Bullying, um desafio para o século XXI

Wesley Alessandro Vieira Gramosa

 

RESUMO

 

A violência escolar atualmente divulgada como fenômeno bullying é um problema mundial que vem preocupando pais e estudiosos em todo o mundo. Está latente e freqüente nas relações interpessoais por meio de atitudes inadequadas entre estudantes, comportamentos agressivos e antissociais adotados por um ou mais indivíduos contra outro(s). Pode ser encontrado em toda instituição escolar, seja pública ou privada, independente de classe social, envolvendo estudante de todas as idades, pode, muitas vezes, denotar brincadeira, mas seus efeitos podem trazer sérias consequências emocionais e cognitivas. Há necessidade de encarar a problemática tal como ela é, descartando a hipótese do ato ter sido uma brincadeira de criança típica da idade. Muitas vezes, de forma deliberada e intencional, a violência é planejada e contínua, acarretando marcas significativas em suas vitimas, fato que dificulta a condução da situação e até mesmo sua superação.

 

 

Palavras-Chave: relação interpessoal, Bullying. Escola.

 

 

 

ABSTRACT

 

 

School violence currently reported as bullying phenomenon is a global problem that worries parents and scholars around the world. Is latent and frequent interpersonal relationships through improper attitudes among students, aggressive and antisocial adopted by one or more individuals against another (s). Can be found throughout the school, whether private or public, regardless of social class, involving students of all ages can often denote a joke, but its effects can have serious emotional and cognitive consequences. There is a need to face the problem as it is, discarding the hypothesis of the act was a typical child's play of the age. Often, a deliberate and intentional, planned and violence is continuing, leading to significant marks on his victims, a fact that complicates the conduct of the situation and even overcome it.



Keywords: interpersonal relationships, bullying. School.

 

 

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Tendo em vista que o termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, uma forma de gerúndio, que significa valentão, brigão. Como verbo, quer dizer ameaçar, amedrontar, tiranizar, oprimir, intimidar, maltratar. Também encontramos a seguinte definição no dicionário Merriam-Webster (2008) a palavra bullying vem do verbo bully, que por sua vez significa: 1 - tratar abusivamente; 2 - afetar por meio de força ou coerção e tem por sinônimo intimidar.

No Brasil, alguns estudiosos denominam o fenômeno como violência moral, vitimização, incivilidade ou maus tratos, mas também podemos definir bullying em atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que pode manifestar-se de várias maneiras: física, verbal, moral, sexual, psicológica, material e virtual. Tais atitudes ocorrem sem motivação evidente e causam intimidações, humilhações, constrangimentos, angústia, medo, vergonha, sendo capazes de traumatizar os envolvidos, principalmente as vítimas, acarretar dor, efeitos emocionais além de prejuízo material, físico ou de aprendizado.

A dimensão da temática exige discussões e divulgação, visando estabelecer intervenção efetiva para evitar sua propagação e consequências. Representada por um desequilíbrio de poder, dificulta a defesa da vítima e pode desencadear consequências graves aos envolvidos. Indubitavelmente, os alunos são afetados negativamente e experimentam variados sentimentos e emoções, fato que indica o fenômeno bullying como uma agressão emocional.

Sendo o bullying um tipo de violência escolar que ocorre sutilmente e principalmente entre colegas da mesma faixa etária, é de suma importância identificar os papéis que caracterizam este fenômeno para entender as ações dos evolvidos, a fim de bloquear tais condutas de intimidação e transgressão.

 

 

 

 

 

 

BULLYING

 

Costantini (2004) e Fante (2005) afirmam que o fenômeno bullying começou a ser pesquisado há cerca de dez anos na Europa. No entanto, é importante registrar que o emprego da palavra bullying pode ser considerado um termo recente para um fenômeno antigo, uma vez que os movimentos de desrespeito e intimidação sempre existiram não só na escola, mas em outros contextos, alcançando até mesmo a esfera virtual.

 

 

Alvos ou vítimas de bullying

 

São os sujeitos expostos, de forma repetida e por longo período, às ações negativas impostas por um ou mais alunos que, geralmente, apresentam alguma característica distinta do grupo, como por exemplo, deficiência física, aspectos étnicos, culturais, religiosos, físicos (obesidade, magreza, estatura baixa/alta, nariz comprido, orelha avantajada, etc.) ou comportamentais (timidez, gagueira, etc.) tornando-se mais vulneráveis. Por apresentar falta de habilidade social, insegurança e passividade não conseguem reagir aos atos de provocações e agressividade. Sofrem em silêncio ou pela correlação de forças.

