Introdução

A cavidade oral hospeda grande quantidade e vários tipos de microrganismos a partir do nascimento, como bactérias ou fungos causadores ou não de infecções. Sendo uma das principais infecções é a candidíase que é descrita como infecção causada por fungos oportunistas do gênero Candida, que forma colônias mucoides ou secas, com coloração que vai do branco ao creme. Geralmente esses fungos habitam a mucosa bucal como leveduras sapróbias constituindo parte da microbiota normal, que sob determinadas condições podem se tornar patogênica1.

Dentre as várias espécies que podem causar candidíase podemos também citar: C. tropicalis, C. parapsilosis, C. glabrata, C. krusei, C. kefir, C. lusitaniae, C. famata, C. viswanathii entre outras. A maior parte das infecções fúngicas por Candida é de origem endógena, adquiridas normalmente através da colonização da boca, do trato gastrointestinal, da vagina ou pele, podendo ser tratado com diferentes agentes antifúngicos. A candidíase geralmente não causa grandes complicações, mas é necessário que seja tratado para evitar uma infecção longa e crônica. Ela interfere na alimentação, gerando perda de apetite e comprometendo as necessidades de hidratação e nutrientes2.

A candidiase tem sido descrita em quatro apresentações clínicas distintas, a candidíase aguda pseudomembranosa (sapinho), que se caracteriza por placas brancas, observada com maior frequência em crianças, idosos, diabéticos e imunodeprimidos. Calcula-se que aproximadamente em 60% ou mais dos indivíduos sadios se pode isolar Candida. Todavia não está claro por que algumas pessoas podem ser portadoras e outras não, porém fatores nutricionais e interações com a microbiota bacteriana podem ser importantes3.

Vários fatores são citados como responsáveis pela ocorrência das candidíases, dentre aqueles relacionados ao hospedeiro estão: fase de crescimento do hospedeiro, mudanças de hábitos alimentares, higiene oral, doenças sistêmicas, alterações hormonais, certas drogas sistêmicas e locais, imunodepressão, deficiência na esterilização de utensílios, como mamadeiras, copos entre outros1, 4.

Objetivo

Este estudo teve como objetivo verificar a epidemiologia, os fatores de riscos para o controle da candidíase em crianças, com intuito de prevenir, controlar e levantar os dados epidemiológicos de candidíase nestes indivíduos.

Metodologia

Trata-se de uma revisão da literatura de aspecto narrativo. A revisão bibliográfica foi feita utilizando-se os sites: Google Acadêmico, Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), e as bases de dados da SciELO e Medline. Em artigos publicados em português no período de 2010 a 2014, utilizando-se como descritores: candidíase orofaríngea, Candida sp, crianças, epidemiologia da candidíase no Brasil, infecções fúngicas.

Resultado e Discussão

Frente aos fatores analisados e aos resultados obtidos com relação aos casos de candidíase que foram constituídos por vários artigos pesquisados, verificou-se que os possíveis fatores de risco para candidíase em crianças foram à falta de higiene bucal, a má esterilização de utensílios de uso comunitário, falta de higiene no tratamento em hospitais, falta de limpeza da chupeta e mamadeira, aleitamento artificial entre outros. Apesar dos programas existentes para o controle da candidíase, ainda há muito que se fazer nesta área, especialmente informações para que novos casos não venham surgir, pois a vários artigos que apontam que o tratamento é interrompido antes que a infecção seja combatida3, 4.

Epidemiologia

Pesquisas mundiais mostram que a variação geográfica é significativa na prevalência em crianças, mas nem sempre essa incidência de infecção tem relação com o desenvolvimento do país ou das condições climáticas, mas sim como estas crianças estão expostas os fatores de riscos5.

No Brasil estudos mostram a frequência de candidíase em crianças, relacionados com alta mortalidade e fatores de risco. Pesquisas sobre vigilância epidemiológica em UTIN em um hospital de Uberlândia, nos anos de 2007 a 2008, em que de 114 crianças, 45 foram positivas para candidíase. No estudo realizado por Borges et al., (2010), foi verificado que a colonização e infecção estavam relacionadas a fatores de riscos6.

A literatura relata fatores de riscos como: baixo peso, uso de antibioticoterapia prolongada, intubação endotraqueal, casos relacionados a esses fatores de riscos, como no estudo de Alsweihet al., (2010) em que 19 crianças com estas características, apresentaram esta patologia. A taxa de mortalidade em estudos retrospectivos no período de 1995 a 2006 foi de 4,0% que corresponde a 182 casos, sendo a taxa de mortalidade de 27,7%3.

Diagnósticos

Nos casos suspeitos de infecção fúngica, pela espécie da Candida exigem exames específicos para o diagnóstico confirmatório. Alguns deles são: isolamento e identificação direta do fungo da urina, ultrasonografia, culturas específicas para Candida sp entre outros. Essa identificação é verificada através de provas como as características bioquímicas e morfológicas dacolônia7.

