Características e Importância da Ciência na Metodologia

Relação Metodologia e Ciência 

A palavra ciência surge do latim scire e significa conhecimento ou sabedoria.

Em geral, fala-se que uma pessoa tem conhecimento (ou está ciente) quando detém alguma informação ou saber com relação a algum aspecto da realidade.

Uma cozinheira, por exemplo, que aprendeu tudo com sua mãe, pode fazer bolos muito bem, mas dificilmente saberá explicar o motivo pelo qual o fermento faz o bolo crescer. Já um engenheiro, que frequentou uma universidade, deverá saber apresentar as causas relacionadas, por exemplo, à queda de uma casa. E é a partir daí que me surge uma pergunta que faz pensar: se nem todos conhecimentos são iguais em sua natureza, o que os diferencia? E o que caracteriza especificamente o conhecimento científico?

A partir destas perguntas que surge a metodologia. Metodologia científica refere-se a forma como funciona o conhecimento cientifico. Ela ensina como provar uma tese, um pensamento, como chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes, características que definiram a base da pesquisa cientifica. Ou seja, a metodologia científica é uma preocupação instrumental. Trata das formas de se fazer ciência. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos. A finalidade da ciência é tratar da realidade teórica e prática. Para atingir-se tal finalidade, colocam-se vários caminhos. Disto trata a metodologia.

Pode-se dizer então, que a ciência tem várias definições. Deve-se ser analisado também o seu quadro geral que há características comuns:

-É racional, onde as construções mentais são mais amplas e mais elaboradas. Cedendo lugar a construção de conceitos e juízos em detrimento da contemplação em um processo de inter-relação;

-É coerente, onde a ciência tem o propósito de desvendar concordâncias entre a idéia e o fato e vice-versa;

-É representação da realidade, onde é, antes de tudo, um quadro abstrato e codificado do real por um quadro fiel;

-É questionamento ou discussão sistemática, onde a ciência não pode ser considerada como fim em sim própria, ela é instrumental para compreensão e ação sobre os fenômenos;

-É analítica, onde para se construir uma ciência, torna-se necessário delimitar, decompor o objetivo de estudo;

-Exige investigação e a utilização de métodos, onde investigar significa o ato e/ou disposição de pesquisar. A ciência é construída a base de indagações, buscas e descobertas;

-Agrupa objetos da mesma espécie, para proceder a um estudo sistemático de um fato ou fenômeno, o cientista cuida de colocar em evidência objetos comuns a uma mesma realidade, os quais garantem, entre si, características comuns ou homogêneas

-É comunicável, onde a descoberta cientifica ocorrem com a finalidade primeira de servir como força propulsora e solucionadora de problemáticas individuais e sociais. Assim, os estudos e resultados das investigações cientificam devem ser comunicados à sociedade.

Com base nestas análises, pode-se afirmar que não existe definição objetiva do que é ou não a ciência. Na verdade, pode-se falar, de uma maneira um tanto esquemática, na existência de vários tipos de conhecimento, isto é, de diferentes formas de se abordar a realidade, buscando-se compreendê-la ou explicá-la. Assim, o conhecimento pode ser do tipo senso comum, artístico, filosófico, teológico ou cientifico.

O conhecimento do senso comum, por exemplo, como todo conhecimento, produz informações sobre a realidade. No entanto, tais informações normalmente se prendem aos seus objetivos mais imediatos.

Como, por exemplo, a cozinheira já citada anteriormente, que assa bolos por causa dos elogios e/ou salários que recebe. Estes motivos, de natureza mais imediata, bastam para mantê-la assando bolos. Ao mesmo tempo, ela sobrevive muito bem sem o conhecimento do motivo pelo qual o fermento faz o bolo crescer. Assim, não precisa se preocupar em saber a propriedade que determina o crescimento do bolo. Ou seja, não busca descrever os elementos específicos que, no fermento, causam tal efeito.

Também não precisa se preocupar com a generalidade do conhecimento que obtém. Não necessita enquadrar uma descoberta sua – sobre um novo jeito de fazer bolo, por exemplo – em um princípio geral que estabeleça que tal conhecimento é válido sempre que se apresentarem determinadas condições (por exemplo, o tempo de cozimento do bolo). A cozinheira também não precisa contar para ninguém como chegou a descobrir uma nova forma de fazer bolo. Não precisa nem mesmo divulgar seus resultados, ficando, se quiser, com o conhecimento para si mesma.