Para Fante e Pedra (2008), são características das vítimas:

As vítimas típicas são aquelas que apresentam pouca habilidade de socialização, são retraídos ou tímidos e não dispõem de recursos, status ou habilidades para reagir ou fazer cessar as condutas agressivas contra si. Geralmente apresentam aspecto físico mais frágil ou algum traço ou característica que as diferencia dos demais. Demonstram insegurança, coordenação motora pouco desenvolvida, extrema sensibilidade, passividade, submissão, baixa auto-estima, dificuldade de auto-afirmação e de auto-expressão, ansiedade, irritação e aspectos depressivos. No entanto, é preciso salientar que o fato de algum aluno apresentar essas características não significa que seja ou venha a ser vítima de bullying. (p.59)

 

Ampliando a questão, Neto (2005) mostra que é importante destacar:

 

 

O medo, a tensão e a preocupação com sua imagem podem comprometer o desenvolvimento acadêmico, além de aumentar a ansiedade, insegurança e o conceito negativo de si mesmo. Pode evitar a escola e o convívio social, prevenindo-se contra novas agressões. Mais raramente, pode apresentar atitudes de autodestruição ou intenções suicidas ou se sentir compelido a adotar medidas drásticas, como atos de vingança, reações violentas, portar armas ou cometer suicídio (p.166).

 

Muitas crianças vítimas de bullying desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos e geralmente evitam retornar à escola. Esta violência psicológica sofrida pode causar fobia escolar. Outro fator que merece atenção é que a maioria dos casos de bullying ocorre no interior das salas de aula, sem o conhecimento do professor. (NETO, 2005).

Segundo Olweus (1993), quatro são as características frequentes nos episódios de bullying: comportamento violento, produção de danos, ações repetidas e continuadas com o passar do tempo e relação interpessoal caracterizada por um desequilíbrio de poder ou força.

 

 

Autores ou vítimas provocadoras de bullying

 

Para Fante e Pedra (apud Olweus 1998, 2008), os autores podem apresentar dois perfis, a saber:

Vítimas provocadoras:

São aqueles alunos que agem impulsivamente, provocando os colegas e atraindo contra si as reações agressivas, contra as quais não conseguem lidar com eficiência. Por isso acabam vitimizados. Geralmente, são imaturos, apresentam comportamento dispersivo e dificuldade de concentração. Apresentam comportamento irritadiço, provocador, irrequieto, buliçoso, dispersivo, ofensor; intolerante, de costumes irritantes e quase sempre são responsáveis por causar tensões no ambiente em que se encontram. (p.59,60).

 

Com relação às vítimas provocadoras, na maioria das vezes, elas são responsáveis por conflitos e tumultos. Contudo não conseguem lidar com as repercussões de seus atos (OLIBONI, 2008).

 

 

Vítimas agressoras:

São aqueles alunos que são ou foram vitimizados e que acabam reproduzindo os maus-tratos sofridos. (FANTE E PEDRA apud OLWEUS 1998, 2008, p.60)

Sob a forte influência da mídia, incorporada ao cotidiano dos indivíduos, manipulam-se e impõem-se valores, as pessoas adquirem uma identidade que se desvanece. Perante os conflitos identitários de uma realidade virtual, da inteligência artificial, da robótica e de outros inventos, as relações interpessoais e sociais são afetadas.

No entanto, a questão que determina o fato, não pode ser desvelada de forma rasa e definida. A causa não é interna, mas uma questão política e social de um dado momento histórico.

 

 

Autores de bullying (agressores)

 

Sujeitos que praticam bullying, geralmente são populares no grupo, usam seus poderes de liderança negativa para persuadirem seus pares de forma deliberada e insensível, agem e estimulam atos de intimidação, perseguição, humilhação, desrespeito, agressões com o intuito de provocar as vítimas. Para Fante e Pedra (2008):

São aqueles que se valem de sua força física ou habilidade psicoemocional para aterrorizar os mais fracos e indefesos. São prepotentes, arrogantes e estão sempre metidos em confusões e desentendimentos. Podem ser alunos com grande capacidade de liderança e persuasão, que usam de suas habilidades para submeter outro(s) ao seu domínio [...] Para continuar com seu comportamento, os bullies necessitam da confusão, do medo e da sensação de impotência dos que pretendem transformar em suas vítimas, bem como do silêncio dos que estão ao ser redor. ( p.60,61).

