TARCIANE CARACAS¹

ALEX PEREIRA MARQUES

THAÍS DE CASTRO SEVALHO²

Instituto Dados da Amazônia - IDAAM

Universidade Gama Filho

Área de Humanas

Manaus - AM

RESUMO – O Bullying é um problema mundial que já vem se arrastando ao longo dos anos, na maioria das vezes de forma oculta e atinge principalmente o ambiente escolar, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição. Defini-se como um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outros. O Bullying pode ser manifestado em qualquer lugar onde existam relações interpessoais e não só na escola. As conseqüências deste fenômeno podem trazer danos na vida escolar e até psicológicos aos indivíduos envolvidos, tornando-os adultos com comportamentos anti-sociais, sendo eles agressores, agredidos ou espectadores. Existe um programa implantado em uma escola de São Jose do Rio Preto no Estado de São Paulo que tem por finalidade desenvolver uma estratégia antibullying na tentativa de reduzir este fenômeno, chama-se "Programa Educar Para a Paz". Programas como este devem ser desenvolvidos nas escolas com o objetivo de levar informações a respeito de tal assunto à comunidade deixando-a informada e preparada para lidar com este fenômeno que atinge todos os níveis sociais.



1Introdução

A abordagem a este tema tem como objetivo refletir sobre as conseqüências causadas pelo Bullying no processo de aprendizagem dos estudantes, analisando como os mesmos interagem entre o conhecimento e a realidade da relação entre eles.

Compara-se a paz necessária ao ensino com a indispensável relevância à vida humana. Saúde não significa a ausência de doenças, mas uma condição dinâmica de funções importantes que se realizam e se recompõem. Isso fica explícito quando, por exemplo, nosso corpo supera problemas e intoxicações sem deixar que se agravem. Do mesmo modo, paz não é ausência de conflitos, mas a capacidade de evitá-los e resolvê-los. Uma escola poderá gerar harmonia se decidir enfrentar seus dilemas para fazer o que dela se espera: formar o educando que recebe promovendo conhecimentos, habilidades e valores. Essa analogia não se restringe apenas ao lado positivo na formação do estudante, pois da mesma forma que frustrações comprometem a saúde pessoal, a tranqüilidade é ameaçada numa situação em que o estudante não aprende quando se sente privado pelas provocações causadas em sala de aula.

Geralmente, a prática do Bullying se concentra na combinação entre a intimidação e a humilhação das pessoas, basicamente mais passivas ou que não possuem condições de exercer o poder sobre alguém ou sobre um grupo. Em outras palavras, é uma forma de abuso psicológico, físico e social. Falando especificamente do ambiente escolar, grande parte das agressões é psicológica, ocasionada principalmente pelo uso negativo de apelidos e expressões pejorativas.

Com isso faz-se necessário uma reflexão sobre a educação dos nossos filhos ou alunos diante do complexo mundo em que vivemos e também sobre o nosso papel, como educadores, na diminuição dos casos deste fenômeno tão comum nas instituições de ensino, mesmo que em alguns casos implícito. Nosso objetivo não é esgotar o assunto, mas gritar alto para que todos possam ouvir e perceber o quanto este acontecimento corriqueiro deve ser notado e receber tratamento adequado.

Tal tema nos chamou a atenção porque vem despertando cada vez mais o interesse de profissionais da área da educação, a fim de encontrar soluções que possam interferir de forma sutil no processo de eliminação do Bullying.

1.1Conceito e origem da palavra Bullying

Bullying é uma palavra de origem inglesa que significa usar o poder para intimidar, excluir, humilhar e perseguir os outros. O que hoje reconhecemos como Bullying, era visto no passado como fatos isolados, e normalmente a família e a escola não tomavam conhecimento, portanto não resolviam o problema.

Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de definir toda e qualquer situação de Bullying possíveis, relacionamos algumas ações que podem estar presentes: Colocar apelidos, ofender, zoar, assediar, roubar, empurrar, agredir, discriminar, dominar e entre outros.

