UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

CURSO: LETRAS

DISCIPLINA: LITERATURA LUSO - BRASILEIRA

ACADÊMICA: KARINE DE SOUSA BARBOSA

 

SÍNTESE TEÓRICA SOBRE AS CANTIGAS DE AMOR E DE AMIGO

ANÁLISE DE CANTIGAS

As cantigas de amor e as de amigo fazem parte do grupo das cantigas líricas da poesia trovadoresca.

Sobre as cantigas de amor:

Contém a confissão amorosa do trovador, que padece por requestar uma dama inacessível em consequência de sua condição social superior ou de ele desdenhar a sua posse, impedido que está pelo sentimento espiritualizante de que está possuído (MOISÉS; 1989, p.16).

Nelas, o eu lírico é masculino, onde o cavalheiro exprime seus sentimentos e o seu amor cortês, de forma respeitosa e sublime, à sua senhor. Esta é uma dama inacessível e idealizada, que não corresponde às investidas de seu admirador, assim nessas cantigas, o amor não se concretiza de fato, ele é impossível e distante, e o trovador vivencia o sofrimento do amor não correspondido, a chamada coita amorosa.

Em relação às cantigas de amigo:               

Contém a confissão amorosa da mulher, geralmente do povo(pastora, camponesa, etc.) Sua coita nasce de entreter amores com um trovador que a abandonou, demora para chegar, ou está no serviço militar(ou seja, fossado) ( MOISÉS; 1989, p.21).

Assim, nas cantigas de amigo, o eu lírico é feminino, ao contrário do que ocorre nas de amor, é a mulher que exprime seus sentimentos de sofrimento amoroso, causado pela partida do amigo(namorado) para a guerra(contexto histórico da época) ou pelo fato de ter sido trocada por outra. A mulher fazia parte das classes populares mais humildes, geralmente eram camponesas e pastoras, eram também tidas como moças ingênuas. Elas expressavam suas paixões e lamentos para suas mães, suas amigas ou para a natureza. Essas cantigas podem ser classificadas, conforme as situações em que ocorrem ou pelo espaço geográfico, em serranilha, pastorela, barcarola, bailada, romaria, alba ou alvorada.

CANTIGAS

AMOR – Bernal de Bonaval

A dona que eu am’e tenho por senhor
amostráde-mi-a Deus, se vos en prazer for,
se non, dáde-mi a morte.
A que tenh’eu por lume destes olhos meus
e por que choran sempr’, amostráde-mi-a, Deus,
se non, dáde-mi a morte.
Essa que vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, ai Deus!, fazéde-mi-a veer,
se non, dáde-mi a morte.
Ai Deus, que mi-a fezestes mais ca min amar,
mostráde-mi-a upossa con ela falar,
se non, dáde-mi a morte.

Basicamente, esta cantiga:

l  Possui quatro cobras singulares, cada uma com três palavras(versos).

l  É uma cantiga de refrão

l  Estribilho(refrão): “se non dade-me a morte”

l  Há uma atafinda(encadeamento) na terceira cobra, do sétimo para o oitavo verso.

l  Não apresenta Leixa-pren

l  Trata-se também de uma cantiga paralelística, pois apresenta paralelismo( amostrade-me-a; amostrade-me-a; fazede-me-a veer; mostrade-me-a)

AMIGO – Aires Nunes

Oí' oj' eu uma pastor cantar,

du cavalgava per uma ribeira,

e a pastor estava i senlheira,

e ascondi-me pola ascuitar,

e dizia mui bem este cantar:

"Sô lo ramo verde frolido

vodas fazem a meu amigo;

choran olhos d'amor."

E a pastor parecia mui ben,

e chorava e estava cantando,

e eu mui passo fui-mi achegando

pola oir e sol non falei rem;

e dizia este cantar mui bem:

" Ai estorninho do avelanedo,

cantades vós e moiro eu e peno,

e d'amores hei mal."

 

E eu oí-a suspirar enton,

e queixava-se estando con amores,

e fazia ua guirlanda de flores;

des i chorava mui de coraçon,

e dizia este cantar enton:

"Que coita hei tan grande de sofrer:

amar amigo e non ousar veer!

E pousarei sô lo avelanal."

 

Pois que a guirlanda fez a pastor

foi-se cantando, indo-se en manselinho,

e tornei-me eu logo a meu caminho,

ca de a nojar nou houve sabor.

E dizia este cantar ben a pastor:

" Pela ribeira do rio cantando

ia la virgo d'amor: quem amores

a como dormirá, ai bela frol !"

Basicamente, esta cantiga:

l  Possui quatro cobras singulares, cada uma com oito palavras(versos).

l  É uma cantiga de maestria.

l  Possui atafinda(encadeamento) na segunda cobra, do décimo primeiro ao décimo segundo verso.

l  Não apresenta Leixa-pren.

BIBLIOGRAFIA

MOISÉS, Maussad. A literatura portuguesa através dos textos.18.ed. São Paulo: Cultrix, 1989.