Chamar Luís Vaz de Camões de clássico é fazer coro a muitos que dele já falaram. Porém, queremos chamar à atenção para alguns pontos neste ensaio. Escolhemos, para pautar nossa análise, dois sonetos, um deles extraído do livro "Inês de Castro e o velho do restelo" , e o outro, soneto de Camões. O primeiro editado em São Paulo há cinco anos e o segundo, em Portugal há aproximadamente 400 anos.
Os pontos que queremos destacar iniciam na recorrência do tema: embora seja Luís de Camões do período classicista, seu trabalho lírico traduz o amor neste soneto de maneira sublime, apontando as características que vieram influenciar tanto seus contemporâneos quanto períodos posteriores.  É barroco nas figuras de linguagem em que aponta oposições, onde "...é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é a dor que desatina sem doer", portanto pertinente à época em que foi escrito, sendo fiel ao estilo. Porém, pode-se ressaltar a solidão e o desprendimento amoroso da estrofe "é um não querer mais que bem querer; é solitário andar por entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é cuidar que se ganha em se perder", como características que vieram a pontuar, mais tarde, o período romântico.
 Camões questiona o bem que se pode fazer ao homem sentimento tão contraditório. O outro soneto que escolhemos para este estudo fala do mesmo tema sendo, como o primeiro, todo contradição:

Quem diz que o amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso

Reafirmando-se a seguir:

Amor é brando, é doce e piedoso,
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.

O poema ainda reforça suas contradições nos tercetos seguintes, pedindo os males que o provoca, se os provoca, serão bem-vindos, e mesmo sofrendo toda sua ira, por nada seria este dispensado.
Em Camões, a contradição acontece no próprio verso, contrapondo as características; neste segundo soneto, ela acontece ao longo das estrofes, compostas pelos versos.
Quanto aos aspectos formais, ambos apresentam rimas enlaçadas ou opostas , perfeitas , mas aparecem tanto pobres quanto ricas ao longo das estrofes .
Os poemas dialogam não apenas na temática, mas pela maneira como as idéias são expostas.
Podemos concluir que as características românticas viajam através dos tempos em obras distantes como as analisadas, pois apenas o tempo as separa: as características e a dialogia aproxima os sonetos mostrando a presença constante dos traços romênticos, independendo da época ou do estilo desta.