O próprio conceito de Bullying parece um tanto peculiar, pois ele exerce certo papel de adaptação, ao classificar a barbárie, e pretensamente o controla por essa via, colocando tudo em seu lugar, tenta arrumar e justificar aquilo que fere a ideologia democrática, e acaba por mascarar as tensões e contradições que estão na base da própria barbárie.

1.2Ausência de valores gera o Bullying

Não devemos esquecer que o lar é o autêntico formador de pessoas. Os jovens aprendem continuamente através dos seus pais, não só o que estes lhes contam, mas também, sobretudo, pelo que vêem neles, como atuam, como respondem perante os problemas. Em definitivo, os jovens observam e copiam o proceder dos seus pais perante a vida. A autêntica educação dos valores transmite-se, passa dos pais para os seus filhos desde o dia do nascimento até ao final da vida. Os valores são repassados através do exemplo, mas assentam com força, graças à compreensão de que são necessários.

A descoberta de valores corresponde aos imateriais, aos do espírito, aos que fazem referência à verdade, ao bem e à beleza. São três tipos de valores estreitamente relacionados entre si, porque verdade, bem e beleza são os termos inseparáveis de um trinômio. Se tentarmos separá-los, encontraremos com uma verdade má e feia, com um bem feio e falso, com uma beleza falsa e má.

Atualmente o jovem não é mais visto apenas como um mero receptor de informações, a escola tem por finalidade fazer com que ele aprenda tanto os conteúdos programáticos, como tem  a preocupação de tornar o seu aluno um ser com características morais bem desenvolvidas. De forma que os valores morais sejam absorvidos pelos alunos, o professor pode se utilizar de propostas pedagógicas que fazem parte da realidade deles, aproveitar situações ocorridas em sala de aula, servem  como bons exemplos.

Em todos os ambientes onde pessoas se encontram sejam eles: trabalho, família, igreja, tribos, estabelecimentos comerciais e demais lugares, acontecem  relações interpessoais.  Nas instituições escolares elas também demonstram e originam, muitas vezes, certas contrariedades entre seus agentes. Acontece que nestas relações há sempre um mais forte - ou que pelo menos demonstra ser assim -  e nessa ânsia pelo poder, o suposto mais forte, busca sua ou suas vítimas, através das quais seu domínio será praticado. Uma vez escolhida à vítima, o agressor irá ridicularizá-la perante os demais colegas. Algumas pessoas acham por bem assistir a tudo como se nada estivesse ocorrendo - são os chamados espectadores.  Neste contexto se estabelece o Bullying, que tem como protagonistas a vítima, o agressor, o espectador  e seu círculo vicioso.

O fato de os pais deixarem seus filhos extremamente à vontade para fazer o que quiserem, reflete em um comportamento geralmente diferenciado.

Segundo Tiba (1998), em "Ensinar Aprendendo", a indisciplina não tem uma causa única. Em algumas situações, tentar rastreá-la, buscando suas causas psicológicas, leva a uma elucubração mental infrutífera.

"É o momento de tomar uma atitude. As atitudes precisam ser coerentes, constantes e conseqüentes, isto é, necessitam do endosso de todos os professores." (Tiba, p.131)

No ambiente familiar considerado o inicio de toda uma estrutura comportamental, a falta de regras e responsabilidades a cumprir levam o adolescente a agir de forma abusiva em seu favor. Dependendo de suas relações com o meio em que vive em especial as famílias, poderão crescer com sentimentos negativos, com baixa alto-estima, tornando-se adultos com sérios problemas de relacionamentos. O comportamento dos pais diante deste fato é bastante importante, pois não se deve intimidar ou agredir e nem cobrar o mesmo do adolescente, este é o momento de aprendizado para todos, e mostrar como se controlar, manter a calma e evitar comportamentos de violência.

2O Fenômeno BULLYING NA ESCOLA

Tem-se por princípios que norteiam e formam o caráter do ser humano aqueles conhecidos em sua personalidade desde a infância. Para isto escola e família que são pilares essenciais na construção de valores, devem possuir uma responsabilidade vital para desenvolvimento do adolescente.

