Eduardo Veronese da Silva[1]

Assistindo uma palestra para educadores no município de Cariacica/ES, ministrada pela professora Luiza Mitiko Yushiguro Camacho, foi apresentado o resultado de uma pesquisa realizada sobre violência, com o propósito de comparar o comportamento entre alunos de duas escolas: uma da rede pública e outra da rede privada de ensino. O público alvo tratava-se de alunos da 6ª a 8ª séries do ensino fundamental. As comparações se deram pela forma de agressividade praticada por esse público estudantil. Nesse sentido, apresentam-se algumas variantes da pesquisa:

Escola da rede particular: foi observada uma violência praticada por grupos de alunos, onde preponderava a violência verbal, ou seja, uma violência sem agressões físicas. Sua ocorrência se dava no ambiente ou espaço interno da escola, constatando-se flagrante discriminação contra os feios, gordos, moradores de bairros pobres, contra alunos inteligentes e de boa aparência física ou de melhor condição financeira.

Escola da rede pública: a violência era praticada por grupos de alunos diferentes, que se destoavam dos demais (mais obesos, mais fortes, mais bagunceiros, maiores e mais velhos), contra os alunos menores, mais jovens, impotentes e mais fracos. Nesse ambiente, segundo a professora, imperava a agressão física. E ocorria de forma explícita e visível, tanto no espaço físico como também no entorno da escola.

Nota-se que em ambas as instituições de ensino, os atos de violência apresentados caracterizam-se e amoldam-se de uma agressividade que cresce vertiginosamente entre os estudantes – o bullying. Termo que surgiu na década de 80 na Noruega, comportando o significado de "valentão", usada para descrever a violência física e/ou psicológica, intencional, repetida e praticada por um ou mais indivíduos.

O cientista sueco – Dan Olweus trabalhou por muito tempo em Bergen, na Noruega, e definiu o bullying em três formas principais: 1. O comportamento é agressivo e negativo; 2. É executado repetidamente e de forma continua; 3. Em regra, decorre de relacionamentos onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

Recentemente, foi noticiado pelo programa Profissão Repórter, o caso de um jovem de 16 anos, que vinha sofrendo por três anos consecutivos, com o assédio de colegas na escola em que estudava. Não suportando tamanha humilhação e sofrimento, decidiu por fim a esta agressividade, interrompendo de forma trágica a trajetória de sua vida, suicidou-se.

Um caso de grande violência praticada dentro de uma escola ficou conhecido como "O massacre de Columbine High School". Escola famosa por ser conservadora e privilegiar os jogadores dos times de futebol americano, beisebol e basquete. Foi esse o estopim para a tragédia.

Eric Harris, 18 anos, e Dylan Klebold, 17 anos, eram aparentemente adolescentes típicos de um subúrbio americano de classe média alta e moravam em casas confortáveis. Devido pertencer a um grupo intitulado de "Máfia da Capa Preta"[2], por usarem longas capas de cor preta mesmo na época do verão, eram ridicularizados pelos atletas esportivos. Certo dia entraram na escola secundária com armas de grosso calibre escondidas por debaixo das capas e começaram a atirar nas vítimas, matando pelo menos 13 pessoas (doze alunos e um professor), e em seguida se suicidaram.

Segundo registra o site http://www.columbine.hpg.ig.com.br"Os dois jovens eram ótimos alunos e de boa família, mas não eram populares na escola. Preferiam os computadores às quadras de esporte. Solitários, vestiam-se de preto da cabeça aos pés, sendo constantemente ridicularizados pelos atletas. Desta forma, remoíam planos para se vingarem, extravasando suas raivas na internet".

