O MMC (Movimento de Mulheres Camponesas) se autodenomina como democrático, popular e feminista, com base teórica no socialismo.Desde o início, há mais de 20 anos o movimento prioriza reivindicações como a conquista de direitos trabalhistas para as trabalhadoras rurais, bem como combate à violência contra a mulher de um modo geral. O grupo também defende ideias como cultivo de alimentos saudáveis e políticas que favoreçam a preservação do meio ambiente.

Há mais dois anos o MMC protagonizou uma invasão polêmica no Rio Grande do Sul.Na época, cerca de 2.000 pessoas quebraram as instalações do horto florestal da Aracruz Celulose. Um dos motivos alegadosfoi denunciar os impactos ambientais causados pela Aracruz, devido à plantação de eucaliptos na região.Na ocasião, o gerente da empresa Renato Rostirola, em entrevista à Folha On Line, afirmou que ação comprometeuimportantes pesquisas sobre seleção de espécies.

ENTREVISTA

Dirigente do MMC defende a existência de outras correntes feministas

Para Luciana Piovezan não há um único pensamento feminista tido como verdade absoluta

Por Letícia Veloso

Uma das estratégias para combater o " patriarcado associado ao capitalismo" é o surgimento de organizaçõesfeministasque defendam os interesses das classes trabalhadoras, esta é a posição de Luciana Piovezan, dirigente nacional do Movimento de Mulheres Camponesas.Em entrevista exclusiva, a dirigente também falou sobre o mercado de trabalho,polêmicas como células-tronco e aborto, dentre outros temas.

1.Qual é sua avaliação a respeito da situação das mulheres no mercado de trabalho atualmente?

Mantém-se a mesma lógica de tripla jornada e exploração da mão-de-obra, ou melhor, da força de trabalho das mulheres. O mercado capitalista não é o espaço que trará a inclusão às mulheres, ele toma, em alguns casos, mais sutil a exploração e por outras frentes faz com que as mulheres tenham doenças, dores, diversos problemas de tanto trabalhar. A questão é que a divisão dos frutos do trabalho nunca são igualitárias, tanto para o dono e o empregado, como para homens e mulheres. Os estudos já comprovaram que mesmo exercendo a mesma profissão, mulheres ganham menos. Podemos dizer que avançamos no acesso ao mercado de trabalho, mas nunca no "controle".

2.Em sua opinião, a atual Gestão Federal tem beneficiado os interesses de entidades como o MMC?

Acreditamos que pode avançar muito mais, é uma questão de decisão política.

3.Qual é a posição do grupo em relação às questões como aborto e pesquisa com células tronco?

Estamos amadurecendo esses debates com as lideranças e com nossa base. O que afirmamos sempre é o direito que as mulheres devem ter sobre si, seu trabalho e suas relações.

4.Em sua opinião, é preciso haver mais movimentos feministas?

O patriarcado associado ao capitalismo deve ser enfrentado e combatido em todos os espaços e possibilidades, portanto, é muito importante que surjam, consolidem-se e amplie-se o trabalho com mulheres, novos movimentos e organizações feministas e com o recorte de classe. Nosso desafio é ter em rede, articuladas nossas ações para que não caiam no isolamento.

5.Quais movimentos precursores,  de caráter social e/ou feministas, têm influencido ideologicamente o grupo MMC?

Sempre afirmamos que uma das nossas bases centrais de identidade e luta é a vida concreta das camponesas, suas lutas cotidianas e políticas. Não entendemos que uma corrente única do feminismo esteja como a única verdade. Precisamos tirar lições para todas, mas afirmamos os elementos do campesinato e da luta de classes para repensar a ação política e ativa do feminismo como uma grande ação, instrumento das mulheres trabalhadoras. O que também podemos dizer é que temos muitas alianças, por entender a necessidade do trabalho articulado e conjunto, dentre elas: Via Campesina, Marcha Mundial de Mulheres, Articulação Nacional de Agroecologia, ONGs Feministas, alguns espaços governamentais...