Para Cury (2003), no livro "Pais brilhantes Professores fascinantes", o dialogo é uma ferramenta educacional insubstituível. Deve haver autoridade na relação pai-filho e professor-aluno, mas a verdadeira autoridade é conquistada com inteligência e amor.

"Pais que beijam, elogiam e estimulam seus filhos desde pequenos a pensar não correm o risco de perdê-los e de perder o respeito deles." (Cury, p. 90)

O fundamental é não ter medo de perder nossa autoridade e sim buscar nesta relação uma forma pacífica de transmitir valores necessários, que façam o jovem compreender o verdadeiro sentido da educação iniciada pela família e aprofundada na escola.

O fenômeno da violência escolar pode ser percebido através de vários sintomas, como por exemplo, a falta de vontade de ir pra escola, esse pode ser a primeira manifestação de que um adolescente está com algum problema. Ocasiões acompanhadas de sinais tais como, dores imprecisas, mal-estares diversos ou dificuldades de sair da cama, podem ser apenas simulações para evitar à ida do adolescente a escola que pode estar sendo vitima de Bullying.

Segundo Tiba (1998):

"Quando os sintomas forem muitos e começarem a se repetir, é sinal de que a escola, como processo educacional vigente, está desvinculada do mundo em que o adolescente vive." (p.131)

É comum entre os alunos de uma classe a existência de diversos conflitos e tensões. Há ainda inúmeras outras interações agressivas, ás vezes como diversão ou como forma de auto-afirmação e para se comprovarem as relações de força que os alunos estabelecem entre si. Caso exista na classe um agressor em potencial ou vários deles seu comportamento agressivo, influenciará nas atividades dos alunos, promovendo interações ásperas, e violentas. Devido ao temperamento agitado do agressor e á sua necessidade de ameaçar, dominar e subjugar os outros de forma negativa pelo uso de força, as adversidades e as frustrações menores que surgem acabam por provocar reações intensas. Ás vezes, essas reações assumem caráter agressivo devido à tendência do agressor a empregar meios violentos nas situações de conflitos. Em virtude de sua força física, seus ataques violentos mostram-se desagradáveis e dolorosos para os demais. Segundo Cleo Fante "geralmente o agressor prefere atacar os mais frágeis, pois tem certeza de dominá-los, porém não teme brigar com outros alunos da classe: sente-se forte e confiante" (Fante, 2005).

O adolescente se julga inabalável em relação aos colegas e até mesmo aos professores.

Pode-se perceber que agressor e vítima mostram suas fraquezas em atitudes opostas estabelecendo uma relação de co-dependência aterrorizante. Esse processo vivenciado no ambiente escolar e de lazer é capaz de contaminar, ou mesmo, inviabilizar todos os desdobramentos que as relações sociais são capazes de favorecer como, por exemplo, as escolhas futuras e a profissão. 

Detalhadamente o fenômeno acontece da seguinte forma: A vítima é sempre humilhada, "perde" seus pertences freqüentemente, falta às aulas sem motivo, apresenta baixo rendimento escolar, demonstra insegurança ao se manifestar em público, prefere manter-se afastado dos demais colegas.
O agressor causa temor aos demais, manipula seus espectadores - que o auxiliam em suas práticas - anda sempre em grupos, não suporta ser contrariado, apresenta atitudes agressivas por qualquer motivo, seu tom de voz é grosseiro, aparece com pertences, lanches de suas vítimas - alegando ter sido presenteado por elas.
O espectador assiste a tudo na maioria das vezes sem se manifestar, em alguns casos participa como cúmplice das agressões para não contrariar o agressor, que por sua vez se voltará contra ele, acabam se tornando testemunhas, vítimas e co-agressores dessa cruel dinâmica. Não denunciam e seacostumam com essa prática violenta, podendo até encará-la como normal dentro do ambiente escolar e um dia até no ambiente de trabalho.

Existe ainda uma moderna forma de intimidação que transpôs as barreiras das escolas e chegou ao meio virtual, com o nome de cyberbullying.

Uma das diferenças do cyberbullying é a suposta vantagem que o agressor possui pelo anonimato que a internet pode oferecer. A preocupação de professores e famílias reside no fato de que os insultos virtuais podem se espalhar rapidamente, contaminando todas as pessoas que conhecem a vítima.

