada, é necessário que se aprenda captar as mensagens e interpretá-las adequadamente (SILVA, 2002). Referindo-se ainda a mesma autora sobre dados obtidos em estudos de comunicação não-verbal verifica-se que “[...] 7% dos pensamentos são transmitidos por palavras; 38% por sinais paralinguísticos, tais como entonação de voz, velocidade com que as palavras são pronunciadas; e 55% pelos sinais do corpo (fisionomia tensa, olhar triste etc). Enfim, o corpo fala alto... E sem máscaras!”.

Brito (2003) em sua análise de sessões clínicas de estagiários-terapeutas observou que enquanto a pessoa assistida na clínica descrevia verbalmente sensações corporais e emocionais compatíveis com os critérios de Transtorno de Pânico do DSM-IV-TR (APA, 2002), os comportamentos motores da cliente que se repetiam, tais comportamentos chamados de não-verbais eram expressos com punhos fechados à altura do peito, cabeça apoiada na palma da mão e sua mão direita tocando o peito à altura do coração. Já no que diz respeito respostas não-verbais que sugerem ‘conveniência’ da cliente em relação à terapeuta foram exprimidos com os gestos de balançar a cabeça afirmativamente, sorrir enquanto a terapeuta fala, franzir as sobrancelhas enquanto a terapeuta fala. Ainda observou que as lágrimas da pessoa assistida, por exemplo, são muitas vezes, acompanhadas por uma posição curvada dos ombros, ocasiões em que ele verbaliza palavras como “angústia”, “mágoa” e “decepção” em lugar de outros temas.

No que se refere aos comportamentos não-verbais dos terapeutas, segundo Rodrigues (1997), pode-se perceber que esses profissionais estariam muito mais sob controle dos sinais e pistas emitidos pelas pessoas assistidas, do que pelas suas próprias deixas. Dessa forma é possível que o terapeuta possa produzir reações sem que ele perceba como agente das mesmas. A menor sujeição do comportamento não-verbal ao controle voluntário, por não estar inteiramente no nível da consciência, torna o estudo de sinais não-verbais importante na comparação entre o comportamento de diferentes terapeutas.

Nessa perspectiva o mesmo autor realizou uma pesquisa comparando conjuntos de comportamentos não-verbais de psicoterapeutas adeptos de distintos referencias: lacaniano, reichiano e comportamental cujos resultados obtidos em relação às principais semelhanças, foram comportamentos indicados, segundo (MILLENSON, 1967), bibliografia utilizada por Rodrigues (1997), como reforço do tipo primário como indicadores de atenção, afiliação ou aproximação. As principais diferenças encontradas, diz respeito à freqüência de ocorrência dos comportamentos registrados, já que os três terapeutas possuem os mesmos comportamentos não-verbais mais com freqüências diferenciadas.

 

 

Os principais comportamentos encontrados como afiliativos, empáticos e/ou reforçadores, de acordo com a bibliografia da comunicação não-verbal foram: sorriso (fechado e aberto); olhar para o paciente; inclinação de cabeça para frente; assentimento; sobrancelha levantada; tronco inclinado para frente e “humhum”. Os comportamentos considerados não-afiliativos foram: desvios de olhar; inclinação da cabeça para trás; gesto de negação; sobrancelha franzida; braços cruzados e tronco inclinado para trás. (RODRIGUES, 1997)

 

 

Neste aspecto, Rodrigues (1997), conclui que, o terapeuta que apresentou na pesquisa a menor freqüência de sorriso, é único do sexo masculino atuante na abordagem reichiana, já a terapeuta comportamental apresentou maior freqüência de sorriso aberto (com exposição de dentes) e a lacaniana, o contrário. 

 

 

O sorriso dos terapeutas, de acordo com a literatura, pode ser interpretado como: sinal de empatia, reforço inespecífico ou específico. O olhar também é interpretado pela bibliografia como reforçador e empático, além de obter julgamentos de maior persuasividade, credibilidade e, no caso específico de terapeutas, tanto o olhar como o sorrir aliam-se a avaliações de maior cordialidade e competência. Também pode indicar dominância (ARGYLE, 1988 Apud RODRIGUES, 1997)

 

 

Ainda citando Rodrigues (1997) sobre os desvios de olhar que são descritos como padrões típicos do falante na interação, o que significa que os ouvintes desviam menos seus olhares. O desvio de olhar pode também ser considerado como uma forma de retirada de atenção sobre ação. Os desvios de olhar observados considerando a orientação teórica exprimem que a lacaniana desvia menos, o reichiano fica numa posição intermediária e a comportamental obtém o maio número de desvios. Quando se trata da inclinação de cabeça deve-se considerar que ele esta atrelado, provavelmente, à maior quantidade de fala, já que segundo Davis, 1977 apud Rodrigues, 1997, as inclinações podem ser consideradas como típico da pessoa que fala que se movimenta ao som do próprio discurso, no entanto a terapeuta atuante na clínica comportamental apresentou a maior média de inclinações em todas as direções.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Obteve-se êxito na realização da pesquisa, considerando sua problematização e objetivos contemplados no desenvolvimento. Foram conceituados e apontados os estudos no âmbito da comunicação não-verbal ao longo da história, a definição de comunicação não-verbal e caracterização de sua função e importância para a psicologia, bem como a descrição das técnicas utilizadas na tradução da comunicação não-verbal no processo terapêutico.

