O presente artigo discorre sobre a língua de sinais e suas especificidades no Brasil e no mundo, procura responder questões significativas que permeiam a mente do leitor, de forma clara e de modo com que este possa compreender como se dá a comunicação através de sinais, seja no Brasil, ou em todo o mundo, percebendo as variações linguísticas e os pontos em comum com a língua oral. Além disso, será possível entender o papel do intérprete, do professor regente, do interlocutor, e principalmente, saber como buscar os melhores meios de comunicação com a comunidade surda.

Por ser a língua de sinais gestual transmitida aos surdos, as pessoas têm a ideia de que a mesma é universal; contudo cada país tem sua própria língua, cada região possui seus dialetos, assim como ocorre na Língua oral.

Gesser (2009) afirma que cada país tem sua língua de sinais, com um impulso universal dos indivíduos para a comunicação e, no caso dos surdos, esse impulso é sinalizado. Além disso, acrescenta que este tipo de língua não pode ser utilizado por todos os surdos de maneira uniforme, pois nesse tipo de questionamento seria perdida a riqueza linguística do que fosse ser dito, pressupondo que para os surdos seria mais fácil se houvesse uma forma de se comunicar uniforme.

O esperanto e o gestuno são línguas que buscam a unificação da comunicação entre as pessoas, sendo a primeira de forma oral e a segunda gestual.

Gesser (2009) aborda sobre esses tipos de língua ao escrever: “O gestuno, também conhecido como língua de sinais internacional, é da mesma forma que o esperanto uma língua construída, planejada”.

Mesmo sendo estudada tal unificação da Língua de sinais na tentativa da facilitação na comunicação entre os surdos, a comunidade surda não a considera uma “língua real”, pois a mesma foi inventada e adaptada, poucos são os surdos que aderiram a essa língua, da mesma forma que o esperanto para os ouvintes, por isso, ambas são utilizadas como uma linguagem complementar e não como a língua universal e mais facilitadora no processo de comunicação.

Ferreira Brito (1995:108) citada por Gesser, afirma que “a iconicidade é utilizada (na língua de sinais) de forma convencional e sistemática”.

Os sinais icônicos são aqueles representados de forma semelhante à maneira como o surdo percebe visualmente o sinal, como por exemplo: o sinal de vulcão, nascer, bom, flor, pessoa, terremoto, janela, amarelo, etc.

É importante lembrar que a língua oral também se apropria de características semelhantes às icônicas, nas chamadas onomatopeias, em que os sons da natureza, animais ou barulhos que possam ser ouvidos e ditos são utilizados, como o toc toc, fom-fom, bibi, piu-piu, etc.

A autora salienta que linguisticamente podemos afirmar a língua de sinais como tal, porque apresenta características presentes em outras línguas naturais e, essencialmente porque é humana.

A língua de sinais tem uma gramática própria e se apresenta estruturada em todos os níveis, como as línguas orais: fonológico, morfológico, sintático e semântico. Além disso, podemos encontrar nela outras características: a produtividade/criatividade, a flexibilidade, a descontinuidade e a arbitrariedade. (Gesser, Audrei, p.27, 2009)

 

Assim como a língua americana de sinais (ASL), a língua brasileira de sinais (LIBRAS) têm suas origens na língua francesa de sinais. No primeiro caso os estudos de linguagem de sinais se deram com Laurent Clarc a convite de Thomas Hopkins Gallaudet; no segundo Edward Hernest Huet apoiado por Dom Pedro II.

Muitos ouvintes questionam como se comunicar com uma pessoa surda, a postura a ser tomada é simples: tocar levemente em seu braço, ombro ou antebraço; ficar próximo a seu campo visual (180 graus); se souber comunicação por meio das Libras, iniciar um diálogo de apresentação por meio de sinais ou soletração, se não for adepto a essa linguagem, deve buscar a comunicação por meio da escrita.

No que diz respeito ao surdo em sala de aula, é importante que haja um intérprete, responsável por intermediar o processo interativo que envolve intenções de conversas e discursos, tendo por responsabilidade a veracidade e fidelidade das informações transmitidas pelo professor, por isso sua missão está diretamente ligada à ética.

A resolução que dispõe sobre a admissão de docentes com qualificação em Libras é a SE n°38, de 19/06/2009, nas escolas da rede estadual. Considera, ainda, a necessidade de se garantir aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso às informações e aos conhecimentos curriculares dos Ensinos Fundamental e Médio.

Quando o professor regente receber um aluno surdo deve, dentre outros aspectos: iniciar falando sobre o objetivo da aula e a forma como está sendo estruturada; escrever na lousa os conceitos básicos; expor e repetir as ideias e utilizar imagens; diversificar as formas de avaliação para todos os alunos: pontuar o relato da pesquisa ou o relato sobre o que entendeu da aula (avaliação do texto oral/LIBRAS); avaliar as respostas dadas de forma oral/LIBRAS (questionário oral); avaliar o entendimento do texto/LIBRAS; trabalhos de elaboração de murais; elaboração de teatro sobre o tema; avaliação escrita; leitura; autorizar a gravação das respostas dadas em LIBRAS pelo aluno, constando como avaliação; estimular todo o grupo de alunos a aprender LIBRAS e apoiar o aluno com surdez.

O professor interlocutor deve: buscar o conteúdo antecipadamente para poder apresenta-lo em LIBRAS; organizar as palavras e apoios visuais; posicionar-se em frente ao aluno; coloca- sentado nas primeiras carteiras.

Diante das ideias apresentadas, conclui-se que a língua de sinais não é universal, cada país possui seu próprio meio de se comunicar, assim como acontece na língua oral, pois ambas possuem sua linguística própria. Totalmente valoroso entender as funções do intérprete, professor regente e interlocutor, percebendo que os três trabalhando conjuntamente possibilitam maior facilidade na compreensão dos conteúdos transmitidos, permitindo a inclusão do surdo à sala de aula e não apenas a mera integração, pois o aluno terá as mesmas condições que os ouvintes (é claro que no seu tempo de aprendizagem), porém compreenderá efetivamente, uma vez que se sentirá cuidado e amparado, não rejeitado, mas com tantas condições quanto os demais alunos de aprender, se desenvolver e se perceber um cidadão crítico, cumpridor de deveres e reivindicador de direitos, capaz de transformar a sociedade em que vive.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Código de Ética do intérprete. Disponível em:

http://www.guarulibras.blogspot.com.br/p/codigo-de-etica-do.html.  Acesso em 30 out. 2016.

Documento Orientador de demanda de alunos com Surdez. São Paulo: 2013.

GESSER, Audrei. LIBRAS?: Que Língua é essa? crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo : Parábola, 2009.

Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado – CAPE : Sobre Professor Regente e Professor Interlocutor. Secretaria da Educação: Governo do Estado de São Paulo.

Resolução SE – 38: Admissão de Docentes com qualificação na Língua Brasileira de Ciências – Libras, da rede estadual de ensino. Disponível em:

http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/38_09.HTM?Time=8/19/2010%204:12:07%20AM . Acesso em 02  nov. 2016.