Na Internet, as calúnias circulam através de redes sociais, emails, vídeos, blogs e fotologs, mensagens instantâneas, entre outros, com uma velocidade muito maior do que teriam fora do mundo virtual. Os insultos podem assumir a forma de calúnias, ofensas, perseguições, rumores, boatos maldosos e imagens forjadas sobre a vítima. É possível alguém espalhar emails e mensagens instantâneas fazendo-se passar por outra pessoa, insultando e disseminando intrigas e fofocas.

A principal rede de relacionamentos acessada no país, o Orkut, é utilizada para expor pessoas de forma vexatória, através de comunidades ofensivas, divulgação de fotografias ou vídeos feitos sem o consentimento da vítima, entre outros. Além das ofensas direcionadas a outros colegas, também há comunidades e tópicos criados nas redes de relacionamento, manifestando repúdio às autoridades da escola e professores, utilizando palavras de baixo calão e xingamentos.

Os praticantes do cyberbullying são normalmente adolescentes sem limites, insensíveis, insensatos, inconseqüentes e empáticos. Apesar de gostarem da sensação que é causada ao destruir outra pessoa, os participantes podem ser processados por calúnia e difamação, sendo obrigados a disponibilizar uma considerável indenização.

Na grande maioria das escolas não é permitido o acesso a sites de relacionamento e chats nas dependências dos laboratórios de informática, mas essas não têm controle sobre o uso que os alunos fazem fora do ambiente escolar.

Portanto, se os jovens acessam a internet em casa, cabe aos pais monitorar o seu acesso à rede mundial de computadores.

É importante que os pais consigam perceber se seus filhos podem ser vítimas ou até mesmo praticantes de cyberbullying, para evitar a reincidência desse tipo de comportamento ou auxiliar o adolescente a lidar com a situação.

Controlar o acesso que seus filhos fazem na internet mantendo, por exemplo, o computador em um local da casa de grande circulação.

O Bullying acaba criando um ciclo vicioso, arrastando os envolvidos cada vez mais para o seu centro.

Em "Pais brilhantes professores fascinantes" Cury (2003), afirma: - "Há um mundo a ser descoberto dentro de cada jovem, mesmo dos mais complicados e isolados. Muitos jovens são agressivos e rebeldes, e seus pais não percebem que eles estão gritando através de seus conflitos." (p. 43)

Os comportamentos inadequados muitas vezes são clamores que imploram a presença, o carinho e a atenção dos pais.

A prática do afeto entre uma família é a estruturade toda educação, que tem no diálogo o sustentáculo da reação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiança são os demais elementos necessários nessa relação entre pais e filhos.

Os educadores nem sempre estão isentos ao Bullying, alguns são obrigados a suportar discriminação e humilhação veladas de estudantes e até de colegas insensíveis, invejosos e vingativos. Faz parte desta violência, impor a vitima calar-se, isto é, ela não pode denunciar à direção da escola nem aos pais, evitando piorar sua condição de discriminado.

De acordo com Tiba (1998), o adolescente não quer mais a influencia dos adultos em suas decisões. Quer vestir a roupa que ele mesmo escolheu, e não a que os adultos predeterminam. Escolhe as pessoas com quem quer conviver, formando com elas fortes vínculos afetivos, às vezes mais fortes que com a própria família. Está em busca de sua própria personalidade. (p.76)

Conforme o dito de Tiba, o processo educativo é a única ferramenta capaz de tornar eficaz a luta contra o Bullying.