Por certo, algumas formas de agressões são praticadas intencionalmente, de forma constante, e principalmente, durante todo o transcorrer do ano, como por exemplo, alcunhas jocosas, espalhar boatos difamatórios, criticar o modo de falar e se vestir ou aspectos socialmente significativos (religiosidade, etnia, cultura, orientação sexual etc.) podem vir a afetar o estado físico e psicológico da vítima. Segundo leciona Maria Irene Maluf, especialista em psicopedagogia e em educação especial:

A situação é alarmante: hoje, uma das mais constantes queixas que se encontra nas escolas, [...], é a dificuldade de se lidar com esse potencial instintivo que parece ter renascido com toda força no final do século XX. [...], envolvendo uma forma de afirmação de poder através de atitudes onde a agressividade intencional, repetitiva, ultrapassa a brincadeira entre iguais.[...], estudos têm mostrado que é necessária uma interação complexa de fatores que elevam o risco [...] de condutas violentas nas crianças e jovens, para que o bullying apareça: ter vivido ou sofrido violência, abuso sexual, físico, excessiva exposição à violência através de jogos, televisão, uso de drogas, fatores socioeconômicos prejudicados, família desestruturada, problemas psiquiátricos, entre outros.

Outro caso triste ocorreu com o jovem Jeremy que se matou em 8 de janeiro de 1991, aos 15 anos de idade. O suicidio ocorreu dentro da sala de aula numa escola na cidade de Dallas – Texas, nos Estados Unidos, em frente a 30 colegas e da professora de inglês, como forma de protesto pelos atos de perseguição que sofria constantemente. Esta história inspirou a música Jeremy, interpretada por Eddie Vedder, vocalista da banda estadunidense Pearl Jam.

Nesse sentido, registra-se outro caso extremo envolvendo a violência sob a forma de bullying:

O fato se deu no pátio de uma escola secundária, sendo que oaluno do 8º ano chamado Curtis Taylor, na cidade de Iowa, nos EUA,foi vítima de bullying contínuo por três anos, o que incluía alcunhas jocosas, ser espancado num vestiário, ter a camisa suja com leite achocolatado e os pertences vandalizados. Tudo isso acabou por levá-lo ao suicídio em 21 de março de 1993.

Nota-se que os casos de violência praticadas dentro das escolas, tem sua maior incidencia nos estados americanos, mas, infelizmente, tem se alastrado por outros paises, inclusive em outros continentes. Nesse passo, o jornal A Tribuna/ES, trouxe duas matérias recentes (dia 30/04 e 01/05) acerca de um fazendeiro e um desempregado chinês, que invadiram escolas locais e agrediram diversas crianças.

O primeiro, identificado como Wang Yonglai, entrou em uma escola primaria na cidade de Weifang, leste do país. Em seguida, agarrou-se a duas crianças e ateou fogo em seus corpos. Cinco crianças ficaram feridas, mas nenhuma em estado grave. Enquanto que o autor desse ato insano veio a falecer.

O segundo caso, envolveu um homem de 47 anos, desempregado, que invadiu um jardim de infância e feriu 28 crianças e três adultos com uma faca. O fato se deu na provincia de Jiangsu, no leste da China.

Estes dois fatos ocorridos na China destoam totalmente do cometimento da violência caracterizada como bullying. Para tanto, realçam os inúmeros casos de violências que estão sendo praticadas no ambiente escolar. Por certo, medidas urgentes devem ser implantadas para que se evitem tragédias como a de Columbine e outras registradas em varias partes do mundo.

Conclui-se que o bullying ultrapassa o plano físico e estrutural das escolas, alcançando também, o plano físico e psicológico de nossas crianças e adolescentes. Os autores e as vitimas são de todas as idades, afetando em sua grande maioria, pessoas do universo escolar, mas, esta violência tem avançado vertiginosamente para outros setores da sociedade.

EDUARDO VERONESE DA SILVA

Licenciatura em Educação Física – UFES.

Bacharel em Direito – FABAVI/ES.

Mentor e Facilitador do Programa Educacional de Resistência às Drogas – PROERD.

Subtenente da PMES.

Email: [email protected]


[1] Licenciatura Plena em Educação Física – UFES; Bacharel em Direito - FABAVI/ES; Mentor e Facilitador do Programa Educacional de Resistência às Drogas – PROERD. Subtenente da PMES. Email: [email protected]

[2] Máfia da Capa Preta. Cultuavam alguns elementos da cultura gótica, como uma espécie de paixão e atração pela morte, vestimenta de roupas pretas e maquiagem pesada.