 

 

 

 

 

 

Testemunhas ou espectadores de bullying

 

São os sujeitos espectadores do fenômeno, representam a maioria do grupo, não sofrem nem praticam bullying, mas assistem aos atos de intimidação, perseguição, humilhação, desrespeito, agressões etc. São afetados por esse ambiente atroz, mas, apesar de incomodados e sensibilizados, muitas vezes se eximem para não serem expostos e futuras vítimas. Alguns podem ficar inseguros e apreensivos na convivência entre seus pares, podendo desencadear prejuízos sociais e acadêmicos.

Fante e Pedra (2008) complementam que precisamos ficar atentos, pois:

[...] Outros as apoiam e incentivam dando risadas, consentindo com os agressores. Outros fingem se divertindo com o sofrimento das vítimas, como estratégia de defesa. Esse comportamento é adotado como forma de proteção, pois temem tornarem-se as próximas vítimas (p.61).

 

É importante destacar que crianças e adolescentes podem ser identificados como vítimas, agressores ou testemunhas de acordo com seu posicionamento frente às situações de bullying, mas dificilmente invertem os papéis.

 

 

BULLYING NA ESCOLA

 

A escola, local histórico de favorecer o aprendizado, precisa atentar aos pressupostos dos seguintes documentos legais: Constituição da República Federativa do Brasil, Estatuto da Criança e do Adolescente, Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (1990), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e Parâmetros Curriculares Nacionais. Nestes documentos estão previstos os direitos ao respeito e à dignidade, sendo a educação entendida como um meio de prover o pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania.

Diante do posto, enfrentamos a problemática do descompasso entre os aportes legais que regem a educação, políticas públicas e as práticas efetivas e afetivas desenvolvidas nas escolas, pois o cotidiano escolar sofre significativo reflexo dos impactos das relações sociais, principalmente no que tange às questões sobre violência e indisciplina.

Segundo Sposito (1998 e 2001), a escola não vive um quadro generalizado de violência; os episódios ocorridos no interior das instituições, na maioria das vezes, são práticas veladas e frequentes, que não se caracterizam como atos de criminalidade ou delinquência, mas sim como incivilidades, indisciplina e também mecanismos relativos à violência simbólica presente na relação pedagógica.

A ocorrência de bullying entre os estudantes ocorre na maioria das escolas, sendo imprescindível o olhar atento de gestores, educadores e demais agentes educativos aos movimentos de violência no ambiente escolar, para que as intervenções sejam rápidas e efetivas.

Caso haja desconhecimento, negligência e omissão do fenômeno, a escola tornar-se-á espaço vulnerável, contaminado e de fácil propagação de práticas do bullying. A dificuldade no desenvolvimento de ações eficazes devido à sua identificação, complexidade e ausência de medidas sócio-educativas para o combate do comportamento agressivo, tende a estimular a reprodução da conduta em outros alunos, contribuindo, assim, para sua disseminação.

O contexto relacional-afetivo produzido pelo fenômeno bullying advém, inexoravelmente, de um grupo fechado e com sinais de fragilidade nas relações interpessoais, sendo priorizadas experiências negativas, nas quais as relações internas entre os pares se cristalizam em rituais e atitudes inadequadas de desrespeito, intimidação, desvalorização e até mesmo agressão, que podem afetar o rendimento escolar e frequência às aulas, além de provocar isolamento social e marginalização da vítima.

 

 

 

BULLYING NA MÍDIA

 

Os veículos de comunicação de massa, prioritariamente a televisão, têm o poder de transmitir padrões pré-estabelecidos de uma sociedade. Muitas vezes, exemplos de comportamentos inadequados e agressivos são enfatizados e valorizados, estimulando seu telespectador a tais práticas/condutas, o que contribui para a adoção de uma padronização do comportamento. A exibição de desenhos e filmes que enfatizam deliberadamente a prática de bullying, de forma direta ou indireta/velada, reforça a imagem positiva dos valentões, transformando-os em populares da turma que devem ser seguidos. Rappaport afirma que (1981):

Não há dúvida de que a família e os companheiros sejam agentes socializadores fundamentais. Mas, atualmente, não podemos menosprezar os meios de comunicação de massa, notadamente a televisão como transmissores de atitudes, normas e valores. (p. 100)

É inevitável citar que a sociedade exerce sobre seus indivíduos uma força externa que molda e homogeneíza o comportamento em várias situações, por isso a escola precisa atentar aos movimentos que caracterizam o sujeito apto e integrado socialmente.