Para Braga (2007), há necessidade de se tratar com a direção da escola a capacitação dos funcionários e professores para lidar com o tema e buscar o máximo possível manter um diálogo aberto e franco com os adolescentes envolvidos, com o intuito de se procurar uma solução que seja aceita pelo grupo e que seja internalizada e duradoura para aquele ambiente escolar.
Há ainda a necessidade de buscar um diagnóstico do Bullying naquela realidade escolar local. O esclarecimento pode, em muitas ocasiões, poder facilitar o controle dessas situações. Para que isso possa ser alcançado é necessário que haja um diálogo franco entre os envolvidos. Isso evitará que os envolvidos tenham uma visão da sociedade de que os problemas devem ser resolvidos com violência ou com a anulação moral dos mais fracos. Existe ainda o problema da formação de grupos até gangues pela ação do agressor, que podem futuramente partir para a prática de atos de infração. A atuação preventiva nesses casos é a melhor saída. Devemos reprimir essas práticas e propagar, em vez da violência, a tolerância e a solidariedade. Agindo assim contribuiremos para diminuir a prática de futuros crimes violentos decorrentes das situações de Bullying.

3conseqüências MARCANTES

Quando não há intervenções contra o Bullying, o ambiente escolar torna-se absolutamente contaminado. Todos os jovens, sem exceção, são afetados negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e medo. Alguns alunos, que testemunham as situações de Bullying, quando percebem que o comportamento agressivo não trás nenhuma conseqüência a quem o pratica, poderão achar por bem adotá-lo.O que potencializa definitivamente uma pessoa a se tornar  alvo é a fragilidade emocional ligada à diferença de padrão. Estar fora do padrão exige um fortalecimento dos recursos emocionais para enfrentar as reações dos colegas e, muitas vezes, o indivíduo acaba se abatendo, o que gera um empobrecimento de sua auto-estima e o impede de procurar ajuda ou reagir. Com isso, a insociabilidade e a passividade aumentam fazendo despencar o rendimento escolar.

Segundo Tiba (1998), quando está em turma, o adolescente apresenta comportamentos que dizem mais respeito ao grupo do que à formação pessoal. Chega a fazer o que jamais faria sozinho ou na presença dos pais. Pratica atos de vandalismo, abusa de drogas, expõe-se a perigos como "rachas", pratica esportes radicais.

Essa mudança de comportamento é a embriaguez relacional, que não esta ligada ao uso de álcool, mas sim à desestruturação do sistema psicológico pela presença de outro igual.

 O adolescente acaba por aderir tal comportamento sem imaginar as conseqüências que poderão surgir futuramente, tais como: uma série de doenças emocionais ou físicas devido ao estresse a que estão expostos diariamente, depressão, síndrome do pânico, gastrite, colite, asma, bronquites e distúrbios alimentares. 

"Se alguém está se afogando a seu lado, não adianta buscar naquela hora as causas do afogamento. Você tem é de tirá-lo da água." (Tiba, 1998)

É no núcleo familiar que os jovens adquirem os modelos de conduta que exteriorizam. A pobreza, violência doméstica, alcoolismo, dependência tóxica, promiscuidade, desagregação dos casais, ausência de valores, detenção prisional, falta do papel educativo dos pais, entre outros, são as principais causas que deterioram o ambiente familiar. Na escola, no passado, e ainda hoje se registra alunos com menos capacidades intelectuais, que são estigmatizados, esquecidos no fundo das salas de aula criando focos de revolta por parte daqueles que legitimamente se sentem marginalizados. A escola de hoje, que se auto-intitula de inclusiva, não é o que de fato deveria ser. Na realidade as instituições não estão preparadas para enfrentar a complexidade dos problemas atuais, principalmente os que se prendem com a gestão das suas tensões internas.

A crescente participação dos alunos, pais, entidades públicas e privadas nas decisões tomadas nas escolas, tornou-se uma fonte de conflitos. As associações de pais, quando funcionam, encaram muitos dos professores como incompetentes que aproveitam todas as ocasiões para se livrar das aulas e recorrerem à baixa por doença, para não terem que enfrentar os alunos e os problemas.
Como já se focou anteriormente, a educação deverá registrar-se imediatamente à nascença, baseada em valores, normas e modelos de conduta, que serão incluidos no sentido de formar a personalidade do indivíduo.Para que esse tipo de conduta seja superado nas escolas deve haver um esforço de pais e orientadores, pois os danos aos alvos são muito severos. Ouvir é a parte racional, os pais deveriam olhar no fundo dos olhos de seus filhos como se a ouvissem com os olhos, o jovem precisa aprender a se expressar e desenvolver sua capacidade de pensar para que outras pessoas possam compreendê-lo, e não tentar adivinhar a situação a qual está passando. Os pais devem avisar professores e orientadores se suspeitarem que seus filhos sejam vitimas do Bullying e não devem permitir que a questão seja mal investigada ou sub-valorizada, pois é muito difícil para as escolas admitirem esta situação.