 É importante esclarecer a dificuldade encontrada na busca por materiais da área da psicologia para realização desta pesquisa, tendo em vista a predominância de trabalhos dirigidos para profissionais da área médica e da enfermagem. Porém, mesmo com os obstáculos existentes no processo da coleta de dados bibliográficos, considera-se que estes tenham sido suficientes para o cumprimento das propostas.

Conclui-se, portanto, que a pesquisa no âmbito da comunicação não-verbal é importante para os profissionais psicólogos, considerando sua relevância para processo terapêutico. Sabe-se que a maior parte da comunicação se processa em um nível inconsciente, e que deste modo, o domínio da técnica de identificação dessas comunicações pode caracterizar o fracasso ou o sucesso da psicoterapia.

 

REFERÊNCIAS UTILIZADAS

 

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DAVIS, Flora. A Comunicação não-verbal. Disp. http://books.google.com.br/books?hl=pt- BR&lr=&id=IRSJ2szZfzUC&oi=fnd&pg=PA9&dq=linguagem+nao+verbal+psicologia&ots=WuQK9swoh6&sig=bSr9LQLLQo37d_Bwn1eiE5IbrUU#v=onepage&q&f=false Acesso em: 06 nov. 2010.

 

EKMAN, Paul. A linguagem das emoções: Revolucione sua comunicação e seus relacionamentos reconhecendo todas as expressões das pessoas ao redor. São Paulo: Lua de Papel, 2011. 287p.

 

JANUÁRIO, Lívia; TAFURI, Maria. A relação transferencial com crianças autistas: uma contribuição a partir do referencial de Winnicott. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol.22, n.1, p.57 – 70, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pc/v22n1/a04v22n1.pdf. Acesso em: 06 nov. 2010.

 

KNAPP, Mark. Comunicação não-verbal na interação humana. São Paulo: JSN Editora, 1999. 492p.

 

MESQUITA, Rosa Maria. Comunicação não-verbal: relevância na atuação profissional. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, jul./dez. 1997. Disponível em: http://citrus.uspnet.usp.br/e ef/uploads/arquivo/v11%20n2%20artigo7.pdf. Acesso em: 31 out. 2010.

 

RODRIGUES, Maria Éster. Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação psicoterapêutica: comportamento não-verbal do psicoterapeuta em diferentes abordagens teóricas. Interação, Curitiba, v. 1, p. 95-122, jan./dez. 1997. Disponível em: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/view/7637/5445. Acesso em: 15 set. de 2011.

 

SANTOS, Larissa Forni dos; SANTOS, Manoel Antônio dos; OLIVEIRA, Érika Arantes de. A escuta na psicoterapia de adolescentes: as diferentes vozes do silêncio. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.),  Ribeirão Preto,  v. 4,  n. 2, ago.  2008 .   Disponível em <http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762008000200008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  30  maio  2011.

 

SILVA, L.M.G.da; BRASIL, V.V.; GUIMARÃES, H.C.Q.C.P.; SAVONITTI, B.H.R.A.; SILVA, M.J.P.da. Comunicação não-verbal: reflexões acerca da linguagem corporal. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 4, p. 52-58, agosto 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v8n4/12384.pdf. Acesso em: 30 out. de 2010. 

 

SILVA, Maria Júlia Paes da. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

 

 

APÊNDICE

 

CONCEPTUAL DESCRIPTION OF THE IMPORTANCE FROM THE NON-VERBAL COMMUNICATION IN THE THERAPEUTIC PROCESS

 

ABSTRACT: This article aims to conceptualize the historical evolution of the studies about non-verbal communication characterizing its importance for psychology. Describes the techniques in this area showing their utility for understanding non-verbal communication in favor of the therapeutic process. It has also tried indicate how the psychologist can identify and relate these expressions of nonverbal communication with the assisted person's feelings. Been conceptualized and pointed studies in the non-verbal communication throughout history, the definition of nonverbal communication and characterization of their function and importance to the psychological as well as descriptions of the techniques used in the translation of non-verbal communication the therapeutic process. Is important to clarify the difficulty in finding materials in the area of psychology to this research, in view of the predominance of studies directed to medical professionals and nursing staff. However, even with obstacles in the process of collection of bibliographic data, it is considered that these were sufficient to comply with the proposals.

 

KEY-WORDS: Psychology. Nonverbal Communication. Behavior.



[1]Título da pesquisa realizada  na disciplina Seminário de Pesquisa III – Editoração e Comunicação, do Curso de Psicologia da Fac-FEA.

2Acadêmicas concluintes  do Curso de Psicologia e autoras deste artigo. Endereço eletrônico: [email protected];
  [email protected]; [email protected]

3Professor orientador do artigo, docente Mestre do Curso de Psicologia da Fac-FEA. Endereço eletrônico: [email protected]