A candidíase oral pode ser diagnosticada pelo aspecto clínico, visualização de leveduras e pseudo-hifas em exame microscópico de esfregaço da lesão, preparado com hidróxido de potássio a 10%. Os testes bioquímicos como o auxanograma e zimograma permitem a identificação das espécies. A candidíase invasiva pode ser diagnosticada através de isolamento do microrganismo de fluidos corporais (sangue, líquor, medula óssea) ou através de biopsia de tecidos. O achado de cultura negativa, entretanto, não afasta o diagnóstico de candidíase sistêmica. Culturas de material potencialmente contaminado, como urina, fezes ou pele, podem ser de difícil interpretação, mas servem de apoio ao diagnóstico5,8.

Tratamento

No tratamento da candidíase oral pode ser utilizado, nistatina suspensão ou tabletes, 500.000 a 1 milhão UI, 3 a 5 vezes ao dia, durante 14 dias, uso tópico. Em crianças, utiliza-se a suspensão oral na dose de 1 a 2 ml, três vezes ao dia, durante 5 a 7 dias ou até a cura completa. Como tratamento de 2ª escolha ou em pacientes imunocomprometidos, pode ser utilizado: cetoconazol, 200 a 400 mg, via oral, uma vez ao dia, para adultos. Em crianças, recomenda-se 4 a 7 mg/kg/dia, via oral, uma vez ao dia, com duração de tratamento entre 7 a 14 dias. Outra opção é fluconazol, 50 a 100 mg, via oral, uma vez ao dia, devendo ser evitado seu uso em crianças9,10.

Em pacientes que apresentam esofagite, recomenda-se isoconazol (nitrato), uso tópico, sob a forma de creme vaginal, durante 7 dias ou óvulo, em dose única; como 2ª alternativa, tioconozol pomada ou óvulo em dose única. Outras substâncias também são eficazes: clotrimazol, miconazol, terconazol, tioconazol ou nistatina, em aplicação tópica11.

Profilaxia

A prevenção de candidíase em crianças é de fundamental importância para que as medidas profiláticas sejam aplicadas com eficácia. Todos os casos diagnosticados devem ser tratados e entre os antibióticos utilizados no tratamento temos o fluconazol, que é um antifúngico eficaz no controle da colonização por Candida. O uso desse medicamento é indicado como uma importante droga na diminuição da incidência da infecção sistêmica e da mortalidade em crianças10,12.

Há um grande interesse na prevenção de Candida em crianças de baixo peso e recém nascidos, pois o tratamento é complicado e oferece grande risco de vida. Estudos de Colombo e Guimarães (2011), avaliaram o uso de fluconazol profilático em criança de baixo peso (<1.000g), obtiveram resultados rápidos, bastante promissores na prevenção, colonização, infecção e mortalidade12.

Apesar dos ótimos resultados dos antibióticos, há inúmeros argumentos para tentar reduzir a duração do tratamento com administração de antibióticos, incluindo minimização dos efeitos adversos decorrentes de seu uso, como proteção da microbiota, diminuição da resistência por parte do microrganismo entre outros. Há estudos que mostram que um período curto de antibióticos pode ser suficiente em algumas situações especificas envolvendo infecções do trato respiratório, infecções de pele, intra abdominais entre outras13,14.

Além do uso de antifúngicos no controle da candidíase em crianças, existem outras medidas eficazes que podem proteger a colonização e invasão da Candida spp. como: orientações das gestantes, esterilização adequada de materiais de uso comunitário, informações de higiene. E assim tentar evitar infecções como a infecção cutânea, pois ela pode evoluir para infecção invasiva congênita15.

Conclusão

A candidíase é um grande problema de saúde pública em crianças no Brasil. Em meio a esses casos existem vários fatores de riscos que propiciam a infecção de crianças por Candida sp, as medidas utilizadas no  tratamento devem ser formadas para precaver a incidência e proliferação de novos casos. Sugere-se que a melhor medida de controle é a reeducação dos pais e profissionais da saúde e educação para que possa ser feita campanhas de consentimentos e cuidados para evitar a contaminação com o fungo da Candida, desta forma desenvolver o conhecimento sobre a etiologia e fatores de riscos para reduzir a incidência das infecções no Brasil.

Referências

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  3. Barnes PD, Marr KA. diagnosis and outcomes of invasive fungal infections in haematopoietic stem cell transplant recipients. Brit J Haematol 2012;139 (5):19-531.
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  13. Nucci M, Maiolino. Infecções em transplante de medula óssea. Medicina, Ribeirão Preto, 2011;33 (2):278-293.
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