Aprendizagem é um processo difícil que deve promover a apreensão dos fatos, do conhecimento e da possibilidade de ser feliz e essa vivência traumática não deveria fazer parte do convívio escolar.

3.1 O papel do educador na prevenção do Bullying

O educador é um profissional que pode interagir na prevenção e resolução dos problemas ocasionados na escola.

Conforme Tiba (2002):

"Construir uma casa é muito mais fácil do que reforma-la. Reformar, no caso de um filho, seria o mesmo que sempre dizer "não" para algo que ele já fez muitas vezes. Melhor ensinar aos poucos." (p. 132)

Observar com atenção o comportamento dos alunos deve ser o primeiro passo, dentro e fora de sala de aula, e perceber se há deficiências individuais no rendimento escolar.

Incentivar a solidariedade, a generosidade e o respeito às diferenças através de conversas, trabalhos didáticos e até de campanhas de incentivo à paz e à tolerância. Estabelecer dentro de sala de aula um ambiente favorável à comunicação entre alunos.
Quando um estudante denunciar o Bullying, procurar imediatamente à direção da escola.

Segundo Freire (1996), em "Pedagogia da autonomia":

"Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano que nega radicalmente a democracia[...]" (p. 17)

Muitas vezes, a instituição trata de forma inadequada os casos relatados. A responsabilidade é, sim, da escola, mas a solução deve ser em conjunto com os pais dos alunos envolvidos. O educador deve seguir alguns procedimentos de gestão participativa como, por exemplo, o de ouvir todos os segmentos envolvidos na comunidade escolar, em especial, os alunos, e explicitar as contradições existentes na escola para propor melhorias nas relações humanas criando grupos de discussões sobre o assunto.

Fante criou um programa chamado "Educar para a Paz", que teve inicio na cidade de São Jose do Rio Preto no Estado de São Paulo, em uma escola da rede publica, o programa se desenvolve com o objetivo de fomentar os princípios de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças. Obtiveram ótimos índices de redução do comportamento agressivo, e significativa melhora nas relações entra alunos e professores, além de melhorar o rendimento escolar.

O programa "Educar para a Paz" está sendo implantado em várias escolas de todo o país, devido à grande eficácia dentro da realidade escolar e por apresentar resultados em curto prazo da sua implantação. O programa atende tanto a rede privada quanto a rede pública.

Para Tiba (1998):

"É preciso abrir espaços para os adolescentes e, num segundo momento, também para seus pais." (p. 170)

O educador pode desenvolver dentro da escola programas de intervenção que tenham regras claras contra o Bullying, alcançar o envolvimento ativo por parte de professores e pais, aumentar a conscientização do problema, prover apoio e proteção para as vitimas individualmente, contratarpsicólogos, instalar centros de lazer, esportes e cultura na escola, no bairro e/ou comunidade, exigir maior presença dos pais naescola, instituir projetos extracurriculares para manter os alunos ocupados, de forma estratégica que possam ser executados por todos.

Aos jovens alvos de Bullying aconselha-se a ignorar as alcunhas e as intimidações morais, a cultivar amizades com colegas não agressivos, a evitar os locais de risco na escola e a apresentar queixa aos professores, sempre que necessário. Se possível, falar com o Conselho Executivo da Escola ou com um professor que pareça mais sensível ao problema e que possa acompanhar a situação, por exemplo: o conselheiro de turma.

Aos jovens autores de Bullying evitar os castigos e as punições físicas, que só desencadearão mais violência, deve ser controlada a sua irritabilidade. Explicar insistentemente e ao longo do tempo, que a amizade com pessoas de diferentes personalidades pode trazer benefícios e aprendizagens úteis.