Há também a força da mídia que é velada, e estabelece padrões identitários que quando não são incorporados, dão o mote para o bullying. Como exemplo, podemos citar as propagandas que veiculam o ideal magro, alto, família estruturada, alto poder aquisitivo etc.

 

 

ESTUDOS CORRELACIONADOS

 

No Brasil, segundo a ABRAPIA (2004), os reflexos dos estudos a respeito do bullying realizados na Europa surgiram recentemente.

Canfield, em 1997, observou os comportamentos agressivos apresentados por crianças em quatro escolas de ensino público em Santa Maria/RS, usando uma forma adaptada por sua equipe, do questionário de Olweus de 1989 (CANFIELD et al apud FANTE, 2005)

A ABRAPIA (2004) desenvolveu o Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, objetivando investigar as características desses atos entre 5.875 alunos, de quinta à oitava série do Ensino Fundamental, entre 10 e 19 anos, de 11 escolas do município do Rio de Janeiro, entre elas 9 municipais e 2 particulares, da zona sul e norte. O resultado apresentou que 40,5% dos alunos entrevistados admitiram estar envolvidos em casos de bullying, no qual 16,9% eram alvos deste tipo de agressão, 10,9% se caracterizavam como vítimas e autores, 12,7% como autores, o que demonstra que o índice de agressividade dos alunos em convívio escolar é consideravelmente alto.

Martins (2000) realizou pesquisa em uma escola particular do interior do estado de São Paulo e alerta que o bullying não é um fenômeno exclusivo de escola pública e independe da classe social. Indica que 32% alunos são vitimizados, o que comprova os estudos de Olweus que o bullying é democrático e atinge em média 30% da população jovem em idade escolar (OLWEUS, 1993).

Cheffer (2004) descreveu que parte de sua pesquisa sobre a temática, de natureza quantitativa e qualitativa foi elaborada a partir da readaptação do questionário de Olweus, contendo treze questões.

Foi realizada com 240 alunos de quinta a oitava série de uma escola pública de uma cidade do norte do Estado do Paraná, a fim de caracterizar o perfil das vítimas. O estudo ainda não concluído, apontava preliminarmente que o bullying, além de uma caracterização geral, está relacionado à ideologia da dominação da sociedade, ou seja, é formado pela dialética entre indivíduo e sociedade, compondo um comportamento específico e corresponde à mesma.

Estudos pioneiros realizados na região de São José do Rio Preto, com um grupo de 2.000, de escolas públicas e privadas, mostraram o envolvimento de 49% estudantes em bullying. Desses, 22% atuavam como vítimas, 15% como agressores e 12% como vítimas agressoras, aquelas que reproduzem a vitimização. (FANTE, 2005).

No município do Rio de Janeiro, outro estudo foi realizado com um grupo de 5.875 estudantes de nove escolas públicas municipais e duas escolas particulares, revelando o envolvimento de 40,5%. Desses, 17% eram vítimas, 13% agressores e 11% vítimas agressoras. (FANTE, 2005).

Outro caso citado pela autora e muito veiculado pelos meios de comunicação na época, aconteceu em janeiro de 2003, cidade de Taiúva, no interior de São Paulo. O aluno Edmar Aparecido Freitas, de dezoito anos, que era constantemente alvo de bullying, invadiu a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Coronel Benedito Ortiz, armado com um revólver de calibre 38 carregado com seis balas e uma caixa com mais 90 e atirou em seis alunos, uma professora e o caseiro. (FANTE, 2005).

Em 2004 foi criado um projeto para prevenir ou combater o bullying no CAp/IAp-UERJ, visando avaliar a agressividade dos alunos. Os mesmos responderam a um questionário adaptado ao modelo do professor Olweus. Os resultados apontaram que 40% dos alunos admitiram ter praticado algum ato de agressão a outro aluno dentro do instituto.

