Bumba-Meu-Boi
Rivalidade amazônica

Em Parintins, quem não é caprichoso é Garantido. Os integrantes de um bumba nunca pronunciam o nome do outro (tratado apenascomo "contrário"). Durantea apresentação de um grupo, a torcida adversária fica em silêncio absoluto, sob pena de perder pontos na competição. Esse é o colorido Festival Folclórico de Parintins, na ilha amazônica de Tupinambarana.



O AUTO DO BUMBA-MEU-BOI


A festa surgiu com o ciclo econômico do gado e sofreu influência indígena, portuguesa e negra. A brincadeira é aberta a todos, homens e mulheres, idosos e crianças, e conta a história de pai Francisco e Catarina, sua mulher, que moravam em uma fazenda onde ele era vaqueiro e escravo.
Grávida, Catarina desejou comer língua do boi de estimação do rico fazendeiro e pede a seu marido que satisfaça sua vontade. Mesmo contrariado, Pai Francisco atende ao pedido da mulher para que o filho não nascesse com problemas de saúde.
Quando iniciou a matança, ele foi descoberto. O casal fugiu com o animal, mas, sendo aquele o boi predileto do patrão, iniciou-se uma busca. Depois de várias tentativas, os índios acharam os fugitivos e o boi morto. Por esta razão, Pai Francisco é condenado á morte e só é salvo porque um padre e um pajé ressuscitam o boi de seu amo (estes personagens podem ser uma feiticeira, uma mãe-de-santo, ou qualquer outro que tenha o domínio da magia).
Antes disso, Pai Francisco apanhou muito e foi obrigado a ajudar no trabalho de ressurreição. O animal, então ressuscitou com grande urro e o casal foi perdoado.
Surgiu uma festa com comidas, cantorias, danças à noite toda. Os instrumentos específicos da festa são matraca, zabumba e orquestra. Além desses existe o sotaque de Pindaré, também conhecido como pandeirões. Esta festa, encenada pelo povo maranhense, é também chamada de matança do boi branco, o negro e o índio presente no inicio da formação do Brasil.
Para MARQUES, essa ideia de valorização do boi, remete a uma mitologia em torno desse animal, suscitando um ciclo de rituais ? vida, morte e ressurreição do boi.
O boi como um animal indomável, que ninguém consegue amansar, mas que acaba sendo vencido e morto pelo mais valente dos vaqueiros. É assim que para o brasileiro rústico, o boi torna-se a encanação dos princípios alimentares, da resistência e da fertilidade, passando a significar tudo o que é necessário à vida.(MARQUES, 1999.P 72)

Na verdade, "[... ] em termos maranhenses, o bumba-meu-boi é quase uma oração [...] (AZEVEDO,1983.P66), pois, a brincadeira é realizada na intenção de homenagear São João através da organização do boi e do cumprimento de promessas feitas a esse santo.
A morte e ressurreição deste animal revela-se numa sátira, onde o negro e o índio lutam contra a opressão do branco.
Simbolizando a historiade luta do povo brasileiro, ressaltada na análise das personagens que revelam os traços dos três agentes étnicos e culturais presentes nas origens do brasileiro: o pai Francisco encarna o negro africano (dominado), o fazendeiro, dono do boi, representa o branco português (elemento, dominante), e o indígena, protagonizado nos índios que perseguem Chico. De acordo com CARVALHO (apud Barbosa, 2005),nesse confronto de classes, o elemento ameríndio perde sua identidade ao devolver o bem perdido (o boi) ao proprietário.
A homenagem do acontecimento pela vida do boi é manifestada através de músicas e danças, que se tornam fatores de alegria e descontração na festa do Boi. A recuperação do boi


Histórico e interpretação do auto do Bumba-meu-boi

O bumba-meu-boi tem suas origens no período colonial brasileiro, ligado no assunto, estes admitem a origem do bumba-meu-boi no período colonial brasileiro, ligado ao processo do ciclo do gado.

[...]: O bumba-meu-boi é originado do ciclo econômico do gado no Brasil, tendo realmente este folguedo a tríplice miscigenação, com a influência das raças responsáveis pela nossa colonização: o negro, o índio, e o branco. Os indígenas, como sabemos alimentam-se da caça e da pesca, por conseguinte não possuíam animais domésticos,. Supomos que a realização da colonização brasileira foi iniciada com a expedição de Martim Afonso de Sousa, tendo sido, pois, com eles, a vinda dos primeiros animais domésticos. Começa a criação de gado nos idos de 1934, com a iniciativa da esposa de Martim Afonso de Sousa, Ana Pimentel,trazendo as primeiras cabeças de gado para a capitania de seu marido (REIS, Apud Barbosa, 2005).

E dessa forma que o boi, ao longo do seu trajeto pelo interior do Brasil, disseminou e povoou gerações, narrando sua história e marcando sua importância, nutrindo populações, ajudando no trabalho duro da lavoura, e através do seu ciclo reprodutivo servindo de renda familiar. "[...] Mas também aparece como um elemento ativo e sempre presente passando a ser percebido pelos negros e índios, seus companheiros de trabalho, como símbolo de força, violência e resistências, assim como de equilíbrio, calmas e solidez. (MARQUES, 1999.P 72). Foi a partir deste processo simbólico de valorização do boi, que se originou a brincadeira do Bumba-meu-boi, pois se admitiu no seu processo de formação e desenvolvimento, a contribuição secreta dos três elementos étnicos e culturais: e a salvação da vida do Pai Francisco, é uma represália a tirania dos fazendeiros e senhores dono de engenhos na época colonial.