Aos jovens testemunhas de atos de Bullying encorajar a intervir em defesa da vítima, fazendo queixa a um professor e não sendo conivente para com o agressor, de modo a tentar desencorajá-lo. Identificar e tratar este problema em tempo útil, envolvendo os alunos agressores, alunos agredidos, testemunhas, professores e pais ou encarregados de educação, é, portanto, essencial como forma de prevenção e redução de casos deste flagelo social.

Com relação ao cyberbullying, deve-se analisar que o anonimato na Internet não é absoluto. Todos os computadores conectados à rede mundial possuem um número que pode ser rastreado, o seu IP. Mesmo se o acesso for feito através de uma lan house, caso a mesma possua registro dos usuários, será possível identificar o agressor.

Quem sofre agressão através da internet pode preservar o maior número de provas possíveis, tirando, por exemplo,das telas mensagens ou fotografias ofensivas.

Essa etapa é muito importante, pois o dinamismo da internet permite que o conteúdo possa ser tirado do ar ou ser mudado de endereço a qualquer momento.

Aquele que se sentir prejudicado com alguma coisa publicada na Internet pode fazer uma notificação ao prestador de serviço de conteúdo, para que o conteúdo ofensivo possa ser tirado do ar, porém, preservando as provas dos insultos.

4Conclusões

A sociedade tem sofrido significativas transformações. A família, núcleo fundamental de educação, tem vindo dissimuladamente a delegar esse papel para a escola, dado que é no contexto educativo que as crianças passam a maior parte do dia. Todavia, nenhuma outra instituição poderá jamais substituir as condições educativas da família, nem parece ser razoável que seja unicamente a escola a ensinar valores tão necessários para o normal desenvolvimento da criança.

Observou-se a urgência de buscarmos instrumentos visando à erradicação do Bullying no meio escolar através do reconhecimento e enfrentamento a esse mal de tão grande gravidade social. Faz-se necessárias posturas comprometidas, atitudes e coragem em identificar as causas que levam os estudantes a serem agressivos, intolerantes e perseguidores dos colegas introvertidos, tímidos com baixa auto-estima, com algum problema físico, dificuldades de relacionamento ou com deficiências de aprendizagem.

Acreditamos que em meio a essa cultura de violência, possa existir uma contracultura de harmonia. São os educadores, profissionais e missionários abnegados, conscientes de seu papel diante de si e do mundo, os primeiros a romper com as barreiras alienantes, desenvolvendo uma pratica educativa e amorosa, salientar e benigna.

Os professores ressentem-se, ainda, de não terem o seu trabalho valorizado pelos alunos e seus pais. Precisam ter um piso salarial digno, uma jornada de trabalho compatível e uma política de formação em serviço, que lhes possibilite acessar os recursos mais diversos para desenvolverem seu trabalho, com sucesso.

É de suma relevância que a família acompanhe o trabalho escolar. Os pais devem estimular a vida escolar dos filhos, participar, e conscientizá-los da importância da escola, dos professores e da educação como um todo.

Como regra, a escola não está equipada e preparada para trabalhar todas essas questões. Muitas vezes, os problemas sócio-educacionais se apresentam como insolúveis obstáculos intransponíveis para a realização da tarefa educacional. Na ótica da direção, os professores passam por situações constrangedoras, uma vez que têm uma jornada árdua, muitas vezes uma formação deficitária e um salário incompatível com sua função. Sentem-se desestimulados e impotentes para resolver a questão educacional, uma vez que os problemas são de ordem familiar, política, estrutural, social e econômica. Além disso, o professor fica pouco tempo com o aluno. A escola parece não ter mais utilidade para os alunos, eles a encaram como local de diversão e não como ambiente sócio-cultural. É necessário resgatar o papel do professor enquanto educador.