Nogueira (2007), que analisou o fenômeno da violência visando captar o olhar dos adolescentes sobre a questão, alerta que este fenômeno pode ser tratado como indisciplina. Assim, identifica a importância da reflexão sobre o assunto no contexto escolar, sobretudo com os educadores, para que os mesmos se conscientizem da necessidade do olhar atento às questões relacionais de seus alunos e intencionalizem ações para minimizar as práticas de violência entre pares ou o bullying na escola.

Vereda (2007) e Hornblas (2009) realizaram pesquisa sobre a visão do aluno adolescente a respeito do apelido pejorativo na escola, sob a ótica da teoria psicogenética de Wallon e seus pressupostos teóricos sobre afetividade. As pesquisas revelaram que os apelidos são atribuídos muitas vezes por brincadeira, mas, intrinsecamente, podem estar carregados de objetivos preconceituosos e discriminatórios, fato que pode acarretar sofrimento psicológico.

É importante destacar que esses trabalhos interessam particularmente à minha pesquisa, pois utilizam o referencial walloniano, que é também meu referente teórico.

Pupo (2007) analisou representações que estudantes têm sobre a violência moral sob a forma de pressões psicológicas presentes nas relações interpessoais entre os estudantes, com perseguições sistemáticas de humilhações, ofensas, ameaças e exclusão no contexto escolar. Participaram 96 adolescentes do oitavo ano do Ensino Fundamental e do segundo ano do Ensino Médio, em quantidade igual de gênero de duas escolas, uma pública e outra privada. Utilizou a resolução de conflitos numa cena do cotidiano escolar que envolvia violência moral. O resultado mostra diferenças entre os gêneros em relação ao fenômeno da violência moral e definiu que os atos intimidatórios, violentos e agressivos, ocorrem nas relações cotidianas entre os alunos, no fundo das salas de aula e nas conversas paralelas durante a aula, trocas das mesmas e intervalos; os apelidos podem estar carregados de preconceitos e discriminação e alunos com características físicas distintas do grupo podem ser alvos de perseguição e gozação.

Do exposto, constata-se que os diferentes contextos e dimensões do problema, bem como sua complexidade, são relevantes para facilitar o entendimento e a atuação das práticas do fenômeno bullying. Em níveis nacionais e internacionais, estudiosos direcionam seus estudos acerca do tema, preocupados não somente em entendê-la, mas, principalmente, na elaboração de estratégias de prevenção e combate à ocorrência da violência nas escolas, a fim erradicar tais práticas e entre os pares.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ao aceitarmos que a escola deve ser um espaço que proporcione o desenvolvimento do aluno em suas dimensões cognitivo-afetivo-motora, entendemos que cabe a ela não só propor objetivos com relação à construção de conhecimentos, mas referentes ao desenvolvimento integral do aluno. Wallon alerta que as dimensões estão intimamente entrelaçadas, e ao trabalhar uma delas, promovemos um lastro para as demais.

A escola é um meio funcional privilegiado, pois favorece, ao lado do acesso ao conhecimento histórico acumulado, um encontro com relações diferenciadas daquelas até então vivenciadas no âmbito familiar.

Por essa razão, na escola, os sentimentos também precisam ser acolhidos e considerados na constituição da pessoa, levando-se em conta o meio em que está inserida. Identificar e reconhecer os sentimentos que afloram nas situações de conflitos naturais nas relações interpessoais, permite às crianças e jovens compreender suas causas assim como compreender os sentimentos e as razões de seus pares. A ocorrência de conflitos no contexto escolar é natural, porque as relações interpessoais implicam num embate de subjetividades. Os conflitos podem agravar-se gerando, muitas vezes, consequências destrutivas ou trágicas para os envolvidos.

A ação do fenômeno bullying não ocorre só na esfera escolar, mas em outros contextos, podendo perpetuar-se até a idade adulta na forma de assédio. Essa foi a razão de termos proposto como objetivo de estudo o fenômeno bullying na forma de intimidação.

É importante retomar que toda e qualquer atividade entre pares não pode ser considerada como prática do fenômeno bullying. Reforçamos que o que a distingue é o seu caráter repetitivo e intencional, que afeta os envolvidos sejam eles vítimas, agressores ou espectadores.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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