No entanto em contraponto com as características do conhecimento do tipo senso comum, conforme apresentadas no parágrafo anterior, pode ser útil para ilustrar a natureza deste campo. Em primeiro lugar, a ciência não é imediatista, não se contenta com as informações superficiais sobre um aspecto da realidade, mesmo que esta informação seja útil de alguma maneira (por exemplo, saber que o fermento faz o bolo crescer é proveitoso para a cozinheira, mas não é um conhecimento suficiente para a ciência). A ciência pretende ser crítica, buscando sempre estar julgando a correção de suas próprias produções.

O conhecimento científico se caracteriza também como outra procura das possíveis causas de um acontecimento. Assim, busca compreender ou explicar a realidade apresentando os fatores que determinam a existência de um evento. Desta forma, não basta saber que o fermento faz o bolo crescer. É necessário, sobretudo, caracterizar o que, na constituição do fermento produz o efeito que é o crescimento do bolo. Uma vez obtido este conhecimento, deve-se garantir sua generalidade, isto é, sua validade em outras situações. A divulgação dos resultados também é uma marca fundamental da ciência moderna. Trata-se do que se chama de exercício da intersubjetividade, isto é, da garantia de que o conhecimento está sendo colocado em discussão e que qualquer outro cientista pode ter acesso a ele.

Neste sentido, a ciência moderna não se pretende dogmática. Ao relatar seus resultados, o cientista deve também contar como chegou a eles, qual caminho seguiu para alcançá-los. Trata-se, pois, da apresentação do que se chama método cientifico.

Mas afinal, o que caracteriza tal método? Método, em ciência, não se reduz a uma apresentação dos passos de uma pesquisa. Não é, portanto, apenas a descrição dos procedimentos, dos caminhos traçados pelo pesquisador para a obtenção de determinados resultados. Quando se fala em método, busca-se explicitar quais são os motivos pelos quais o pesquisador escolheu determinados caminhos e não outros. São estes motivos que determinam a escolha de certa forma de fazer ciência. Neste sentido, a questão do método é teórica, uma vez que se refere aos pressupostos que fundamentam o modo de pesquisar, pressupostos estes que, como o próprio termo sugere, são anteriores à coleta de informações da realidade.

A metodologia e o conhecimento científico não são indiscutíveis. O século XX foi palco de uma apaixonada discussão sobre o que é ciência, quais são suas características e sua relação com os outros tipos de conhecimento. Os pensadores que exploraram o tema discordam entre si, havendo até quem diga que um método científico é impossível. Outros têm denunciado a ideologia por trás do método cientifico, como Edgar Morin e Hebert Marcuse, que acusam a ciência e a tecnologia de promoverem a transformação do homem em coisa e a compartimentação do saber.

Outros apresentam propostas que discordam completamente do que a maioria entende por ciência. Exemplo disso é a gonzologia, uma corrente de pensamento influenciada pelo jornalismo gonzo. Para esses pensadores, a única metodologia possível dentro da ciência é a observação participante.

Entretanto, a noção que se tem hoje do conhecimento cientifico é influenciada pelos pontos de vista do Círculo de Viena e dos pensadores Karl Popper e Thomas S. Kuhn pela influência de suas propostas epistemológicas. O contexto da descoberta é aquele em que o cientista faz sua descoberta. Para o Círculo de Viena, esse era um contexto irrelevante para se definir se esse conhecimento é cientifico ou não. Para o ele, o que realmente importa na definição do que é cientifico ou não é o contexto da justificativa. Ou seja, é a forma como o cientista vai explicar sua descoberta aos pares. Esta corrente de pensamento também acreditava que o método científico deveria utilizar a indução.

Por sua vez, o conhecimento cientifico e seus produtos determinam mudanças na vida social de forma tal que, atrelados a determinações socioeconômicas, passam a constituir novas formas de vida e de relações entre os homens.

 

ORIENTAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS:

CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo: O nome da Rosa, 2000, pp. 11 – 69.

DANTON, Gian Metodologia Cientifica – www.virtualbooks.com.br

OLIVEIRA, Ivan Carlo Andrade de. Cultura Pop. Macapá: Faculdade Seama, 2002, pp. 46 - 49.

-MEZZAROBA, Orides. Manual de metodologia da pesquisa no direito. 3. ed. Ver. – São Paulo: Saraiva, 2006.