São poucos os jovens que acreditam num futuro melhor, via educação. Por isso, a escola deve ser mais atraente, mais interessante para conseguir a participação desses jovens e fazê-los vislumbrar uma vida melhor, pela educação. Esse trabalho, no entanto, tem de ser não apenas da escola, mas também da comunidade e da sociedade

A escola junto com família tem a missão de proporcionar aos educandos um ambiente rico em harmonia, que contribua na formação de seres humanos autênticos, participativos, com elevada auto-estima, pois assim estarão formando pessoas que se amam, que se cuidam, que se aceitam, se respeitam e se fazem respeitar, se sentem seguras de si, reconhecem seus valores e virtudes, assim como suas limitações. Vale dizer que neste estudo destacam-se muitas perguntas e poucas respostas conclusivas sobre as conseqüências do fenômeno Bullying na vida de crianças e adolescentes, bem como da sociedade, pois tal problema está sem sombra de dúvida, presente em muitas instituições de ensino, ainda que oculto.

Ser educador nesse contexto é permitir-se amar e viver com intensidade o desejo de paz, é olhar cada jovem, pais e comunidade, como quem contempla um irmão, e uma irmã, repleto de defeitos, mas cheio de virtudes que estão latentes, precisando apenas de uma mão amiga e de um olhar que diga com todas as letras com você ao meu lado, vale a pena viver.

Agradecimentos

A Deus, pela oportunidade e pelo privilégio que nos foram dados em compartilhar tamanha experiência e, ao freqüentar este curso, perceber e atentar para a relevância de temas que não faziam parte, em profundidade, das nossas vidas. O que seria de nós sem a fé que temos nele.

Deixamos expressos nossos sinceros agradecimentos à seguinte instituição e pessoas, sem as quais o presente trabalho teria sido impossível:

Ao instituto IDAAM Gama Filho, pela receptividade, acolhida e pelo apoio administrativo.

A nossa orientadora e amiga professora Tarciane Caracas, que foi incentivadora inicial desta proposta de artigo e nos apoiou em diversos momentos com sua percepção, entusiasmo, profissionalismo e estímulo, sua habilidade como Mestra para transmitir os princípios necessários deste trabalho.

Aos professores, pelo convívio, pelo apoio, pela compreensão e pela amizade, que foram tão importantes em nossa vida acadêmica e no desenvolvimento deste artigo, que mesmo não sendo valorizados na proporção de sua grandeza, mas tenham certeza de que, sem vocês a sociedade não tem horizonte, nossas noites não têm estrelas, nossa alma não tem saúde, nossa emoção não tem alegria. O mundo pode não os aplaudir, mas o conhecimento mais lúcido da ciência tende reconhecer que vocês são os profissionais mais importantes da sociedade.

Aos colegas de especialização, que sempre nos acolheram com afeto e amizade, e nos auxiliaram em problemas ligados à educação, à utilização de ferramentas e nos emprestaram tempo disponível auxiliando-nos com sugestões cruciais no desenvolvimento deste trabalho, que com suas colaborações carinhosas, conselhos, broncas e beijos ajudaram a tornar este texto muito mais preciso e terno.

Agradecemos a nossa família, especialmente nossos pais, pelas muitas horas de atenção e carinho que não lhes foi dedicadas, para poder iniciarmos e concluirmos este trabalho com o melhor rigor científico, que só foi possível graças à renúncia, compreensão, pelo estímulo, perspicácia e sabedoria, por nos terem dado vida e educado como pessoas "normais", uma escolha mais do que positiva. Vocês deixaram seus sonhos para que pudéssemos sonhar. Deixaram seu lazer para que tivéssemos alegria. Perderam noites de sono para que dormíssemos tranqüilos. Derramaram lágrimas para que fossemos felizes. Perdoem-nos pelas falhas e principalmente por não reconhecermos seu imenso valor. Nossa divida é impagável, nós lhes devemos o amor.

Aos demais idealizadores, coordenadores e funcionários do IDAAM Gama Filho em Manaus, pelo carinho, dedicação e entusiasmo dedicado ao longo do curso.

Referências

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DREYER, Diogo. A brincadeira que não tem graça. Portal Educacional. 2005. Disponível em: http://www.educacional.com.br/. [Acesso em 11 de dezembro de 2009].

FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. ISBN, 2005, 224 páginas.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa – São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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OUTRAS FONTES

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WWW.bullying.com.br/bconceituacao